Nunca imaginei chegar até aqui,isso devia ser um pouco mais fácil, ou pelo menos devia ser fácil.
— Você ainda está nervoso? — Perguntou Felipe.
— Você sabe que eu não relaxei nenhum minuto depois de que entramos nesse carro. — Ele sorriu e segurou minha mão.
— Não seja bobo, combinamos isso a mais de um mês Ewerton. — Dei de ombros.
— E se eles não quiserem casar nós dois?
— Simples, ligamos para Pablo,temos advogado pra que? E vamos só marcar a data.
— É,Pablo foi uma boa ideia. — Ele sorriu de uma forma divertida.
Estávamos indo até um cartório,Felipe queria marcar o dia do nosso casamento, isso me deixou sem dormir por uma semana inteira, mesmo morando com ele,me casar com ele parecia ser um passo tão importante. Por isso Felipe fez Pablo vir para a cidade nos ajudar, ele e Vítor estevam na nossa casa,fiquei contente por ter Vítor por perto, ele é uma espécie de paz para mim.
Chegamos no cartório depois de alguns minutos, eu fiquei mais apreensivo.
— Se você não ficar assim no nosso casamento eu juro que vou te xingar Ewerton. — Felipe riu me puxando para fora do carro.
— Eu juro fazer meu coração parar.
O cartório era uma espécie de escritório,tinha uma mulher que nos recebeu assim que colocamos o pé lá.
— Marcaram hora?
— Eu não sabia que tinha que marcar hora. — Olhei para Felipe decepcionado.
— É claro que isso não vai ser preciso,Hugo é meu amigo, com certeza ele vai adorar me receber. — Felipe sorriu confiante,a mulher olhou para ele de cima a baixo.
— Só um minuto. — Ele foi para algum lugar.
— Viu a forma que ela olhou para nós? Se fosse minha empregada eu já tinha demitido. — Falei. Felipe apenas sorria, ele me abraçou. A mulher voltou depois de uns minutos e ficou surpresa com a cena que via.
— O senhor Hugo vai falar com vocês agora. — Ele me olhou mais uma vez antes de nos levar até um elevador. — É o quinto andar.
— Obrigado. — Disse Felipe. Quando a porta do elevador de fechou me senti mais traquilo,era óbvio que aquela mulher estava com nojo da gente. Em pleno século XXI e as pessoas ainda tem tanto preconceito enraizado na alma. — Ela é só mais uma. — Falou Felipe como se soubesse oque eu estava pensando.
— É, ela é só mais uma.
Quando chegamos de frente para o escritório do amigo de Felipe eu respirei mais aliviado, não tinha o porque de eu ficar nervoso.
— Felipe, que bom voltar a vê-ló depois de tanto tempo. — Disse um homem alto e forte,ele era careca,jovem demais para ter problemas de cabelo,imaginei,mas era bonito, não um Deus da beleza, era um cara que eu olharia umas duas vezes se passasse na rua.
— Nem tanto tempo. — Os dois deram abraços colorosos.
— E você é? — Ele se dirigiu a mim.
— Ewerton, me chamo Ewerton. — Apertei sua mão com força.
— O que trazem vocês até aqui?
— Viemos marcar a data do nosso casamento. — Hugo sorriu e se sentou na sua mesa.
— Então vão se casar? Os dois? No mesmo dia? Adoraria conhecer as noivas. — Olhei de relance para Felipe, que demostrava calma.
— Não Hugo,vim marcar o nosso casamento, o meu e do Ewerton, ele é meu noivo. — Hugo nós olhou com surpresa e curiosidade. Ele começou a rir alto.
— Qual a graça? — Perguntei irritado.
— Vocês,vocês são a graça. Vamos é claro que estão brincando.
— Não Hugo,eu estou falando sério. — Felipe estava decidido. — Vou me casar com ele. — Ele segurou a minha mão.
Hugo se levantou da cadeira dele rápido, suas expressão me dava medo,ele estava com uma chama de ódio nos olhos.
— Vamos Felipe, eu te conheço a muito tempo, fomos amigos, não acha que eu vou acreditar nesse absurdo.
— Ele esta falando a verdade, que parte você não entendeu,quer que eu desenhe? — Estava ficando cansado desse homem.
— Não espere que eu aceite isso,eu tenho um nome,Imagine o escandalo nos jornais,meu nome, "o cartório de santa fé celebra casamento homossexual". Sabe,seus pais se casaram aqui,quer que eu manche essa instituição com a pouca vergonha de vocês? — Ele estava quase gritando. Felipe agora estava com um expressão séria.
— Hugo, eu estou pagando para você nos casar.
— Não é sobre dinheiro, é sobre aceitar essa abominação,Deus vai me mandar para o inferno por estar compactuando com isso.
— Inacreditável. — Falei,ele olhou pra mim. — Você coloca Deus no meio disso pra não dizer que seu preconceito é maior,o problema não é Deus, é você. — Eu estava perto dele agora. — Eu tenho muito nojo dessa sua raça preconceituosa. — Eu lhe dei um soco, ele cabaleou e caiu no chão. — Eu também não quero mais que você nos case,Deus tenha piedade de você.
— Vamos nos ver de novo Hugo, meu advogado vai te procurar,se você não sabe, você não pode se negar a casar nós dois. — Disse Felipe. Ele saiu pela porta com raiva. Olhei para Hugo caído no chão e ri,era lá que todas as pessoas como ele deviam estar, no chão.
°°°
— Sinto muito.
— Pelo que? Não é sua culpa que não vamos nós casar,aliás, vamos casar,existe tantos outros cartórios.
— Mas eu não vou deixar esse caso passar em branco, eu vou chegar as últimas consequências. — Ele estava decidido,eu não ia impedir ele,mas ele não me ouvi mesmo.
Ele não falou nada no caminho para casa,estava triste e pensativo. Eu ainda não acreditava que aquele homem não quis marcar nosso casamento, como se tivessemos pedindo um favor pra ele, pessoas preconceituosoas são tão ridículas.
Quando chegamos, ele se trancou com Pablo no escritório dele. Fiquei com Vítor na sala.
— Ele esta estremamente irritado. — Falei para Vítor que estava deitado no sofá.
— Entendo ele,deve ser horrível. Se fosse eu teria arrebentado aquele homem.
— Eu bati nele,só acho que isso pode nós trazer problemas,ele pode processar a gente.
— Tá com medo do que? Meu homem é o advogado de vocês. Vocês já ganharam. — Eu ri alto.
Felipe e Pablo sairam do escritório conversado eufóricos.
— Vamos processar o tal Hugo. — Pablo riu.
— E isso é engraçado? Eu posso ser preso por te batido nele. — Falei visivelmente preocupado. Felipe riu e me abraçou.
— Não se preocupe, ele é o único errado aqui. — Mas isso não me fez ficar mais tranquilo,pelo contrário.
**
— Você está tão caladinho. — Felipe mordeu meu ombro, estávamos no nosso quarto,era de noite.
— Nunca pensei que ia passar por isso. — Falei cabisbaixo
— Eiei. — Ele tocou meu rosto me fazendo olhar para ele. — O que foi?
— Nunca Imaginei que alguém pudesse se negar de nós casar, isso me deixou abalado.
— Calma Ewerton, tudo vai ficar bem amor. Tem pessoas que são assim, você não se acostumou? Lembra do mês passado quando eu parti pra cima dequeles caras que nos chamou de bichas?
— Me lembro, e também me lembro da conta do hospital que você deve que pagar pra eles. — dei um sorriso maroto. — Eles ficaram quebrados.
— Eu não devia ter pagado nada, mas seu coração é puro demais. — Ele beijou meu ombro novamente. — Enfim, você sabe que isso podia acontecer, mesmo eles não podendo se negar a casar um casal gay,eles sempre preferem honrar a sexualidade deles. — Eu acenti com a cabeça. Eu derrubei ele na cama,nós rimos,e no minuto seguinte eu já não me preocupava mais com nada.
— Você está usando a cueca que eu te dei. — Mordi o lábio esquerdo.
— Gostei da cor, roxa,é lindo. — Ele me roubou um beijo.
— Eu gostei, mas eu vou gostar muito mais em tirar ela. — Olhei ele com malícia.
— Você não estava preocupado se nossas visitas iriam escutar até ontem?
— Sim, até ouvir Vítor gemendo. — Felipe riu algo. Tive que colocar minha mão na boca dele. — E foi muito estranho. Então se a visita não se preocupa em gemer pra casa toda ouvir,o dono dela também não liga. — Beijou Felipe. Minha mão foi direto para a cueca dele,ela sabia muito bem o caminho.
— Tudo bem,vai em frente. Depois não reclame de estar todo dolorido amanhã. — Eu ri alto e voltei a beijar ele. Ele tirou minha camisa com facilidade,eu estava sentado no colo dele.
— Eu vou sobreviver. — Sorri malíciosamente de novo para ele.