Oi, galera da Casa dos Contos. Olha só quem voltou com mais uma história editada! Eu quero agradecer aos leitores que impulsionaram "Amor de Peso. Espero que vocês curtam a segunda parte. Já sabe, né? Me ajudem (risos). Comentem (nem que seja só 1 comentário por capítulo), curtam na estrelinha e compartilhem com seus amigos. Amo vocês!!!
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Se você vai visitar Manaus, e deseja conhecer de fato o significado do calor manauara, precisa conhecer a área da Feira da Manaus Moderna. O local conta com o Mercado Adolpho Lisboa (com uma estrutura magnífica e totalmente turística), a Feira da Banana (que vende frutas, verduras e peixes) e um deck onde chegam barcos de todas as regiões do Amazonas.
Dentre as milhares de pessoas que passam de um lado para o outro, estão dois irmãos, Raimundo, mais conhecido como Mundico e Diana. Eles seguem para encontrar o pai que é comandante da embarcação "Estrela Dalva".
— O papai vai chegar, que horas? — perguntou Mundico, andando ao lado da irmã, sofrendo devido ao sol forte de Manaus.
— Umas 12h. Faltam 15 minutos. — informou Diana, olhando o horário no visor do celular.
— Qual é? O sol está quente. — reclamou Mundico, limpando o suor da testa que deixa os seus cabelos molhados.
— Eu estou cansada, mas precisamos esperar.
— Eu tenho ensaio do grupo de dança. — explicou Mundico, que odiava faltar aos ensaios do grupo "Ritmo do Bumbá".
— Queria ter esse pique. Eu lembro que quando tentei quase morri. — Diana recordou do dia que desmaiou no ensaio de dança rítmica e riu.
— O problema é que você faz corpo mole. — Mundico repreendeu a irmã, mas, no fundo, queria o bem dela.
— Você que não gosta nada de mole, né? — Diana questionou para o desespero do irmão, que olhou para os lados com medo.
— Tá, louca? Se o papai souber disso, ele me mata e te mata por guardar segredo.
— Mata mesmo. Por que precisa ser tão complicado? Você deveria amar quem você quisesse.
— Infelizmente, irmã, é o mundo em que vivemos. Enfim, vamos esperar em um lugar com sombra. — sugeriu Mundico puxando a irmã para a calçada.
***
Pai e mãe,
Nossa, passei por poucas e boas aqui, em Manaus. Mas acho que as coisas estão se resolvendo. O Zedu e eu, estamos namorando, tipo, ainda não é oficial, principalmente, por causa dos irmãos e do pai dele. Só que a cada dia, vamos nos conectando de maneiras diferentes.
A tia Olívia também está feliz, o Carlos, realmente, a deixa nas nuvens. Eles vivem inventando viagens românticas e, claro, aproveito os momentos para ficar com o Zedu.
Os meus irmãos continuam bem e saudáveis, principalmente o Richard. Espero que o resto do ano não nos traga outras surpresas, ainda mais negativas, quero fugir de problemas. A vida está ótima e quero que continue assim.
***
As férias começaram bem. A gente decidiu passar o primeiro dia na piscina. Eu estou feliz, mas, no fundo, ainda me sinto culpado pela dor que eu causei, seja para com o Diogo, a Alicia, o João e o Lucas.
Os meus amigos estavam alegres, Ramona e Brutus, apaixonados, a Letícia começou a aparecer na televisão e segue o relacionamento com o Arthur. Ou seja, um início de férias animado.
Vestindo uma sunga dos Powers Rangers, Brutus correu e se jogou na piscina. Ele causou uma pequena onda que nos acertou.
— Brutus! — reclamou Letícia, que deixou os óculos caírem dentro da piscina.
— Qual é. — Brutus disse ao emergir e nos fazendo rir. — Temos um mês para aproveitar as férias. Depois volta aquela chatice da escola.
— Letícia! — uma voz conhecida ecoou pela área da piscina.
Virei e me surpreendi ao ver Leo, irmão mais velho da Letícia. Durante os últimos dias, ele enviou algumas mensagens de cunho duvidoso, por esse motivo, precisei contar que estava namorando com o Zedu.
Fiquei seis meses sem ver o Leo e, confesso, que ele não mudou muito. Continuava com o mesmo corte de cabelo, as tatuagens coloridas e uma cara de Don Juan do Paraguai.
— A mamãe pediu para você não esquecer do protetor. A sua pele vale ouro agora. — falou Leo, antes de jogar um frasco de protetor para a irmã, que pegou o objeto no ar.
— Já passei. E o que tú tá fazendo aqui?
— O mesmo que vocês. — tirando a camiseta, guardando em cima de uma cadeira e se jogando na piscina.
Torta de climão. O Zedu sabia que eu tinha ficado com o Leo. Não contei para ele, juro. Aparentemente, o Zedu encontrou a caminha que nós usamos na vez que transamos na casa da tia da Letícia.
— Nem acredito que você derrotou a Letícia no concurso de rainha da escola, Ramona. Parabéns. — comentou Leo, deixando a irmã irritada. — Está vendo, Letícia. Se fosse, no mínimo, esforçada...
— Cala a boca, Leo. — Letícia reclamou jogando água no rosto do irmão.
— E você, Yuri, está bem? — ele questionou.
— Sim, eu, eu, eu estou ótimo. — respondi gaguejando e, com certeza, ficando vermelho de vergonha. — Eu, ótimo.
— Achei sacanagem o que fizeram contigo. Maior vacilo. — comentou Leo passando a mão na minha cabeça e bagunçando meus cabelos.
Para não ficar desconfortável, saí da piscina e fui em direção a churrasqueira. Busquei consolo nos meus amigos: picanha, fraldinha, cupim, linguiça e tambaqui. Sim, o churrasco no Amazonas é um tanto diferente, porém, igualmente delicioso.
— Saiu rápido. Nem disfarçou. — Zedu soltou, aparecendo de surpresa atrás de mim.
— Como assim? — tentei desconversar, mas, deixando mais na cara o meu nervosismo.
— Quando o Leo chegou. Você ficou nervoso. — Zedu disse, enquanto, passava as mãos nos cabelos para tirar o excesso de água.
— Eu, como assim?
— Yuri. Eu não nasci ontem. Eu sei que vocês tiveram um lance. Inclusive, precisei me controlar para não bater nele.
— Quando? — questionei, ficando ainda mais apavorado com a possibilidade do Zedu brigar com o Leo.
— Quem ele pensa que é para tocar no teu cabelo? — Zedu soltou, aparentemente, chateado e cruzou os braços.
— Zedu. Você tá sentindo ciúmes? — brinquei, fazendo uma voz engraçada.
— Eu?! Jamais. Hunf. — bufou Zedu, não conseguindo esconder os seus sentimentos.
— Eu que deveria ter ciúme. Afinal, as meninas ficam te olhando de forma descarada. Que saco. — protestei, pedindo para o Zedu colocar uma blusa.
— Tá com ciúmes?
— Demais. — revelei, pois, realmente, estava morrendo de ciúmes.
— Seu lindo. — Zedu brincou pegando na minha bochecha. — Meu gordinho lindo.
— Zedu, o Leo só tem um defeito. — disse retribuindo o carinho e tocando no rosto de Zedu.
— Mesmo, qual? — curioso, Zedu levantou sua sobrancelha esquerda e coçou o queixo.
— Ele não é você.
***
Vocês tem uma amiga celebridade? Nós temos. A Letícia estava ganhando bastante espaço no cenário publicitário de Manaus. Só nos últimos meses foram duas capas de revistas, três anunciou e um desfile. Quem aproveitava era Arthur, que criava vários curtas para a namorada protagonizar. Sua última investida era um filme de Zumbi na Amazônia.
— Pensa amor. Você como uma guerreira, tipo, a Ripley. — Arthur fez uma pose engraçada e Letícia riu, mas não conseguiu pegar a referência.
— Ri, quem?
— Deixa amor. — falou Arthur rindo da falta de conhecimento cinematográfico da namorada.
— Sério? Estou louco para produzir algo. A faculdade só é teoria. Eu quero praticar.
— Tá bom. Só se você colocar meus amigos para atuarem. Quero matar todos. — Letícia barganhou a nossa vida para atuar em um filme do namorado.
— Pode deixar. Vou criar um roteiro bem legal.
Sol. Música boa. Meus irmãos com a tia Olívia. Não existe nada mais romântico que isso. Tanto, que o Zedu e eu, fugimos dos nossos amigos que estavam na piscina e seguimos para um galpão vazio.
Entramos e não esperamos muito para começar a pegação. Era incrível como o Zedu conseguia encontrar os meus pontos fracos. Ele suadinho conseguia ser a coisa mais linda do universo.
Eu e Zedu fugimos dos nossos amigos que estavam na piscina e achamos um galpão vazio. A gente entrou e não esperamos muito para começar a pegação. Era incrível como o Zedu conseguiu achar meus pontos fracos. Ele suadinho era a coisa mais linda do mundo.
— Você é muito lindo, Yuri. Eu penso em você o tempo todo. Suas curvas, essas bochechas. O ponto alto do meu dia é quando estou contigo. — disse Zedu, entre um beijo e outro.
— Eu também penso bastante em você.
— Desculpa. Desculpa, ter feito você esperar todo esse tempo. — os olhos de Zedu conseguiam me hipnotizar, naquele momento, eu estava entregue a ele.
— Eu quero fazer aqui. Tem um preservativo na minha mochila. — falei para a alegria de Zedu.
— Para quem teve a primeira vez na mata, esse galpão é um hotel de luxo. — brincou Zedu correndo na direção da minha mochila e pegando o preservativo.
***
Engraçado quando as coisas são boas elas passam rápido. Em um piscar de olhos, as férias estavam acabando, entretanto, conseguíamos aproveitar bastante.
Lá em casa, as coisas continuavam ótimas. A minha família como sempre mantinha o mesmo pique. A titia continuava trabalhando, ao passo que a empresa crescia a cada dia. Meus irmãos estavam de férias, porém, faziam cursos, a tia Olívia detestava que ficássemos parados.
— Gente? Acabou meu leite de búfala. Tia?! — Giovanna apareceu na sala chateada e segurando uma garrafa vazia.
— Ainda não estou surda Giovanna. Vou comprar quando for no DB (supermercado). — titia respondeu, sem tirar os olhos do celular.
— Credo tia? DB? Compra no Pátio Gourmet. Lá eu sei que o leite vem da Europa. — garantiu Giovanna, sem ter certeza de que a informação era verdadeira.
— Não viaja. — me intrometi na conversa, enquanto, passava uma música para o Zedu. — Sabe quanto custa um frasco desse leite lá?
— Não me importa. Eu já tive que abrir mão de uma escola de qualidade. Agora vou ficar sem o meu leite?! Que história é essa? Fui abduzida para o planeta errado. — fingindo um choro que nem mesmo ela acreditaria.
Ninguém se importou com o drama da Giovanna, que ficou na sala com cara de poucos amigos. Não demorou muito e o Richard, o meu irmão caçula, entrou na sala. Ele olhou embaixo dos móveis e parecia preocupado.
— Que bicho você já perdeu? — perguntei, sem olhar para ele, pois, o Zedu mandou um emoji que fez com a nossa foto.
— A Tina...
— Que Tina? — quis saber a tia Olivia, temendo qual animal teria que enfrentar.
— Tina, a tarântula, oras, que Tina?
Não houve tempo para lamentação. Nós levantamos correndo e saímos para fora de casa. Precisei, literalmente, carregar o Richard no colo, pois ele não queria deixar a Tina sozinha.
A titia chamou uma equipe especializada para procurar a tal tarântula. Corri no meu quarto, morrendo de medo de encontrar o monstro de oito patas e peguei o básico. Naquela noite, fomos dormir em um hotel. Obrigado, Richard.
Eu aproveitei para visitar o Estúdio do George. Ele estava realizando um ensaio com duas modelos. Fiquei assistindo em silêncio. Ele me viu e pediu para eu me aproximar.
O George é um homem alto e barbudo, uma verdadeira referência ursina. Durante as férias, ele cortou os cabelos e aparou a barba, porém, não mudou muito, apenas ficou mais jovem.
Eu não sabia qual era a reação do George sobre o tema "Diogo". Afinal, ele já conhecia o Diogo antes de mim. Então, não sabia como funcionava a relação entre amigos, depois que um deles brigava feio.
— Meninas. 10 minutos de intervalo. — pediu George, colocando a máquina fotográfica em cima de uma mesa e andou na minha direção.
— Olha, eu sei que você deve tá chateado por causa do que eu fiz com o Diogo, mas...
— Ei. Calma. — ele pediu pegando no meu ombro que estava tenso. — Yuri, você é novinho e vai cometer vários erros. Confesso que fiquei chateado, mas, ao mesmo tempo, fiquei puto com o Diogo, principalmente, pelo que ele fez com você. Uma vez que vocês não tinham um relacionamento.
— Obrigado. — falei o abraçando, pois estava com medo de perder a sua amizade.
— Relaxa. E que bons ventos te trazem aqui?
— Bem, em primeiro lugar, te implorar o perdão. — expliquei rindo de nervoso. — E, em segundo lugar, eu queria saber se você está procurando um estagiário? Queria muito aprender sobre fotografia.
— Sério?
— Claro, mas, claro, se você quiser. Digo, eu não fico chateado...
— Sim.
— Você deve tá ocupado, tipo, posso voltar em outro momento.
— Yuri. — George pegou nas minhas bochechas.
— Yuri, eu disse que sim. — George falou soletrando o "sim" e rindo do meu nervosismo.
***
Minha tia ficou muito nervosa naquela manhã. Pela primeira vez, ela conversaria com o dono da empresa onde trabalhava. Ele era muito ocupado e, aparentemente, um homem muito rígido na forma como tratava seus funcionários.
Durante a reunião, a titia cometeu algumas gafes como, por exemplo, errar o sobrenome do chefe e derrubar café na mesa de reunião. Após o choque inicial, o assunto entre eles fluiu e a tia Olivia não conseguiu enxergar a pessoa rigorosa que todos comentavam.
— Dona Olívia, estamos gostando do seu trabalho. Você nos ajudou bastante naquela negociação em Parintins. Este ano, infelizmente, a minha família não poderá ir ao Festival dos bumbás, então, decidi que você deveria ir. A empresa vai fretar um barco de grande porte para levar algumas pessoas, e você é nossa convidada de honra. — anunciou Ytallo, um grande empresário de Manaus.
— Sério? Nossa. Nunca fui ao Festival.
— Serão 10 dias, você chega cinco dias antes do Festival. E será responsável pelo nosso camarote.
— E será que eu poderia levar meus sobrinhos? E o meu estagiário?
— Claro. Vocês estarão indo parte a trabalho também. Ah, além dos seus sobrinhos e estagiário, se quiser levar mais convidados, fique à vontade. — entregando um pacote com 10 pulseiras para a tia Olivia.
— Obrigada.
— Aqui estão os documentos do barco, camarote e tudo mais que você vai precisar. O único ponto negativo é que vocês terão que dormir no barco, claro, se você quiser pagar um hotel, eu posso te indicar alguns. Ah, só confirme os nomes dos convidados ao RH. — explicou o empresário.
— Obrigada, chefe. Vou me apressar, temos 20 dias para nos preparar. Com licença.
Quantas novidades! Consegui o meu primeiro estágio e a tia Olivia, uma viagem para o Festival de Parintins. Ela enviou uma mensagem animada para o grupo da família e pediu para que eu convidasse os meus amigos.
O meu namorado também ficou feliz com o meu estágio. Uma vez que a gente fazia um rodízio de pagamentos nos encontros, porém, quando não tínhamos nada, o jeito era namorar em casa.
— Adorei essa série. Espero que a Netflix faça outra temporada. — comentei, depois de uma temporada de uma série sobrenatural.
— A melhor parte é assistir abraçadinho com você. — Zedu disse, se espreguiçando e beijando meu rosto.
Eita, férias gostosas (literalmente). O beijo do Zedu tinha um sabor diferente. Eu não sei explicar, porém, queria prová-lo todos os dias. Só que nem de pegação e sexo sobrevive um relacionamento.
Entre as carícias e beijos, a gente sempre conseguia desenvolver uma conversa interessante. Já que o Zedu e eu, viemos de realidades diferentes e sempre encontrávamos pequenas dissemelhanças entre os nossos pontos de vista.
— E como estão as coisas na tua casa? — perguntei, fazendo carinho no cabelo do Zedu.
— A tua sogra pediu um tempo para que eu conte ao papai sobre o meu namorado maravilhoso. Os meus irmãos estão bem, mas não me preocupo com eles. — Zedu afirmou com os olhos fechados, aproveitando os meus carinhos. — Amor, quando soube que era o momento certo de assumir?
— O Vando. Teve uma época que ele me chantageou. Eu acabei contando para a minha tia. Sabe uma coisa engraçada?
— O quê?
— Ela disse que já sabia.
— Mães sempre sabem, né? A minha disse que não, mas no fundo eu sei que ela sabia. — Zedu mal terminou de falar e eu o beijei. — O que foi isso? — ele perguntou rindo e mordendo o beiço.
— Nada. Apenas quis te beijar, não posso?
— Deve. — o beijei, novamente.
— Ei, pocs. — Giovanna entrou no quarto e, no nervosismo, empurrei Zedu da cama e o meu namorado caiu longe.
— Droga. — Giovanna soltou tendo um acesso de riso. — Pena que eu não estou com o celular. Foi digno de uma vídeo cassetada. — limpando às lágrimas e ajudando Zedu a levantar do chão. — Enfim, só vim avisar que a titia vai nos levar para comer fora. Graças a Deus, ela ia fazer frango. — fazendo cara de nojo.
— Tá. Agora vaza. — eu pedi, levantando da cama e fazendo carinho no Zedu. — Desculpa.
— Tudo bem. — ele respondeu, me beijando e rindo. — A Gio tem razão, foi digno de uma videocassetada. Perdemos uma grana.
A minha tia queria celebrar, o contrato fechado no início do ano, em Parintins, interior do Amazonas, deu certo e rendeu bons frutos para a empresa. E ela foi convidada para o Festival de Parintins, uma festa típica do Estado. Ela poderia levar uma comitiva em nome da empresa e perguntou se eu poderia convidar meus amigos.
— Vai ser uma oportunidade legal de vocês conhecerem o Festival. Eu ia bastante na minha juventude. — disse Carlos, pegando na mão da tia Olivia.
— Sério, e quando foi isso? Antes ou depois da televisão colorida? — perguntou Giovanna rindo sozinha da piada ruim e levando um beliscão de mim. — Aí! Desculpa, foi uma brincadeira. Povo sensível. — ela reclamou e depois comeu um pedaço de alface.
— É bem legal, o festival. — Zedu reverberou o comentário de Carlos. — Tem dançarinos, cantores, os bois, além dos itens que são demais e as alegorias gigantes. Vai ser bem legal.
— Só preciso pedir autorização dos pais dos seus amigos. Amanhã te passo o documento. — explicou a tia Olivia.
***
Do outro lado da cidade, Mundico, se desdobrava para ensaiar e ajudar o pai no trabalho. Ele fazia parte do Corpo de Dança do Bumbá Garantido, escondido, claro, pois, o seu pai nem sonhava com essa relação.
Mundico era um rapaz baixo para a sua idade, com cabelos pretos e longos, que estavam presos com um coque. Apesar de baixo, o corpo dele se destacava no grupo de dança, principalmente, em coreografias de rituais.
— Boa noite! — exclamou Mundico deixando a mochila no chão e sendo zoado pelos seus amigos.
— Se troca e vai para sua marca. Temos pouco tempo para o Festival. — ordenou Sérgio, o coreógrafo do grupo, que estava com o nervosismo à flor da pele.
— Desculpa, galera. Vamos arrasar nesta coreografia! — exclamou Mundico, animado com a oportunidade de se apresentar em Parintins.
***
Sim! A festa de Parintins estava se aproximando. Essa seria a minha segunda viagem no Amazonas. A primeira foi em Presidente Figueiredo, a cidade das cachoeiras.
Quando eu contei para os meus amigos eles piraram. Realmente, o festival deve ser importante para os amazonenses.
A semana foi toda de planejamento, minha tia conversou com todos os pais e explicou como funcionaria a viagem. Depois que as permissões foram dadas, a gente conversou bastante sobre a cidade e o festival.
As minhas amigas ficaram pesquisando sobre customização de roupas vermelhas e azuis, as cores dos bumbás Garantido e Caprichoso, respectivamente. Amava esses momentos de interação, pois, conhecia mais sobre a preferência deles.
Aos poucos, conhecia mais dos meus amigos. Por exemplo, eu sabia que o Brutus detestava azeitona, ele sempre tirava da pizza. A Ramona não usava muita maquiagem pela manhã, pois suava demais. Já a Letícia recusou posar para uma marca que usava pele de animais.
— Yuri! — exclamou Ramona chamando a nossa atenção. — Vai ser o treino perfeito para você. Quero registrar tudo. — ela sugeriu, já pensando nos lugares que faria uma sessão fotográfica.
— Verdade. Eu comprei uma câmera e vou pedir para o George me ensinar. Inclusive, tenho que ir para casa. Amanhã acordo cedo. Você vem? — perguntei para o Zedu, ao levantar, porém, me tocando e ficando vermelho, porque nunca acostumava com o fato de estar namorando o Zedu.
— Meninas, Brutus. Boa noite. — ele desejou, me seguindo.
Lado a Lado. O Zedu e eu. Caminhando pela rua vazia, o que é normal para um domingo à noite. Durante a conversa, ele revela que já dançou em um grupo de toadas e mostrou uma foto antiga.
Segurei o riso, entretanto, achei fofo o Zedu usando apenas uma tanga feita com penas vermelhas e um cocar da mesma cor. De acordo com ele, a ideia de dançar partiu da mãe, que sempre incentivou a prática de atividades para os filhos.
— Que legal, amor. Os meninos não sabem, né? — perguntei, ainda olhando para a foto do Zedu dançarino e tendo cuidado para não tropeçar na rua.
— Não. E nem devem. — Zedu riu de forma nervosa. — E tem mais. Nessa época, eu namorei um garoto, quer dizer, eu fiquei. Acho que ele dança até hoje.
— Bem. Quer dizer que eu não fui o seu primeiro namorado? — questionei, parecendo mais dramático do que deveria.
— Você foi meu primeiro namorado. — pegando no meu rosto, sem se importar que estávamos perto de casa. — Ele foi apenas uma pessoa que passou na minha vida.
— O cara era magro?
— Acho que foi esses um dos motivos de eu não namorar. Ele não era gordinho. Essa atração por gordinhos surgiu depois que eu sai de lá. Eu só queria te contar isso, afinal, não existem segredos entre nós.
— Eu também tenho algo para te contar, eu...
— Você? — Zedu perguntou, fazendo uma pausa dramática e esperando pela resposta.
— Eu transei com o Leo. — virei uma metralhadora de verdade e joguei tudo em cima do meu namorado. — Uma vez, mas pelo amor de Deus, a Letícia não pode saber disso. Ele tá no armário. E isso foi antes de a gente namorar e não significou nada pra mim. Eu só quero que a gente não tenha segredos, amor. — continuei de olho fechado e ouvi a risada do Zedu. — Isso não é engraçado. Eu estou abrindo meu coração, José Eduardo.
— Você me chamou de amor. — ele comentou me deixando vermelho e tocando mais uma vez no meu rosto. — Me chama de novo. Eu posso me acostumar com isso. — em um movimento rápido, ele pegou na minha mão e caminhamos até em casa.
— E ai, pivetada? — Leo nos chamou, aparecendo, literalmente, do nada.
— Leo? — perguntei, soltando a mão do Zedu.
— Estão aprontando o que?
— Nada demais. — soltei, pensando em uma resposta convincente. — A gente tá...
— Estamos namorando. — Zedu afirmou pegando na minha mão, sem medo do julgamento alheio.
— Olha só. Bacana, sem preconceitos. — Leo disse, antes de se despedir e encontrar a Letícia no Fred's.
O Zedu fica tão bonitinho quando está com ciúmes. Aproveitei o momento para tirar uma foto. Queria recordar para sempre da coragem que o meu namorado teve de se assumir para alguém, tirando os nossos amigos.
— Você ficou com ciúmes? — questionei fazendo uma voz engraçada. — Que fofo.
— Para. — ele responde ficando acanhado. — Eu só quis marcar território. Fora que ele tem mais a perder do que eu. Eu já assumi. Ele não.
— Que maldade, Zedu.
— Eu sou mal. — rindo de forma exagerada, mas tossindo por causa do clima seco de Manaus.
— Eu gosto de mal. — colocando o Zedu contra a parede de casa e o beijando.
No dia seguinte, acordei animado. O Zedu ficou dormindo no quarto, graças ao nosso bom comportamento, a tia Olivia deixava ele dormir comigo, mas, havia a regra da porta aberta. O meu namorado dormia profundamente, então, não quis acordá-lo. Deixei uma mensagem em cima da mesa e segui para o estúdio do George.
Durante as segundas, o George fotografava para uma empresa de roupas. Ele mudou toda a configuração do estúdio para um clima de verão. As duas modelos eram lindas e trajavam biquínis pretos. Fiquei admirando o trabalho do meu amigo, que sempre agia de forma respeitosa e profissional.
— Isso meninas, mais para cima. — orientou George fazendo alguns cliques e olhando para a tela do computador que digitalizava as imagens. — Ótimo! Vamos dar uma pausa. — ele pediu, deixando a câmera na mesa e percebendo minha presença. — Yuri. Chegou no horário.
— Trouxe até a minha câmera, nem sei se vou usar na verdade. — falei abrindo minha mochila e tirando a minha Canon EOS Rebel T2i, comprando de segunda mão na internet.
— Tudo bem. Posso te ensinar o básico hoje e...
A explicação de George foi cortada pela entrada de Jonas e Hélder. Confesso que dos três, os dois últimos me davam bastante medo. Afinal, eles sempre trataram o Diogo como um filho, e eu, fiz o favor de magoá-lo.
— Olha, Jonas. Não é o fresco que traiu o Diogo? — perguntou Hélder, que usava uma túnica roxa, mesmo com o calor descomunal de Manaus.
— Sim, irmã. Eu não estou acreditando. — respondeu Jonas que me olhou da cabeça aos pés.