Por mais que Raquel desejasse reconciliar-se com Rogério, o cheiro daquele perfume feminino impregnando suas roupas, a ausência dele na cama do casal e, principalmente, a rudeza que ele adotara desde então, operavam como verdadeiras barreiras que o afastava dela e da possibilidade de um diálogo sincero sobre a relação. Raquel estava triste, mas não chorava mais, pois o ressentimento, tal uma ferida interior, não doía, mas ainda estava lá, em seu corpo e em sua alma, obrigando que ela, ao olhar para o marido, sempre se lembrasse de que ele a fizera sofrer.
E as noites se repetiam: vazias, solitárias, frias e cheias de rancor …, Raquel ainda tentou uma reconciliação; foi em um domingo em que estavam a sós em casa; as crianças foram passear com os avós, e o casal decidira deixá-los aproveitar a companhia dos pais de Raquel, principalmente porque seu pai não estava muito bem de saúde. Em momento algum, Raquel confidenciou aos pais o suplício que estava sendo seu casamento, preferindo que eles vivessem na ignorância, supondo que tudo era um mar de rosas.
Sentados na sala, olhando para a televisão, Raquel e Rogério nada diziam. Havia apenas um pesado silêncio entre eles, emoldurado por olhares distantes e suspiros perdidos.
-Amor, você quer conversar sobre nós – Perguntou Raquel, quebrando o silêncio do ambiente.
-Não temos nada para conversar! – ele respondeu sem tirar os olhos da TV.
-E tudo vai ficar como está? – tornou a perguntar a esposa, ansiosa – Olhe, eu sei que errei, mas, tudo bem …, temos nossos filhos …
-Você pisou feio na bola! – interrompeu ele, demonstrando certa impaciência.
-Eu! Fui eu a culpada de você me abandonar? – retrucou Raquel, elevando um pouco o tom de voz – Você, agora, apenas quer saber de bebida e de vagabundas!
-Pelo menos eu não preciso aturá-las, ouvir suas lamúrias e suas mentiras! – disse ele elevando ainda mais o tom de voz – Vou lá, trepo e acabou!
-Mas eu gosto de você …, você é meu homem! – redarguiu Raquel, quase incapaz de conter o choro.
-Não sou mais! – disse Rogério, fitando-a com ódio no olhar – Sou apenas seu marido …, você me deve fidelidade, obediência, e mais nada …, mais nada …, entendeu …, sua puta mentirosa!!!!
Perdendo o controle de si própria, Raquel desabou em um pranto caudaloso, soluçando e tentando engolir as lágrimas que teimavam em escorrer por todo seu rosto; Rogério não esboçou qualquer reação, limitando a bufar em desgosto, levantando-se e deixando a sala e, em seguida, a casa, abandonando para trás uma mulher triste e magoada.
Nos dias que se seguiram a essa discussão, Raquel tocou a vida como foi possível. Sempre acreditando que Rogério a amava e que, mais cedo ou mais tarde lhe daria uma nova chance para retomarem a vida de onde pararam …, mas o abuso da bebida e o cheiro cada vez mais marcante de perfume barato eram nítidos sinais de que tudo estava piorando. Até que o inevitável aconteceu …
Numa noite, Rogério chegou em casa alterado pela bebida, e depois de comer alguma coisa, foi até a sala onde Raquel assistia TV, onde começou a despir-se, atirando as roupas em cima dela; Raquel tentou ignorar aquela provocação, achando que se assim o fizesse, Rogério se cansaria e iria para a cama. Mal sabia ela que ele tinha outras intenções. Nu, o homem partiu para cima da esposa, puxando-a belo braço e estapeando seu rosto várias vezes.
Raquel gritou, suplicou, implorou entre lágrimas, mas Rogério prosseguiu em sua agressão …
-Qualquer puta é melhor que você! – vociferava ele, enquanto o ritmo dos golpes diminuía – Você me desrespeitou …, me ignorou …, deixou de lado nosso casamento …, e tudo isso porque? Porque não queria mais filhos …, mas você não perguntou para mim! Não quis saber a minha opinião, não é? Sua vagabunda!!!
Raquel não reagiu; não porque estivesse sem forças, mas sim porque não era capaz de reagir ante uma violência gratuita e sem sentido.
-Você não presta mesmo! – prosseguiu ele nas ofensas – Mas, a partir de agora, tudo vai mudar …, e você vai aprender a me respeitar como marido e como macho …, entendeu, sua vagabunda!
Exaurida a sua fúria, Rogério saiu da sala, deixando uma mulher destroçada entre a humilhação e o sofrimento. E nas semanas seguintes, o purgatório dela tornou-se quase insuportável; Rogério parou com a bebida, mas não com as mulheres …, até mesmo na vizinhança isso já era amplamente comentado. Raquel manteve altivez passando ao largo dos comentários maldosos e dos gracejos provocadores que apenas serviam para aumentar o seu amor-próprio.
Todavia, por dentro ela sentia-se morta …, ou melhor, não sentia nada! Para seu marido ela era exatamente isso: um nada. Concentrando-se no trabalho, Raquel deixou de lado sua vida conjugal e ante tanta dedicação, conseguiu o devido reconhecimento. Para comemorar comprou uma roupa nova e correu para casa a fim de experimentá-la. Estava no quarto apreciando a própria imagem, quanto Rogério irrompeu como um furacão furioso.
Arrancou-lhe as roupas rasgando-as com maldade e jogou-se sobre a cama de bruços; e enquanto se despia vociferava como um louco: “Ganhou uma roupinha nova do seu macho do trabalho, é? Trepou bastante para conseguir?”. E ele continuava esbravejando ante o olhar apavorado de sua esposa. Quando ela teve coragem para perguntar o que ele pretendia fazer, a resposta foi rápida e dolorosa:
-Vou fazer aquilo que seus machos não tem coragem de fazer …
Com essa resposta, Rogério puxou Raquel da cama e colocou de quatro sobre o chão; em seguida ajoelhou-se atrás dela e ensebou sua rola com a própria saliva; segurou a esposa pela cintura com uma das mãos e com a outra apontou seu membro para o cu intocado de Raquel; seguiu-se uma penetração repleta de dor, sofrimento e humilhação …, Rogério enterrou sua benga no traseiro de Raquel e estocou com movimentos furiosos, causando mais dor que prazer.
Ela por sua vez, dominada pela dor e também pelo medo, continha-se para não gritar, mantendo o mínimo de dignidade que ainda lhe restava …, foi um momento infernal. Rogério socou a rola no cu de sua esposa, gritando e blasfemando contra ela.
-Toma, sua vagabunda! – ela dizia aos berros – É isso que você gosta, não é? Puta! Vagabunda! Vou foder esse cu até não poder mais …, e você jamais vai se esquecer de quem é …, uma puta! E vai me obedecer …
Algum tempo depois, ele ejaculou violentamente, despejando sua carga de esperma nas entranhas de Raquel; deixou-a lá caída ao chão entre lágrimas, dor e uma enorme sensação de perda de si mesmo. Nunca mais Raquel seria a mesma …, nunca mais seria a esposa daquele homem …, poderia sim viver ao lado dele, pois preocupava-se com as crianças …, mas, o que restava o casamento era apenas isso: os filhos.
Mas, a dor tornou-se revolta e a revolta tornou-se desejo de vingança …