Segredos de uma Cidade – Cap. 6
Aquele sótão tinha tanta tralha, tanta poeira, me vi perdido em meio a todo o caos de anos e anos da vida da família do sr. Felipe. Depois de algum tempo separando o que devia ser guardado ou jogado no lixo me deparei com algo um tanto curioso. Eram alguns cadernos de capa preta, sem qualquer identificação. A maioria das coisas naquele sótão estava identificada e isso me deixou em uma situação difícil, uma vez que teria de abrir os cadernos para ver o conteúdo. Poderia se tratar de livros de contabilidade ou algum tipo de recordação familiar. Ao abrir o primeiro caderno e ler uma breve descrição na contracapa levei um choque: tratava-se de um diário escrito pelo senhor Pedro, pai do Felipe. Em todos os outros cadernos havia a mesma descrição. Fiquei um pouco constrangido com o fato de ter em mãos as intimidades de um senhor que nem ao menos conhecia. Ainda assim, a curiosidade em ler aquelas páginas foi mais forte que o constrangimento. Essas últimas semanas estavam cheias de surpresas na minha vida. Muitos acontecimentos inesperados, marcantes me cercavam. Esse era mais um deles. Fiquei completamente estático quando comecei a ler os diários. Aquelas páginas continham anos de segredos da vida do senhor Pedro e de muitos outros homens da cidade. Uma sociedade tão preconceituosa, intransitiva, obriga as pessoas a buscarem maneiras ocultas de expressar seus sentimentos, seus desejos mais íntimos. E era exatamente isso que contava nos diários do senhor Pedro. Como os homens de uma geração engessada pelas regras sociais aliavam seus desejos sexuais por outros homens, sem exposição e julgamentos. O senhor Pedro, juntamente com mais alguns homens criaram uma festa, um encontro no qual todos poderiam expor seus desejos mais íntimos e ser realmente eles mesmos. Festas em que o sexo era o laço maior entre os participantes. Comecei a me sentir mal em invadir a intimidade do senhor Pedro e fechei o diário. Questionei o porquê de alguém buscar a discrição e relatar os fatos em diários. Talvez, narrar os fatos seja uma forma de desabafo. Agora gostaria de conhecer o senhor Pedro. Separei os diários na pilha do que seria guardado e continuei a arrumar o sótão. Já próximo ao meio-dia a Berta veio me chamar para o almoço. Lavei as mãos e me dirigi a sala de jantar. Muitos idosos já estavam comendo e os profissionais da casa de repouso lhes dando apoio. Em uma mesa aparte, estavam sentados o senhor Felipe, a Berta e dois homens que eu ainda não conhecia. Um deles, um coroa muito enxuto, de cabelos grisalhos e ralos. Via-se de longe que praticava exercícios físicos. O olhar dele era penetrante e com certeza devia ser o senhor Pedro, pela aparência com o senhor Felipe. Sentei-me a mesa e cumprimentei a todos – Boa tarde! – Todos responderam e o senhor Felipe logo puxou papo – Então garoto e aquela bagunça toda lá de cima? – Ele disse isso e piscou para mim fiquei um pouco corado, mas tratei logo de responder – Já consegui arrumar uma parte, só que ainda falta muito... – Todos riram e o senhor Felipe rebateu – Sem problemas, sei que não é trabalho para um dia só. – Ele riu e continuamos comendo. O senhor Pedro e Berta, assim como eu, comiam calados enquanto o senhor Felipe e o outro homem a mesa conversavam animadamente. Eles falavam de futebol, da rotina na casa de repouso, de robes dos dois, nada muito pessoal. Então o senhor Felipe se lembrou que não tinha nos apresentado – André, esse é o Doutor Rafael nosso Geriatra, ele cuida muito bem dos nossos hóspedes! E Rafa, esse é o André, vai ficar um tempo aqui conosco! – O doutor Rafael estendeu a mão para mim e rapidamente eu retribui. Ele apertou forte a minha mão e olhou bem no fundo dos meus olhos. Tive a impressão que ele conseguia ver no fundo da minha alma – Prazer André! – Ele me deixou encabulado e tratei de enfiar a cara no prato. O almoço correu tranquilamente e logo eu estava de volta ao sótão. Achei uma pena não ter conversado com o senhor Pedro durante o almoço. Talvez ele estivesse de mau humor. Apesar de ter decidido não ler os diários, não conseguia tirá-los da cabeça. A curiosidade estava em disputa acirrada com meus princípios. Não demorou muito até ser vencido e voltar a folhear aquelas páginas e mais uma revelação bombástica surgia. O texto dizia assim:
Na última festa alguns rapazes vieram me pedir para incluir um novo membro ao grupo. Como de praxe questionei se o rapaz já sabia de algo, se curtia e a resposta foi negativa. A inclusão de novos membros era sempre um assunto delicado, já que poderia expor as nossas atividades. Perguntei quem era o rapaz e disseram se tratar do Armando. O garoto é amigo do Felipe, acabou de completar dezoito anos e é bem atraente. Fiquei de pensar em uma forma em trazê-lo para o nosso meio.
Ler isso foi um baque para mim. O meu pai é um homem atraente até hoje. Um belo corpo, rosto, é um cara agradável de se conversar, chama atenção de homens e mulheres por onde passa. Será que ele aceitou participar dessas festas? Haviam muitas duvidas e eu as resolveria lendo:
Muito discretamente, comecei a sondar se o jovem Armando sentia atração por homens. O Felipe disse nunca ter entrado nesse tema com o amigo. O Alfredo, outro amigo em comum deles, disse já ter notado alguns olhares diferentes do amigo. As informações não eram conclusivas e cada vez que eu analisava mais o garoto, mais me sentia atraído por ele.
Estava suando e sentindo um frio na barriga enquanto lia as memórias do senhor Pedro. A ansiedade me consumia em saber como a trama se desenrolaria:
Resolvi tomar uma atitude e testar as predileções do Armando. O plano era simples, em uma sexta-feira a noite quando os rapazes estivessem na rua para se divertir, o Fábio ia fazer uma batida e realizar uma revista um tanto quanto ousada no Armando.
Fábio? Será o Delegado Fábio? Cada vez mais o relato ficava interessante e eu não conseguia parar de ler:
Seguindo as minhas instruções, Fabio aguardou que eles passassem por uma rua mais deserta e fiquei aguardando para apreciar o que iria acontecer sem ser visto. Alfredo e Felipe foram instruídos a deixar o Armando sozinho próximo ao local escolhido. Quando foi abordado, Armando se assustou, mas seguiu as ordens do policial. De onde eu estava não conseguia ouvir, mas via tudo perfeitamente. De mãos apoiadas no carro, Armando aguardava a revista. Ele vestia uma bermuda e regata. O verão apresentava recordes de temperatura. A revista começou e Armando parecia nervoso. As mãos do Fabio passeavam pelo tronco e pelas coxas do rapaz, simulando uma revista normal. Então veio o primeiro teste, Fábio encostou todo o corpo nele afim de alcançar o torso. Nesse momento, Fábio deveria estar com o pau completamente duro para assim sarar a bundo do Armando. Eu estava completamente excitado assistindo de longe, me tocando já. Eles ficaram um tempo com o corpo colado e falavam algo que eu não ouvia. Quando Fabio se afastou dele pude ver a ereção formando um volume grande na farda. As mãos dele voltaram as coxas do Armando, o plano seguia. Caso o garoto oferecesse alguma resistência, reagisse de forma violenta ou exaltada ele encerraria o teste. Pelo visto, Armando permitiu ao Fábio continuar a revista.
Nesse momento da leitura eu já estava muito excitado e com o pau melado. Imaginar meu pai e o delegado Fábio naquela situação era muito excitante:
Fábio apalpava a bunda do rapaz e falava alguma coisa no ouvido dele. Fábio era o homem mais sedutor que eu conhecia. Sempre conseguia o que queria, não foi à toa ter colocado ele nessa missão. As mãos grandes do Fábio alisavam as nádegas do Armando que apertava a viatura na qual apoiava as mãos. Em certo momento, Fábio levava o dedão até o cu do Armando fazendo pressão. Aquela técnica era infalível para despertar o tesão de um cara. Armando se virou um pouco para falar algo e pude ver a ereção dele. Uma barraca armada na bermuda folgada. Tudo se encaminhava para o sucesso daquele teste. Fábio colocou o Armando de volta apoiado ao carro, abriu o zíper da farda e colocou o pau para fora. Ele começou a esfregar a rola dura e babada na bunda do Armando. A rola passeava pelas nadegas e se aconchegava no rego do garoto. Como eu queria estar mais próximo, ouvir os diálogos, apreciar melhor toda a atividade. Então, Fábio partiu para a ultima fase do teste. Abaixou a bermuda do Armando e continuou sarrando a bunda dele. Eu quase gozei imaginando o que o garoto sentiu quando a rola quente e babaca tocou a pele da bunda dele, em seguida Fabio começou a masturba-lo. Os dois pareciam em sintonia. O clímax estava próximo. Eu me masturbava de forma violenta e logo gozei. Distraí-me enquanto gozava e fui chamado atenção pelo urro emitido por Fábio. Ele gozou com o pau entre as nadegas do Armando, deixando-as meladas. Então, Armando também gozou lavando a mão do Fábio de porra. O gemido dele foi bem mais contido, mas ainda assim consegui ouvir. O teste estava concluído, tinha sido um sucesso e agora só faltava a iniciação do Armando em nossas festas.
Uma poça de porra havia se formado no chão perto de onde eu estava. Não consegui me conter. A narração do senhor Pedro, cheia de detalhes, era muito excitante. Mais ainda quando um dos personagens é o meu pai. Não sei quanto tempo perdi lendo o diário, precisava voltar ao trabalho. Separei o diário e voltei ao trabalho. Minha mente estava totalmente naquela história. Muitas perguntas se formavam e a única forma de obter respostas seria lendo. Pretendia levar o diário para casa, terminar de ler e devolver no dia seguinte. Porém não foi possível. O senhor Pedro apareceu no sótão e assim que viu a pilha de diários ficou um pouco alterado.
- Sabia que não tinha sido uma boa ideia colocar um estranho para revirar minhas coisas – Disse ele visivelmente irritado.
- Desculpe senhor, não estava revirando nada só arrumando conforme solicitado pelo senhor Felipe – Eu fiquei extremante constrangido com a atitude dele e ele percebeu.
- Eu que te peço desculpas, jamais deveria ter falado assim com você, não tem culpa de nada. Vou levar esses cadernos, são valiosos para mim e quero guardá-los. Espera, está faltando um, você não viu? – Disse um senhor Pedro com expressão de medo. Entrei em pânico, não sabia o que fazer. Devolver o diário significaria não saber o desfecho da iniciação do meu pai. Não o devolver poderia gerar uma desconfiança enorme no senhor Pedro. Comecei a fingir que procurava pelo caderno sumido sendo ajudado pelo pai do meu chefe. Eu sabia exatamente onde estava o caderno só queria ganhar tempo de arrumar uma desculpa.
- Sr. Pedro eu só achei esses, talvez o que falta ainda esteja no meu dessa bagunça toda. Eles foram aparecendo aos poucos enquanto retirava algumas coisas. Fique tranquilo assim que ele aparecer entrego ao senhor. - Disse isso e esperei pela reação dele. Ele me olhou de um jeito desconfiado, contudo parecia acreditar no que eu tinha dito.
- Tudo bem!! Assim que aparecer você me entrega. Eu preciso perguntar, você leu algum deles? – Falou o sr. Pedro com uma expressão preocupada.
- Não se preocupe, só precisei abrir a capa para ver do que se tratava, mas não li o conteúdo. – Disse a ele torcendo para que acreditasse.
- Vou confiar em você!! E não me chame de senhor, só Pedro é o bastante, afinal não sou tão velho assim!! – Completou com uma gargalhada gostosa e uma piscada para mim. Saiu levando os diários.
Minha sorte foi ter limpado a porra mais cedo e colocado o diário em local afastado, assim ele não percebeu nada apesar de ficar desconfiado. Meu coração parecia que ia sair pela boca de tão nervoso que eu fiquei. Tentei voltar a arrumação e logo a Berta apareceu encerrando meu expediente. Foram tantas emoções que nem vi o tempo passar. Escondi o diário debaixo da camisa e desci como se nada tivesse acontecido. Peguei minhas coisas e quando já estava na porta, o Felipe apareceu me parabenizando pelo excelente trabalho. Agradeci, me despedi dele e fui correndo para casa. A ansiedade em continuar lendo era tamanha. Quase tropecei e cai diversas vezes pelo caminho até que cheguei. Entrei em casa apressado, nem falei com meu pai. Mal fechei a porta do quarto e já ia voltar a ler quando meu pai bateu na porta.
- Está tudo bem meu filho? Você entrou correndo até achei que te encontraria no banheiro – Meu pai ria enquanto falava me deixando sem graça.
- Está tudo bem sim pai!! Só estou um pouco cansado, deve ser só falta de costume da nova rotina – Mal tive tempo de esconder o diário debaixo da coberta.
- O Leandro esteve aqui, veio se desculpar do papelão de ontem. Nós conversamos e nos entendemos. Ele é um bom rapaz. – Meu pai estava com os olhos marejados, isso mexeu um pouco comigo depois de tudo o que eu descobri hoje. Minha única reação foi dar um abraço bem apertado nele.
- Fico muito feliz que vocês se entenderam!! Estou aprendendo a gostar do Leandro e ter o seu apoio é muito importante. – Agora eu estava emocionado!! O clima entre nós dois não podia estar melhor. Até que a campainha nos tirou do nosso momento pai e filho. Meu pai desceu para ver quem era e logo tratei de arrumar um lugar para o diário. Na minha escrivaninha tinha uma gaveta com chave, foi o lugar ideal para guardar os segredos do senhor Pedro. Em alguns instantes meu pai estava me berrando da sala. Desci que nem uma bala, achei que algo havia acontecido. E tive uma desagradável surpresa ao chegar na sala e me deparar com o Paulo, um dos idiotas que viviam atrás do Vicente.
- O meu pai pediu para te avisar que as aulas foram remarcadas para as 19 horas, no salão do Centro. Não se atrase nem esqueça seu traje. Até lá – Que moleque mal-educado, ele despejou as palavras e saiu. Tinha até me esquecido que ele era um dos filhos do senhor Alfredo. Esse recado tinha algo errado. Porquê da mudança de local e horário das aulas? Será que eles estavam aprontando de novo para mim? Fiquei com medo e pedi para o meu pai confirmar com o senhor Alfredo. Assim que ele confirmou eu fiquei mais tranquilo e fui me preparar para a aula. Tomei um banho, jantei e descansei até o horário de sair.