Carga rápida.
(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.
O PROPRIETÁRIO DA OFICINA MECÃNICA logo que chega a seu local de trabalho, procura pelo Ximbica, funcionário encarregado da limpeza. Assim que o localiza, parte para cima.
- Ximbica, o que aconteceu com a doutora Elenice?
- Aquela moça da BMW preta que chegou aqui rebocada?
- Sim!
- Ela apareceu bem cedo, por volta das sete da manha, antes mesmo da oficina estar aberta e disse que queria que eu desse uma carga rápida nela...
- E o que você fez?
- Pensei que fosse sacanagem. Carga rápida? Ela, porém, insistiu e disse que foi o senhor que se encontrou com ela na padaria e começaram a conversar. Daí ela disse que um dos carros estava com problemas. Aí um amigo de vocês, que também estava na padaria se prontificou a rebocar o automóvel. Nessa confusão ela veio aqui junto com o Serginho do reboque. Eu estava abrindo a loja e recolhendo o lixo do dia anterior. Ao topar com ela, corri atender. Foi ai que descobri que ela era a dona do carro preto. Ao ser atendida, me disse que o Serginho havia esclarecido que o problema do carro era a bateria. E pediu que eu desse uma carga...
- Continue...
- O Serginho me ajudou a colocar o carro pra dentro...
- Continue seu merda...
- Carro dentro do pátio, o Serginho se mandou. Ai a moça veio atrás de mim e pediu...
- Pediu o quê, Ximbica?
- O senhor sabe...
- Não Ximbica, nem imagino.
- Ela me pediu que eu desse a carga rápida.
- E depois?
- Depois, quero dizer, nisso, eu pensei que ela queria entrar no pau. Parecia carente e fogosa...
- Como é que é? Entrar aonde? No pau?
- É patrão. Ai não perdi tempo. Levei a beldade ali para o depósito de lixo, tirei a pica pra fora, pedi para ela se ajoelhar e... parti pra carga rápida.
- Como disse?
- Levei ela ali para o depósito onde a galera deixa o lixo e tornei a perguntar: “o que a senhorita deseja?” “Ela disse: uma carga rápida”. – “A senhora quer dizer uma chupeta?” – “Ela corroborou: - “Claro e bem rapidinha...”.
- Ela o quê, Ximbica?
- Corroborou.
- Que porra é essa de corroborou, seu imbecil?
- Confirmou que queria, de fato, a chupeta.
- Dai...?
- Sem perder tempo, como lhe falei, tirei elezinho pra fora e dei pra ela mamar...
- Você o quê, Ximbica?
- Dei de mamar pra ela. Em outras palavras, fiz a chupeta.
- Seu imbecil Você comeu a nossa, quero dizer, a minha cliente?
- Não, não comi. Ela saiu daqui inteira. Patrão, pelo amor de Deus! Tenho cara de canibal? Só dei pra ela a chupeta que pediu.
O patrão, furioso, e debochando, imitou a voz do funcionário:
- “Só dei pra ela a chupeta que pediu...”
Ximbica começou a chorar.
- Então, patrão. Dei nela a tal carga rápida. Ela gostou. O que era para ser uma carga rapidinha durou cinquenta minutos. Eu marquei no relógio. E ela só parou porque reclamou que os maxilares estavam doendo. Então sem que eu esperasse, ela levantou o vestido, arriou a calcinha e eu terminei o serviço...
- Acredito que você deve ter adorado...
- A garota ou a chupeta que fiz nela?
- Seu imbecil, você é um tremendo desgraçado. Um grandessíssimo filho da puta. Comeu a minha cliente.
- Patrão, já lhe disse, não comi. Eu não sou canibal.
O proprietário, todavia, ficou ainda mais fora de si e descontrolado.
– Perdemos uma cliente top de linha. Isso se ela não resolver me processar por assédio, sei lá ou qualquer outra porra parecida.
- Patrão, ela disse pra mim que voltaria outra vez...
- Naturalmente com a polícia, seu vagabundo. Tarado.
- Polícia?
- Sim, filho de uma égua. Ela vai voltar com toda a galera do fórum. Ela é a nova juíza da cidade. Estou fodido e mal pago.
- Nada a ver, patrão. Ele voltou horas depois, e ao levar o carro, me agradeceu. Detalhe: o valor que cobrei pelo serviço deixei em cima da sua mesa.
O patrão, porém, espumando de raiva, nem se importou com o dinheiro que o rapaz, de fato, havia deixado em sua mesa. Pensando seriamente no que viria depois, tomou a decisão.
- Passa a mão nas suas coisas agora e caia fora daqui. Vou contar até três e quando chegar no três, quero você fora das minhas vistas...
- Patrão, por favor, me escutaPatrãoFora, fora, você está despedido. D-E-S-P-E-D-I-D-O.
Uma semana depois encosta na frente do prédio a BMW preta da juíza. O patrão é avisado por sua secretária e imediatamente se prepara para o pior. A linda moça que saltou do veículo estava à procura dele, exatamente ele, o patrão. Com muito custo e temendo ser preso, finalmente o rapaz, para não fazer feio na frente de seus outros funcionários, se desentoca de sua cadeira e vem atender a bela rapariga. No cu, nessa hora, nem agulha passava.
- Doutora Elenice, digo, excelência, me desculpe pelo que aconteceu dias atrás. Soube que a senhora...
- Senhorita...
- Desculpe, pela gafe. Em nome de meu funcionário quero...
A juíza estranhou à conversa do proprietário.
- O que aconteceu dias atrás com seu funcionário?
- Meu funcionário, o Ximbica... a senhora, digo, a senhorita lembra dele?
- Claro que sim. Estou exatamente aqui à cata dele, meu querido. Preciso que repita a chupeta que me fez. Outro carro meu, ontem à noite, deu problema. Está na garagem lá de casa. Por acaso ele se encontra?
(*) Do livro “Amor de incesto” de Aparecido Raimundo de Souza. Editora AMC-GUEDES RIO DE JANEIRO 2018.