Não sei bem como começar essa história de tão imprevisivel o modo como aconteceu e como tudo se desenrolou de uma forma que eu jamais tinha previsto nem mesmo em meus sonhos . Vou tentar contar da melhor maneira que eu puder , vamos lá .
Meu nome é Gabriel , tenho 19 anos , pode me chamar de Biel , é assim que a maioria das pessoas me chama . Eu moro no Rio de Janeiro – a cidade maravilhosa , teoricamente – no bairro de Engenho de Dentro , embora eu sempre vá dizer que eu moro no Méier . Só eu e a minha mãe . Angélica . Ela é muito legal , tem 53 anos , é professora de História , ama o que faz mesmo com todas as desvantagens e falcatruas do Estado , o que lhe deixa muito abatida as vezes e me deixa realmente puto com o Estado e esse país que não dá a minima para educação ou cultura . Mas a história não é sobre isso , é sobre mim . Gabriel Velazquez dos Santos , que provalvelmente você já deve estar se perguntando como eu sou .
Não sou bonito , só para começar . Não sou alto , tenho altura mediana , algumas espinhas pelo rosto , meu cabelo é crespo – enrolado – bem preto como a noite – assim como meus olhos que são olhos tristes , melancólicos , como minha mãe diz . Como se eu nunca fosse ser feliz . Meu nariz é grande – no colégio chamavam de Batata - sou magro de ruim e não tenho um namorado – sim , sou homossexual – minha mãe aceita bem isso , então eu não ligo muito para isso também . Já meu pai , é quase como se eu não tivesse um , já que ele mora em outro Estado e nós dificilmente nos falamos , ele tem outra familia e tal , quase nunca mantemos contato .
Não tenho muitos amigos , mas isso não me faz muita falta e faço bacharelado e licenciatura em Filosofia – a mãe das Ciências - Philosophia – na UFF em Niterói , uma outra cidade . Tenho que pegar até barca para ir ... Louco , né ? Nem tanto , quanto o que vem depois . Esperem só .
2
Eu estava dormindo quando ouvi uma batida na porta . Era de manhã ainda , umas 08 :30 , 9:00 da manhã .
- O que foi mãe ? – Gemi , ainda morto de sono .
Ela tomou isso como um sinal positivo para entrar e abriu a porta .
- Quero falar com você sobre uma coisa , uma coisa realmente muito importante . – disse minha mãe , ainda de camisola de dormir e com os cabelos despenteados e bagunçados , o que mostra que ela andou pensando nisso há um tempão , provalvemente a noite inteira . – Muito importante , mesmo .
Sentei na cama e perguntei o que era .
- Vamos nos mudar pra Copacabana . – Ela disse e sorriu , rindo .
Eu literalmente mal consegui acreditar no que eu estava ouvindo . Pensei que estava sonhando ou alguma coisa maluca do tipo – fiquei meio Descartes naquele momento , me perguntando se aquilo era realmente real .
- O quê ?
- Sim . Acredite , eu já venho pesquisando sobre isso há um bom tempo , andei olhando uns apartamentos e vendo nossa economia para te fazer uma surpresa e encontrei um que podemos alugar . É menor – bem menor – do que esse , mas é Copacabana .
Sim , Copacabana . Meu sonho de infância , meu sonho de morar . A praia , os bares , o comércio e a vida noturna fervilhantes , os turistas , minha vida poderia finalmente poderia mudar para melhor . É perto do Centro , tem metrô , sem falar que perto da praia eu iria conhecer outros homens de cores , culturas e religiões diferentes , era outro mundo . Um mundo com uma mente aberta , se posso dizer . Mal eu sabia o quanto iria mudar .
- Isso é maravilhoso , mãe . Quando nós ..
- Estou acertando tudo com a corretora , mas se tudo continuar correndo bem , no final dessa semana .
- Já ? Nossa .
- Quer conhecer o apartamento hoje ?
- Claro .
Fomos de ônibus e chegamos lá umas 10:30 da manhã . Cinco minutos da praia , só atravessar a rua e chegava na praia . Era bom demais . A fachada do prédio era feia – antiga , art déco – e ele em si não era grande coisa . Estava mais interessado no que tinha em redor , do que nele em si . Era realmente pequeno e escuro , só dois quartos e um banheiro e não ia caber quase nada dos nossos móveis e era no térreo , no primeiro andar .
- E então ?
Estava tão enamorado da ideia de morar em Copacabana , que eu nem liguei muito para a aparência , só queria me mudar rapidamente .
- Eu gostei – disse , sorrindo – Gostei muito , vamos em frente .
- Ok , então vai ser esse .
Aproveitei e segui para o meu quarto , do lado esquerdo . Entrei , passei a mão pelas paredes , era amarelo . Só daria pra trazer a minha cama e meus livros . Uma janela dava para a rua e de frente para um hotel baratinho que depois descobriria que era um motel . Não me importava muito o tamanho ou a qualidade do prédio , só queria me mudar dali . A verdade , era que eu já me via morando ali , dormindo no quarto e saindo de casa para ir a praia .
- Vamos dar um pulinho na praia .
- Ok .
Fomos . Não estava muito cheia , por conta do céu nublado . Só uns turistas e uns senhores e senhoras com os cachorros passeando e uma música leve no ar que vinha dos quiosques . O mar estava revolto , as ondas iam e vinham quebrando na areia . Uma após a outra , em um ritmo perfeito inesquecivel . A natureza era perfeita em seus arranjos , como um quadro de insuperável beleza .
Sentamos em um banco perto da areia , ao lado de um casal de turistas italianos. Minha mãe olhava ao longe , com o olhar meio vago e vazio , pensando em alguma coisa , era enigmático , enquanto eu observava a paisagem e as pessoas caminhando . De bicicleta , skate , patins , a pé . Era um ambiente bem democrático , já que tinha gente de todas as classes sociais e de raças e credos diferentes . A medida que anoitecia , fomos embora .
Naquela noite , não dormi . Nem nas outras seguintes , de tanta ansiedade . No entanto , o tempo passou rápido e quando vi já havia chegado o dia da mudança .
PARTE 1