Ao chegar ao hall de entrada do edifício, Celina voltou seu olhar na direção da calçada, e, para sua surpresa, não viu Eleutério; curiosa, ela retornou até a guarita do zelador e perguntou a ele se vira um homem cuja descrição ela lhe fez; o rapaz, matutou por alguns segundos para, em seguida, afirmar com segurança que não havia ninguém lá quando Celina descera do carro. Ela ainda insistiu, mas o rapaz manteve sua conclusão, deixando-a ainda mais confusa.
Ela foi para seu apartamento, e ao longo do dia e parte da noite ela ficou pensando se o que vira foi realmente uma ilusão, uma peça que sua mente transtornada por tantos pensamentos indevidos, ou não …, de qualquer maneira, a chegada de seu marido e os afazeres da noite ocuparam a mente e o corpo dela, que acabou por esquecer-se de tudo aquilo.
Na semana seguinte, Olavo, seu pai, ligara algumas vezes, perguntando porque ela não o visitava mais na empresa, inclusive contando-lhe que Eleutério também perguntava sobre ela, ambos preocupados com seu repentino desaparecimento; Celina desconversou, alegando muitos afazeres, mas que não faltaria oportunidade para que ela se encontrasse com seu pai.
No entanto, alguns dias após essa conversa, Olavo foi ter com Celina, pois precisava contar-lhe sobre suas recentes preocupações com relação ao Eleutério. “Preocupações! Mas que tipo de preocupação, papai?”, ela quis saber, incapaz de disfarçar sua ansiedade sobre o assunto.
-Ele me segredou que vai embora! – respondeu Olavo, com tom alarmado – Disse que está muito agradecido a nós, mas que precisa seguir sua vida …, ele também disse que já nos causou muitos problemas …
-Problemas! – exasperou-se Celina – Mas que tipo de problemas?
-Quando perguntei sobre isso, ele se calou – disse Olavo – Mas senti que ele, talvez, ache que é um estorvo para nós, mesmo após eu lhe dizer que isso não era verdade, e que gostávamos muito dele …, Olhe, filha, vim até aqui porque esgotei meus argumentos com ele …, talvez você pudesse …, quem sabe …, conversar com ele e dissuadi-lo de partir …
-Eu! – exclamou ela, sentindo um arrepio percorrer sua espinha – Porque eu, papai?
-Não sei bem porque – ele tornou a responder – Mas, você é minha última esperança …, eu preciso do Eleutério e meu amigo, dono da firma onde ele trabalha também precisa …, por favor …, você poderia tentar?
De início, Celina hesitou, e por algum tempo, resistiu à ideia …, mas, imbuída da sensação de que Eleutério poderia, de fato, partir …, ela aceitou o pedido de seu pai.
-Ótimo, filha! – comemorou Olavo – Faz o seguinte, hoje é sexta-feira, então, o Eleutério vai chegar por volta de umas oito horas …, acho melhor você ir amanhã …
-Amanhã! – Celina exaltou-se com a sugestão do pai.
-Sim amanhã à tarde seria ótimo! – respondeu seu pai – Eu não poderei estar junto de ti, pois tenho compromissos, mas você a chave, não tem? Então, espero sua ligação após conversar com ele …
Sem esperar por resposta, Olavo deu um beijo na testa de sua filha e foi embora, deixando ali, imóvel e sem reação, uma mulher atônita e preocupada com o resultado dessa sua visita ao Eleutério. Celina estava atordoada com tudo aquilo que sei pai lhe contara, mas sentia que precisava intervir, pois, ela também não queria que Eleutério fosse embora …, ela não queria perdê-lo!
No dia seguinte, após o almoço com o marido em um restaurante, Celina decidiu comunicar ao marido que iria ter com Eleutério; pensou em diversas explicações plausíveis para seu ato …, mas antes que ela pudesse começar seu discurso, Douglas interveio com uma notícia que a deixou ainda mais surpresa.
-Amor, você se lembra do Nélson e do Augusto, meus colegas da faculdade? – perguntou Douglas.
-Sim, me lembro – ela respondeu – O que tem eles?
-Marcaram um encontro para hoje – emendou Douglas – É uma espécie de reunião para marcarmos um reencontro da turma toda no mês que vem …, como sei que você não se sente bem com eles …, tem algum problema se eu for?
-Não, claro que não! – adiantou-se Celina em responder, sentindo uma pontinha de alívio – Pode ir …, você vai demorar?
-Bem, você sabe, não é – comentou o marido – Essas reuniões informais não tem horário …, mas, se você quiser não vou, ou marco para outro dia …
-Não, tudo bem! – apressou-se ela em responder – Você me deixa em casa e tudo bem.
Alguns minutos depois, Celina descia do carro de seu marido em frente ao edifício onde residiam. Despediram-se com um beijo, e Celina ficou ali na calçada, vendo o carro do marido desaparecer no fim da rua. Com o coração aos pulos, ela acessou um aplicativo de transporte e solicitou um carro. Assim que carro chegou, ela partiu em direção à empresa de seu pai.
Celina desceu do carro, e ainda hesitante, pegou o molho de chaves que trazia em sua bolsa e abriu o portão social que dava acesso ao interior do local; trancou o portão e seguiu para os fundos, onde ficava a edícula ocupada por Eleutério. Seu coração estava acelerado e a respiração um pouco ofegante. Ela receava o que estava por vir, mas, ao mesmo tempo, sentia uma estranha excitação crescer em seu interior.
Parou em frente a porta da edícula, olhando para a maçaneta; Celina não sabia o que fazer; “talvez bater e me anunciar?”, ela pensou, porém, não agiu; tudo era muito confuso em sua cabeça e seu corpo vibrava causando-lhe uma sensação indescritível …, por fim, Celina decidiu que o melhor era ir embora …, e foi nesse momento que a porta se abriu. E lá estava Eleutério …, nu! Uma nudez alarmante e que provocou uma avalanche de sensações na mulher, que não sabia o que fazer.