Era 1987
Era uma tarde de fevereiro de 1987, eu aguardava o momento de entrar pela primeira vez no meu novo colégio, como aluno da oitava série ginasial. Estava sem ambiente, sem conhecer ninguém, nenhum garoto ou garota que ali estava. Sabia que teria uma nova jornada de adaptação e socialização na nova escola.
Foi quando você chegou junto a sua irmã, e realmente chamou a minha atenção, não apenas pela beleza exuberante de seu rostinho rosado e de seus olhinhos verdes reluzentes, mas também por sua simplicidade e singeleza no olhar.
Eu e você éramos apenas dois adolescentes recém saídos da infância, eu com 14 e você com 13 anos, mas pela primeira vez alguém me fazia sentir algo diferente, que me fez palpitar o coração e perceber que já estava deixando a infância para trás, e vi que também lhe despertei o mesmo sentimento, pois a forma insistente e curiosa com a qual você me olhava denunciava isso. O mais engraçado, é que um só olhava para o outro enquanto não cruzavam-se os olhares, e quando se cruzavam, desviavamos o olhar como disfarce rsrsrs, demonstrando tamanha timidez de ambas as partes.
Ainda que inexperientes e inseguros, tínhamos sentimentos, ainda que confusos, mas era uma coisa deliciosa, diferente em nossas vidas, que deixava um certo suspense no ar.
Sei que por várias vezes fizemos jus a nossa fase adolescente, principalmente quando fingiamos não gostar um do outro, e até quando fugiamos um do outro, ao nos avistarmos ao longe, nos imensos corredores daquele colégio centenário, vindo na mesma direção, e desviavamos a rota ou então entravamos em alguma sala para evitar o encontro, ainda que com o coração quase saindo pela boca, pois a minha vontade real era de perguntar como você estava, de lhe dar um abraço amoroso para satisfazer minha carência, e lhe mostrar o meu verdadeiro sentimento, mas a imaturidade, a falta de experiência e a timidez falavam mais alto naqueles momentos.
Eu me sentia apreciado quando você resolvia ficar na quadra do colégio após as aulas para assistir aos treinos da seleção de futebol de salão, da qual eu fazia parte, pois eu sabia que você estava ali sob pretexto para me ver, pois por inúmeras vezes eu lhe flagrava me olhando fixamente, com uma curiosidade estampada no olhar que me deixava super feliz e até me motivava a jogar melhor ainda rsrsrs.
Mas você era duro na queda e continuava dando uma de difícil, e isso, por vezes me tirava do sério, ficava puto com você e tal, mas por outras, me divertia, pois eu sabia que estava sendo observado e notado, e você também sabia que era recíproco o sentimento, e que a cada dia o tesão e a paixão entre nós só aumentava.
Chego a gargalhar quando lembro do nosso primeiro contato verbal, que foi numa briga que você provocou ao, "sem querer" derrubar meu material escolar da carteira em que me encontrava sentado. Aquilo foi a deixa para nos falarmos pela primeira vez, ainda que nos xingando um monte, mas tanto eu quanto você, no fundo estávamos era adorando aquela "briguinha" boba, e também o mais curioso foi o clima que ficou depois desse desentendimento que nos fez trocar empurrões e que quase nos levou às vias de fato, não tivesse sido pela turma do "deixa disso", para separar. Essa briga, serviu para fortalecer ainda mais o sentimento que eu nutria por você, que foi algo realmente novo, inexplicável, e que por muitas vezes me tirou o sono pensando em você, querendo estar com você.
Jamais vou esquecer a primeira vez que resolvemos nos dar a chance de nos conhecermos e mais ainda, da primeira vez em que trocamos aquele abraço carente, cheio de desejos, ansioso e apaixonado, ao final daquela tarde, quando já não tinha mais ninguém por perto, no colégio. Você até lagrimou ao me dar o primeiro beijo, que foi um dos momentos mais maravilhosos que vivi, e você protagonizou aquele momento, o qual guardo em minha memória com muito carinho, e é por isso que você jamais saiu e nem sairá de minha memória. Somente você me fez acreditar que se pode amar alguém verdadeiramente, porque eu realmente te amava.
Apesar de tudo, sempre nos respeitamos e procuramos antes de tudo, sermos bons amigos, prontos a ajudar-nos um ao outro, e até ficamos confidentes numa cumplicidade jamais vivida por mim. Apesar da imaturidade, normal da fase e da idade de então, soubemos o momento certo de realizarmos nossa primeira experiência sexual, que foi sem dúvida, algo engraçado pela mútua inexperiência, e lindo pelo sentimento que nutriamos um pelo outro, que era verdadeiramente cristalino. E isso contribuiu para que essa experiência fosse inesquecível, magnífica e plenamente maravilhosa. Sem falar na ajuda que tivemos pela produção dos hormônios que estavam a mil por hora face às nossas idades, contribuindo para que tudo tivesse sido algo imensurável, inesquecível, fazendo jus ao dito: "a primeira vez, a gente nunca esquece".
Infelizmente fomos separados pelo destino, pois acabei sendo transferido e coincidentemente seus pais também lhe tiraram do colégio, e realmente sofri muito com isso. Tanto que passei anos a sua procura na tentativa de não lhe perder para sempre, como foi o que acabou por acontecer. Sempre que podia, eu ia ao nosso antigo colégio na tentativa de te ver por lá ou de que alguém pudesse me informar onde você morava, algo que não rolou, pois ninguém podia me ajudar nisso. Foi uma total desilusão, pois eu nunca imaginei que ficaria sem ver você por tanto tempo assim. Acredite, um dos nosso colegas me informou que apenas sabia o seu bairro, mas não endereço ao certo, mas ainda assim, eu rodei esse bairro, numa tentativa desesperada de te reencontrar. E apesar de perguntar, ninguém lhe conhecia, foi tudo em vão, uma situação que me machucou e me fez chorar, pois eu estava realmente loucamente apaixonado por você.
Não tenho idéia de onde você possa estar hoje, ou se ainda é vivo, mas eu queria muito poder te reencontrar e te dar um abraço bem apertado, bem carinhoso e saudoso porque sei que você também não me esqueceu.
Talvez você tenha casado e constituído família, ou ainda não tenha arrumando ninguém, o que não acredito, pois como eu, você sempre sofreu muito com os assédios, pois também era muito bonito e inteligente.
Mas a coisa mais certa é que você nunca saiu de minha lembrança como o amor da minha vida. Te amo ainda hoje. Se não vives mais, peço a Deus que te guarde em um ótimo lugar, e que Ele permita que nos encontremos novamente, ainda que em algum outro plano para que eu possa dizer o quanto te amo e que nunca te esqueci. Você foi tudo pra mim.
Sofri muitas desilusões e fracassos nessa vida, de modo a me tornar um cara frio e sem amor a nada e nem ninguém, mas quando penso em você, quando lembro de você e de tudo que juntos passamos, ainda que de forma efêmera, mas intensamente. Sim, efêmera como um cometa que passa sem deixar rastros de seu destino, sem deixar pistas se um dia voltaremos a vê-lo, esse sentimento chamado amor verdadeiro aflora em meu coração, e as vezes chego a chorar pela saudade que me massacra, chego a sentir seu cheiro de forma tão intensa, como se você estivesse comigo. Tudo isso é massacrante para mim. Você foi um cometa que passou em minha vida, mas um cometa lindo, terno, cheio de boas intenções e que por alguns instantes me fez sentir verdadeiramente amado, assim como arrancou de mim esse sentimento de forma intensa, cristalina e nobre.
Como eu daria tudo para te ver uma vez mais que fosse só para lhe dizer: "Meu amor, eu te amo muito e nunca te esqueci. E, se um dia você sentir solidão e não tiver ninguém, estarei aqui para te receber com todo meu amor e ternura".
Acredite, tive muitos erros e também acertos, cheguei ao fundo do poço, onde homem nenhum quer ou imagina chegar, e sei que para muitos, sou um cara durão, indiferente e insensível rsrsrs, mas antes de tudo sou um ser humano que também chora e tem sentimentos, entre esses, o da intensa saudade que você me causa.
Para sempre te amarei,Ulisses.
Obs: o presente relato não tem cunho sexual, é apenas uma lembrança de algo inesquecível acontecido e minha vida.
Apesar de ser hoje um coroa solitário, já tive um amor ou amores verdadeiros. Não sei se um dia encontrarei alguém que me preencha, mas o fato é que o tempo passa, a gente vai envelhecendo e temos que aceitar isso. Beijos a todos.
