Uma história como a da Cinderela
Jamais vou esquecer o dia em que fiz dezoito anos. Talvez tenha sido o pior da minha existência. Sob a alegação cínica de que aquilo era meu presente de aniversário, eu estava deitado debaixo do meu tio, agarrando-me ao lençol e com o rosto enfiado no travesseiro, enquanto seu caralhão arregaçava meu cuzinho virgem, a revelia da minha vontade e dos meus gemidos.
Tudo começou três anos antes, quando meus pais seguiam para Paris e nunca chegaram ao seu destino. Meu pai era um empresário nascido nos Estados Unidos que se apaixonou por minha mãe na época em que cursavam a universidade. A intensidade desse amor fez com que ele viesse ao Brasil assim que minha mãe concluiu seu curso e regressou ao país onde residia sua família. A empresa de importação e exportação que ele montou por aqui, com os recursos da família abonada nos Estados Unidos, se transformou num patrimônio sólido uma década depois. Minha mãe era de origem francesa, terceira filha do segundo casamento da minha avó. Após a separação do primeiro marido, com o qual teve um casal de filhos, minha avó casou-se com um advogado francês de família aristocrática e foi viver com ele e os dois filhos do primeiro casamento na França, onde minha mãe nasceu. Após a morte dos pais minha mãe tornou-se a beneficiária de todos os bens deixados pelos pais, exceto uma vultosa quantia que o pai deixara em testamento aos dois enteados. Aquela seria a primeira vez que meus pais viajariam sem mim. Estavam indo curtir umas férias que há tempos lhes eram praticamente impossíveis de usufruir, pois os negócios do meu pai o impediam de afastar-se do trabalho. Quando a oportunidade surgiu, eles resolveram aproveitar, uma vez que eu já não era tão dependente e, estava em pleno ano letivo no colégio. Mesmo assim, surgiu um compromisso de última hora com um grupo de clientes do Rio de Janeiro pouco antes do embarque deles, o que os obrigou a embarcar no aeroporto do Galeão, ao invés de Cumbica, rumo a Paris. O voo da Air France 447, num Airbus A330-230, desapareceu dos radares nas proximidades do arquipélago de São Pedro e São Paulo e, jamais foi captado pelos radares da costa senegalesa naquela fatídica madrugada de 31 de maio para 1 de junho de 2009. Eu estava na aula de matemática, quase no final do turno, quando o diretor do colégio mandou me chamar em sua sala. Encontrei meu tio e minha tia, meia irmã da minha mãe, sentados diante da mesa do diretor. Fiquei sem entender o que poderiam estar fazendo ali, uma vez que nunca tratavam de qualquer assunto relacionado a mim.
- Vou deixa-los a sós. Fiquem a vontade. Vou providenciar para que não sejam interrompidos. – as palavras do diretor soavam pesadas e sérias.
-Oi, o que fazem aqui? – perguntei, encarando-os com perplexidade diante do inusitado.
- Sente-se aqui, Bertrand. – disse meu tio, puxando uma cadeira que estava encostada a uma das paredes e, posicionando-a entre a que ele ocupava e a da minha tia. Seu tom de voz me deixou apreensivo.
- Para que? – perguntei afobado.
- Temos uma notícia séria e não muito boa para te dar. – minha tia tinha assumido a tarefa de guiar a conversa.
- Que notícia? Aconteceu alguma coisa com o papai e a mamãe? – engraçado como nosso íntimo é capaz de detectar quando algum ente querido passa por problemas.
- Sim, aconteceu. Não sabemos bem o que, até o momento as informações estão muito desencontradas. Mas, o avião dos seus pais não aterrissou no aeroporto Charles de Gaulle esta manhã como estava previsto. – minha tia ia pronunciando as palavras numa lentidão angustiante.
- E isso quer dizer o que? Que ele mudou de rota? Que ele caiu? – algo me dizia que eu nem precisava ter feito essas perguntas. De alguma forma, a resposta pairava no ar.
- Provavelmente, sim. Não se tem notícias de que tenha aterrissado em algum outro lugar e, a essas alturas, já não haveria mais combustível para continuar voando. – disse minha tia.
- Isso significa que ... – eu não queria ser o primeiro a pronunciar a palavra morte, com receio de que isso poderia ser um vaticínio. Comecei a chorar. De repente, o chão parecia ter-se transformado num enorme e escuro buraco do qual não se via o fundo.
- Vamos para casa. O Fernão está seguindo para o escritório da Air France no Rio de Janeiro onde ficaram de colocar os parentes dos passageiros a par dos acontecimentos e das informações que eles dispõem até o momento. – declarou minha tia.
Meu tio passou dois dias no Rio de Janeiro tratando de uma série de burocracias e, confirmando as informações noticiadas nos telejornais. Já no dia seguinte, quando noticiaram que haviam sido encontrados destroços boiando no Atlântico, sem vestígios de passageiros, meu mundo desabou de vez. Estava diante da pior realidade da minha vida, tão só como nunca me senti antes.
Passadas algumas semanas começaram os arranjos para a minha nova vida a partir daí, sem que eu participasse de qualquer acordo. O outro meio-irmão da minha mãe recusou-se a ficar comigo alegando um pretexto qualquer. Minha tia Alice e meu tio Fernão precisaram digerir esse incômodo que, passados alguns meses, acabou por se revelar um alento para as depauperadas finanças da família, pois os advogados da empresa do meu pai entraram em contato com eles e os puseram a par das vontades atestadas pelos meus pais. Não sei de onde eles tiraram tanta precaução com relação ao meu futuro, a ponto de deixarem explícita uma série de cuidados com o patrimônio deles. Caberia ao meu tutor, até eu completar vinte e um anos, uma polpuda mesada destinada a custear meu sustento e minha formação, além de um bônus como forma de ressarcimento pelo trabalho de terminar a minha criação. Eu só fui tomar conhecimento desses cuidados anos mais tarde, quando pude assumir o controle do patrimônio deixado pelos meus pais. Essa notícia caiu como uma benção para aquela família habituada a viver além de suas posses, tanto que, do que herdou do padrasto, minha tia já não tinha mais nenhum centavo. O marido era um sujeito cujos negócios nos quais se envolvia nunca davam certo. Os filhos, uma moça e um rapaz, eram dois perdulários cuja ambição não tinha limites. Contar com uma verba desse porte pingando mensalmente em sua conta bancária, muito além do necessário para as minhas necessidades, tinha subjugado a resistência do tio Fernão e, tornado minha presença mais palatável naquela casa.
Já no primeiro ano, mudaram-se para uma casa maior. O sobrado de três quartos num bairro mais afastado mostrava-se insuficiente para abrigar o hóspede indesejado, ainda mais que eu precisava compartilhar o quarto com meu primo Afonso. Três anos mais velho do que eu, parrudo e grosseiro, era o que mais se incomodava com a minha presença. Tudo o que eu fizesse ou dissesse o aborrecia, melhor seria se eu desaparecesse. Como isso era inevitável, senti no corpo a rebeldia que ele precisava engolir. Apanhei dele tantas vezes que, em dado momento, sem que meus tios levassem em conta minhas queixas, desisti de conta-las. Minha prima Ligia, cinco anos mais velha do que eu, me ignorava por completo, embora soubesse que seus recentes luxos se deviam a minha presença naquela casa. Parecia que apenas os pais não queriam enxergar a filha como ela realmente era, uma puta devassa que precisou se submeter ao primeiro aborto quando tinha a minha idade. Esse percalço, no entanto, não mudou sua essência e, ela continuava a engambelar de três a quatro carinhas simultaneamente. Eu fazia vistas grossas para tudo o que ela aprontava. Se os pais não estavam nem aí, quem era eu para me incomodar com seu comportamento?
Na nova casa eu tinha meu próprio quarto, era o menor e o mais desajeitado, mas tornara-se meu refugio para aqueles dias turbulentos. A verba extra também mudou a rotina da família. Quase ninguém parava em casa, quase não se cozinhava, raríssimas eram as refeições ao redor de uma mesa com todos reunidos, tudo muito diferente do que eu estava habituado. Caia na real, pensava eu com meus botões, sua vida nunca mais será a mesma e, quem sabe o que te aguarda no futuro. Coisas desse tipo acabam passando pela cabeça da gente quando, num piscar de olhos, tudo o que você julgava fosse permanente e sólido, se transforma com um único e trágico acidente. A maneira que encontrei para superar esses reveses foi me enfiar de corpo e alma na rotina. Estudei como nunca antes, levava uma vida espartana, praticava esportes, dedicava-me a cursos extracurriculares de tudo que era tipo, desde idiomas até marcenaria, tudo para preencher meus dias e ficar longe daquela casa o mais tempo possível.
Mesmo com todo esse cuidado, acabei por despertar um interesse lascivo no meu tio. O casamento do tio Fernão e da tia Alice tinha naufragado em algum ponto entre as constantes faltas de dinheiro e uma decepção mútua. Ela vivia sua vida num grupo de amigas quarentonas, algumas divorciadas, outras casadas e talvez na mesma situação dela, dedicadas a percorrerem os shoppings, meterem-se nas mais extravagantes excursões, reunirem-se sob qualquer pretexto e, não duvido, caçarem garotões fogosos com a mesma idade dos filhos, ou velhacos endinheirados para substituírem, providencialmente, seus maridos, sem nenhum remorso. Ele era um quarentão bem apessoado, corpo atlético e musculoso que, no entanto, começava a adquirir uma barriguinha mais saliente, símbolo inequívoco da passagem dos anos, embora isso não lhe tirasse o apetite sexual do qual precisava dar conta mesmo sem a colaboração da esposa. Meu corpo se modelando lisinho e cada vez mais definido pelos esportes veio, de certa forma, preencher aquela lacuna da sua libido. Eu vinha observando seus olhares insinuantes há algum tempo, mas não lhes dei importância. Tudo naquela família era esquisito, por que não seria diferente com esse comportamento bizarro?
Nunca recebi os parabéns pelos meus aniversários. Eles passavam como outro dia qualquer, embora caíssem num feriado o que sempre facilitava recordar-se da data. Uns quinze dias antes de completar dezoito anos, meu tio mencionou o aniversário. Chegou a propor uma festinha, da qual minha tia logo tratou de se esquivar alegando que tinha marcado uma viagem com as amigas e, a me perguntar o que eu desejava ganhar de presente. Como eu havia declinado das duas propostas, ele me garantiu que naquele ano, eu teria meu presente de qualquer jeito. A maneira como ele disse isso provocou um calafrio na minha espinha. Não consegui interpretar o que se escondia por trás de suas palavras, mas, intuitivamente, sabia que não se tratava de boa coisa. Meu aniversário caiu no último dia do feriadão prolongado, uma terça-feira. Minha tia estava fora de casa desde à tarde da sexta-feira anterior em mais uma de suas excursões, assim como minha prima que seguira com um dos namorados para a casa de praia dele, deixando os outros dois a ver navios com uma desculpa esfarrapada. Meu primo pensou que a casa ficaria totalmente à sua disposição e imaginava poder trazer uma garota para trepar em seu quarto sem ser importunado. Decepcionou-se quando soube que o pai ficaria em casa e acabou dando um jeito de desaparecer por alguns dias.
- Você não vai sair com seus amigos? – perguntou meu tio, na mesma noite em que minha tia tinha viajado.
- Não. Preciso entregar dois trabalhos e vou usar o feriadão para antecipar as pesquisas. – respondi, de passagem pela cozinha para pegar umas frutas enquanto ele comia uma pizza que havia encomendado.
- Não quer jantar comigo? Esta pizza está deliciosa, é daquela pizzaria nova que abriu na avenida. – convidou. O brilho que havia em seus olhos me fez recusar o convite.
- Não, obrigado! Não estou com muita fome. – respondi, enquanto terminava de lavar as frutas e dispô-las num prato.
- Você precisa comer alguma coisa que lhe dê substância! Só as frutas não vão dar conta de nutrir essa bundinha carnuda. – retrucou sarcástico.
- Não estou preocupado com isso. – revidei.
- Pois deveria! É um dos seus melhores atributos. – sentenciou.
- Prefiro investir em atributos mais perenes! – exclamei, irritando-me com aquela conversa.
- Pois eu não me canso de admirar os contornos e o gingado dela, serve como uma injeção de ânimo na gente. - afirmou ele, fazendo questão de alisar e me exibir o indecente volume da rola dentro da bermuda. Subi as escadas correndo e tropecei quase derrubando as frutas, ele continuou rindo sozinho na cozinha.
Esquivei-me pelos cantos da casa por todos aqueles dias. A falta daquele entra e sai tornava tudo mais tenebroso e, só de pensar em me encontrar a sós com meu tio outra vez, me fazia tremer. Ele irrompeu no meu quarto no dia do meu aniversário pouco antes das oito da manhã. Achei que fosse ter um troço quando a porta se fechou atrás dele e sua silhueta musculosa só trajando uma cueca ficou me encarando próximo à cama.
- Bom dia! Meus parabéns! – havia um sorriso pérfido junto com seu cumprimento.
- Hã? Ah, bom dia! Obrigado por se lembrar, tio. – balbuciei, acordando o mais rápido que podia para estar na plena posse dos meus sentidos.
- Como prometi, vim te entregar seu presente. – disse ele. Meu olhar embasbacado não conseguia distinguir nada em suas mãos, tudo o que ele via era a ereção camuflada pela cueca.
Sem o menor constrangimento ou pudor, ele tirou o cacetão da cueca e o chacoalhou de forma obscena. Eu me apressei a sair debaixo dos lençóis, mas ele me reteve puxando-me de entro ao seu peito peludo. Antes de eu conseguir pronunciar a primeira palavra de indignação e protesto, sua boca estava colada à minha, num beijo roubado, úmido e incestuoso. Suas mãos sedentas percorreram primeiro, minhas costas, depois desceram capciosamente até as minhas nádegas cobertas apenas pela cueca. A pegada dele foi determinada e firme, minhas carnes tenras enchiam suas mãos e, minha respiração acelerada atiçava seu tesão.
- O que é isso, tio Fernão! O que pensa que está fazendo? – protestei, ainda sentindo o sabor da saliva que ele deixara na minha boca.
- É o seu presente. – retrucou cínico.
- Pois eu dispenso esse tipo de presente. Não quero nada que venha de você! – exclamei.
- Ah, é? Faz três anos que estamos cuidando de você. É fácil dizer que não quer nada de nós, depois de viver sem preocupações e com todas as regalias. É essa sua gratidão pelo que estamos fazendo por você? – ele pensou que a chantagem emocional fosse me fazer aceitar tudo numa boa.
- Eu sou muito grato pelo que estão fazendo por mim e, sempre serei. Mas isso não significa que eu tenha que me submeter a esse tipo de perversão. – revidei.
- Perversão existe em sua cabeça! Não há nada de mal num tio querer fazer carinho no sobrinho que está criando. – seu cinismo era impressionante.
- Eu não quero esse tipo de carinho! – afirmei zangado, antes de um dedo penetrar meu cuzinho e eu perder completamente a voz e o autocontrole.
Soltei um gemido, pois ele fazia aquele dedo se mover em movimentos circulares dentro do meu ânus. O tremor se apossou das minhas pernas que pareciam não suportar mais meu próprio peso e, aos poucos foi se alastrando por todo meu corpo. Subitamente, percebi que precisava me segurar em seu tronco varonil para não desabar. Ele tomou isso como uma submissão. Ardentemente começou a me beijar tão intensa e demoradamente, que o único ar que eu respirava vinha da boca dele. Com o dedo médio ainda no meu cuzinho, ele apertou o polegar me beliscando na minha mais íntima privacidade. Eu só gemia, enquanto dos meus mamilos saltavam os biquinhos enrijecidos e minha rola produzia uma ereção manifesta. Meu estado de excitação deixou o tio Fernão louco de desejo. Obrigando-me a sentar na cama, ele esfregou seu cacetão babado no meu rosto.
- Chupa meu cacete sua putinha gostosa! – ordenou, enfiando minha cara em seus pentelhos.
O cheiro que sua virilha exalava era másculo e almiscarado. Abri minha boca e aceitei a imensa glande em formato de cogumelo que ele enfiou nela. Senti aquele gosto levemente salgado e um pouco ácido que deveria vir do pré-gozo e de um pouco de urina. Comecei a chupá-lo conforme ele determinou, embora não soubesse como fazer isso. Chupei como chuparia qualquer outra coisa daquele tamanho. Ele grunhia, enquanto erguia meu rosto em sua direção para admirar minhas sugadas inexperientes. Estava cada vez mais difícil segurar aquela jeba com a minha mão, ela estava tão dura quanto uma barra de ferro e eu não conseguia movê-la. Ele pegou na pica e a enfiava na minha garganta. Achei que fosse sufocar. Segurava-me em suas coxas grossas e peludas, lambendo e chupando de ponta a ponta aquele caralhão suculento. Devo ter ficado mamando a jeba por mais de quinze minutos, pois minha mandíbula já estava doendo de tanto ficar aberta. Algumas vezes tio Fernão precisou tirar a rola da minha boca ao sentir que estava na iminência de gozar. Numa dessas vezes, ele voltou a me puxar contra seu corpo quente, me virou de maneira que minha bunda se encaixasse em sua virilha. Enquanto me chupava a orelha e lambia meu cangote, dizia uma porção de obscenidades e me encoxava, fazendo o pau se intrometer no meu rego apertado.
- Ai, ai, ai! – escapava entre os meus gemidos de boca aberta, onde ele enfiava dois dedos para que eu os chupasse.
Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, nunca tinha sido apossado de uma sensação como aquela. Meu corpo clamava por algo que nem mesmo eu sabia o que era. Meu cuzinho se contorcia involuntária e promiscuamente. Aos poucos, tio Fernão foi me reclinando sobre a cama ao mesmo tempo em que deixava seu corpo pesado cair sobre o meu. Ele apertava meu tórax, beliscava meus mamilos e esfregava a jeba nas minhas nádegas. Senti sua boca descendo pelas minhas costas, ora me molhando com beijos, ora mordiscando minha pele, até chegar aos meus glúteos. Abocanhadas mais incisivas deixavam as marcas de seus dentes na pele lisinha e branca. Em dado momento senti sua língua áspera se movendo sobre as minhas preguinhas, soltei um gemido gutural e devasso. Ele ficou um tempão me lambendo. Meu cuzinho parecia estar todo ingurgitado e protruso.
- Para quem não queria saber de carícias, esse cuzinho está todo ouriçado pedindo pica. – sussurrou ele no meu ouvido.
- Ai, tio Fernão! Não faça nada comigo, por favor. – implorei.
Na terceira forçada da rola contra a portinha do meu cu ele meteu o cacetão em mim. Ele havia apertado minha cabeça dentro do travesseiro para abafar meu grito. Uma dor lancinante parecia estar rasgando meu cuzinho, enquanto aquela carne quente e pulsátil ia entrando em mim vorazmente. Eu estava tão aniquilado que só conseguia gemer. Tio Fernão fodeu-me sem dó nem piedade, sedento e carente, permitindo-se todos os prazeres que havia tempos não conseguia satisfazer como necessitava. Ele quis-me bombar mais a fundo, por isso mandou que eu ficasse de quatro. Nessa posição meu cuzinho ficava mais exposto e disponível. A cada estocada eu me sentia mais empalado, parecia que, a qualquer momento, a cabeçorra ia sair pela minha boca, vinda das profundezas das minhas entranhas. Só os gemidos já não davam conta de amenizar minha dor, eu estava ganindo e soltava alguns gritinhos que ele procurava abafar metendo os dedos na minha boca. Meu pau balançando livremente de um lado para o outro, deixou escapar os jatos de porra que melaram todo o lençol. Como podia meu próprio corpo me trair dessa maneira? Eu senti quando o corpo do tio Fernão começou a se retesar. O vaivém intenso estava se transformando em movimentos abruptos e curtos que faziam a pica entrar no meu cu até o talo e, o sacão dele bater contra meu reguinho apartado. Ao mesmo tempo, em que seus urros ecoavam pelo quarto, minha ampola retal ia sendo preenchida com sua porra máscula e pegajosa. Eu engolia o choro para não demonstrar fraqueza, embora tudo o que eu queria era o colo de minha mãe. Quando tio Fernão tirou aquele cacetão do meu cu, parcialmente amolecido, algumas gotas de porra pingaram nos lençóis, ao mesmo tempo em que do meu cuzinho pingavam gotas rutilantes de sangue virginalmente rubro. Encolhi-me em posição fetal com os braços segurando o ventre, não conseguia olhar para a cara de satisfação do tio Fernão. Ele deitou ao meu lado, em conchinha, passando seu braço peludo pela minha cintura. O cheiro viril dele estava impregnado em mim e, seu suor carregado de testosterona penetrava nos poros da minha pele.
- Bom menino! Viu como não há nada de complicado nisso? – sussurrou ele, com seu hálito morno roçando meu cangote.
- Estou todo machucado, tio! – balbuciei, me segurando para não chorar.
- É a sua primeira vez, sempre é um pouco dolorido. Com o tempo você não vai sentir mais tanta dor. – garantiu ele, cônscio de que aquilo ia se repetir mais vezes. Ao final daquele dia, antes que os outros começassem a regressar, tio Fernão me pegou mais uma vez debaixo do chuveiro. Seus culhões estavam cheios e eu fui dormir naquela noite com seu esperma aderido às minhas entranhas.
Sem o saber, eu ia ser transformado em seu amante, uma puta que, ao estalar dos dedos e, sob a pressão de ser deixado à minha própria sorte, teria que satisfazer todas as suas vicissitudes pecaminosas. Ele deixou de procurar as obrigações conjugais da tia Alice. Toda vez que precisava se aliviar, entrava no meu quarto no avançado da noite e me fazia servi-lo como uma gueixa submissa. Muitas vezes pensei em fugir, mas não sabia para onde, pensei e cheguei a procurar ajuda do outro meio-irmão de minha mãe, a frieza e indiferença com que me ouviu me fizeram desistir, pensei no suicídio como única forma de me livrar daquele jugo e, essa ideia era a que estava ganhando forças. Toda clareza e racionalidade que pensei existir em meus pensamentos haviam desaparecido. Eu me transformara num autômato que exercia sua rotina sem nenhuma satisfação. Caminhava por que era necessário seguir avante.
Dizem que o ser humano é a espécie mais adaptável do planeta. Eu não fugia a regra. Acostumei-me a fazer sexo com tio Fernão como teria me acostumado a um novo hábito. Nem seus beijos, nem seu cheiro, nem seu suor e nem seu sêmen me causavam mais repulsa, eles apenas se impregnavam em mim e faziam com que aquele homem fizesse parte de mim tal como um braço ou uma perna.
Tio Fernão também já não era tão cauteloso e precavido em ocultar nossa relação. Certa vez chegou a comentar que pouco lhe importava se tia Alice viesse a saber, que talvez fosse a oportunidade de livrar-se dela e de seus quereres infindáveis. Confidenciou ao meu primo Afonso os prazeres que eu lhe proporcionava na cama, fazendo com que, também ele, passasse a exigir de mim os mesmos serviços sexuais. Eu caminhava por aí com o cuzinho sempre roto e sensível, cheguei a usar absorventes femininos aderidos à parte interna da cueca para não mancha-la com o sangue das minhas preguinhas e a porra deles, que vazava nos mais inconvenientes momentos. Afonso era mais intrépido e bruto do que o tio Fernão. Praticamente sempre que transava com ele precisava dos absorventes, aos seus olhos aquilo funcionava como uma espécie de demarcação que ele deixava em mim como sinal de sua superioridade máscula.
Ultimamente eu vinha me ocupando com a procura de um amigo do meu pai, do qual ele sempre falava com apresso, e que morava nos Estados Unidos na mesma cidade onde meu pai se criou. Demorei a me lembrar do sobrenome e, quando finalmente, me recordei do nome completo, foi fácil encontra-lo na Internet. Fui mantendo contato com ele e a família e, aos poucos, expressando meu desejo de cursar uma faculdade nos Estados Unidos. Ele se prontificou a me ajudar no que fosse necessário, inclusive me acolhendo em sua casa, se essa fosse minha vontade. Era mesmo um sujeito incrível como meu pai sempre mencionara. Apesar disso, eu relutava em aceitar seu convite, com o receio de que o pagamento por uma gentileza dessas podia sair tão caro quanto o que eu vinha pagando na casa do tio Fernão. Gato escaldado tem medo de água fria, diz o ditado. Mas a ideia estava lá, apoquentando meus pensamentos, dia mais, dia menos.
Poucas semanas depois de ter completado vinte e um anos, recebi uma correspondência do escritório de advocacia que cuidara de todos os trâmites legais e burocráticos após a morte dos meus pais. O envelope demorou dias para chegar as minhas mãos, desviado propositalmente pelos meus tios. Creio que eles já desconfiavam do conteúdo da correspondência e, do que aquilo significaria para eles. Não fosse um lapso da Eugenia, a empregada da casa, que a descobriu entre uma papelada do tio Fernão e resolveu retirá-la de lá com o receio de lhe atribuírem a culpa por haver embaralhado as correspondências, talvez ela nunca chegasse às minhas mãos. O texto conciso pedia que eu fosse ao escritório tratar de assuntos pendentes e de meu interesse. A data sugerida na carta já havia passado há quase três semanas.
Chegando ao escritório, fui recebido por um senhor grisalho do qual me recordava vagamente, menos calvo e menos grisalho, da época em que meus pais faleceram. Era ele quem tinha cuidado de todos os assuntos da empresa e particulares dos meus pais. Ele mostrou-se tão surpreso quanto eu quando revelou a existência de um testamento do qual eu não fazia a menor ideia e, principalmente de seu conteúdo. Só então descobri a extensão da maldade que meus tios fizeram comigo. Privado de quase tudo, eles viveram todos esses anos às minhas custas, ao invés do contrário, como tinham me feito crer. A indignação do advogado chegou a tal ponto que ele me aconselhou a processá-los para reaver tudo que me roubaram, ele mesmo se encarregando da parte jurídica.
- O mais importante, a partir de agora, é que você mesmo pode tomar as rédeas de sua vida e administrar os bens deixados pelos seus pais como quiser. Foi para isso que enviei a correspondência, pois temos algumas questões legais a providenciar e eu preciso de sua assinatura em alguns papeis. – revelou, concluindo as explicações.
Quando entrei em casa e coloquei os olhos sobre tio Fernão tive vontade de mata-lo. Aquele homem tinha não apenas roubado parte dos meus bens, mas tinha roubado minha virgindade e minha dignidade. Ele tinha me transformado na prostituta de seu filho e dele próprio. Ele por pouco não teria sido o responsável pela minha morte, se eu não tivesse arrancado forças nem sei de onde para continuar nessa vida. Pela minha expressão e, pelo sumiço da correspondência, ele deve ter adivinhado que eu descobrira toda a verdade. Não conseguiu me encarar e tratou de notificar a família de que uma tempestade pairava sobre suas cabeças. Pela primeira vez eu tive nojo daquele sujeito desprezível. A empáfia e a soberba quando me subjugava aos seus desejos haviam desaparecido. Tal qual um rato assustado pela presença de um gato, ele se esgueirava pela casa procurando fugir da minha abordagem. Quando o imbecil do Afonso ainda tentou comer meu cuzinho mais uma vez, me batendo quando me recusei a ceder a sua investida e, eu corri até a cozinha para armar-me de uma faca com a qual pretendia furá-lo até que não restasse um único ponto íntegro em sua pele, meu tio veio ao meu encalço implorando pela vida do filho. Tia Alice e minha prima Ligia assistiam a tudo sem entender nada do que estava acontecendo.
- Que disparate! Depois de tudo que fizemos por você, você atenta contra a vida de seu primo. – sentenciou a parva, ignorando tudo o que acontecia debaixo de seu nariz.
- O que vocês fizeram por mim, diga-me, sua imbecil? Vocês me roubaram esses anos todos. Seu marido está me estuprando desde os dezoito anos. Não contente com a luxúria na qual vem se deliciando, obrigou-me a deitar com seu filho, que vem me arregaçando o cu há tempos. Sua filha é uma prostituta que vive gastando o meu dinheiro para bancar seus luxos. Isso foi o que vocês fizeram por mim. Eu não vejo melhor lugar para vocês do que a cadeia. Sim, pois ao exigir o que me devem e, sem as mínimas condições de arcarem com a dívida que contraíram comigo, eu não vejo outro lugar onde possam ir parar. – sentenciei, elevando a voz à medida que a raiva ia se apossando de mim. O ambiente além de carregado, mergulhou num silêncio apavorante. Poucos dias depois, eu rumava para os Estados Unido, cheio de dúvidas, incertezas e temores. Mas, continuar a viver ali tinha se tornado impossível.
Johnny Mills conheceu meu pai na universidade e acabaram se tornando grandes e inseparáveis amigos. Ele e a esposa Louise me aguardavam no aeroporto de São Francisco, naquela tarde de julho quente e ensolarada. Fui recebido tão calorosamente por seus abraços que parecia estar reencontrando meus pais. Eles moravam em Sacramento, na Califórnia, com os filhos Matt e Johnny Jr. Durante o trajeto de 140 quilômetros pela I-80E eles enumeraram centenas de argumentos para que eu aceitasse morar com eles. Alegaram que já tinham preparado um quarto só para mim, que assim eu me adaptaria mais facilmente ao país, que poderiam me ajudar em tudo que eu precisasse e, só se deram por realizados assim que concordei e aceitei o convite.
- Seu pai e eu sempre fomos inseparáveis desde o dia em que nos conhecemos até o dia em que ele se mudou com sua mãe para o Brasil. Sabe que e a Louise e eu fomos os padrinhos do casamento? – revelou o Johnny.
- Meu pai falava com muita saudade e animação de alguns fatos acontecidos enquanto cursavam a universidade. E, não. Eu não sabia que vocês eram os padrinhos de casamento. – respondi, me sentindo ligado a eles.
Destoando das demais residências do bairro Valleyview Acres, um dos mais luxuosos de Sacramento, quase todas num estilo californiano clássico de inspiração mexicana, a casa na qual o Johnny estacionou, tinha um desenho contemporâneo com amplos panos de vidro na fachada e estava incrustada no alto de uma colina. A construtora que o Johnny montou assim que saiu da faculdade tinha se transformado num negócio lucrativo e próspero. A casa na qual moravam atestava esse sucesso.
Tão logo ouviu a voz dos pais, Johnny Jr desceu as escadas e veio ao nosso encontro. Era o filho mais novo deles e tinha exatamente a mesma idade que eu, como logo descobri nas primeiras conversas. Ele era ligeiramente mais baixo do que eu, mas seu corpo definido e traços suaves de seu rosto faziam dele um rapaz muito bonito. No entanto, foi ele quem fez a mesma observação quando me viu. Fiquei encabulado, como de costume, pois jamais tinha me acostumado a receber elogios quanto a minha aparência. Seus olhos, um pouco menos azuis que os meus, me diziam que seriamos bons amigos.
- Johnny Jr leve-o até o quarto e mostre a casa. Seu pai e eu vamos preparar o jantar enquanto vocês se enturmam. – disse a Louise. – Veja benvindo e, que você seja muito feliz conosco! – acrescentou, dando-me um beijo na testa antes de nos colocar para fora da cozinha.
Os cinco quartos do andar superior eram imensos e, dos enormes janelões que davam para pequenas varandas, podia-se ver boa parte da cidade lá embaixo.
- Espero que goste deste aqui. – disse o Johnny Jr, ao me mostrar o quarto que haviam preparado para mim. – Se preferir o outro é só dizer. – emendou, em referência ao que tinha ficado livre.
- Não! Este está ótimo. A vista daqui é linda. Nem sei como agradecer o que seus pais estão fazendo por mim. – respondi.
- Eles estavam tão ansiosos com a sua vinda que pareciam um casal esperando o primeiro filho. – confessou. – O Matt e eu ficamos tirando uma com a cara deles desde que começaram a redecorar seu quarto.
- E seu irmão, onde está? – perguntei curioso.
- Ele se meteu na vinícola em Headsburg. Assim que começou a cursar a faculdade de administração, resolveu que ia transformar aquilo num negócio lucrativo e, desde então, não sai mais de lá, toda vez que tem tempo para isso. – explicou.
- Ele ainda está na faculdade? – perguntei.
- Sim. No último ano. Por isso ele está aproveitando as férias para fazer mais uma de suas mudanças na administração da vinícola. – respondeu. – Ele deve estar chegando. Prometeu aos meus pais que estaria aqui para o jantar e para te conhecer.
Eu tinha me instalado e tomado uma ducha enquanto o Johnny Jr conversava comigo como se fossemos amigos desde a infância. Descemos assim que o ronco de uma motocicleta BMW R 1200RS entrou num dos portões da garagem.
- Este é o Matt, Bertrand, meu filho mais velho. – disse o Johnny, assim que ele entrou na cozinha.
- Olá! Fez boa viagem? Quando chegou? – perguntou o Matt, vindo ao meu encontro e me dando um abraço que parecia estar moendo meus ossos.
- Oi! Sim, foi tudo bem. Cheguei esta tarde. – respondi, um pouco desconcertado com aquela recepção calorosa e, com uma sensação que fez meu corpo todo estremecer como se eu tivesse levado um choque.
Matt era muito diferente do irmão. Era parrudo e musculoso como o pai. Devia ter mais de um metro e noventa de altura, seu tórax parecia um paredão de ossos e músculos. Ele tinha acabado de tirar a jaqueta de couro antes de me abraçar, suas coxas grossas preenchiam a calça, também de couro, como se fossem dois troncos e, sua camiseta tinha cheiro de suor e de macho. Um cheiro semelhante ao que eu sentia quando tio Fernão ou o Afonso se deitavam comigo, um cheiro de testosterona pura. Aquilo me fez perder o folego, tão intensamente, por uns instantes que achei que todos tinham reparado na minha reação. Quando seus olhos de um verde-jade intenso encontraram os meus e, eu pude me ver refletido neles, um brilho enigmático tomou conta deles.
- Quer dizer que ganhamos mais um irmãozinho, hein mano! – exclamou, dirigindo-se ao irmão, no qual deu uma cotovelada amistosa e fraterna.
- Espero que vocês dois se comportem com ele. – disse a Louise
- Estou muito feliz por me receberem tão calorosamente. Nem sei o que dizer! – e não sabia mesmo, com aquele rosto anguloso e aquele par de olhos pousados em mim daquele jeito embaraçoso.
- Com certeza, mãe! Vamos dar um jeito nele logo, logo, não é maninho? – exclamou o Matt, piscando para o irmão numa cumplicidade antiga.
- Não liga não, Bertrand! O Matt adora deixar a gente encabulado diante dos outros. – sentenciou o Johnny Jr. Algo me dizia que ele sabia do que estava falando.
Em meados de setembro eu começava a cursar a faculdade de arquitetura. Graças a providencial ajuda do Johnny Jr, que ingressara um ano antes, eu tinha obtido excelentes notas que me qualificaram a três universidades. Ele havia me ajudado a estudar e, deu-me dicas preciosas para me sair bem nas provas seletivas. Poucas semanas depois do início das aulas, eu descobri que o Johnny Jr era homossexual, pois ele mesmo me apresentou o namorado. Chris era o capitão do time de rugby da universidade, um loirão de mais de cem quilos de puro músculo. Tudo o que ele tinha de grosseiro e violento durante as partidas, desaparecia quando estava ao lado do Johnny Jr, a quem ele tratava com tanto carinho e cuidado como se estivesse protegendo o que de mais precioso a vida lhe tinha concedido. Toda vez que estavam juntos, os beijos ardentes e apaixonados que trocavam me deixavam sensibilizado e um pouco sem graça. Ficar segurando vela não era definitivamente um papel ao qual eu me prestava. Outro aspecto que me chamou a atenção foi o fato de a família toda saber do namoro dos dois e, ninguém tratar o fato como algo que fugisse da normalidade. O Chris era sempre benvindo na casa e, ao que me pareceu, já tinha conquistado a simpatia e a aceitação do Johnny e da Louise. Confesso que me surpreendi quando ele me apresentou o Chris durante um dos intervalos entre as aulas com tamanha naturalidade. Eu, até então, não havia desconfiado desse aspecto de sua personalidade. Não que isso fizesse qualquer diferença para mim no quanto já me afeiçoara a ele, mas, de qualquer forma, foi uma surpresa.
- O que achou do Chris? – perguntou-me ele, quando voltávamos para casa no mesmo dia em que conheci o Chris.
- Legal! Parece que ele gosta um bocado de você. – observei, lembrando-me de alguns beijos que os dois trocaram bem diante dos meus olhos.
- Conheci-o no último ano do colégio. Brigávamos por qualquer coisa no início, mas descobrimos que nos amávamos e tudo foi se encaixando. Hoje não me vejo tendo uma vida feliz sem a presença dele. – confessou o Johnny Jr.
- Seus pais nunca se opuseram? – perguntei.
- Estranharam quando eu lhes contei que estava interessado no Chris. Depois, quando o conheceram e viram o quanto ele me fazia bem, aceitaram numa boa. Pelo menos, é o que eu acho. – respondeu firme.
- É raro os pais aceitarem isso com tanta naturalidade. Você é um privilegiado! – exclamei.
- Pode até ser. Mas, aqui e, especialmente, em São Francisco, cruzar com casais homossexuais não é nenhuma novidade. – retrucou ele.
- Acho legal como vocês dois se curtem. – retorqui
- E você, já namorou alguma vez? – questionou ele.
- Não, nunca! – comecei a ficar embaraçado com a pergunta dele.
- Nunca alguém despertou algum sentimento em você? – inquiriu.
- Desde que meus pais faleceram minha vida foi um tanto tumultuada, acho que nunca pensei no assunto. – respondi esquivo.
- Eu acho que o Matt ficou super a fim de você. – devolveu, observando minha reação.
- De onde você tirou essa ideia? Ele te falou alguma coisa? Eu jamais iria desrespeitar os seus pais ou a sua família. – respondi, aflito com aquela revelação.
- Nossa! Calma, não fique tão exaltado, vai acabar tendo um infarto. Não, o Matt não me disse nada. Ele nunca ia tocar nesse assunto comigo ou com quem quer que seja. Ele é hiper-reservado quando se trata dos sentimentos dele. Eu só mencionei por que ele anda muito estranho. Você não o conhece direito ainda, mas eu aposto que ele está gostando de você. – aquilo quase me deixou sem rumo.
- Nem sei o que dizer! Eu juro que não fiz nada para despertar qualquer sentimento do seu irmão, eu juro. - respondi.
- Não fique tão desesperado! A gente não precisa fazer nada para despertar paixões nos outros. Simplesmente acontece! Eu ia adorar se você e ele se entendessem. Formam uma dupla e tanto! – exclamou ele.
- Você deve estar zoando comigo. Nunca me passou pela cabeça ter qualquer coisa com seu irmão. Eu nem sei se... – calei-me antes de terminar a frase.
- Se é homossexual? – questionou ele, tirando as palavras da minha boca.
- É. – respondi.
- Não quero ser o dono da verdade, mas acho que você também ficou impressionado com o meu irmão. Dai deduzi que também fosse. – disse ele.
- Não há como ser indiferente ao seu irmão. Ele é tão expansivo, tão seguro de si, um cara brincalhão e atencioso, ninguém ignora uma pessoa com todas essas qualidades. É isso! – eu não sei se estava tentando convencê-lo ou a mim mesmo.
- Tá bom! Falando assim e com esse brilho nos olhos, já deu para sacar tudo. – respondeu ele.
- Sacar o que? – questionei.
- Você gosta dele! Isso é ótimo. Tomara que ele perceba isso logo, assim vocês se acertam de uma vez. – retorquiu com um sorriso malicioso.
- Claro que gosto dele. Como de você e dos seus pais, vocês são ótimas pessoas e eu estou feliz de estar morando com vocês. – revidei.
- Não sei por que você tem tanto medo de assumir o que sente. Vai por mim, se você der abertura, o Matt vai se declarar para você. Isso é mais certo do que duas vezes dois ser quatro. – afirmou.
A partir dessa conversa eu ficava cada vez mais inseguro quando estava a sós com o Matt. No fundo, receava que ele começasse a tomar liberdades comigo e fizesse como tio Fernão e o Afonso, me levando para um canto e me fodendo até se satisfazer. Sem me dar conta, passei a evita-lo e, de repente, parecia que não tinha assunto quando ficávamos no mesmo ambiente sem ninguém por perto.
- Eu fiz ou falei alguma coisa que te aborreceu? – perguntou o Matt, numa tarde em que passei pelo quarto dele e o vi debruçado sobre os livros, estudando para uma prova.
- Você? Claro que não! – respondi apressado.
- Então por que está fugindo de mim? – ele segurou no meu braço, e sua mão pesada e quente teve o mesmo efeito de um fio desencapado tocando minha pele.
- Não estou fugindo de você. Só não quero te atrapalhar. – respondi gaguejando.
- Você nunca me atrapalha. Me deixa nas nuvens, mas jamais me atrapalha. – revidou.
- O que? – a pergunta saiu sem que eu quisesse.
- Desde que você chegou à nossa casa eu perdi meu sossego! Não é uma censura, nem uma queixa, entenda bem. É que não consigo olhar para você e não sentir o que sinto aqui dentro. – disse, colocando o punho cerrado sobre o peito. Corri para o meu quarto como uma criança assustada. Será que tudo ia se repetir, outra vez?
Dois dias depois, o Matt me cercou nas escadas. Garantiu que eu não fugiria sem conversar com ele. Eu tremia em suas mãos. Ele me disse que, se tinha me ofendido com sua revelação que estava arrependido e me pedia desculpas. Disse que tinha tido a impressão de que eu não era indiferente a ele, mas que, se tinha interpretado errado meus sinais, que esquecesse de tudo. Fiquei em silêncio por um longo tempo. Eu não podia ser tão apavorado e nem leviano dizendo que ele nada significava para mim, pois desde o primeiro abraço na minha chegada, ele fazia todo meu corpo ansiar pelo seu toque.
- Não sou indiferente a você! Só estou com medo. – balbuciei, sem conseguir encara-lo
- Medo de que? Do que os outros possam falar? Aqui em casa não temos esse tipo de preconceito. O Johnny Jr namora o Chris e isso nos deixa a todos felizes. – questionou ele.
- Não é isso. Eu não sei como dizer, mas precisei deixar a casa dos meus tios depois que algumas coisas aconteceram. – respondi.
- Que coisas? Converse comigo! Não vou julgá-lo, só quero entender de onde vem tanto medo de ficar a sós comigo. – inquiriu insistente.
- Acho melhor eu procurar outro lugar para morar. Não quero criar confusão. Vocês são muito legais e não quero ser o estopim de uma desavença familiar. – retruquei.
- Do que você está falando? Ninguém aqui vai brigar. Meus pais vão ficar muito chateados se você mencionar que quer ir embora. – garantiu.
E foi isso mesmo que aconteceu. A Louise foi discreta, mas enxugou as lágrimas quando toquei no assunto durante o jantar. O Johnny quis saber se alguém tinha me ofendido, ou qual era a razão de eu querer me mudar. Eu tremia feito uma vara verde. Jamais tinha conversado com alguém sobre o que tinha acontecido na casa do tio Fernão e, estava me sentindo cada vez mais pressionado e encurralado. Não dava para ser totalmente sincero e, expor meus motivos, sem mencionar o que tinha acontecido. Antes mesmo de soltar a primeira frase senti uma lágrima descendo pelo meu rosto. Quando comecei meu relato, as palavras fluíram como a correnteza de um rio. Os quatro me encaravam sem me interromper e com os semblantes transtornados pelas revelações que fiz.
- Meu Deus, que história! – disse o Johnny, assim que terminei meu relato e chorava feito uma criança. Ele colocou o braço no meu ombro e me puxou para junto dele. – Isso não vai se repetir, todos aqui gostamos de você e não há lugar mais seguro do que esta casa para abrigar seu sofrimento. – acrescentou. A Louise se levantou e veio me abraçar.
Naquela noite o Matt veio ao meu quarto depois de todos terem se recolhido, bateu na porta tímido e prevenido.
- Posso entrar? – como não, agora que tirei um peso das costas e não precisava me esconder mais. Se você soubesse quanto eu te desejo não estaria sendo tão cauteloso, pensei comigo mesmo.
- Claro, entre!
- Desculpe por ter levado a situação a esse extremo. Eu não desconfiava do que tinha acontecido. Não quis te pressionar. – disse ele, sentando-se na cama.
- Mais cedo ou mais tarde isso viria à tona. Não foi culpa sua. Tenho um passado e não me orgulho dele, mas preciso aprender a conviver que meus fantasmas. – retorqui.
- E nem do que se envergonhar! Você foi vítima de pessoas inescrupulosas. Eu daria tudo para tirar essa dor do seu coração. – disse ele, com o olhar mais assertivo que eu tinha visto.
- Obrigado! Agora você sabe por que não sirvo para você. – murmurei.
- Que bobagem é essa? Agora, mais do que nunca, eu quero te proteger. Quero que você se refugie aqui, e me deixe cuidar de você. – afirmou, abrindo os braços.
Quando dei por mim estava junto daquele tronco largo e musculoso, abrigado de todos os perigos e sentindo aquele coração palpitar excitado por mim. Eu estava experimentando aquele sentimento ambíguo outra vez. Embora as coisas fossem um pouco diferentes agora. Com tio Fernão e Afonso minha parte racional não aceitava o que faziam comigo, meu coração não conseguia ver afeto naquilo e cada transa era uma mera necessidade fisiológica do meu tio e, apenas uma necessidade de dominância do Afonso. No entanto, minha parte carnal experimentava prazeres voluptuosos quando eu sentia aqueles cacetões pulsando dentro das minhas entranhas ou quando aqueles fluídos másculos se entranhavam no meu corpo. Com o Matt eu começava a sentir uma necessidade de cuidar dele, de vê-lo sorrir, de saber que ele estava feliz. Meu coração se inundava de um calor prazenteiro quando eu estava ao lado dele, não fazendo nada além daquelas coisas cotidianas. Mas, meu corpo tremia a qualquer contato com o dele, como se um simples roçar de peles fosse a mais vil e pecaminosa delinquência.
- Como estão as coisas entre você e meu irmão? – perguntou o Johnny Jr quando voltávamos de carona com o Chris para casa.
- Bem. Você tem sorte de ter um irmão como o Matt, ele é o irmão que eu nunca tive, além de você é claro. – respondi esquivo.
- Você sabe muito bem que não foi isso que perguntei. Quero saber se você e ele já ficaram juntos. – insistiu.
- Johnny Jr, isso é coisa que se pergunte? – retruquei encabulado, pois o Chris me encarava com a mesma curiosidade.
- Deixe de bobagem! Você sabe que o Chris e eu estamos torcendo para que isso aconteça logo. – respondeu ele, no que o Chris balançou a cabeça concordando.
- Não sei se um dia vou conseguir ter uma relação íntima com outra pessoa novamente, meu passado nesse campo não foi dos melhores. – afirmei.
- Pode ter sido um pesadelo e, eu tenho a certeza de que foi. Mas, com o Matt não vai ser assim, ele te ama. Acho que você é o único que ainda não percebeu isso! – asseverou.
- Por quê? Ele comentou alguma coisa com você? O que foi que ele te disse? – inquiri.
- Ele não disse nada e, nem vai dizer. Quando se trata de assuntos dessa natureza ele é mais fechado do que um cofre de banco. No entanto, basta ver o jeito como ele te olha que tudo fica explícito. – afirmou. – Gosto muito de vocês dois e espero que se acertem logo.
Isso é fácil de dizer quando não se foi enrabado contra a vontade, quando não se perdeu a virgindade para alguém que deveria estar zelando pelo meu bem estar, pensei comigo mesmo. Eu não me sentia digno do Matt, era como se meu corpo tivesse sido marcado como o de uma rês, a ferro e fogo. No meu caso, num cuzinho arregaçado e usado como depósito de esperma.
Havia tempos que o Matt me convidava para ir com ele até a vinícola. Por razões óbvias eu sempre inventava uma desculpa. Até que numa semana, o Johnny e a Louise disseram que passariam o final de semana por lá, uma vez que havia chegado a época da colheita. Acabamos indo todos.
- Vem comigo na moto? – perguntou o Matt. Ele sempre conseguia inventar um pretexto para ficar ao meu lado, mesmo que isso não resultasse em nada daquilo que ele almejava.
- Vou. Aliás, eu me lembro de que alguém me prometeu que ia me ensinar a andar nesse negócio. – brinquei, cobrando uma promessa que ele havia me feito.
- Quando você quiser! Só não hoje na estrada. Pretendo me manter vivo e, a você também, uma vez que estou cheio de segundas intenções e não posso correr o risco de te perder. – respondeu com um sorriso largo de contentamento.
Percorremos os 180 quilômetros até Healdsburg numa sexta-feira no final da tarde de um dia quente de final de setembro. O sol dourado iluminava a estrada, mas o calor que estava sentindo vinha do corpo do Matt, ao qual eu fui me abraçando assim que ele começou a correr pela estrada. Nos primeiros quilômetros eu me segurava no banco, mas, à medida que a paisagem começou a passar ao nosso lado a mais de 150 km/h eu achei mais prudente me agarrar a algo mais seguro. Ele virou o rosto para trás e, através do visor do capacete, vi um sorriso de orelha a orelha. Paramos junto ao movimentado restaurante Denny’s em Santa Rosa na beira da US-101, a espera dos demais que vinham de carro. Fomos beber nossas cocas do lado de fora, onde uma brisa começava a aliviar o calor da tarde.
- Você tem quatro sorrisos! – exclamou ele, de repente, após uma longa sugada no canudinho do refrigerante.
- Do que você está falando? Que sorrisos? – indaguei estarrecido.
- Um quando está rindo de alguma coisa engraçada, um quando gentilmente concorda com a afirmação de alguém, um quando está tenso, mas não quer demonstrar seu nervosismo e, um quando sorri para mim. – sentenciou calma e casualmente.
- De onde você tirou isso? – ele acertara o alvo em cheio. Será que ele conseguia ler a minha alma? Será que ele já viu que ela estava apaixonada por ele?
- Te observando, como agora, que está com o sorriso número três. – retrucou.
- O do nervosismo? – gaguejei. – Por que eu estaria nervoso num dia lindo como este? – eu precisava falar alguma coisa para não confirmar sua afirmação.
- Esse mesmo. – respondeu, sugando o restante da coca com um barulhinho. – Talvez por eu ter adivinhado o que acontece aí dentro. – afirmou, apontando com o canudinho na altura do meu coração.
- Você está querendo me deixar sem graça!
- De forma alguma! Só quero que você saiba que sei o que está acontecendo aí dentro. Você deveria me dar uma chance de provar que vale a pena se apaixonar por mim. – asseverou. Embora houvesse um sorriso em seu rosto, ele falava sério.
- Isso já aconteceu! Só não sei lidar com a situação. – respondi, mergulhando naqueles olhos verde-jade.
- Deixe eu te ensinar! – exclamou. Eu devolvi o sorriso número quatro, quando a picape do Chris estacionou a poucos metros de onde estávamos sentados e, o Johnny Jr acenava juntando as mãos em forma de coração.
O Matt me mostrou a vinícola com o entusiasmo de um garotinho que acabava de ganhar um presente. Ela se estendia por 900 acres de uma extensa planície que escalava colinas ao redor, na área rural de Healdsburg no condado de Sonoma e, tinha uma alameda ladeada de ciprestes que conduzia a uma casa de muitos telhados e águas-furtadas, em estilo Tudor, toda arrematada em pedras. Percebi o quanto ele estava apaixonado pelo lugar e pelo negócio. Já estava escuro quando entramos na casa. Louise e Johnny estavam preparando o jantar, Johnny Jr estava sentado no colo do Chris e, estavam se beijando num canto escuro da varanda. Não pararam quando pisamos no último degrau da escadinha que alcançava o terraço. Matt pegou um dos vagalumes que cintilavam em volteios por toda a varanda e o colocou na minha mão, abriu um sorriso e me deu um beijo no rosto. Fiquei tentado a segurar seu rosto entre minhas mãos e beijá-lo com mais ardor do que o Chris e o Johnny Jr estavam fazendo, mas tinha um vagalume numa delas.
O Matt e eu terminamos de tirar a mesa e lavamos a louça do jantar, enquanto a Louise e Johnny se acomodaram, cada um com uma leitura nas mãos, na sala onde haviam acendido a lareira, pois a temperatura havia despencado para os 9 graus. Não vi o Chris e o Johnny Jr, nem na sala nem na varanda quando o Matt e eu terminamos o serviço. O Matt perguntou por eles e a Louise deu de ombros. Ele olhou para mim e deu uma piscada com um sorriso libidinoso nos lábios. Sentamos num canto da sala e ficamos jogando conversa fora. Nenhum dos dois se lembrava de ter dito – boa noite – ao Johnny e à Louise quando o carrilhão junto a uma poltrona de leitura bateu duas da madrugada.
- Não senti o tempo passar. – disse, fazendo menção de me recolher.
- Ele sempre é curto quando estou ao seu lado! – exclamou o Matt.
- Lisonjeiro! Mas, não precisa me bajular. – devolvi, também tido a mesma impressão.
- Não estou te bajulando. Só queria que essa noite não terminasse. – retorquiu. – Vem cá, quero te mostrar uma coisa. – acrescentou ligeiro pegando-me pela mão e me levando para o andar de cima.
Entramos num dos quartos e eu comecei a me inquietar, estava começando a inventar um pretexto para sair dali e me recolher, quando ele abriu as venezianas e os vidros de uma porta que dava para um terraço descoberto. O céu estava limpo por conta do vento frio que soprava do Pacífico, tinha um tom de azul muito escuro e, flutuando como um disco prateado, uma lua cheia e brilhante emergia por de trás de uma das colinas. Abracei meu tronco e fui até o balaústre debruçando-me sobre o parapeito do terraço só para conferir aquele espetáculo mais de perto. À exceção de um ou outro coiote uivando nos morros reinava um silêncio campestre. O vento trazia consigo o cheiro do oceano, que não distava mais do que 36 quilômetros em linha reta e, o das madressilvas plantadas no jardim. O Matt achegou-se a mim, tão próximo que dava para sentir o calor do corpo dele.
- Lindo não é? Eu costumava montar uma barraca nesse terraço quando criança fingindo que estava acampando, foi quando descobri essa belezura. – revelou ele.
- É lindo mesmo! Dá uma sensação de liberdade e paz. E esses perfumes, então. Dão vida ao que parece ser uma paisagem pintada num quadro de tão perfeita. – observei.
- Tem razão! – disse ele, cheirando minha pele junto ao pescoço e, esboçando um risinho discreto. – Nunca me ative a isso antes. Talvez por que não houvesse algo tão suave e delicioso para cheirar. – emendou, colocando as mãos na minha cintura. Aquela descarga elétrica, de quando ele me tocava, percorreu meu corpo de cima abaixo.
Fiquei imóvel e deixei que ele fosse se encostando a mim. Minhas nádegas se encaixaram perfeitamente na virilha dele, eu estava ficando petrificado. A respiração dele resvalava no meu cangote, excitada e desejosa. Os dedos do Matt ficavam cada vez mais perceptíveis ao redor da minha cintura, ele estava me apertando. Aquilo que começava a se tornar mais presente na dobra entre minha coxa e minha nádega era sua ereção. De repente, ele me soltou. Passou a mão sobre a cabeleira e, nervoso e impaciente, deu uns passos ao meu redor.
- Boa noite! Nos vemos amanhã! – exclamou, antes de desaparecer pelas portas abertas.
Eu tentava controlar aquela tremedeira e senti as lágrimas descendo pelo rosto. Meu corpo continuava petrificado junto ao parapeito. Como eu podia ser assim, um bloco gélido incapaz de deixar todo aquele tesão que ele sentia por mim, sem um único movimento de aceitação e aquiescência? Do que afinal eu tinha medo? A razão me dizia que ele não era como tio Fernão e Afonso, ele nutria sentimentos dignos e respeitosos por mim. Mas, ele também era um macho que nem sempre podia controlar seus instintos, e eu me mostrava indiferente a eles. Era cruel demais para alguém a quem eu vivia dizendo que gostava muito. Aquilo precisava ter um fim. Enxuguei as lágrimas e entrei trancando as portas. Não sabia em que quarto da casa ele podia estar e, seria um desastre se eu batesse na porta errada àquela hora da madrugada. Entrei no meu quarto e me enfiei debaixo de uma ducha. Instintivamente comecei a lavar minha intimidade demoradamente, como se três longos e pecaminosos anos precisassem ser esfregados até que só restasse a pureza do meu ser. A água que caía da ducha se misturava com as lágrimas. Enxuguei-me até minha pele se arrepiar com o frio da madrugada e minhas lágrimas cessarem. Abri a porta do quarto e percorri o corredor em forma de L. O quarto do Johnny e da Louise devia ser um dos que ficavam no braço menor do corredor, lá eu detestaria ser indiscreto. Uma dessas portas deve ser a do quarto dele. Arrisquei a que ficava defronte da minha. Abri-a com um cuidado extremo. Pelo cortinado passava a luz daquela lua que eu admirava há pouco, o Johnny Jr tinha uma das pernas enroscadas nas coxas do Chris, ambos estavam nus. O quarto seguinte estava mergulhado no breu, silencioso como um túmulo. A porta a seguir mostrou-me o mesmo cenário. Abri a outra, tão cuidadosa e discretamente como havia feito com as demais. As portas de veneziana também estavam abertas, bem como as cortinas, diante das portas de vidro fechadas, olhando para as carreiras de vinhedos na planície, o Matt estava em pé, com o torso nu perdido em pensamentos. Entrei e tranquei a porta, ele não percebeu minha presença até o momento em que delicadamente passei meus braços ao redor de seu tronco.
- Me perdoe! – sussurrei em seu ouvido, antes de encostar minha cabeça nas costas dele.
- Perdoa-lo de que? – retrucou, pegando uma das minhas mãos e a levando aos lábios, onde um beijo úmido e demorado se fez sentir.
- Dos meus temores infundados! Do meu passado devasso! Do que estou fazendo você sofrer! – balbuciei, apertando-o com força.
- Você não me faz sofrer! Desde aquele dia em que cheguei em casa e te encontrei pela primeira vez, você só tem feito iluminar a minha vida. – devolveu ele.
- O que aconteceu lá fora há pouco e, em outras ocasiões que eu sei, pois você sempre se afasta de supetão, dói mais em mim do que em você, tenha certeza disso. – confessei.
- Não quero que você faça o que não tem vontade! Eu te amo demais para querer cobrar qualquer atitude sua antes que esteja pronto para isso. – afirmou.
- Eu estou pronto! Eu estou pronto para ser seu por inteiro. – garanti, colocando-me diante dele e tomando seu rosto em minhas mãos. Ele sorriu.
- Tem certeza? Vou esperar uma eternidade se for preciso.
- Seremos dois velhos com dores nas juntas. – brinquei, devolvendo-lhe o sorriso. – Eu não quero esperar tanto, preciso de você logo. Preciso de você agora. – afirmei, colando minha boca na dele.
O Matt me puxou para junto dele e enfiou a língua na minha boca. Ele clamava por aquele beijo voraz há meses. Entrar em minha boca era apenas o início do que queria fazer comigo. Seus hormônios precisavam da minha pele, do meu sabor, do meu cuzinho.
- Você tem uma bundinha linda! – sussurrou ele entre um beijo e outro, enquanto suas mãos percorriam minhas nádegas nuas, após ele ter soltado a toalha que estava enrolada na minha cintura.
Nem sei quanto tempo ele ficou me encarando sem dizer nada, apenas deslizando as costas de uma mão pelo meu rosto, como se nem ele estivesse acreditando que, finalmente, podia me tocar sem receios. Algo como uma criança que ganhara um presente, mas estava impedida de brincar com ele e, de repente, alguém lhe dissesse que podia começar a usufruir do brinquedo. Ele estava usando uma ceroula daquelas que se usa apenas no inverno, improvisada como pijama. Ele estava lindo. A peça de um algodão macio estava agarrada às suas coxas grossas, a displicência da braguilha ligeiramente aberta deixando aparecer os densos pentelhos e, o tronco musculoso e nu o deixavam sexy.
- É covardia você ficar diante de mim nesses trajes! – sussurrei, após nossos lábios se soltarem.
- Posso ficar como você, nu! Só não garanto que o rapaz intrépido aqui embaixo vá se comportar descentemente! – exclamou, fazendo uma carinha safada.
- Quero você exatamente assim como está, sexy e delicioso! E, não quero que ele se comporte, não agora. – devolvi safadinho, deslizando os dedos que estavam em seu peito até dentro da ceroula. Ele abriu um sorriso e começou a me beijar novamente.
A cada beijo o tesão dele aumentava e a ereção chegou ao ponto de expor a cabeçorra através da braguilha. Minhas mãos se seguravam naqueles músculos quentes e rijos, deslizando por suas costas, peito e braços. Ele amassava minhas nádegas com as duas mãos quando começou a insinuar um dedo nas minhas preguinhas, eu gemia em sua boca. Meu tesão refreado por tanto tempo fazia meu corpo tremer liberando todo o desejo que eu sentia por aquele macho. Inexplicavelmente não era apenas algo físico, havia uma quentura no meu peito que jamais existiu antes. Era algo tão imenso, ora agitado, ora calmo, às vezes sobressaltado, às vezes tranquilo, mas sempre me fazia querer gritar – eu te amo Matt – para que todos soubessem o quanto eu o queria. Comecei a beijá-lo ao redor dos mamilos, ele soltava o ar como se estivesse bufando, toda vez que meus lábios propositalmente úmidos o tocavam tão de leve que não passava de um roçar sutil. Lentamente fui descendo pelo abdômen duro em direção a seu baixo ventre, ajoelhando-me diante dele simultaneamente, ele se retesava todo, aguardando o toque seguinte com uma ansiedade quase incontrolável. Quando cheguei à cintura quase tocando no tecido da ceroula ele a baixou num movimento rápido e único. A pica saltou para a liberdade, molhada e cheirosa e, eu a beijei, com a mesma tática carinhosa que vinha usando. Só que, desta vez, ele soltou um urro rouco e, agarrou meus cabelos com as duas mãos. Aos poucos os beijos foram se transformando em lambidas que percorriam toda a extensão daquela jeba imensa. As lambidas se transformaram em mordiscadas delicadas e, estas, em chupadas que atiçavam a produção de um pré-gozo viscoso e perfumado que eu sorvia deliciado. Terminei de tirar a ceroula dele e deslizei os dedos de uma mão entre os pelos grossos de sua coxa.
- Você vai me matar desse jeito! – exclamou bufando – A maciez desses lábios consegue ser mais perigosa que um punhal. – emendou.
A rola dele era bem pesada e estava cada vez mais dura, mal conseguia movimentá-la à medida que as grossas e sinuosas veias iam se estufando de sangue. Um caralho avantajado como o dele era raro e, eu me sentia um felizardo por poder afagar sua rola e seu ego, ao mesmo tempo em que experimentava um prazer imenso. Eu mesmo me espantei com a desinibição com que estava chupando aquela pica e seu sumo viril. Eu sentia prazer em fazer aquilo e, mais ainda, em ver como o Matt se regozijava com isso. Por duas vezes ele quase gozou na minha boca. No entanto, não era isso que ele planejava. Quando ele me ergueu pelas axilas, voltando a me colocar em pé, eu percebi que havia chegado o momento crucial. É agora que você vai precisar ser corajoso Bertrand, e enterrar o passado, para dar a esse homem maravilhoso tudo o que ele merece, disse a mim mesmo.
- Só vamos fazer o que você quiser. – disse ele com a voz meiga.
- Eu te amo Matt! E, eu quero você. – balbuciei, no tom de voz mais firme que consegui encontrar.
Ele me inclinou sobre a peseira da cama até meu tronco tocar o colchão. Suas mãos deslizaram pelas minhas costas e pararam uns instantes sobre os meus glúteos. Ele os amassou. Ele os apartou. Ele enfiou o rosto no meio delas, e lambeu meu rego me fazendo soltar um gemido longo e pungente. Os pelos duros de sua barba por fazer espetaram minha pele. Eu contraí meu cu. Ele não resistiu ao ver aquele buraquinho rosado se fechando e praticamente desaparecendo num único e minúsculo ponto e, começou a movimentar um dedo sobre aquelas preguinhas contraídas. Minha boca estava escancarada, mas parecia que não entrava ar suficiente por ela e pelo meu nariz, meus pulmões clamavam por ar. Quando a língua dele começou a se mover em círculos sobre meu cuzinho eu gritei. Por sorte puxei um dos travesseiros e liberei o grito com a cara enfiada nele, caso contrário, teria acordado a casa toda. Virei-me de relance para trás e foquei a expressão de seu rosto. Havia tanto tesão e tanto desejo nela, como quando um garanhão tem suas narinas inspiradas pelo odor do cio de uma égua, e já não se controla mais. A cabeçorra do pau dele tocava seu ventre de tão empinado e rijo que estava. Ele o pincelou no meu rego por demorados e torturantes instantes. Agarrei-me ao travesseiro, pois sabia que teria que dar outro grito quando aquilo tudo fosse entrar em mim. Eu estava tão tenso que não só as preguinhas estavam ocluídas, como o rego se estreitava com os glúteos contraídos. O Matt forçou, mas a pica não entrou. Ele a apontou novamente contra a portinha e forçou, ela deslizou lubrificada pela abundância do fluido pré-ejaculatório. Ele a forçou mais uma vez e, num espasmo involuntário, meu esfíncter abriu uma brecha, a cabeçorra e alguns centímetros da verga entraram em mim rasgando tudo que encontravam pela frente. Eu gritei e me entreguei.
- Doeu? Estou te machucando? – sibilou junto à minha orelha, enquanto a mordiscava. Eu não respondi, apenas encaixei meus dedos entre os dele e os apertei. A partir daí ele foi tão delicado e cuidadoso quanto lhe permitia a força desmesurada de seus músculos e a gana voluptuosa que o empoderava.
O Matt estava firmemente apoiado sobre suas duas pernas ligeiramente abertas e puxou-me pela cintura até o cacetão mergulhar inteiramente naquele casulo receptivo e, sua virilha se amoldar às minhas nádegas, deixando o sacão comprimido dentro do meu rego. Minha felicidade era infinita naquele momento. O primeiro homem que eu amava na vida estava dentro de mim e se movia vigoroso e cuidadoso, levando-me a um êxtase que jamais imaginei poder existir. Ele bombava e estocava meu cuzinho, seus olhos estavam fechados e ele inclinava a cabeça para trás, mergulhado num transe de prazer e luxúria. Algumas vezes o som rouco e gutural que saia de sua garganta superava meus gemidos. O mundo se resumia aquele quarto, a nós dois ali engatados transformados num ser único e pleno. Quando ele tirou a rola do meu cu e começou a me virar para que ficasse de costas sobre a cama, eu gozei lambuzando meu ventre. Ele sorriu, abriu minhas pernas e as colocou sobre os ombros. Na certeza de que eu era todo dele, meteu o cacetão no cuzinho que se fechava em espasmos clônicos e, entregou-se às carícias que meus braços abertos estavam ávidos para lhe dar. Nossas bocas se uniram mais uma vez, sufocando nossos gemidos libidinosos. Ele sentiu sua pelve se retesando, seus músculos em estado quase tetânico tornaram as estocadas lentas e ele se comprimia contra meu rego apartado para atolar seu caralho o mais profundamente possível. A porra veio em jatos cremosos e abundantes aliviando-o de toda tensão que se acumulara em sua pelve, produzindo o mais sublime dos prazeres que um macho pode experimentar. Enquanto aquela porra entrava em mim eu compreendi o exato significado da frase – fazer amor – pois, até então, eu só sabia o que era fazer sexo. Fazer amor é se doar plenamente ao outro, é sentir sua energia vital fluindo para o outro e vice-versa, é sentir prazer na dor sem ser masoquista. E foi isso que o Matt e seu pirocão me ensinaram. Embora aquele estivesse sendo o maior caralhão que já rasgara meu cuzinho, a delicadeza e o cuidado com que o Matt me fodeu me faziam tão virgem quanto naquele dia do meu aniversário de 18 anos quando tio Fernão me fez sangrar pela primeira vez. Assim que ele saiu de dentro de mim e se largou pesadamente sobre a cama, eu me virei e me inclinei sobre ele, apoiando as mãos em seu peito que subia e descia com sua respiração ofegante e acelerada. Sorri para ele depois de depositar um beijo carinhoso em seus lábios. Ele tocou no meu rosto.
- Este é o número cinco. – balbuciou, fixando seus olhos nos meus.
- Que número cinco? – perguntei sem compreender o que ele queria dizer com aquilo.
- O sorriso, esse é o sorriso número cinco. Esse que você faz depois de trepar comigo. Acabo de descobri-lo. – esclareceu, ao apertar a coxa que eu enfiava entre as dele.
- Eu vou chama-lo de sorriso da felicidade. É assim que me sinto agora, é assim que me sinto ao seu lado. – murmurei antes de beijá-lo suavemente ao longo da mandíbula.
O Matt estava cochilando quando a umidade entre minhas pernas se tornou tão incomoda que fui averiguar. Eu estava ciente de que ele tinha gozado bastante, mas, mesmo assim, aquilo me pareceu demais. Movi-me cautelosamente para não despertá-lo e levei um susto quando vi o lençol e minhas coxas cheias de sangue. Isso nunca tinha acontecido nessas proporções. Ao me lavar debaixo do chuveiro lembrei-me de um desses artigos que casualmente li num site da Internet. Uma espécie de guia de como ser um bom passivo, no qual o autor afirmava que sangramentos anais após o coito não eram normais e podiam estar associados a hemorroidas ou outros problemas locais. Não se pode dar crédito a muita besteira que aparece nesses sites. Eu sabia que não tinha nada do que estava mencionado no artigo, mas sangrei inúmeras vezes com tio Fernão e o Afonso, precisando muitas vezes valer-me de absorventes. Contudo, pela primeira vez fiquei preocupado com aquele filete rubro que escorria pela minha coxa numa profusão jamais vista.
- Não há com o que se preocupar. Está tudo em ordem com você. Há uma laceração em fase final de cicatrização e, certamente, foi ela que provocou o sangramento que você descreveu. – disse o jovem médico que me examinou cinco dias depois, durante uma consulta extremamente desconfortável onde meu cuzinho foi arregaçado por um espéculo para que ele pudesse visualizar minha mucosa anal. – Seus dois esfíncteres são bastante hipertrofiados, como se tivessem sido estimulados por meio de várias lacerações de menor intensidade, mas que geraram como resposta um aumento do volume muscular. Algo parecido com um atleta que exercita os músculos e eles respondem aumentando de volume. – acrescentou, olhando de vez enquanto para o Matt que segurava minha mão enquanto eu estava deitado sobre uma maca com as duas pernas abertas e apoiadas em estribos. O olhar dele se dirigiu algumas vezes para o volume na braguilha do Matt e, sem mencionar nada, notei que ele estava deduzindo qual era a razão dos meus esfíncteres serem tão hipertrofiados e terem essa força ao se contraírem.
- Não sei como isso pode ter acontecido. Nunca foi promiscuo! – sentenciei envergonhado, pois intimamente eu sabia que aquilo era uma herança do tio Fernão e do Afonso, que me tinha condenado a sentir dores e sangrar a cada coito.
- Não há nada relacionado com promiscuidade, perdão se deixei entender dessa forma. O desenvolvimento muscular faz parte de sua constituição física, seus glúteos também são bem desenvolvidos e sua massa muscular como um todo é bem definida. – proferiu o médico, no qual percebi um tesão ganhando força quando ele moveu o espéculo sensualmente nas minhas entranhas e eu gemi.
- Você não deveria ter entrado comigo no consultório. Nunca senti tanta vergonha! – confessei ao Matt a caminho de casa.
- Você não tem do que envergonhar. Já eu, fiz muito bem em não deixa-lo sozinho com aquele sujeito. Aposto que ele estava pensando o tempo todo como seria bom se ele estivesse no lugar daquele espéculo. – resmungou com cara de bravo.
- Como é que você pode sentir ciúmes de mim? Não existe e nem vai existir outro homem na minha vida, só você. – retruquei, acariciando seu cangote junto à implantação dos cabelos, onde eu tinha a capacidade de atiçar todo seu tesão.
- É bom mesmo! – grunhiu. – Se você continuar fazendo o que está fazendo não garanto que chegue em casa com o cuzinho fechado. – acrescentou, encarando-me com um risinho malicioso.
Ele e eu passamos a ir com frequência à vinícola depois daqueles dias maravilhosos que passamos juntos. Algumas vezes o Johnny Jr e o Chris iam com a gente. Os quartos daquela casa nunca tinham acolhido tanta paixão e tanta luxúria entre suas paredes. Durante o dia passeávamos entre os vinhedos assim que o sol começava a apontar acima das colinas e a planície ainda estava coberta por uma bruma densa e fria. Vagueávamos sem rumo pela propriedade e ele ia me contando seus planos, mostrando-me onde ergueria mais um galpão para acomodar os enormes tanques de inox para fermentar as uvas, onde mandaria cavar um túnel numa elevação do terreno para acomodar a cave, levava-me até o alto de uma das colinas no limite da propriedade e, cheio de ideias na cabeça dizia:
- Está vendo aquelas pedras no alto daquele morro sem vegetação? Até lá vão as terras vizinhas as nossas, um dia vou compra-las com a crescente produção ano a ano. Lá vou implantar mais um vinhedo, assim podemos ser autossuficientes, e não depender dos demais agricultores para fornecer as uvas. – seus olhos brilhavam quando ele falava entusiasmado e o vento espalhava seus cabelos.
- E o que falta para você realizar tudo isso? – perguntei.
- O principal, dinheiro. Meus pais compraram essa propriedade para o lazer, já investiram alguma coisa a meu pedido para que chegássemos aonde chegamos, mas isso aqui tem potencial e, eu vou chegar lá. – asseverou.
- Acho que você está precisando de um sócio! – exclamei casualmente.
- Não quero entrar numa sociedade. – retrucou, sem atentar para a expressão do meu rosto.
- Nem um que também leva essa sociedade para a cama? – questionei com um risinho. Só então ele compreendeu aonde eu queria chegar. Expliquei-lhe que tinha meu patrimônio alocado no Brasil, mas que estaria disposto a investir nos planos dele.
- Bem, aí as coisas mudam de figura. – devolveu, abraçando minha cintura e me puxando para junto dele. – Você faria isso por mim? Sempre pensei que um dia você fosse voltar para o Brasil, quando terminasse a faculdade. Que talvez não fosse aceitar meu pedido para ficar aqui comigo. – comentou, chutando algumas pedras ao acaso.
- Eu não sabia que você pretendia me fazer um pedido para ficar com você. Acho que nem seria necessário, se bem que eu adoraria ouvi-lo. Eu te amo Matt! Amo muito, amo um tantão assim! – exclamei abrindo os braços o mais que pude.
- Então fica comigo, para sempre. – balbuciou antes de me beijar.
O Matt terminou a faculdade no fim daquele semestre. Eu continuava estudando para completar a minha, mas vislumbrava que talvez nunca fosse exercer a arquitetura como profissão, pois dia-a-dia eu estava mais envolvido com a vinícola que expandimos com a aquisição daquelas terras vizinhas e da implantação de mais benfeitorias, depois de eu transferir parcialmente meu patrimônio para os Estados Unidos. Dois anos depois veio a primeira recompensa pelo empenho do Matt. Um Sauvignon Blanc produzido na vinícola no ano anterior recebeu o troféu de melhor do ano pelo comitê de produtores do Vale do Napa.
Quando o Matt subiu ao palanque para receber o troféu, eu estava sentado na primeira fila de convidados entre o Johnny e a Louise, ele piscou para mim e abriu um sorriso. De repente, a imagem dele ficou embaçada pelas lágrimas que se formaram em meus olhos, eu senti a Louise apertando minha mão com força e devolvi um sorriso na direção do palanque. Será que ele também ia ganhar um número? Talvez sim, uma vez que era o sorriso de alguém que sempre se sentiu como il gatto cenerentolo, uma versão masculina do conto que originou a Cinderela e que, agora encontrou seu príncipe encantado na imagem daquele homem vigoroso e másculo, ao mesmo tempo sutil e carinhoso que, do alto do palanque, compartilhava sua glória e seu amor na forma de uma simples piscadela.