Eu comecei a andar de uma lado para o outro em desespero. Bernard tentava chamar por Merísia em vão. Ela já estava morta. Ouvi passos pelo caminho entre as videiras e Alef surge entre elas.
- Altezas, eu ouvi vozes acaloradas e vim ver do que se tratava. Ó céus, a Princesa está morta? - falou vendo o corpo de Merísia nos braços do Bernard.
- Sim, Alef. Eles tiveram uma discussão, ela saiu correndo e tropeçou, indo ao encontro dessa ferramenta.
- Alteza, nada mais pode ser feito pela Princesa. Ela está morta. Devemos levar o corpo para o castelo. - falou acalmando o Bernard e ajudando a colocar o corpo de Merísia no chão novamente.
- Isso não deveria ter acontecido. A Merísia estaria viva se eu não tivesse feito o que fiz. - falei arrependendo-me.
- Hugo, por favor, isso foi uma fatalidade. Ninguém teve culpa alguma. O que nos resta agora é rezar pela alma da Merísia, comunicar a família dela em Palonte e fazer um funeral em sua homenagem. Eu vou superar. - falou levantando-se junto com Alef.
Bernard veio até mim e abraçou-me.
- Altezas, sugiro que voltem ao castelo e peçam ajuda aos guardas para transportamos o corpo da Princesa. Eu fico aqui aguardando a ajuda.
- Não, Alef, eu devo ficar. Volte para o castelo com o Hugo e traga alguns homens com você.
- Tem certeza que não quer que eu fique?
- Não, Hugo, volte com o Alef. Você não deve parar sua vida e seus afazeres por isso. Entenda-me, não estou dizendo que você não deve sofrer, mas eu devo cuidar de tudo, principalmente do meu Príncipe.
- Tudo bem. Irei para o castelo com o Alef. Comunicarei o ocorrido ao Primeiro-Ministro e aos familiares da Merísia em seu nome. É meu dever como Regente.
- Serei grato. Quando chegar ao castelo irei vê-lo. Agora vá.
Despedimo-nos do Bernard, montamos em nossos cavalos e partimos para o castelo.
Alguns minutos depois nós chegamos ao castelo. Entreguei o Lírico ao pajem e pedi ao Johan que chamasse o Primeiro-Ministro no Gabinete Real. No fundo eu estava destroçado pela morte da Merísia. De certa forma sentia-me responsável por isso. Mais uma vez o peso da Coroa empurrava-me para baixo. Até quando eu esconderia o que sou? Era necessário realmente ser Rei e não ser feliz ao lado do homem que amo? Como o povo olharia-me? A Mily mereceria sofrer o mesmo que eu e abrir mão de ser feliz em troca da Coroa? Deveria impor a minha pequena irmã tamanho fardo?
Enquanto questionava minha vida e minha posição, fui surpreendido pelo Primeiro-Ministro no Gabinete Real.
- Mandou chamar-me, Alteza Real? - curvou-se.
- Sim, Primeiro-Ministro. Conde, o senhor deve fazer um comunicado em nome da Coroa. A Princesa Merísia, esposa do meu primo, o Príncipe Bernard, está morta.
- Senhor, como isso aconteceu? A Princesa era muito jovem, gozava de boa saúde...
- Ela estava comigo e o Bernard nos vinhedos, eles tiveram uma discussão, a Merísia saiu correndo e tropeçou, caindo sobre uma ferramenta de trabalho que perfurou seu abdômen.
- Farei o comunicado, senhor. Devo avisar ao Reino de Palonte?
- Sim, informe a família da Merísia e diga que receberemos a todos no castelo. Os nobres de Palonte e a Família Real também serão recebidos no castelo. Informe a Igreja de Austo. O Parlamento de Austo precisa ser avisado. Proceda-se a exclusão do nome da Princesa da linha de sucessão.
- Como quiser, senhor. Meus pêsames em nome de todo o povo. Com sua licença.
- Obrigado, Conde.
Alferno curvou-se e saiu.
Eu saí do Gabinete Real e ordenei a Johan que não deixasse ninguém além do Bernard subir aos meus aposentos.
- Senhor, devo chamar-lhe caso haja algo de urgência?
- Sim, Johan. Se houver algo que somente eu possa resolver, você me chamará em meus aposentos. Caso não haja nada importante, deixe-me descansar.
- Farei o que pediu, senhor. Com licença.
Fui para o meu quarto e sentei-me na cama. O que aconteceria agora com o Bernard viúvo? Será que poderia nutrir ainda alguma esperança?
Estava deitado e perdido em meus pensamentos quando ouço as vozes dos soldados chegando com o corpo da Merísia. Logo Bernard chega ao meu quarto.
- Meu Príncipe, sente-se bem? - falou beijando minha testa.
- Só eu que deveria perguntá-lo isso. Estou triste, meu amor. Não queria que tudo terminasse dessa forma. Agora eu lembro-me que a Selene falou-me sobre luto no castelo. Ela tinha razão.
- A vidente de Gartel?
- A própria. Ela esteve aqui antes de sairmos. Eu mandei buscá-la. Convidei-a para morar no castelo, mas ela se recusou. Disse-me que cuida de algumas crianças em Gartel.
- Será que podemos confiar nela?
- Ela transmite-me muita paz.
- Bom, se ela faz-te bem, a mim também o faz. O que importa é a sua felicidade. Estou um pouco triste com tudo isso, mas só isso poderia dissolver o meu matrimônio.
Bernard passou algumas horas comigo no quarto, mas logo teve que ir cuidar dos preparativos do funeral e sepultamento da Merísia.
Na prisão do castelo...
- Minha nora morreu?
- Sim, pai. A Merísia está morta. Eu não deveria estar aqui, mas achei necessário vir comunicar-lhe. Eu nunca o perdoarei pelo que vocês fizeram com o Hugo e a Mily. Certamente, conhecendo o tio Gael, vocês serão mortos. Talvez minha mãe ainda seja exilada, afinal o senhor arquitetou tudo e influenciou-a a fazer tudo isso.
- Ingrato! O Trono seria seu, mas sua lealdade ao maldito primo cegaram-te. Você não passará de um rélis serviçal. Se você não conhece o Protocolo da nossa Dinastia, eu vou te falar: quando alguém é preso e morto por traição, todos os títulos pertencentes a sua família são retirados. Ou seja, na situação atual, você deixará de ser Príncipe e é bem capaz de ser banido do Reino também. Por sorte você casou em Palonte e tem mais um título além do nosso. Quero ver o que você vai fazer quando perder o seu status e sua posição secundária. Uma pena não estar mais aqui para ver seu fim, filho maldito.
Deixei o meu pai terminar e fui embora sem nada dizer.
Comecei a pensar nas palavras que o meu pai havia dito. Se ele estava certo, o que aconteceria comigo? Será que o Hugo permitiria que eu fosse banido do Reino?
No estábulo do castelo...
- Alteza Real, o que o traz aqui? - perguntou René curvando-se.
- Amigo, eu precisava conversar com você, apenas.
- Príncipe, o Alef contou-me sobre o que aconteceu. Eu sinto muito.
- Eu sei, René. Você é sincero e um ótimo amigo.
Sentei em cima de uma pilha de feno. René ficou desconcertado por isso.
- Príncipe, o senhor vai se sujar todo. Vou buscar uma cadeira para o senhor.
- Não precisa, René. Você sabe que não ligo para o luxo, para o conforto, e detesto cerimônias. Precisava perguntar-te uma coisa.
- Sim, Alteza. Responderei com prazer. - falou sentando sobre o feno também.
- Você acha que eu seria odiado pela minha irmã se abrisse mão da Coroa?
- O quê? O senhor pensa em renunciar ao direito de sucessão ao Trono?
- Não só penso como irei fazê-lo. O que ainda impede-me é o medo de perder o amor da Mily, de parecer egoísta e impor a ela algo tão pesado.
- Eu estou surpreso com a pergunta. Não é uma decisão fácil, mas a Princesa é muito jovem e ainda não entende isso. Por que o senhor pensa em fazer isso?
- Porque eu amo uma pessoa, René, e meu amor jamais será aceito. O Monarca é o espelho da Nação, do seu povo, e o meu povo jamais permitirá que eu viva esse amor.
- Ela é plebeia?
- Não é ela, René, é ele. E não, ele não é plebeu. É o meu primo, o Príncipe Bernard.
- Alteza, eu jamais poderia imaginar, embora eu fosse apaixonado pelo senhor, jamais imaginaria que o senhor amava outro homem.
- O que você falou? Você me ama?
- Desculpe-me, Alteza, acredito que falei demais.
- Não, René, nós precisamos conversar.
Continua...
O capítulo ficou curto porque estou sem muito tempo de escrever. Estou aproveitando muito minhas férias e me ausentei um pouco da tecnologia. Acredito que volte antes do fim de semana. Beijos.