O susto, a santa e a festa
Faziam quase 2 meses que eu não voltava para casa, quando decidi comemorar o meu aniversário com a minha vó e com os meus pais.
Até hoje me lembro da minha vó correndo até o portão de casa para me abraçar. A minha mãe também era muito carinhosa comigo, agora o meu pai nunca foi de muito carinho comigo e acho que com a minha mãe também não.
Só me lembro de termos mais contato, quando eu tinha por volta de 15 anos. A minha vó queria construir uma cozinha maior para fazer, como ela dizia, os quitutes que ela vendia. Foi por causa disto que eu passei a ser ajudante de pedreiro para o meu pai. Posso dizer que foi nesta época que eu passei a ter orgulho do meu pai como pedreiro, ele me explicava passo a passo tudo o que tínhamos que fazer. E no final do dia, após nós termos tomado banho, ele me mostrava alguns livros de arquitetura e engenharia civil que ele tinha. Nunca me esqueço de quando ele me mostrou um livro sobre o MASP, falando que era impressionante todo o cálculo de estrutura que foi necessário, para que sobre algumas pilastras suportar todo o prédio do museu. Ou quando mostrou outro livro que mostrava e explicava toda a construção de Brasília, todos os cálculos que foram necessários em todas as construções e principalmente os da Catedral de Brasília. Mas era um livro sobre a construção de Itaipu, que parecia que os olhos do meu pai brilhavam. Acho que foi nessa época que me apaixonei pela construção civil, para mim era como transformar um sonho em realidade, isto é, em algo concreto... em armações, cimento e tudo mais necessário em uma construção.
Meu pai quando novo tinha o desejo de fazer uma faculdade, mas a minha mãe acabou ficando grávida e desta forma abortando os seus sonhos. Pelo que minha vó me conta, eles acabaram casando meio que forçados pelo pai do meu pai. Acho que era por isso que ele e minha mãe viviam brigando e meu pai muitas vezes chegava bêbado em casa. Não posso afirmar mas a distância que o meu pai mantinha de mim, muitas vezes era como se eu fosse culpado por ele não ter realizado os sonhos dele.
Daquela vez não foi muito diferente, quando eu cheguei, o meu pai estava saindo para o serviço e se limitou apenas a falar um bom dia, como se eu fosse um estranho que por educação você acaba cumprimentando. Aquilo deu um aperto no meu coração, e eu acabei não chorando e nem demonstrando estar triste, devido toda a alegria da minha vó e da minha mãe, por eu estar de volta.
Naquele dia passamos o dia todo colocando as conversas em dia, no almoço minha vó, fez a minha comida predileta, nhoque de batata feito em casa com molho a bolonhesa. Só a minha vó sabe fazer aquele molho de tomate. Por mais que eu tente fazer, o molho de tomate em casa, nunca fica igual ao da minha vó. De sobremesa comi os quadradinhos de doce de abobora com casquinha cristalizada que a minha vó e minha mãe vendem, nossa como estava com saudade daqueles doces. A minha mãe ficou fazendo suspense com o bolo que elas iriam fazer para comemorar o meu aniversário.
A noite a minha vó foi para Igreja para rezar o terço, ela é da congregação de Maria. Fui descansar no meu quarto, estava morrendo de saudades dele...rs Quando eu ouço o meu pai chegando e já bêbado gritando pela minha mãe. Mais uma vez estavam a minha mãe e o meu pai discutindo, de repente ouço um grito da minha mãe, um barulho de coisas caindo e não ouço mais a minha mãe. Só ouvia o meu pai xingando a minha mãe e não ouvia mais nada. Fiquei preocupado sai da casa da minha vó, e fui até a casa da minha mãe que ficava no fundo do quintal. Chegando lá, chamei pela minha mãe e não tive resposta, desesperado comecei a esmurrar a porta. O meu pai abre a porta e quando olho para dentro vejo a minha mãe no chão desacordada e vários móveis derrubados, neste momento não penso e já vou xingando:
- O que você fez com a minha mãe? Você não passa de um merda de um bêbado...
Mal termino de falar e já levo um soco no rosto, e quando dou por mim, já eu meio deitado na cama e meio em pé, com o meu pai atrás de mim me prendendo e abaixando a minha bermuda e a minha cueca, falando:
- Quero ver, se o viadinho vai me xingar de novo, depois disto...
E eu chorando só sabia falar para o meu pai parar, para não fazer isto, neste momento pedi a Deus e a Nossa Senhora que tivessem piedade de mim, quando eu estava pronto para o pior, escuto minha mãe falando:
- Não, isto não vai se repetir. Basta de sofrimento.
E neste momento ouço um barulho abafado e meu pai cai do meu lado com a testa sangrando, vejo a minha mãe segurando a imagem de Nossa Senhora que é bem antiga e feita de madeira na mão. Eu não acreditei que a minha mãe tinha dado uma paulada no meu pai com a imagem da santa. Eu mal conseguia segurar aquela imagem e via minha mãe carregando-a como se não pesasse nada e ela falou:
- Arrume-se e vamos para a casa da sua vó. Não se preocupe com ele. Ele acordará em breve.
Ouvi a minha mãe falando e carregando a imagem da santa para o quintal. Parecia que nem era a minha mãe que estava ali, nunca a vi tão séria. Fiz o que ela me falou me arrumei e fui rápido para a casa da minha vó, já trancando todas as portas. Quando vejo, minha mãe está no sofá chorando e abraçando a imagem da santa, não entendi nada, como minha mãe mudou de postura tão rápido, de uma mulher altiva e decidida, para uma que estava agarrada à santa e pedindo que nada acontecesse com o meu pai. Minha avó chegou e conseguiu tranquilizar a minha mãe. Um pouco mais tarde só ouvimos o meu pai, ficar batendo na porta e pedindo perdão para minha mãe e para mim, que ele nunca mais beberia, que aquilo nunca mais aconteceria. A minha mãe falou que ele tinha que se tratar e parar de beber, e quem sabe aí ela o aceitaria de volta.
No dia seguinte, a minha vó fez que não tinha acontecido nada, ficou brincando no café da manhã, que eu tinha que sair para encontrar os amigos, enquanto elas preparavam o bolo e o almoço. Não queria mostrar que eu estava acabado, então sai e fui tentar encontrar alguns amigos e o meu primo. Fui na casa de vários e nada de encontrar ninguém em casa. Quando desisti e voltei para casa, levei o maior susto. Estavam todos na casa da minha vó e estavam todos lá, meu primo estava na churrasqueira preparando linguiça, carne e frango. A casa estava toda enfeitada com balões e todo mundo sorrindo e me dando os parabéns. Passei o dia conversando com os meus amigos e colocando as novidades em dia O bolo de aniversário que elas tinham feito estava delicioso, se não me controlasse comeria o bolo quase que sozinho. Pena que quando foi 4h tive que partir, estava muito contente pela festa e pelo carinho que recebi de todos, mas por outro lado estava decepcionado com o meu pai, pelo que ele tinha feito e não sei o porquê eu queria que ele aparecesse no domingo, porém nem sinal dele naquele dia.
No ônibus não aguentei e comecei a chorar, eram sentimentos tão contraditórios. Eu queria odiar o meu pai, nunca mais vê-lo, porém eu sentia dó do meu pai, gostaria que ele se livrasse da bebida e que nós pudéssemos ser amigos. Eu precisava desabafar com alguém e liguei para o Ale, que quando ouviu a minha voz, só falou:
- Quando você estiver chegando, me liga que eu vou buscá-lo.
Não adiantou eu falar que não precisava. Mal o ônibus estacionava no terminal eu já via o Ale me esperando. Quando eu desci do ônibus, não falei nada e quando eu cheguei perto dele, só consegui abraça-lo e chorar. Ele soube esperar e quando eu me acalmei contei tudo o que tinha acontecido, que o meu pai quase havia me estuprado e o Ale só falou:
- Vou virar devoto de Nossa Senhora... rs
Eu sei que ele só tentou quebrar o clima e continuou falando:
- De tempo ao tempo, o seu pai estava bêbado. Depois ele ainda pediu desculpas a você e a sua mãe. Eu sei que é difícil perdoar, mas não se esqueça de que ele é o seu pai. Não faça nada do que você se arrependa depois.
E ficamos conversando e depois de algum tempo o Ale mudou de assunto. E falou:
- No final de semana que vem, haverá uma festa lá do DA e você está intimado a ir. Vamos mudar os ares, o que passou, passou. Vamos tocar a nossa vida em frente.
Conversamos mais um pouco e ele me deixou na minha republica, e eu fiquei martelando na minha cabeça:
- Vou ou não vou nessa festa ?
x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x
Agradecimentos:
Geomateus: Ainda bem que você adorou o capitulo anterior. Como o seu pedido é uma ordem, aqui segue a continuação...rs Obrigado por continuar lendo.
Atonx14: O Paulão tem os seus defeitos e por causa deles acho que os vingadores não o aceitarão... rs Não se esqueça que quem esta descrevendo é o Pedro...rs Logo, logo você saberá dos defeitos do Paulão...rs
Obrigado a todos que estão lendo e não estão comentando. Mas saibam que os comentários bons ou ruins incentivam quem esta escrevendo.
Quero me desculpar novamente pela demora em publicar um novo capitulo e por ele estar pequeno, porém achei melhor publica-lo do que deixa-los esperando ainda mais. Não sei o que aconteceu, mas o capitulo anterior ficou sumido por alguns dias e depois reapareceu como já tinha acontecido anteriormente. Abraços.
Caso alguém queira entrar em contato segue o e-mail: andrezito.abc@gmail.com