Segredos de uma Cidade – Cap 3
Durante a caminhada da academia até em casa eu só conseguia pensar em porquê ainda sentia algo pelo Vicente. Sempre fui esnobado por ele e sacaneado pelos amigos dele. A pior decisão que tomei foi abrir meu coração para ele um pouco antes da festa. A expressão no rosto dele, ou melhor dizendo a falta dela acabou comigo. Jamais devia ter ido afogar as magoas na bebida, ainda mais junto com eles. Estava tão entretido entre os pensamentos que quase passei direto pelo portão de casa.
Assim que entrei me deparei com uma cena bem engraçada. Meu pai estava com o rádio ligado no último volume em um canal sertanejo. Ele cantava junto enquanto lavava nossas roupas. O coroa é uma figura. Ele vestia apenas um short bem curto de algodão que estava totalmente colado ao corpo por estar molhado. Nessa hora percebi que tinha puxado o dote do papai. Ri internamente disso. Assim que me viu ele veio conversar.
Armando: Como foi na academia? Está com cara que nem suou... hahaha
André: Não suei mesmo... O sr. Alfredo só me passou as regras, os horários, conversamos um pouco...
Armando: Conversaram bastante neh... Você demorou um bocado e ainda deixou o celular aqui... Ele tocou várias vezes...
Meu pai não se dava muito bem com a tecnologia então nem adiantava perguntar quem tinha me ligado. Ele não atendia o meu celular e não permitia que eu atendesse o dele. Nunca entendi isso, mas também não questionava. Peguei o aparelho e além das ligações haviam algumas mensagens. Eram do Leandro. Somos amigos desde o Jardim de Infância. Crescemos juntos aprontando todas pelo bairro. O Leandro viajou uns dias antes da fatídica festa e ficou sabendo dos acontecimentos por outras pessoas já que fiquei incomunicável logo depois. Nas mensagens ele dizia que já tinha voltado e queria me ver. O Leandro era só alguns meses mais velho que eu. Curtia Rock, natação e era apaixonado por mim. Ele se declarou há pelo menos um ano e eu nunca pude corresponder. Leandro é um cara incrível, educado, agradável, responsável, bonito, mas eu só o via como amigo. Ele nunca desistiu de mim, sempre que pode me passa uma cantada. Não quero brincar com os sentimentos dele, só consigo vê-lo como amigo.
André: Estou em casa agora, Lê!
Leandro: Fique onde está!! Rs estou indo aí!
Não se passaram cinco minutos e Leandro estava batendo na porta. Meu pai atendeu e mandou ele subir até o meu quarto, já era de casa. Quando ele apareceu na minha porta parecia outra pessoa. Estava bronzeado, usando uma regata branca e uma bermuda vermelha, ambas bem justas. Os cabelos estavam cortados curtos e usava barba no rosto. Leandro só andava de preto, todo coberto, os cabelos eram cumpridos, olhos e unhas pintados de preto. Vê-lo daquele jeito mexeu um pouco comigo. O sorriso em seu rosto deixava as lindas covinhas a mostra. Em instantes estávamos abraçados. A única coisa que não havia mudado em Leandro era o perfume. Uma fragrância masculina amadeirada suave. Ele me apertava contra o peito e alisava minhas costas. Em outros tempos teria terminado esse abraço rapidamente, mas alguma coisa havia mudado em mim também. Sentamos na beirada da cama e começamos a conversar.
Leandro: E aí André? Como você está? Por que se meteu nessa encrenca toda?
André: Estou bem na medida do possível. Cara me deixei levar pela situação e quebrei a cara...
Leandro: Tenho certeza que tem Vicente e companhia metidos nisso também.
André: A culpa foi minha... Não consegui lidar com as minhas emoções... Agi como uma criança...
Uma lagrima escorreu dos meus olhos e Leandro rapidamente a secou com os dedos.
Leandro: Não estou entendendo André. A bebedeira não foi por uma aposta estupida na festa? O que isso tem a ver com emoções?
Leandro me conhecia bem. Ele já sabia que tinha algo mais por traz disso, mas queria ouvir de mim.
André: Eu chamei o Vicente para conversar e me declarei para ele, antes da festa. Ele nem ligou, foi como se eu não tivesse dito nada. Não respondeu nada, ficou calado, me olhando com uma expressão fria...
Contar isso me fez cair no choro. Leandro me abraçou e confortou, assim consegui continuar contando.
André: Depois nós entramos na festa, fiquei no meu canto e ele no dele. Em um determinado momento o Marcos veio até mim com o celular na mão e me mostrou um vídeo da minha conversa com o Vicente. Ele disse que se eu não participasse do desafio da tequila o vídeo ia passar no telão da escola. Fiquei sem reação e acabei cedendo. Depois disso só me lembro de ter bebido algumas doses. Os médicos disseram que tive amnesia alcóolica...
Leandro: Esses moleques são uns FDP ... Eles que não cruzem comigo, senão vou meter a porrada...
Nunca tinha visto o Leandro assim , ele sempre foi tão pacifico. Mas não posso deixa-lo entrar em encrencas por minha causa.
André: Deixa de bobeira, quer ser preso também? Você não faz ideia de como aquilo é horrível...
Leandro: O que você viu naquele babaca? Um otário cheio de músculos, covarde...
André: Não sei o que vi nele, Leandro. Tudo o que eu mais queria era tirar ele do meu coração e seguir a minha vida. Pena que não é tão fácil fazer como falar...
Leandro: Desculpa, não tinha o direito de falar assim com você. Me perdoa?? Hein??
André: Cocegas não Leandro, por favor!! Rsrsrs
Leandro: Só dizer que me perdoa... De coração!!!
André: Perdoo!! Te perdoo!! Hahahaha agora para por favor!!
Leandro: Você sabe que eu te amo!! Amo muito!! Só quero uma chance de te fazer feliz!! Te faço esquecer desse babaca rapidinho...
André: Não é tão fácil assim Leandro. Já te expliquei, não quero te magoar!!
Leandro: Não custa nada tentar!! Abre o seu coração para mim, me dá uma chance!
Nós estávamos bem próximos, nos olhando nos olhos. O Leandro estava extremamente sedutor e eu, fraquejando.
André: Você tem certeza disso?
Nessa hora ele me abraçou bem forte, pegando na minha cintura e encostando o nariz no meu. Toda a minha resistência já tinha acabado e Leandro sabia disso.
Leandro: André aceita namorar comigo?
André: Aceito!!
O beijo que ele me deu foi tão intenso que fez minhas pernas ficarem bambas. O beijo mais gostoso que eu experimentara a muito tempo. As mãos de Leandro percorriam minhas costas e as minhas as dele. Estávamos entregues ao momento, ao beijo, até meu pai bater na porta e perguntar se estava tudo bem. Ele nunca entrava no meu quarto sem bater. Só deu tempo de nos soltarmos e voltar a sentar na cama. Meu pai entrou e estávamos os dois com cara de criança que fazia coisa errada.
Armando: Tudo bem rapazes? Ficou um silencio de repente... Fiquei preocupado...
André: Tudo bem pai!! Estava colocando o Leandro a par dos acontecimentos e sabe como eu sou chorão...
Armando: Vê se coloca juízo na cabeça do seu amigo Leandro!! Não tem problema em chorar filho, o problema é fingir os sentimentos.
Papai afagou meus cabelos e saiu do quarto. Leandro me abraçou e me deu outro beijo.
Leandro: O sogrão tem razão!! Chorar não é motivo de vergonha! rs
André: Ah Leandro não começa hein!!
Ele voltou a me fazer cocegas e a me beijar.
André: Leandro assim meu pai vai voltar para saber o que está havendo, se controla.
Leandro: Sabe a quanto tempo estou me controlando?? Me deixa!!! Rsrs
André: Ei, quero meu amigo Leandro de volta! O que você fez com ele?
Leandro: Agora é seu namorado Leandro!!
O celular dele tocou, era a mãe dele. Ela tinha mandado ele ao mercado e como estava demorando demais ligou para dar uma bronca.
Leandro: Esqueci que tinha que ir ao mercado... Levei um esporro da sua sogra por sua causa... hehehe vamos ao mercado comigo??
André: Você não existe mesmo!! Vamos!!
Descemos e fui avisar papai que sairia com o Leandro.
André: Pai, vou ao mercado com o Leandro. Quer que eu compre alguma coisa?
Armando: Obrigado filhão!! Aproveitei quando você foi a academia e já fui as compras. Melhor horário, menos pessoas, menos filas.
Leandro me lançou um olhar de dúvida.
André: Ok!! Estamos indo!! Estou levando o celular!! Tchau!!!
Armando: Tchau!!
Saímos de casa e como não expliquei a história da academia ele resolveu perguntar.
Leandro: Que história é essa de academia??
André: É uma longa história... rs