Capítulo 5: SENTIMENTOS E DESEJOS REVELADOS.
- Não chore, meu amor. Não chore... – Disse sem conseguir controlar minhas próprias lágrimas.
- Você precisa me deixar ir! – Seu rosto foi escondido em meu pescoço. Seu choro era insistente.
- Por favor, Renan. Eu preciso de você! – Abracei-o mais forte e pude sentir o seu cheiro emanar por seu corpo e me deixar anestesiado. – Eu não consigo mais sem você. Você é tudo que eu tenho, você é minha família. Por favor, diga-me que você irá ficar. Diga-me que esse apartamento não é, apenas, seu lar provisório. Diga-me que você sempre estará do meu lado.
- Eu jamais conseguiria ir embora e te deixar mal! Você não sabe o quanto é importante para mim sua felicidade. – Dessa vez ele que fixou seu olhar no meu. Lentamente nos deitamos na cama e ficamos deitados. Sua cabeça repousava em meu peito e pude sentir o perfume de seus fios de cabelo.
- Dorme, você deve estar muito cansado. – Sussurrei em seu ouvido.
- Obrigado! – Ele me disse num tom quase inaudível.
Em menos de dez minutos Renan dormia calmamente. Seu sono estava sereno e seu semblante sossegado. O segurei firme em meus braços. Nada e nem ninguém poderia nos afastar. Nesse momento, pela primeira vez, senti-me excitado em tê-lo tão próximo ao meu corpo. Seu calor e seu cheiro me embriagaram de desejo. Eu não podia desejá-lo desse modo! Meus pensamentos estavam confusos. Meu ex-aluno estava fragilizado e carente, não podia por puro desejo tomá-lo para mim. Que tipo de pessoa eu estou me tornando? Não posso desejar aquele que conheci quando ainda era um menino que necessitava da minha atenção! Renan não pode ser nada mais que meu irmão mais novo. Entretanto, seu cheiro estava me deixando tonto e minhas mãos, trêmulas, sentiam o calor de sua pele. Meu membro reagia a cada toque e parecia desejar, urgentemente, se libertar. Meu coração batia em um ritmo descompassado. Tremi de medo dos meus próprios desejos revelados naquela estreita cama. Minha mão afagou os cabelos daquele menino-homem e, vagarosamente, retirei sua cabeça de meu peito e o deixei sozinho na cama.
Abri a janela da sala, puxei uma cadeira e me sentei próximo àquela abertura. Sentindo, assim, a brisa do início da tarde adentrar e tocar minha face. Não percebi as horas passando, meu olhar estava fixo no horizonte e minha mente perdida em um algum lugar desconhecido. Estava me sentindo sujo por desejar Renan. Estava me sentindo um canalha por me excitar enquanto estávamos deitados. A frase “eu não posso e não devo fazer isso” foi repetida como um mantra em meus pensamentos.
- Ricardo. – A voz grossa e, ao mesmo, tempo doce me libertou do transe. Fechei meus olhos e ao abri-los de forma lenta percebi que a noite havia chegado e uma chuva torrencial caía na cidade. As mãos grandes de Renan apertaram meus ombros e em seguida fui abraçado por trás. Meu corpo estremeceu. – Tudo bem?
- Acho que sim. – Disse, ainda, atordoado com tantas revelações internas.
- Posso fechar a janela? A chuva está molhando a sala. – Ele perguntou.
- Claro! – Levantei-me e sentei-me no sofá. Renan fechou a janela e, depois, caminhou em minha direção.
- Tem certeza que está tudo bem? – Ele deitou no sofá. Colocou uma almofada em meu colo e repousou sua cabeça me olhando.
- Está! – Respondi passando a acariciar seu couro cabeludo e percebendo o quanto seu rosto era bonito. Sorri involuntariamente com minha constatação. – Obrigado por não me deixar.
- Eu que preciso agradecer. Eu não sei o que seria da minha vida sem você... – Ele levantou seu corpo e beijou minha bochecha. Excitei-me, instantaneamente, com seu toque. Agradeci a qualquer força superior existente por ter uma almofada entre meu membro e sua cabeça. Mesmo com a situação, um sorriso largo estampou meu rosto. – Esse seu sorriso é encantador, Ricardo. – Acho que fiquei corado. Ele sorriu.
- Vamos pedir uma pizza? Estou com fome e com preguiça de ir para cozinha...
- Eu quero de calabresa! – Falou como uma criança.
- Tudo bem! – Disse rindo. – Deixa que eu ligo para a pizzaria.
- Enquanto isso eu vou tomar um banho. Devo estar fedido. – Falou rindo e se cheirando. Pensei em responder: “Não, você está sempre cheiroso. Seu cheiro é sempre bom.”
- Bobo! – Foi o que consegui dizer para não dar bandeira. – Depois eu tomo também. – E a minha mente quis que eu dissesse outra idiotice: “Podemos tomar banho juntos! O que acha?” Sorte que consigo controlar meus pensamentos. Renan retirou a camisa e foi para o quarto. Seus braços torneados, seu peitoral perfeito e aquela barriga lisa ficaram à mostra. Pela primeira vez tive vergonha de vê-lo sem blusa. Pela primeira vez desejei vê-lo nu. Meu membro, insistente, queria se libertar e iniciar uma diversão. Não consegui desviar o olhar e acompanhei sua caminhada observando suas costas bem desenhadas, seu bumbum arredondado e seu belo par de pernas grossas. Acho que estou ficando louco.
Depois que Renan tomou banho, fui para o banheiro. Tomei um banho rápido e voltei para a sala. Meu ex-aluno arrumava a mesa. Não consegui desviar meu olhar de seu corpo. Fiquei hipnotizado. Como nunca havia me sentido atraído por ele antes? Como o seu corpo não havia, anteriormente, provocado uma crise de desejo? Eu não posso pensar dessa forma. Eu...
- Ricardo? – Sua voz me retirou daquele turbilhão de pensamentos.
- Oi... – Esbocei um sorriso envergonhado. Será que ele percebeu meu olhar de desejo?
- Está dormindo em pé? Chamei você três vezes... – Ele falou rindo.
- Estou meio aéreo! Desculpa...
- Percebi. – Ele falou franzindo a testa. – É por causa do Sérgio?
- Pior que não... – Falei sem pensar. Ele me olhou curioso! – Acho que não estou muito bem, só isso. – Falei tentando consertar as coisas.
- Entendi. – Falou com pesar. – Quer conversar sobre isso?
- Eu não sei direito. É tudo meio novo! Prefiro deixar tudo se organizar na minha cabeça... – Acho que falei demais. – Mas, não se preocupe. Eu estou bem.
- Tem certeza? – Renan parecia preocupado. Ele se aproximou e me abraçou. Meu corpo tremeu quando seu cheiro penetrou minhas narinas. Fechei meus olhos e retribui o abraço.
O interfone tocou. Era a pizza! Salvo pelo congo.
- Irei pegar os talhares e fazer um suco de laranja. – Renan falou indo para cozinha.
A campainha tocou e eu abri a porta. O entregador logo me deu a pizza e a notinha. Eu olhei o valor.
- Tudo bem, Ricardo? – O entregador me perguntou. Só nesse momento eu o observei. Era um dos caras com que eu me relacionava sexualmente quando estava entediado com Sérgio. Bruno era muito bonito, corpo grande, boca rosada e uma ótima pegada. Tive boas noites de sexo ao seu lado.
- Oi, Bruno! Estou bem sim. – Sorri! – Nem te reconheci.
- Pois é... o uniforme muda as pessoas, é o que dizem por aí. – Sorriu maliciosamente. Quando transávamos, normalmente, ele usava fantasias de uniforme de várias profissões. Eu não sou muito fã disso, mas como ele curtia, embarcava em sua fantasia.
- Continua o mesmo galanteador. – Ri. – Aqui está o dinheiro! – Entreguei a nota de cinquenta reais em suas mãos. – Está trabalhando como entregador? – Bruno é filho de um empresário, não fazia sentido está trabalhando com isso.
- Meu pai me colocou de castigo. – Falou rindo. – Terei que trabalhar esse mês inteiro como entregador em uma de suas pizzarias. – Apesar de rico e já ter 23 anos, Bruno é muito infantil e vive à custa do pai.
- O que você aprontou dessa vez?
- Tranquei a faculdade e não contei nada para ele. – Falou gargalhando. – Que tal matarmos as saudades hoje, hein? Está acompanhado do seu namoradinho?
- Estou acompanhado, mas não é o Sérgio! – Bruno me olhou curioso. – Tem um amigo morando comigo.
- Amigo, sei! – Falou ironicamente. – Então, não sou mais seu amante preferido? – Fez biquinho se aproximando.
- Ricardo, o suco já está pronto! – Renan gritou da cozinha.
- Tá... Estou pagando a pizza! – Gritei. E voltei à atenção a Bruno. – Deixa de bobeira!
- Vamos ou não matar as saudades hoje? – Falou apertando minha cintura.
- Não sei! – Disse morrendo de vontade falar sim.
- Te ligo em meia-hora. Está com o mesmo número? – Disse apertando o botão do elevador.
- O mesmo número de sempre. – Respondi piscando o olho.
- Estou indo. – Antes que o elevador chegasse e sem que eu esperasse, Bruno me deu um beijo. Foi rápido, mas me deixou com um tesão filho da puta. – Até daqui a pouco. – Piscou o olho entrando no elevador que havia acabado de chegar ao meu andar.
Fiquei o observando partir. Antes que as portas se fechassem, ele acenou e me mandou um beijo. Eu apenas sorri. Fechei a porta e percebi que Renan me olhava encabulado.
- Aqui está a pizza! – Falei tentando me desviar de seu olhar curioso.
- Você conhecia o entregador? – Pensei em mentir.
- Sim. É um velho colega! – Falei sorrindo.
- Entendi! – Renan falou meio ríspido e cortando o assunto. Pegou a pizza das minhas mãos. Sentamos, em silêncio, à mesa e nos servimos.
- Está tudo bem, Renan? – Perguntei após cinco minutos de um silêncio ensurdecedor.
- Sim! – Ele me respondeu sem levantar o olhar do prato.
- Tem certeza?
- É só uma dor de cabeça! Daqui a pouco tomo um analgésico e passa. – Novamente respondeu sem me olhar.
Voltamos a ficar em silêncio. Renan comeu apenas um pedaço de pizza e logo se levantou.
- Já estou indo dormir! – Falou me abraçando. – Boa noite!
- Boa noite! – Levantei e dei um beijo em sua testa. – Você não está bem! – Novamente seus olhos não se fixaram nos meus. – Você está febril. – Disse colocando minha mão em sua testa.
- Está tudo bem, Ricardo. Eu vou dormir. – Uma lágrima escorreu por seu rosto. – Só que me deu uma dor de cabeça forte. Tomarei um remédio e vou dormir...
- Pode ir para o quarto que eu pego o remédio para você. – Fui ao armário do banheiro e peguei um analgésico. Fui à cozinha e peguei um copo d’água. Entrei no quarto de Renan e o entreguei. Ele tomou o remédio!
- Irei ficar aqui até você pegar no sono. – Naquele momento, percebi que Renan precisava de mim. Não sabia o que estava acontecendo, porém queria ficar perto.
- Não precisa... – Ele disse se deitando na cama.
- Eu quero ficar aqui, por favor. – Falei com cara de pidão e puxando a cadeira que havia no quarto para próximo da cama.
- Tudo bem!
Queria deitar com ele, mas meus desejos libidinosos me impediam disso. Queria abraçar, mas não queria me excitar com o toque de seu corpo. Preferi ficar próximo, porém a uma distância segura. Meu ex-aluno fechou os olhos! Meu celular tocou e eu me assustei. Olhei no visor e vi que era o Bruno. Tirei o volume e deixei tocar. Olhei para cama e vi que Renan me olhava.
- Você não vai atender? – Renan me indagou.
- Não! É um amigo me chamando para sair. Não estou com cabeça para isso...
- Pode ir. Eu estou bem!
- Não mesmo! Prefiro ficar aqui de verdade. – Renan me olhou e, vagarosamente, fechou seus olhos.
Logicamente que queria transar até a exaustão com Bruno. Realmente aquele cara é muito bom de cama. Esquecer todos os problemas que tenho com Sérgio por algumas horas seria, de fato, esplêndido. Além do mais, poderia saciar o meu tesão e parar de desejar aquele que até algumas horas atrás via como um irmão mais novo. Porém, não podia deixar Renan sozinho. Queria ficar ao seu lado.
Vigiei seu sono por algumas horas, não percebendo o tempo passar. Olhar Renan sempre me provocou certa calma, pois ali encontrava um jovem indefeso que eu desejava cuidar. Porém, assistindo meu ex-aluno dormir nessa noite me fez ter medo. Sim, medo. Medo dos meus sentimentos. Medo de machucá-lo. Medo de desejá-lo. Medo de que ele me odiasse se soubesse que eu estava o desejando sexualmente. Medo de perder sua amizade e carinho. Medo do futuro incerto. Lágrimas escorreram pelo meu rosto e uma angústia dominou meu ser. Seu sono era sereno. Queria tê-lo em meus braços e jamais deixá-lo.
Fui para o meu quarto já de madrugada. A imagem de Renan não saía de minha mente. Demorei a pegar no sono. Lembro-me que a última vez que conferi as horas já passava das 5 horas da manhã.
Acordei com Renan fazendo carinho na minha cabeça. Não precisei abrir os olhos para saber que era ele. O seu cheiro é inigualável. Sorri involuntariamente e abri meus olhos.
- Bom dia! – Falei bocejando e me espreguiçando.
- Desculpa entrar no seu quarto. Mas, bati várias vezes e te chamei, mas você não acordou. Fiquei preocupado. Já são quase duas da tarde.
- Caramba! – Falei me sentando na cama. – Fui dormir muito tarde. Tive uma crise de insônia!
Renan se jogou na minha cama e me abraçou deixando sua cabeça, como sempre, em meu peito. Instantaneamente me excitei com o calor de seu corpo. Precisei me contorcer de uma maneira inumana para que não percebesse minha ereção. Minha única vestimenta, uma cueca branca, denunciaria meu descontrole. Por sorte, um lençol me cobria.
- Obrigado por ontem, tá?
- Por nada...
- Você é muito especial para mim... – Ele me abraçou mais e eu passei por uma das situações mais vexatórias da minha vida. Seu corpo foi jogado contra o meu e meu órgão ereto tocou sua perna. No mesmo segundo fiquei vermelho e ele também.
- Des... Desculpa. – Gaguejei. – Sabe como nós homens acordamos pela manhã.
- Que isso! Tudo bem...
- Preciso ir ao banheiro mijar. – Falei tentando consertar aquela situação. Levantei rápido e coloquei as mãos na frente indo correndo ao banheiro. O difícil foi urinar com uma ereção. Doeu para caralho e acho que molhei com urina boa parte do chão.
Voltei, envergonhado, para o quarto.
- Desculpa, Renan. – Disse coçando a cabeça quando me sentei na cama. Ele começou a rir descontroladamente. – Para de rir. – Falei rindo também.
- Foi hilária a sua cara. – Ele disse tentando segurar o riso.
- Foi vexatório! Isso sim. – Falei rindo.
Por sorte, tudo foi levado na brincadeira.