Seu abraço era forte, apertado, suplicante, necessário. Assim como o beijo que ele tinha me dado dias atrás, aquele abraço parecia ter uma entrega. Pela primeira vez eu o sentia vulnerável, sem capas, sem armaduras, sem aquele jeito bruto que ele tinha e que adorava ou precisava ter.
Minha surpresa em meio aquela demonstração de afeto repentina era nítida, eu não sabia muito bem o que fazer, mas devo confessar que era bom ter seus braços envoltos em mim.
Eu estava chateado com ele, chateado pelas coisas que ele tinha dito, por parecer não se importar com o que dizia e muito menos se importar no que suas palavras causavam em mim.
Minha mente estava tão confusa que em um certo momento tudo se resumia a nada, eu não pensava em mais nada, apenas sentia o calor do corpo dele junto ao meu.
O abraço dele era tão puro que parecia que todos os poros de sua pele junto a minha, se desculpava. Ainda me abraçando ele descolou seu corpo do meu alguns poucos centímetros, meus olhos o encaravam sem entender aquilo, já os dele, me olhava com culpa e arrependimento.
Não balbuciávamos uma palavra sequer, o nosso silêncio dizia tudo um ao outro, era como se conversássemos pelo toque, pelo olhar... ele estava não apenas se desculpando comigo, mas sim, querendo me acalentar, me consolar, seu abraço agora era mais frouxo, mas ainda firme, ele parecia querer cuidar de mim.
E querendo finalizar, ele foi colando os seus lábios nos meus depositando ali leves selinhos, parecia querer me pedir permissão para beijar-me, meu coração estava confuso. Eu não correspondia aos toques que seus lábios davam nos meus, mas eu também não os impedia.
Vendo que não tinha resistência de minha parte ele intensificou o beijo, seus olhos se fecharam apreciando aquele momento e automaticamente eu fiz o mesmo, era impossível negar o quanto eu queria aquilo, impossível negar o quanto Hugo mexia comigo, impossível negar que o que eu achava estar superado em relação a ele estava ali tão aceso como fogueira recém queimada, forte e flamejante.
-Não. Não posso fazer isso.
Me afastei do seu abraço com muito esforço e quando me vi solto dele parecia que eu estava perdido, meu corpo implorava para sentir o calor dele novamente.
-Me desculpa Rafa...
-Eu sei. Foi um erro. Completei sua frase antes que ele me falasse.
Seus olhos negros um pouco mais lacrimejado do quê de costume me olhava com necessidade e ele balançava a cabeça discordando do quê eu tinha dito.
-Não... Nem de longe isso foi um erro.
Ele se aproximou novamente de mim.
-Para falar a verdade, eu nunca estive tão certo de algo em minha vida.
Seu corpo estava se contraindo e parecia que ele tinha alguma coisa para me dizer, mas algo em sua garganta o impedia de falar. Eu tinha os braços cruzados e estava parado frente a ele, não sei o que eu esperava, não sei o que eu queria. Minha mente só tentava processar o beijo que ele tinha acabado de me dar e em como aquilo tinha feito todo o meu psicológico desmoronar.
Ele me encarava nervoso como se estivesse se preparando para fazer algo importante. Eu o fitava sem entender muito bem, mas não saía dali, algo parecia me prender.
Dando um longo suspiro trazendo para si não apenas ar para o seus pulmões, mas também, o restante da coragem que o faltava, ele me olhou atentamente se aproximando novamente, sua mão foi de encontro a minha e ele a apertou um pouco.
-Eu tô tão nervoso que parece que minha mente vai explodir.
Ele disse dando aquele meio sorriso dele. -Eu tento formular algo pra te falar, mas nada fica bom o bastante. Para falar a verdade, nada do quê eu disser vai ser bom o bastante para explicar o que de fato você representa para mim.
Ouvia a tudo atentamente, devorando cada palavra que saia de sua boca. Ele notando que eu não o responderia se apegou a sua última gota de coragem e decidiu que apostaria tudo, sem receios, mesmo que o resultado não fosse o que ele desejava.
-Rafa, eu.. eu gosto de você.
Ele me puxou para mais perto dele. -Eu gosto muito de você. Terminou de confessar.
Gosta de mim? Ele gosta de mim? Uma grande interrogação se instalou em minha mente, como ele podia gostar de mim se quando eu estava literalmente entregue a ele, ele me dispensou. Me deixou sozinho em meu quarto, mal ligou para o quê se passava dentro de mim. Isso é gostar?
-Você é louco Hugo.
Eu o olhei um pouco irritado. -Você acha que pode simplesmente chegar agora e dizer que gosta de mim? Você mesmo me dispensou, e eu entendi que com você me restringiria apenas a uma boa amizade.
Dei uma pausa respirando com calma, meu sangue parecia ferver dentro de mim, eu nunca tinha me sentido daquela forma.
-Eu estava disponível Hugo, e era tão nítido meu interesse em você que chegava a ser ridículo. E agora, depois que eu segui a diante... você se acha no direito de me beijar e dizer que gosta de mim? Você realmente tem alguma problema, mas infelizmente eu não tenho como te tratar.
Ele me ouvia sabendo que tudo aquilo podia acontecer, para ele não era estranho a minha reação, ele esperava por isso, só parecia não saber o quanto incomodaria ouvir.
-Você não pode ficar brincando comigo Hugo, eu não posso ser o prêmio de consolação para o seu ego ferido.
Terminei de dizer aquelas palavras e ele estava imóvel. O clima ali era tão intenso, eram tantos sentimentos misturados, mas apenas um se sobressaia: arrependimento.
-Você não entende Rafa, é complicado...
-O mundo é complicado, a vida é complicada, dormimos sabendo que no próximo dia teremos N complicações para resolver. A vida é assim! Mas o que difere um dos outros é o modo em que enfrentamos nossas complicações, e é nítido que a sua complicação você prefere esconder na falha tentativa de não ter que encara-la, não sei por quais motivos, mas deixa eu te falar uma coisa: não é porque você se finge de cego que os problemas irão sumir da vida.
-Quer saber, eu não vou ficar discutindo isso com você.
-Isso, foge mesmo. Se isola no seu mundo intocável e “seguro” e viva essa vida de farsas. Você tem que acordar e perceber o enorme teto de vidro que você tem Hugo.
-Eu não tô aqui para brigar, porra. Eu tô totalmente aberto para você e você só está pisando em mim caralho.
Seus olhos pareciam perdidos, sua feição era triste, não queria deixá-lo daquele jeito, mas as palavras saíram sem filtros da minha boca.
-Se você está de fato aberto, então me diz, me explica: porque você me rejeitou e agora diz me querer? O que mudou?
Seu corpo se estremeceu com a minha pergunta, ele tentava a todo custo firmar algo em sua mente, mas ela parecia estar tão barulhenta que nada se formava ali.
-Eu não posso ser gay Rafa. Eu não posso...
Ele desabou. Se sentou no chão e enfiou a cabeça entre as pernas, seu soluço começou baixinho mas logo todo aquele apartamento sabia que ele chorava, e não era apenas um choro de tristeza, era como se aquelas lágrimas que saiam fossem todas as guardadas durante aqueles 25 anos que ele tinha.
Eu fiquei travado, nunca imaginei que um dia veria aquela cena, não dele. Se alguém um dia me contasse que Hugo choraria daquela forma eu nunca acreditaria. Desde cedo notava que ele estava sem aquela capa bruta que ele carregava, mas aquilo na minha frente era a essência de um homem/menino ferido.
Eu não pensei em mais nada e apenas corri para o lado dele, o envolvi com os meus braços assim como ele fez comigo mais cedo.
-Me conta, conversa comigo. Não precisa sofrer sozinho Hugo, confia em mim.
Eu não ligava mais para nada naquele momento, tudo parecia ter sido apagado e a raiva por ele, esvaído. Queria apenas vê-lo melhor e entender porque ele sofria tanto.
Entre os soluços ele levantou a cabeça e fixou aquele olhos negros nos meus, eu levantei meus dedos e tirei todas as lágrimas acumuladas ali, aquele olhar não combinava com a tristeza que ele tinha.
-Eu tinha tudo esquematizado, minha vida toda pronta desde muito novo. Eu venceria na vida e mostraria a minha mãe que todo o esforço pelo qual passamos tinha valido a pena.
Ele engoliu o choro e voltou a dizer:
-Você sabe disso Rafa, eu te falei um pouco da minha vida, e acredite, de todos você é o que mais sabe sobre ela.
-Eu sei. Me aproximei mais ainda dele, me aninhei em suas pernas e agora podia abraçá-lo e olhá-lo ao mesmo tempo. -Eu sei que sua vida não foi fácil, mas olha pra você? Olha pro homem que você se tornou. Eu não sei o que você pensa, mas se eu fosse a sua mãe eu teria tanto orgulho de você. Você é um ótimo filho, ajudou ela quando ela mais precisou, ama os seus irmãos, mesmo sem precisar ainda a ajuda todo mês, está fazendo uma graduação, tem essa casa linda... Hugo, qualquer pessoa sentiria orgulho de você.
-Mas do quê adianta tudo isso, se quando eu a vejo ela anseia para que eu a apresente logo uma namorada, para que eu forme uma família, para que eu a dê netos... Rafa, eu nunca vou poder dar isso a ela.
Seus olhos novamente me olharam encharcados, era tão doloroso ver como aquilo destruía ele por dentro, assim que o ouvi lembrei instantaneamente de quando confessei minha sexualidade para os meus pais e de como eles foram tão naturais comigo em relação a isso, eles agiram como todos deveriam agir, mas era nítido que nem todos tinham a “sorte” que eu tive.
-Eu não sei como seguir com isso Rafa, eu não quero decepciona-lá, Deus sabe o quanto eu a amo e o quanto eu desejo apenas dar orgulho a ela... mas eu não posso competir com isso, eu não tenho mais forças para esconder os meu sentimentos, não consigo mais esconder quem eu sou.
Seu rosto estava realmente abatido, seu olhar estava turvo e sem brilho e ele parecia suplicar para que eu pudesse dar uma solução a ele, mas aquilo tinha me pego de surpresa, eu o olhava querendo poder tirar toda aquela dor que ele sentia, mas como eu faria isso?
-É isso. Esse é o meu problema!
Suas palavras saíram fracas, ele suspirava sem ter mais o que dizer, tudo já tinha sido dito, ele só esperava agora a noite passar e o dia clarear para que ele continuasse a seguir sua vida; o seu olhar me dizia isso, mas eu não podia deixar isso acontecer, eu gostava muito dele para vê-lo sofrer tanto. Sim, eu gostava dele, eu gostava muito, desde o dia em que o conheci.
Por alguns minutos eu apenas o abracei com força, sem dizer nada a ele, queria que ele se sentisse amparado, queria que ele se sentisse seguro, queria que ele soubesse que ele não estava mais sozinho. Queria poder quebrar toda aquela dor que o machucava com o abraço apertado que eu dava nele, queria desfazer todo o sentimento ruim que ele sentia com o afeto que eu transmitia.
-Calma, tudo vai se acertar. Acredite! Um dia após o outro.
Continuei a abraçá-lo.
-Eu imagino que não tenha sido fácil para você, e me dói tanto de te ver assim. Você não merece ter que passar por tudo isso, mas saiba de uma coisa: eu nunca senti tanto orgulho de uma pessoa quanto eu sinto de você, e não é da boca para fora, não é para te fazer sentir melhor. É a verdade. Eu admiro você Hugo. Admiro o homem que você se tornou. Cara, você batalha desde adolescente e tudo isso para ver sua família bem. Não existe motivo mais nobre. Tu é um homão da porra!
Eu o olhei sorrindo e me surpreendi quando ele também deu um sorriso tímido, ele agora me fitava um pouco mais pleno, um pouco mais leve, e eu me senti melhor quando percebi isso nele.
-Por favor, não desiste de mim. Eu preciso de você. Eu sinto tantas coisas quando estou perto de ti, faz tanto tempo em que não sinto tudo isso. Você desperta o melhor em mim. Eu preciso de você Rafa, eu não posso te perder.
Ele agora voltou a me abraçar com força.
-Pode ser egoísmo de minha parte e eu sei que eu não tenho o direito de entrar e sair em sua vida quando eu bem quiser. Mas saiba que eu nunca tive a intenção de sair. Eu sinto algo muito forte por você e é idiotice minha ficar negando isso. Pode ser mesquinho e que seja, mas eu preciso de você só para mim, eu preciso te ter comigo, é tão louco as coisas dentro do meu coração quando eu penso em você. Eu nem sei como estou conseguindo te confessar isso, acredite: eu nunca fiz isso, mas quando eu te vi chorar por minha culpa... nossa. Eu não soube o que fazer, eu nunca quis ter te machucado, nunca quis ter feito qualquer mal a você. Você ultimamente teve o poder de colorir a minha vida, o poder de ter me feito sentir coisas boas, muito boas e quando vi que você causava isso em outros também eu acabei surtando... me desculpa Rafa? De coração.
Seus olhos me encaravam firmes, me olhavam como se ele dependesse de mim, ele me mostrava o Hugo que ele nunca tinha deixado ninguém ver, ele se sentia mais seguro e sentindo isso ele falou quase suplicando:
-Eu sei que eu deixei você ir, mas por favor, por favor... não vá.
Continua...
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Meu leitores muito obrigado por acompanharem, desejo um ótima leitura. Obrigado pelos votos e pelos comentários. Até o próximo.
Kayo BS: Fico feliz que tenha gostado querido.
Magus: Obrigado por acompanhar querido.
Sharon: Muito obrigado por acompanhar.
Nayarah: Muito obrigado por acompanhar flor.
Guardian: Meu querido muito obrigado por acompanhar. Realmente a visão do Hugo é um “tiro” não é mesmo? Eu sinto que quando as famílias aparecerem muitas coisas irão acontecer, não sei se boas coisas ou ruins.
Ah, li em algum de seus comentários sobre o meu pseudônimo “Little Boy” então, eu sempre fui chamado de pequenino, menininho, anjinho pequeno, por isso resolvi por esse apelido.
Plutão: Muito obrigado por acompanhar.
Romanticonato: Adorei seu comentário querido. Kkkk. Muito obrigado por acompanhar.
Edu19>Edu15: Pois é Edu. Mas muito obrigado por acompanhar querido.
Oldack: Meu querido muito obrigado por acompanhar, fico muito feliz que tenha gostado.
VALTERSÓ: Obrigado por acompanhar querido. Mas assim, são muitas coisas que envolvem os sentimentos de Hugo, sabe? É muito complicado para ele seguir firme sem ter medo de decepcionar a todos. Por isso ele vive tão preso.
Kardia: Muito obrigado por acompanhar, fico muito contente que tenha gostado.
Garafão: Muito obrigado por acompanhar querido, fico muito feliz que tenha gostado.
Malévola: Muito obrigado por acompanhar, fico muito feliz que tenha gostado.
Kherr: É uma honra ter você lendo minha estória. Amo e agradeço a todos os leitores que me acompanham, mas eu tenho uma relação de espelho em tu, quero um dia chegar ao seu nível. Não por competição, mas por saber que você é um escritor incrível, assim como tantos outros aqui. Espero que continue a acompanhar.
Luhenrique: Muito obrigado por acompanhar querido, fico muito feliz que tenha gostado. Nunca tive o interesse em publicar no wattpad, mas é uma boa dica.
Beijos,
Little Boy.