Na guerra e no amor vale tudo – Parte I
O inverno de 1944 estava terminando, na minha curta existência, o mais rigoroso pelo qual já havia passado. Não que isso significasse muita coisa. Na pequena Porspoder na Finisterra, costa da Bretanha os ventos e a chuva se estendiam até fins de maio prolongando os invernos indefinidamente. Contudo, por alguma razão íntima eu estava mais animado com o fim daquela estação. Talvez fosse por que eu estava prestes a completar dezoito anos no início de abril, que este ano coincidia com a Páscoa. Era certo que não haveria comemoração alguma. Tal como nos quatro anos anteriores, não havia o que comemorar com o meu pai preso tão logo as tropas alemãs ocuparam a França. De nada adiantou ele fugir com a família para nosso refúgio no litoral, abandonando a vida que levávamos em Nantes. Foi o preço que precisou pagar por ter se transformado num dos partisans de La Résistance, insurgindo-se contra a submissão do Estado francês ao poder nazista e, desiludido com o general Pétain e sua política colaboracionista. Em questão de horas passou de banqueiro bem sucedido a prisioneiro sem direito a visitas num presídio nos arredores de Paris, só voltando a sentir o gosto da liberdade poucos meses antes do final da guerra. Eu era o mais novo de seus três filhos, e pouco compreendi do que estava acontecendo no dia em que os soldados franceses o levaram à força de casa. Não eram os alemães os inimigos? Questionada inúmeras vezes, minha mãe não conseguia falar sobre o assunto sem cair aos prantos. Com o tempo fui desistindo de questioná-la, havia tempos que o riso fácil tinha desaparecido de seu rosto e, eu não queria vê-lo ainda pior, com lágrimas profusas brotando de seu olhar tristonho.
Eu costumava andar pela praia pedregosa durante as tardes, após as aulas ou, excepcionalmente, pelas manhãs quando por algum motivo ou outro não tínhamos aulas. O simples fato de tirar a jaqueta do cabide no vestíbulo junto à cozinha, deixava Saphir e Tango, meus dois dogues de Bordeaux apostos e eufóricos para me acompanharem nesses passeios, entre latidos potentes, corpos agitados e saltos para o ar que quase me derrubavam. Era comum encontrar os garotos das redondezas e inventarmos alguma brincadeira para passar as longas e tediosas horas. Quando não encontrava ninguém, costumava sentar-me nas rochas e ficava encarando o farol du Four, emergindo do oceano azul, a algumas centenas de metros da costa, como se fosse o dedo de um afogado pedindo socorro. Nessas ocasiões, meus pensamentos voavam soltos. Talvez depois daquela linha do horizonte houvesse um mundo mais interessante a ser descoberto. Eu prometia a mim mesmo que iria desbravá-lo. Porém, havia tantas questões a serem superadas, como aquela guerra estupida que parecia não ter fim e havia mudado tão drasticamente nossas vidas; essa adolescência que também nunca chegava ao fim e me obrigava a sujeitar-me às vontades alheias, além de toda indefinição de futuro que se enxerga nessa tenra idade.
No último dia de março, embora o calendário afirmasse que estávamos oficialmente na primavera, após o equinócio vernal, caía uma chuva fina e gelada naquela tarde sem perspectivas. Desci a ravina onde se situava nossa casa até a praia, acompanhado do Safhir e do Tango, que se precipitaram à minha frente, até avistarem a presença de estranhos entre as pedras da praia. Ambos começaram a latir e os pelos em seus dorsos se eriçaram da cernelha à cauda. Viravam-se em minha direção como se procurassem meu aval para se aproximarem dos estranhos. Eram cinco soldados alemães divertindo-se com uma bola para esquecer temporariamente as dores da guerra. Nem o frio tinha os desestimulado de tirar as jaquetas, deixando seus torsos brancos e musculosos expostos à garoa gelada. Ao sentar-me numa rocha próxima para observá-los, não sabia se estavam encharcados de suor ou da chuva fina que mal permitia enxergar o farol. Há tempos que homens sem camisa exerciam um fascínio sobre mim. Tudo começou num dia em que reparei pela primeira vez, nos músculos definidos do meu colega de classe, Junot, logo após a aula de educação física no vestiário da escola. Ele se exibia propositalmente para mim, pois tinha o prazer de me ver enrubescer feito um pimentão. Quando tinha a certeza de que toda minha atenção estava voltada para ele, passava acintosamente a mão sobre o volume dentro da cueca, esboçando um risinho pervertido no rosto cínico. Eu chegava a sentir calores por todo o corpo e, à noite, tinha um misto de sonhos e pesadelos imaginando como seria aquela pica que ele insinuava para mim.
Um dos soldados acenou na minha direção, me chamando para participar da brincadeira. Eu não tinha a menor intimidade com uma bola, não queria passar por pé-torto, por isso retribuí com um aceno negativo. Preferia mil vezes continuar a observar aqueles músculos se movimentando do que chafurdar na lama que a chuva estava formando a seus pés. Tango e Safhir também pareciam estar contentes com aquele movimento inusitado. Assim que chegamos tive que chama-los, pois começaram a correr atrás da bola, depois aquietaram-se ao meu lado, observando indiferentes a pelada que acontecia em seu território. Ao final da partida, o soldado que havia acenado para mim, veio se aproximando de onde eu estava. Imediatamente os cães rosnaram para ele, mas surpreendentemente, ele mesmo encarregou-se de acalmá-los com alguns sons esquisitos que talvez significassem – não vou fazer mal algum ao seu dono. Ele sentou-se ao meu lado com as pernas cruzadas sobre a rocha, encarou-me com um olhar amistoso e começou a me encher de perguntas. Eu falava alemão desde pequeno, quando nossa preceptora encarregou-se de alfabetizar-nos e compreender sua língua natal. Ele se surpreendeu com as minhas respostas onde mal se identificava algum sotaque. Não passava de um garoto como eu, talvez fosse uns quatro ou cinco anos mais velho, mas já tinha visto e provado o lado amargo da vida, e parecia um homem de verdade. Era um sujeito simpático e, tremendamente gostoso. Pelo menos, foi isso que senti com sua aproximação. Seu nome era Adolf, embora tivesse me confessado que, desde que precisou participar da juventude hitlerista tinha pego aversão ao nome.
- Por que está lutando então? – perguntei ingênuo.
- Não tive escolha! Se pudesse, estaria na Bavária, cursando a faculdade de medicina, um sonho que acalento desde a infância. – revelou ele.
- Meu pai foi preso por se opor ao seu Führer e ao general Petáin. – revelei, procurando mostrar que também não me sentia feliz com aquela guerra que, apesar de não ser tão presente em nosso cotidiano, tinha, de alguma forma, abalado nossa família.
- Vivemos tempos difíceis! Nossa geração vai ficar marcada por essa guerra. Deixamos de viver nossa juventude como pessoas normais para participar desse conflito que foi criado dentro de gabinetes repletos de regalias. – sentenciou ele, muito lúcido e convicto de sua posição quanto ao que acontecia ao nosso redor.
- Sem dúvida! – exclamei, embora me faltassem subsídios para compreender do que exatamente ele estava falando.
Começava a escurecer quando seus companheiros se juntaram a nós. Ele me apresentou um a um e, cada vez que minha mão se perdia entre uma daquelas mãos acostumadas a empunhar uma metralhadora, eu sentia uma estranha inquietude percorrendo meu corpo. Tinham-me ensinado a vê-los como inimigos do povo francês, criminosos cruéis, invasores da pátria e, tantos outros adjetivos. Porém, o que eu conseguia enxergar eram rapazes sorridentes, de olhar perspicaz e um pouco triste, de quem a juventude tinha sido roubada, divertindo-se com uma pelada a milhares de quilômetros de seus lares, de suas famílias, tudo em nome de uma guerra para a qual foram convocados sem ao menos serem questionados se queriam participar dela. Adolf tinha se retido um pouco mais comigo quando os demais já estavam no Kübelwagen buzinando para que se apressasse. Ele segurava minha mão entre as dele com uma força exagerada, como se não quisesse romper aquele vínculo que havíamos acabado de construir. Seus olhos azuis brilhavam e não se desprendiam dos meus.
- Até agora você não me falou como se chama. – exclamou, rompendo por fim aqueles longos minutos de silêncio.
- Marcel! – respondi. Subitamente, achei que qualquer coisa que eu dissesse naquele momento seria desnecessário, talvez até bobo.
- Adeus Marcel! Gostei muito de conversar com você. – disse ele, ainda segurando minha mão.
- Eu também, Adolf. Seja feliz! – exclamei. Eu sabia, tinha que falar algo idiota.
- Você também, Marcel. – a buzina tocou mais uma vez insistentemente. Ele soltou minha mão e saiu correndo.
- Adolf! – gritei atrás dele. O chamado saiu sem querer.
- Sim.
- Meu aniversário é no domingo. Não haverá festa, mas um jantar e um bolo minha mãe vai fazer com certeza. Venha! A minha casa é aquela. – apontei na direção do cottage no alto do barranco.
- Obrigado! Tentarei vir. Au revoir, mon ami! – berrou ele, a certa distância.
- Às dezoito, não se atrase, mein Freund! – berrei de volta. Ele riu e pulou no veículo em movimento, recebendo safanões dos amigos. Esperei até que o Kübelwagen desaparecesse na curva da estrada.
A caminho de casa comecei a sentir o peso da idiotice que tinha acabado de fazer. Como explicar para minha mãe e meus irmãos que havia convidado um soldado alemão para o meu aniversário? Para a nossa casa? Quem é ele? Haveriam de perguntar. Um soldado alemão, ora. Qual o nome dele? Adolf. Sei que soa tenebroso, mas é uma coincidência. De onde ele vem? Onde está aquartelado? O que fazem por essas bandas, uma vez que não há tropas por aqui já faz algum tempo? Pronto, aí começavam os problemas. Eu não sabia nada a respeito dele. Não podia dizer que o convidei num impulso, que achei seu tórax sensual, que aqueles músculos todos e seus olhos azuis tinham feito meu coração palpitar. Já estava prevendo a bronca que ia levar. Resolvi não contar nada. Muito provavelmente o Adolf nem se lembraria da minha existência na manhã seguinte. Certamente teria coisas mais importantes para fazer do que comparecer ao aniversário de um desconhecido. Isso mesmo, não vou dizer nada, seria uma conversa estressante por conta de algo que tinha muitas chances de nunca acontecer.
Aquela foi uma noite conturbada. Aviões sobrevoaram Porspoder a madrugada toda, o que tinha sido raro até então. Aquela região litorânea parecia não ser a rota preferida nem da Luftwaffe nem da Royal Air Force a caminho de seus bombardeios mútuos. No entanto, nada mais surpreendia a nós civis nessa guerra em constante mutação. Além disso, aquele par de olhos azuis me encarando como nunca antes alguém havia olhado para mim, não me saíam da cabeça. Qual seria o significado daquele brilho que parecia emergir de algum lugar além da profundeza deles? E aquele sorriso que deixava à mostra dentes grandes, muito brancos e perfeitamente alinhados como se fossem soldados perfilados? São seus hormônios, Marcel, pensava eu comigo mesmo. Tudo isso por conta daqueles músculos que você viu na sensualidade da nudez. Desci até a cozinha umas três vezes para beber água, não pela sede, mas pela inconstância do sono. De repente, minha mente foi invadida pelas cenas libidinosas do Junot me insinuando seu falo. Como seria o Adolf da cintura para baixo? Será que dentro de das cuecas dele também havia um volume tão voluptuoso quanto o do Junot? Ah! Esse inferno desse calor.
O irmão da minha mãe tinha vindo com a família de Paris para o meu aniversário. Não nos víamos desde o Natal de 1939, quando as ações militares se intensificaram e, tinha-se tornado perigoso viajar pela França em guerra. Não senti os dias passarem. Minha prima e meu primo estavam cheios de novidades, nossas conversas duravam horas, ora caminhando pela praia, ora sentados ao redor da lareira enquanto um aguaceiro desabava lá fora. Esqueci-me completamente do encontro na praia.
O sol surgiu logo cedo no domingo de manhã. Todos o reconheceram como sendo o primeiro da primavera. É estranho como aqueles que nascem ou vivem num país onde a aparição do sol é rara, reconhecem todas as suas facetas. Eu estava radiante, tanto pelo sol quanto por aquele tão ansiado dia ter finalmente chegado. Dezoito anos. Eu agora tinha dezoito anos. Encarei a data como um feito, algo marcante, embora não passasse de um dia comum. Para mim simbolizava o fim de uma era, o fim de ser chamado e considerado uma criança. Minha mãe e minha tia passaram o dia enfurnadas na cozinha preparando bolos, pâtisserie e um jantar especial; muito mais pela Páscoa do que pelo meu aniversário. Como a ocasião tinha juntado as duas coisas, além dos entes queridos, precisavam por seus dotes a funcionar. Os demais haviam sido proibidos de pisar naquele sacrossanto território. Meus primos e eu saímos caminhando com o Saphir e o Tango ao longo da costa. Pudemos até dispensar uma malha fina, e nossas peles leitosas agradeciam cada raio acanhado daquele sol. Depois do almoço fomos convocados a iniciar os preparativos para a noite. Havia tempos que não via minha mãe tão agitada, desde quando as recepções em nossa casa de Nantes enchiam seus dias de tarefas e preocupações. Faltava pouco para o jantar, havia escurecido há pouco, a casa reluzia com as luzes acessas por todos os cômodos. O aroma de um assado de vitela pairava no ar e fazia os estômagos roncarem. A campainha da porta da frente soou no corredor próximo à cozinha, espalhando os acordes da Marcha Turca de Mozart pela casa.
- Há um oficial alemão no vestíbulo! Ele está a sua procura, Marcel! – exclamou a Josephine, exaltada e apavorada, uma espécie de governanta que já havia se tornado um membro da família. – Disse que seu nome é Adolf! – acrescentou, fazendo o sinal da cruz sobre o peito.
- Um oficial alemão! – exclamou meu tio, arregalando os olhos, enquanto rugas de preocupação se formam em sua testa.
- Como ele pode saber o seu nome, Marcel? – apressou-se a perguntar minha mãe, aflita.
- Eu o convidei para o jantar! – respondi. Todos me encararam estupefatos.
- Você o que? – quando minha mãe usava esse tom agudo de voz, ou estava desesperada, ou pronta para dar uma bronca. – Desde quando você conhece soldados alemães? – emendou, tentando se controlar.
- Há poucos dias. Eles estavam jogando uma pelada na praia no início da semana. – eu sabia que isso não ia ser fácil. Agora já estava apavorado com a possibilidade de minha mãe acionar alguma autoridade local e fazer daquilo um cavalo de batalha.
- E, de onde você tirou essa ideia estapafúrdia de convidá-lo para a nossa casa? Você não deve estar em seu juízo perfeito, Marcel! Essa é mais uma de suas gracinhas, mas está na hora de você deixar de criancices. De que adianta fazer dezoito anos se continua o mesmo garotinho inconsequente? – ela estava furiosa comigo, como eu havia previsto.
- Tratem de se comportar! Ele é meu amigo! Não façam grosserias! – exclamei, seguindo em direção ao vestíbulo para recepciona-lo.
- Marcel, você vai se entender comigo depois disso tudo acabar! Pode ter a certeza de que não vai gostar da nossa conversa. – ameaçou minha mãe.
Adolf caminhava impaciente pelo vestíbulo, por uns instantes temi que tivesse ouvido nossa conversa. Mas, assim que me viu, abriu um daqueles sorrisos maravilhosos, desanuviando minhas inquietações. Deu três passos em minha direção e me abraçou com tanta força que fiquei desconcertado e inibido. Ele tinha cheiro de calêndula que parecia brotar de seu uniforme cinza, com uma cruz de ferro pendendo do bolso esquerdo, uma insígnia em cada uma das pontas da gola da jaqueta, mais uma sobre cada um de seus ombros largos. Havia uma porção de acessórios de couro, além das botas que brilhavam refletindo a luz do ambiente. Ele havia tirado o bibico da cabeça e, seus cabelos loiros estavam ligeiramente desalinhados, sensualmente desalinhados. Ele era o homem mais lindo sobre o qual meus olhos já haviam pousado.
- Você me mandou estar aqui às dezoito horas, cá estou! – disse ele, rompendo com o silêncio.
- Ótimo! Tive receio de que não viesse. – confessei, meu rosto estava queimando.
- Tudo se arranjou e, como um convite desses não aparece a toda hora, resolvi aceitar. – era impressionante a segurança que havia em sua voz. Como um homem pode estar tão seguro de si, sabendo que a simples presença dele num país dominado pelo seu pode ser motivo de repulsa. Quanto mais adentrar a uma casa de família onde a intimidade está mais vulnerável a julgamentos.
- Venha! Quero que conheça minha família. – disse, sem notar que estávamos de mãos dadas, só sentindo o prazer que aquele contato espalhava pelo meu corpo.
Eu não saberia que palavras usar para descrever a cena da apresentação. Cada um dos membros da minha família tinha um olhar diferente dirigido ao Adolf. Cada sorriso não passava de um estreitamento de lábios. Cada gesto parecia ter sido estudado com todo o cuidado e reserva possíveis. Foi como se, subitamente, um extraterrestre houvesse despencado do céu e, a incredulidade com o inusitado estivesse transfigurando as feições de cada um deles. Minha mãe tinha o dom da diplomacia. Uma vez construído o mise en scène de uma recepção preparada por ela com maestria, era capaz de circular como uma rainha entre os convidados, autocontrolada e condescendente, superando qualquer inconveniente ou contratempo que surgisse. Foi assim que ela se comportou, mais uma vez, embora me dirigisse alguns olhares que faziam meu sangue congelar nas veias.
Apesar do empecilho com o idioma, pois somente meus irmãos, meu tio e eu falávamos o alemão, o jantar transcorreu num clima informal, quase familiar. Adolf teve uma postura refinada à mesa, o que ajudou a desanuviar o semblante contrariado da minha mãe, fazendo-a inclusive sorrir com os elogios que ele lhe dirigiu. Eu não conseguia desgrudar os olhos do Adolf, a cada minuto eu ficava mais fascinado por ele. Hora e meia depois, meu tio e ele conversavam como se fossem velhos amigos. Foi através da habilidade do meu tio em extrair confidências de seus interlocutores que descobri uma porção de coisas do Adolf. Seu pai era um médio empresário na Alemanha, tinha uma metalúrgica que fora requisitada pelo governo e passou a produzir componentes para a indústria bélica com o advento da guerra. Em contrapartida, ele conseguiu que os dois filhos não fossem enviados diretamente ao front, recebendo de início uma patente de oficial e sendo enviados a locais onde a guerra não mostrava sua face mais cruel. Adolf era o mais novo e precisou adiar a entrada na universidade para engajar-se ao Heer da Wehrmacht, enquanto o irmão foi obrigado a se engajar na Luftwaffe. Em sua casa o partido nacionalista era visto como uma união de lunáticos que tinha conquistado o povo através de programas populistas e promessas mirabolantes. Àquelas alturas, já não tinham mais dúvidas de que os dirigentes do partido tinham levado o país a maior catástrofe de sua história. No entanto, expressar essa opinião significava o mesmo que assinar a própria sentença de morte, tão insanos e fanáticos haviam se tornado seus líderes. Esse livre expressar de sentimentos cativou meu tio, que já começava a simpatizar com o inimigo. Eu me perguntei, se o Adolf ficasse uma semana entre nós, qual não seria nossa afeição pela Alemanha invasora, tal era seu poder de sedução.
Pouco depois do jantar começaram a aparecer alguns colegas da escola, entre eles o Junot. Eu não tinha mencionado a ninguém o meu aniversário, aquilo só podia ser obra da minha mãe. Fiquei furioso. Não havia dúvida de que todos estavam se perguntando o que fazia um oficial nazista em nossa casa. Aquilo se transformaria num escândalo. Caberia a mim dar as explicações na segunda-feira quando voltasse às aulas.
- Que ideia ridícula foi essa de convidar esses garotos? – questionei minha mãe, quando ela foi à cozinha pegar algumas bebidas.
- São seus amigos do colégio! É mais natural do que convidar um estranho e, ainda por cima, um militar inimigo. – respondeu ela, num tom duro.
- Não comece a desviar o assunto. Estamos falando desses garotos. Eu não os queria aqui em casa, vejo-os todos os dias na escola. Se, queria que eu pagasse um mico, conseguiu. – retruquei furioso.
- E você pensa que é o que? Acha que se transformou num adulto da noite para o dia? Você é tão garoto quanto eles. Ou a presença do Adolf fez com que achasse que deixou de ser um moleque. – revidou ela, tão exasperada quanto eu. – Aliás, você vai precisar me explicar muita coisa, garoto. Eu estou com tudo entalado na garganta, me aguarde. – sentenciou ameaçadora.
Meus colegas me puxavam para um canto e, cochichando nos meus ouvidos, queriam saber de quem se tratava. O mais enfático foi o Junot. A perspicácia dele não deixou de notar a troca de olhares entre o Adolf e eu.
- Quem é esse sujeito? Vocês sabem que podem estar correndo um sério risco se souberem que estão abrigando um nazista em sua casa. – sussurrou ele, apertando meu braço com força.
- Isso não é da sua conta! Quem não deveria estar aqui é você! – revidei.
- Eu não sou cego! Já notei como ele olha para você, enquanto você fica com esse olhar aparvalhado e cheio de atenções. Está querendo dar o cu para esse ariano azedo? – provocou o Junot.
- Imbecil! Saia da minha casa! Você é o maior idiota que eu já conheci. – retruquei enfezado. Ele riu e foi juntar-se aos outros colegas.
Passava da meia noite quando os últimos convidados estavam se retirando. Tinha começado a chover outra vez. O sol tinha conseguido esquentar as nuvens o suficiente para que elas iniciassem uma trovoada. Meu tio e o Adolf continuavam numa conversa extrovertida num canto da sala. Minha mãe fez algumas caretas na minha direção como quem diz – trate de despachá-lo.
- Lamento tê-lo importunado com a minha conversa enfadonha por tanto tempo. – disse meu tio. – Acabou ficando tarde. Como vai voltar ao quartel? Não fosse o toque de recolher eu o levaria. – prontificou-se.
- Não se preocupem! Vou caminhar um trecho do caminho e em Porspoder consigo uma carona. – respondeu o Adolf.
- Está chovendo forte lá fora! Passe a noite aqui. Tenho um lugar no meu quarto. – convidei. Se pudesse, minha mãe me colocaria diante de um pelotão de fuzilamento.
- Se não for incomodo? Não preciso me apresentar antes do meio dia de amanhã. – respondeu o Adolf, fazendo meu coração quase saltar pela boca. Ele notou a alegria que tomou conta de mim.
Porém, ao fechar a porta do meu quarto, um sentimento de aflição não me deixava relaxar. De repente, fiquei sem palavras. Aqueles longos silêncios só serviam para me por ainda mais nervoso. Terminei de ajeitar para ele a outra cama que havia no quarto, sob o olhar atento dele. Percebi que ele estava se despindo e não ousava olhar para trás. Ele sabia que eu estava embromando para não me virar em sua direção, e continuou a tirar as roupas, lançando-as sobre a cama, elas passavam a centímetros de mim e me faziam tremer feito um junco açoitado pelo vento.
- Tudo isso é inibição ou você está com medo de me ver pelado? – sua voz soou mais grave e rouca do que nunca às minhas costas.
- Que bobagem! Claro que não! – exclamei. Só que eu gaguejei, confirmando suas suspeitas. Ele riu.
- Estou contente por finalmente poder ficar a sós com você. – disse calmamente.
- Sim. Quero dizer, eu também. – por que essa droga de voz tinha que sair tão falha?
- Estou encantando com sua família, com você! – afirmou. Ele estava tão próximo que o perfume de calêndula voltou a entrar nas minhas narinas.
- É, eu também. – será que eu não sei falar outra coisa?
- Então pare de mexer nesses travesseiros e venha me dar um abraço. – agora eu estava perdido.
Devo ter demorado um século para soltar o que estava em minhas mãos, e me virar na direção dele. E, outro tanto, para encará-lo. Afora a cueca, ele estava nu. Deliciosa e tentadoramente nu. Ele parecia um daqueles deuses nórdicos transbordando vigor e sensualidade. Subitamente me senti despreparado para aquela visão. Eu o desejava com todas as minhas forças, mas tinha receio de tocá-lo. Foi ele quem tomou a iniciativa. Puxou-me de encontro ao peito e acariciou meu rosto.
- Você é lindo, sabia? – disse, sem me soltar. Por pouco não repito, você também. Parece que era tudo o que havia restado do meu vocabulário. Preferi calar-me. Ele afastou-me um pouco e segurou meus ombros, era uma estratégia para que eu olhasse para baixo. – Está gostando do que vê? – perguntou. A ereção pulsava atrás do tecido da cueca, pesada e volumosa, muito volumosa.
- Eu... – engoli em seco. Admirado com o tamanho daquilo, senti o rosto queimar em vergonha.
- Então eu quero que você me toque e me descubra. – sussurrou ele.
Deslizei a mão sobre a ereção, o suficiente para sentir o coração retumbando no peito. Ao mesmo tempo em que me sentia extremamente envergonhado, também havia algo dentro de mim que me fazia querer seguir adiante apenas para saciar os meus instintos e desejos.
- Posso tocá-lo? – perguntei, desviando o olhar do dele.
- Foi o que pedi! – exclamou com um sorriso sensual. – Sou todo seu por essa noite.
Eu assenti e baixei as duas mãos no corpo musculoso com pelos loiros dispersos pelo tórax viril. Senti a pele quente e a acariciei. Subi as mãos um pouco mais, lentamente, e parei quando cheguei ao coração. O coração do Adolf pulsava velozmente, talvez tanto quanto o meu, fazendo-me sorrir aliviado.
— Quero beijá-lo. — sussurrou ele.
— Beije-me. Onde quiser e como quiser. — respondi.
Minha inocência encheu-o de ternura e amor. No fundo, ele queria me penetrar e ouvir-me gritando seu nome, mas antes de suas próprias vontades, Adolf pretendia esperar o tempo que fosse até que eu me sentisse seguro e pronto para ele. Ele baixou a cabeça e tocou seus lábios nos meus, num beijo demorado e úmido, depois beijou a bochecha direita e o pescoço. Minha pele fresca e, ao mesmo tempo quente o encheu de tesão. Enquanto isso, algo dentro de mim se remexia em excitação e desejo. Sem dizer uma palavra, ele me puxou mais uma vez para junto de si e me beijou lenta e profundamente. Eu senti seu sabor e sua alma, e me entreguei da maneira mais completa e irrestrita.
A ereção úmida dele pulsava de encontro à minha coxa quando ele me abraçou por trás, e de maneira ousada fiz alguns leves movimentos na cintura para que pudesse sentir mais dele na região glútea.
Ele tirou peça por peça das minhas roupas e as atirou ao chão, admirando as nádegas redondas e fartas se libertarem. Em seguida, deitou-me na cama e abriu meu rego, deixando-o completamente nu para si, admirando a rosquinha rosada encravada e protegida pelas carnes rijas.
— Lindo, simplesmente lindo. — sussurrou ele ao meu ouvido quando ambos já estávamos nus.
Aos poucos fui-me sentindo mais calmo e confiante. Fechei os olhos e pousei as duas mãos sobre o colchão flexionando ligeiramente a perna direita. Ele abriu minhas pernas e se posicionou entre elas. A língua invadiu minha fenda lisinha e rodopiou ao redor do cuzinho, fazendo-me revirar os olhos e estremecer de prazer. Logo Adolf começou a tocar-me com os dedos hábeis que iam e vinham ao redor das pregas anais inchadas e pulsantes que ansiavam por ele.
Eu nunca havia sido tocado daquela forma antes, não sabia o que era se entregar de maneira tão complexa e sem limites. Sentia-me um louco por fazer algo daquela magnitude sem ao menos me perguntar quem era, de fato, aquele homem que mal conhecia, se aquilo não traria arrependimentos no dia seguinte. No entanto, eu não conseguia pensar direito, o sentimento que se apoderara de mim não era racional, eu tinha apenas uma única vontade, a de me entregar cada vez mais e mais na direção de um precipício invisível.
Após alguns minutos que passaram lentamente, uma impulsão invadiu meu corpo, fazendo-me gemer de prazer e deixando-me trêmulo. Mas, Adolf não deixou que eu descansasse após toda a pressão sexual que ele me infligia. Afastou-se o suficiente para se por de pé, ao lado da cama, pegando a rola enrijecida numa das mãos e voltando a focar toda a sua atenção no meu rosto. Ele a pincelou ao redor da minha boca.
- Chupa minha pica! – murmurou cheio de tesão.
Aquele cacetão nada tinha haver com o contorno obsceno que o Junot acintosamente me exibia no vestiário do colégio. Ele não estava camuflado dentro da cueca, era algo real e enorme, que pulsava e exalava um cheiro almiscarado e viril, todo a descoberto e, agora, estava ao alcance dos meus lábios sedentos. Quando minha boca se fechou ao redor da cabeçorra babada o Adolf soltou um grunhido grave, segurou minha cabeça entre as mãos e fez meu rosto afundar na sua virilha pentelhuda. Nem a metade da rola havia entrado, mas eu já sentia a cabeçorra no fundo da garganta, bloqueando minha respiração. Tomado de uma ousadia que nem eu mesmo sabia de onde brotava, chupei aquela carne quente e indômita, sorvendo o pré-gozo que se mesclava à minha saliva.
- Você é muito saboroso, Adolf! – grunhi, com a rola entalada na goela. Ele ergueu meu rosto e me fez encara-lo. Havia um sorriso jubiloso em suas faces.
Minha boca percorreu cada centímetro da verga que só fazia se encorpar e tomar proporções aflitivas. Lambi e chupei suas bolas, cobertas de pentelhos que tinham a cor dourada do cabelo de uma espiga de milho. O Adolf se contorcia de prazer e bloqueava minha investida quando sentia que estava prestes a gozar.
Depois, Adolf posicionou seu membro pulsante e extremamente duro, apenas roçando na pele úmida da minha rosquinha, e em seguida começou a preenchê-la lentamente, centímetro por centímetro. No início, senti uma fisgada pungente, como se uma faca estivesse cortando minha pele e, uma ardência dolorida. Fechei os olhos, mordendo os próprios lábios e cravando as pontas dos dedos no lençol para segurar a dor que crescia dentro de mim. Foi impossível segurar o gritinho que escapou entre meus lábios.
— Relaxe. — ordenou Adolf ao perceber que eu estava começando a ficar tenso outra vez e retesava toda a musculatura anal. Ele se abaixou para beijar-me e abraçar-me, seu corpo quente colou-se ao meu.
Adolf era um homem grande, forte e poderoso em todos os sentidos, enquanto eu era um efebo alto e bem torneado, de glúteos fartos e pele branca, por isso quando ele decidiu apertar-me em seus braços para me penetrar mais fundo e mais rápido, eu senti que me perdia no prazer de ser dominado por um macho tão vigoroso quanto ele. Aquela era a sensação mais maravilhosa que eu já havia sentido. Meus músculos procuravam se adaptar ao caralho duro que entrava lentamente, me invadindo e impondo uma mistura de dor e prazer que transpassava tudo o que eu era. Abraçei-o desajeitadamente com o braço que movi para trás na direção dele, ele se inclinou mais sobre mim para ser alcançado por meu braço e meus afagos.
— Beije-me. — ordenou ele antes de pousar os lábios nos meus. Depois, pressionou seu corpo musculoso e suado contra o meu, movendo seus quadris contra as minhas nádegas e entrando e saindo cada vez mais rápido do meu cuzinho ardente.
Minha mucosa anal queimava, meus esfíncteres tinham se contraído fortemente ao redor da verga calibrosa, eu gania fazendo-o gemer de tesão. O vaivém do cacetão havia atingido um ritmo frenético, eu queria gritar, ao invés disso gozei lambuzando o lençol. Aos poucos, minha pelve cruenta sentia as investidas dele tal qual alguém que estivesse enfiando progressivamente uma estaca no solo. Cada arremetida atingia minha próstata com um golpe seco. O Adolf mordiscou a pele do meu ombro, arfando, e começou a liberar os jatos de porra no meu cuzinho macio. Abundantes e tépidos, eles escorriam pelas minhas entranhas, sinalizando que eu tinha não só conseguido obter o mais sublime dos prazeres como também tinha conseguido satisfazer as necessidades primais daquele macho. Não consegui conter o choro de felicidade que marejou meus olhos.
- Ah, Marcel! Meu doce e meigo Marcel! – sussurrou ele, depois de esporrar feito um touro.
- Amo você Adolf! – balbuciei, pois aquele sentimento confuso que eu experimentava ao lado dele tinha repentinamente ficado explícito. Podia ser definido, tinha um nome. Ele sorriu e me beijou.
- Tenho a certeza que sim! – exclamou ele. A pica ia amolecendo lentamente entre minhas preguinhas.
Os raios do sol atravessavam o cortinado fino das janelas quando acordei na manhã seguinte. Os pelos de peito dele resvalavam nas minhas costas a cada movimento respiratório. Seu braço pesado cingia minha cintura como me aguilhoando a ele. Uma ereção consistente estava alojada ao longo do meu reguinho. Ele ronronava como um bebê num sono tranquilo. Fiquei imaginando há quanto tempo ele não sentia tanta paz e segurança como durante aquele sono. Quando ele se moveu, girando o corpo para o outro lado da cama, aproveitei para escapulir sem acordá-lo, pois precisava mijar. Além de uma rodela seca e engomada onde eu tinha gozado, havia outra de sangue, cercada por gotas dispersas. Nos passos até o banheiro, percebi que, aquilo que escorria pela parte interna de uma de minhas coxas era uma mistura de sangue e porra liquefeita. A minha virgindade havia sido pleiteada pelo Adolf, e eu a entreguei a ele com todo meu carinho e amor juvenil.
- Está gostando do que vê? – perguntou ele, bocejando e esfregando os olhos.
- Muito! – murmurrei, ao mesmo tempo em que colava minha boca à dele. Sua língua ávida me penetrou.
- Como você pode ver, alguém acordou querendo bis. – sussurrou, tirando o lençol que cobria sua ereção.
Antes que eu pudesse responder, ele me puxou para junto dele, rolou por cima de mim e comprimiu minhas costas contra o colchão. Um sorriso ladino ia se desenhando em seus lábios à medida que ia abrindo minhas pernas e se encaixando nelas. Ele deslizou a jeba no meu reguinho escancarado até sentir na ponta da cabeçorra as preguinhas estufadas. A pica entrou vigorosa e ativamente, enquanto eu gemia com a boca colada à dele. Eu ainda estava muito sensível da noite anterior, e aquela foda foi mais dolorosa do que propriamente prazerosa. Meu único prazer foi sentir o quanto me comer estava fazendo bem a ele e, disso vinha todo o meu prazer, o que me fez gozar, e ele se regozijar ao ver meu pau esporrando de satisfação.
- Como é bom saber que você está gostando do que estou fazendo com você! – exclamou ele, gemendo entre dentes.
- Amo sentir você dentro de mim, Adolf. – gani. Ele me beijou e encheu meu cuzinho com seu leite másculo.
Passava das dez quando o Adolf se despediu e, discretamente, me beijou no pescoço diante do taxi que o aguardava. Meu coração estava apertado e eu quis caminhar pela praia antes de entrar novamente em casa. Mas, um grito de minha mãe na minha direção me dissuadiu da intenção.
- Você nunca mais me faça uma coisa dessas! Em que mundo você vive? Se não te avisaram, nós estamos em guerra. Nós estamos em guerra com a Alemanha! E o que é que você faz? Convida um oficial alemão a sentar-se à nossa mesa e a dormir em nossa casa. Você perdeu o juízo? – minha mãe estava quase histérica, gesticulava feito uma louca e sua voz ia adquirindo tons tão agudos que podiam perfurar alguém.
- Já passou pela sua cabeça que ele é apenas um rapaz como o Thierry, mas obrigado a cumprir ordens e a viver distante de sua família? Eu não vejo nenhum problema em fazer amizade com ele. – respondi atrevido, comparando o Adolf a meu irmão mais velho, para que ela se comovesse.
- Eu não me importaria se não estivéssemos em guerra justamente com eles. Você tem ideia do que podemos enfrentar se alguma autoridade resolver nos acusar de traição? Veja pelo que seu pai está passando por se envolver com essa política suja. – argumentou ela.
- Mas o Adolf e eu não estamos fazendo política, estamos apenas construindo uma amizade. – revidei.
- Chega! Você não vai mais se encontrar com ele. Não quero vê-lo rondando nossa casa e, se o fizer, vou denunciá-lo. Você não ouve o que eu digo, não é capaz de ser razoável, então é assim que vai ser. – determinou ela. Eu saí pisando firme e lancei a porta contra o batente com tanta força que pensei que ia arrancá-lo. – Marcel! – gritou minha mãe furiosa. Deixei-a falando sozinha.
Passaram-se mais de três semanas até que o Adolf voltou num final de tarde, e me encontrou caminhando pela praia com o Saphir e o Tango. Assim que o vi corri em sua direção, meu coração queria sair pela boca. Ele abriu os braços e eu me atirei neles. Ele me apertou contra o corpo e rodopiou comigo no ar. Quando me pôs no chão, sua boca estava se esfregando na minha, eu me abri e ele enfiou a língua a procura da minha. O Tango e o Saphir começaram a latir quando perceberam que nós não nos soltávamos. Havia feito calor o dia todo e a tarde estava morna, eu usava uma calça de tecido fino enrolada até a canela e uma camisa branca leve. Ele enfiou uma mão sorrateira debaixo da camisa e a guiou até meu mamilo. Bastaram alguns toques para que os biquinhos se enrijecessem. Ele riu e suspirou.
- Você está tão gostoso! – murmurou ao meu ouvido.
- Senti sua falta! – exclamei, acariciando seu rosto recém escanhoado.
- Não temos muitas licenças. Eu não via a hora de ter você em meus braços novamente. Quero entrar em você! – sussurrou, mordiscando minha orelha.
Encabulado, contei-lhe a briga que tive com minha mãe. Ele compreendeu a situação e até quis dar razão a ela. Protestei, dizendo que o amava e que não iria abrir mão dele. Recebi um beijo devotado e carinhoso como recompensa.
- Havemos de dar um jeito de nos encontrarmos. – garantiu ele.
- Mas, e hoje? Você não disse que queria entrar em mim? – perguntei tímido. Ele apertou meu mamilo com força, eu soltei um – ai – havia me esquecido de que ele estava me bolinando a teta, tão inebriante aquilo era.
- Você quer que eu entre em você? – perguntou dengoso.
- É o que mais desejo nessa vida! – respondi.
Começamos a caminhar ao longo da estrada D27, que serpenteia ao longo da costa, em direção à Landunvez. Não o fizemos intencionalmente, apenas começamos a caminhar e, quando dei por mim estávamos quase chegando às dunas de Saint Gonvel onde persistiam algumas antigas edificações de pedra sobre as falésias. Lá embaixo, as ondas do mar se espatifavam contra o paredão rochoso gerando jorros de espuma que caíam sobre a onda seguinte. O crepúsculo havia caído quando chegamos às ruínas. Os carros que passavam na estrada eram poucos àquela hora, a maioria das pessoas já se encontrava em casa. Tão logo passamos ao largo da parede de um dos abrigos, o Adolf me prensou contra ela. Seu beijo tinha urgência e foi libidinoso. Durante o beijo ele foi arrancando minhas calças, as mãos dele pareciam estar em todos os lugares do meu corpo ao mesmo tempo, meu tesão veio na mesma velocidade. No beijo seguinte eu já sentia suas mãos nas minhas nádegas nuas, eu o envolvia pelo pescoço e ele me ergueu. Abracei a cintura dele com as minhas pernas e me apoiei em seus ombros, dos quais eu afastava apressadamente a jaqueta do uniforme, expondo seu torso musculoso. O primeiro dedo a penetrar meu cuzinho me fez gritar, não por que eu sentisse algum desconforto, mas por sentir a devassidão de seus movimentos dentro dele. Por pouco ele não arrancou os botões da minha camisa, tal o frenesi com que se apoderava de mim. A boca veio direto para cima da minha teta e, ao se fechar com volúpia e avidez sobre meu mamilo, prensou-o até deixar a pele marcada pelos seus dentes. Eu gemia sentindo a necessidade que meu cuzinho tinha daquele macho. O Adolf me encarou e, guiando a pica com a mão, meteu-a no meu cu. Agora sim, a dor dilacerante se espalhou pelo meu buraquinho arregaçado. Ele colou sua boca na minha a fim de abafar os ganidos que eu soltava, enquanto ele ia penetrando seu falo enorme em mim. Minhas costas eram raladas contra as pedras da parede a cada investida abrupta e curta que ele fazia para meter o cacetão no meu cuzinho. Todo o peso de seu corpo me comprimia contra a parede. Suas ancas se moviam para frente e para trás cada vez mais rápidas, eu parecia levitar em seus braços musculosos. Gotas de suor afloraram nas têmporas dele e, sua boca aberta arfando me instigou a oferecer-lhe mais uma vez meu mamilo. Arrependi-me de ser tão oferecido quando senti a mordida bruta ferindo meu peitinho. Não fossem nossos gemidos, o silêncio era completo, não ouvíamos nada além do sopro tênue do vento, distante como o eco de uma concha. Vez ou outra, uma gaivota sobrevoava nossas cabeças analisando a água como cenário de caça. Nossos corpos embriagados pelo tesão se entrelaçavam no ritmo agitado do sangue respondendo apenas aos ritmos mais profundos do céu e do mar. Um paraíso de satisfações animais que palavras jamais conseguiriam descrever. Eu fui o primeiro a gozar. Ainda não havia aprendido a controlar aquele prazer imenso que uma rola distendendo minha mucosa anal provocava em mim. Contudo, constatar meu gozo parecia deixar o Adolf mais animado, como se tivesse a certeza de ter feito um bom trabalho, como se minha porra expelida no tesão, fosse a prova de seu desempenho majestoso. Ao sentir o esperma do Adolf me encharcando gemi alucinado com aquela dádiva. O tronco dele estava todo suado quando deu as últimas estocadas no meu cuzinho cheio de seu néctar másculo.
- Eu te amo, meu querido! – exclamei, acariciando seu rosto suado, enquanto minhas pernas trêmulas escorregavam pelas coxas dele e tateavam procurando o chão para se firmarem.
- Você é delicioso, Marcel! Très savoureux! – exclamou ele, à medida que o cacetão saia lentamente do meu cu.
Havíamos perdido a noção do tempo. Quando girei o pulso do Adolf para verificar as horas e, vi a posição dos ponteiros, soube que tinha me metido em nova enrascada. Faltava um quarto para as dez, quando se iniciava o toque de recolher, tempo insuficiente para percorrermos os mais de três quilômetros de volta a Porspoder. Por sorte, assim que pisamos na estrada, um automóvel surgiu na curva que vinha de Landunvez. Adolf acenou para que o motorista parasse. Ao volante estava um senhor gordo também apressado para chegar ao seu destino antes do toque de recolher. Ele mal olhava para o Adolf, estava tão abalado por ter sido parado por um oficial alemão que não conseguia articular as frases sem gaguejar. O rosto dele se iluminou quando o Adolf mandou-o estacionar em frente de casa, achando que ia se livrar dos caronas indesejados. No entanto, a feição taciturna retornou assim que me despedi dele e ele voltou a assumir o banco ao lado do motorista. Perdi-os de vista depois que a luz dos faróis do carro começou a fazer a curva próximo ao muro do cemitério seguindo rumo a Lanildut. Dei a volta pela casa para entrar pelos fundos, o Tango e o Saphir perceberam minha presença e ouvi seus latidos potentes ecoando junto à porta do vestíbulo da cozinha. Minha esperança era que minha mãe e meus irmãos estivessem espalhados pela casa e não me vissem chegar. No entanto, assim que a Josephine abriu a porta com cara de preocupação, ouvi minha mãe gritando da sala.
- Quem é Josephine? – eu coloquei meu indicador sobre os lábios e encarei Josephine com um ar de súplica. – Josephine! Quem está aí com você? – vociferou minha mãe mais uma vez, seus passos já vinham na direção da cozinha.
- Eu me atrasei um pouquinho! – exclamei quando o encontro foi inevitável.
- Você é um irresponsável! Onde se meteu até essas horas? Já passa do horário do toque de recolher. Você está definitivamente disposto a nos colocar em maus lençóis. Já não sei mais o que fazer com você, Marcel! Ah! Como eu gostaria que seu pai estivesse aqui para lhe dar uma boa lição! – esbravejava ela.
- Não sou mais nenhuma criança para me esconder debaixo de suas asas assim que escurece! Eu estou aqui, não estou? – revidei. Ultimamente eu vinha experimentando uma coragem que não sabia de onde vinha.
- Você é um moleque! – por um triz, a colher de pau, que estava numa jarra sobre o balcão da cozinha, não me atingiu em cheio. – Por onde você andou? Não me tire do sério, Marcel!
- Ei! O que pensa que está fazendo? – gritei, assim que me desviei da colher de pau. – Eu estava na casa de um colega da escola. Não se pode mais sair por algumas horas? – menti.
- Não minta seu moleque! Olhe para o seu estado! O que andou fazendo? – gritou ela. Eu me refugiei atrás da Josephine.
Só então percebi que minha camisa estava mal abotoada, que estava toda esgrouvinhada, bem como meus cabelos e minha calça. Parecia que eu tinha dormido com aquela roupa. Isso sem mencionar o que não podia ser observado, como as dentadas ao redor dos meus mamilos e, o sêmen do Adolf ainda perceptível no meu rego. Deixei-a descarregando sua frustração com a pobre Josephine e fui para o meu quarto. Ao me despir e ver minha cueca suja, tudo se desanuviou. Eu só conseguia sentir a presença do Adolf impregnada no meu corpo.
Habituei-me a esperar por duas, às vezes três semanas, até o Adolf conseguir uma licença. Nada parecia fazer com que os dias passassem na urgência que eu queria. Nossos encontros, apesar de longos, pareciam não ter mais do que uma fração de segundo. Usávamos de todos os estratagemas possíveis para que a intimidade acontecesse longe das vistas curiosas de algum bisbilhoteiro. Mas, as possibilidades eram poucas. Porspoder, Landunvez, ou qualquer comuna dos arredores eram minúsculas com poucos lugares disponíveis para tais encontros. Até que um dia o Adolf me entregou um papelzinho onde havia anotado um endereço – Rue Yves Collet, 74/36 – Brest. Brest fica a cerca de trinta quilômetros de Porspoder e é a sede do departamento da Finisterra. Era ali que as tropas alemãs estavam sediadas.
- Vou ligar para você toda vez que tiver uma folga para nos encontrarmos. Você tem como ir até lá? – perguntou o Adolf, visivelmente feliz por ter dado uma solução para nossos encontros.
- Sim! Vou dar um jeito. O mais importante é estar com você. Eu te amo tanto, Adolf! – suspirei.
Nosso primeiro encontro amoroso naquele local aconteceu quinze dias depois. Eu tinha conseguido uma bicicleta motorizada com um amigo do colégio e cheguei ao encontro meia hora antes do combinado. Apertei o botão no painel da entrada onde estavam listados os apartamentos e os sobrenomes dos moradores, ninguém atendeu. Sentei-me nos degraus da entrada e me pus a esperar. Uma velha passou por mim, com algumas compras numa bolsa de tecido e me encarou com cara de poucos amigos. Embora eu estivesse distante da passagem, ela fez questão de esbarrar a bolsa com as compras no meu ombro e começou a resmungar alguns impropérios.
- Ces juenes désoeuvrés de merde! – xingou num resmungo.
- Connasse! – retribuí, com um sorriso sarcástico. A velha me fuzilou com o olhar e seguiu adiante. A guerra estava nos transformando em pessoas horríveis.
Pouco depois, o Adolf chegou. Outros três oficiais estavam no Kübelwagen do qual ele desceu. Reconheci dois deles, do dia em que disputavam a pelada na praia perto de casa. Eles acenaram na minha direção. O veículo partiu com a capota abaixada. Será que eles sabiam que o Adolf vinha me foder? Estranhamente isso já não me importava mais. Com o mundo se esfacelando, os mortos sendo contabilizados aos milhares, que importância tinha as pessoas saberem que eu era homossexual? Depois, essa não era a questão central, o que importava era o que sentíamos um pelo outro. Éramos a prova inconteste de que o amor tinha seus meandros e, nem uma guerra era capaz de arrancá-lo das pessoas.
Subimos as escadas até o terceiro andar, um corredor comprido com piso de ladrilhos dava acesso aos apartamentos. Entramos no último do lado direito, não era grande, num só relance via-se uma pequena cozinha, uma porta entreaberta atrás da qual estava o banheiro e um quarto onde reinava solitária uma cama de casal, numa das paredes havia um armário embutido. As janelas estavam fechadas e havia um cheiro de tabaco volatizado na penumbra filtrada pelas cortinas fechadas. Se o Adolf não fumava, de quem seria este apartamento?
- Quem mora aqui? – perguntei, tateando pela mobília impessoal da sala, o maior ambiente do apartamento.
- Uma amiga. – respondeu econômico. Tive receio de perguntar que tipo de amiga era essa que lhe emprestava o apartamento para que ele fodesse com um garotão. Se fosse uma namorada certamente não o faria. De alguma forma isso me trouxe um alívio.
- Onde ela está agora? – perguntei, sem coragem para encará-lo. Eu me sentia totalmente inseguro cada vez que descobria alguma coisa desse homem de quem eu realmente não sabia nada. Era horrível constatar que minha mãe tinha razão. Adolf era um completo desconhecido para mim. Mesmo assim, eu o amava, da forma mais ingênua e doce que minha inexperiência podia amar.
- Aqui não vamos precisar nos esconder, nos preocupar com alguém nos flagrando. – disse ele, vencendo os três passos que me separavam dele, já sem a jaqueta. O abraço ao redor da minha cintura e a encoxada aconteceram simultaneamente, as chupadas no pescoço vieram na sequência. Para que eu estava me preocupando com quem ele era, se apenas esses gestos eram capazes de me transformar na pessoa mais feliz dessa terra. – A partir de hoje, é aqui que vamos nos encontrar. Será nosso refúgio. – declarou. Eu me virei e beijei sua boca terna e fervorosamente.
Ao ser lançado nu sobre a cama senti uma mescla de cheiros impregnada nos lençóis. Eu podia jurar que a roupa de cama rescendia a suor de macho e um perfume feminino barato e asqueroso. Tive receio de engolir a própria saliva, pois a ânsia que aquela mistura provocou em mim me fez sentir um engulho subindo pela garganta. Aquilo era uma garçonnière, sem dúvida. Por instantes me senti uma puta, especialmente quando o Adolf terminou de se despir e, eu vi aquele caralhão pesado entre suas coxas se enrijecendo com a visão da minha bundinha carnuda. Bastou eu sentir o peso do corpo dele sobre o meu, seus beijos ardentes e afoitos, seu cheiro único, para tudo se esvair da minha mente. Abri as pernas e trouxe os joelhos até a altura de seus ombros, ele sorriu e meteu o cacetão no meu cuzinho. Nos amamos sem pressa e, por horas, naquela tarde de uma segunda-feira abafada de 5 de junho de 1944, sem desconfiar do que estava por vir.
Na manhã seguinte, antes de ir para o colégio, mais uma briga entre minha mãe eu, motivada pelo meu desaparecimento na tarde anterior sem que soubessem onde eu estava, foi interrompida por uma notícia alardeada pelo rádio enquanto tomávamos café da manhã. Milhares de soldados das forças aliadas, quase todos americanos, haviam desembarcado em praias da vizinha região da Normandia, travado batalhas sangrentas e obrigado os alemães a recuarem. Todos em volta da mesa festejaram. Eu só conseguia pensar no Adolf.
Praticamente não tivemos aulas naquela manhã. Só se falava dos heróis americanos que tinham vindo libertar a França dos nazistas opressores. Havia um clima de jubilo reinando por toda parte. Eu estava mais preocupado e apreensivo do que nunca. Não conseguia sorrir. Parecia haver uma pedra enorme esmagando meu peito. Senti vontade chorar. Pedi carona a um professor que morava em Brest assim que as aulas terminaram. Toquei a campainha na Rue Yves Collet, 74/36 – Mlle. Guyot – e fiquei a esperar. Ninguém respondeu. Por uma semana voltei ao mesmo endereço, com a mesma determinação e o mesmo resultado frustrante. Saía de lá com os olhos marejados.
Naquela madrugada o Tango e o Saphir começaram a pular sobre a minha cama, alegres como se fossemos sair para passear. Mandei-os parar. Assim que pararam com aquele alvoroço, ouvi assobios do lado de fora de casa bem embaixo da janela do meu quarto. Abri as venezianas e dei de cara com o Adolf em pé sobre o capô de um Kübelwagen. Desci correndo ao encontro dele.
- Estou com tanto medo! O que vai acontecer com todos esses soldados invadindo essa região? Você vai precisar lutar no front? – eu estava tão agoniado que nem lhe dava chances de responder. Eu o agarrei com toda a minha força.
- Não podemos mais nos encontrar. Sei que andou a minha procura em Brest, não apareça mais por lá. Não mencione a ninguém que eu estive em sua casa, pode ser muito perigoso. – sua voz soava fria como o ar noite.
- Leve-me com você! Fique aqui em casa, podemos escondê-lo. – eu nem sabia mais o que estava falando.
- Não seja ridículo! Faça o que mandei, vai ser melhor para todos. – ele nunca falou tão duramente comigo.
- Você já não gosta mais de mim, não é? Você me levou até aquele lugar para me foder como se eu fosse uma puta. Deixou que eu me iludisse com você, e agora quer se livrar de mim. – desabafei ofendido.
- Você é um crianção mesmo! Devia te dar uma surra por ser tão burro. – afirmou ele, perdendo a paciência e pondo o Kübelwagen em movimento sem dizer adeus sequer.
Mais tarde senti remorso por minha grosseria, pois ele estava sofrendo tanto quanto eu. Às vezes, as coisas acontecem muito rápido, e não percebemos os detalhes. E, nunca saberemos o bastante sobre as pessoas e suas dores a ponto de sempre saber a reação correta. Em minha mente, comecei a dizer-lhe uma série de coisas amáveis. Mas era tarde demais. Sempre é tarde demais.
As notícias davam conta do avanço constante das tropas aliadas. Já tinham chegado a Porspoder na mesma semana. As pessoas saíam às ruas para ver os blindados e os soldados americanos avançarem cheios de confiança. Haviam se passado quatro semanas desde o meu último encontro com o Adolf, ele não fizera mais contato. A primavera deu lugar aos dias enfileirados de sol do verão. A euforia inicial com os novos invasores logo deu seus primeiros sinais de indignação. As pequenas comunas da Bretanha, como Porspoder, Landenvuz, Plourin e por aí a fora, que até então viveram na periferia da guerra, começaram a sentir sua presença em cada esquina. As tropas americanas não estavam apenas fazendo recuar os alemães, estavam também estuprando as mulheres e meninas francesas, como que se aquilo fosse sua recompensa pelos bons serviços prestados a esse povo que pouco tinha feito durante a guerra. Da noite para o dia os americanos se transformaram de heróis em algozes.
Desde que deixei de ter notícias do Adolf eu me transformei num zumbi. Nada mais despertava meu interesse. Eu tinha crises de choro que deixavam a todos preocupados. Não saía mais de casa nem para levar o Tango e o Saphir até a praia. Ia para o colégio por obrigação, saía no meio das aulas para ir chorar no pátio. Quando o rádio anunciava que mais uma centena de soldados alemães havia sucumbido em determinado lugar, eu tapava os ouvidos e saía correndo. Meu mundo estava desabando.
- O que você tem? – perguntou o Junot, depois de me flagrar chorando mais uma vez.
- Nada! Deixe-me em paz! A última coisa que vou suportar são suas sacanagens. – revidei furioso.
- Não estou fazendo sacanagem alguma. Nunca te vi desse jeito. – retrucou ele.
- Não é da sua conta. – imagine se eu ia contar justamente a você, o cara que mais me irrita nesse colégio, o que estou passando, pensei comigo mesmo.
O contato com ele era quase inevitável, pois percorríamos praticamente o mesmo caminho, uma vez que ele morava a pouca distância de casa. Nas últimas semanas ele havia mudado. Eu estava tão focado no Adolf, imaginando o que podia ter acontecido a ele, que quase não reparei que o Junot deixara de me provocar com suas besteiras. Mesmo assim, minha antipatia para com ele continuava inalterada. Parte do trajeto do colégio, que ficava em Ploudalmézeau, até nossas casas era feito num ônibus escolar, mas os últimos dois quilômetros tinham que ser feitos a pé. No início de uma tarde, o ônibus precisou parar diversas vezes no acostamento da D28, da D228 após Plourin e ao longo da D68 para dar passagem a veículos e blindados das tropas aliadas. Um grupo desceu do ônibus para seguir a pé, pois moravam nos arredores. Junot, Bernard e eu fizemos o mesmo, embora morássemos mais distantes e tínhamos uma bela caminhada pela frente. Encontramos soldados carregando mochilas nas costas e seus fuzis caminhando pela estrada. Eles faziam uma algazarra quando cruzávamos com eles. Estavam abatidos e fediam, a quilômetros de distância. Já não havia mais alemães por aquelas bandas há mais de quatro semanas, mas eles ainda vasculhavam ruas, casas e prédios a procura do inimigo. Estávamos a pouco mais de quinhentos metros da casa do Junot quando avistamos três soldados retardatários num descampado cercado por arbustos altos. A princípio não identificamos o que estavam fazendo ali, mas logo nos deparamos com a cena aterradora. Deitada sobre a relva acobertada por dois arbustos estava Claudine, a irmã de Junot, com o vestido rasgado sendo estuprada por um dos soldados enquanto os outros aguardavam sua vez com as jebas duras fora das calças. Junot atirou seu material escolar no chão e correu para acudir a irmã que se debatia e gemia debaixo do soldado com a bunda peluda exposta. Assim que ele começou a chutar e a dar socos no soldado, os outros dois partiram para cima dele. Arrancaram-no das costas do parceiro e começaram a bater nele. Num relance, percebi que os fuzis estavam todos debaixo do arbusto e, sem que percebessem minha aproximação, peguei um deles e o empunhei na direção deles. Assim que dei um grito, eles se viraram na minha direção. Eu nem sabia como se manejava aquilo. O fuzil era tão pesado que meus braços começaram a tremer. Os soldados ergueram as mãos e, o que estava sobre a Claudine se colocou em pé, com a pica tão flácida quanto uma bexiga murcha. Um deles deu um passo na minha direção, eu apertei o gatilho e um tiro ecoou no ar, fazendo com que alguns passarinhos escondidos nas árvores próximas alçassem voo. A terra atrás dele explodiu como se fosse a lava de um vulcão. Eu tomei um susto, não havia mirado em nada, apenas disparei sem ter noção do que podia atingir. Mas, foi o bastante para que eles percebessem que a coisa podia piorar.
- Saiam daqui! – berrei apavorado. Se eles não me obedecessem eu não saberia o que fazer.
- Calma! Abaixe a arma. Você vai se meter em encrenca se não fizer o que estou mandando. – disse o soldado. Eu apertei o gatilho mais uma vez, uma mancha de sangue começou a crescer no tecido calça, na altura da coxa, do soldado que estava ao lado daquele que acabara de me ameaçar. Eles não esperaram pelo terceiro disparo. Quando desapareceram na estrada, eu tremia tanto que mal podia ficar de pé. Junot ajudava a irmã a se levantar, seu rosto estava inchado e banhado em sangue. Bernard aproximou-se de mim com cautela, meu semblante transfigurado o assustava. Ele começou a tirar vagarosamente o fuzil das minhas mãos que pareciam estar coladas na arma. As armas foram atiradas para baixo do arbusto e, nós corremos até a casa de Junot temendo a volta dos soldados com reforços. Alguns vizinhos nos viram chegar e acudiram a casa dele, onde a mãe e outro irmão se apressavam a nos encontrar. Um grupo de homens logo se formou e, eles estavam dispostos a perseguir os soldados e fazer justiça com as próprias mãos. Não eram os heroicos americanos que tinham vindo salvar a França da ocupação nazista? A guerra era um território sem leis, sem escrúpulos, sem moral, sem valores, onde o pior do ser humano aflorava como virtude.
Os meses foram passando e eu mergulhei numa melancolia profunda. Às vezes, num surto de desespero, ia até Brest, na Rue Yves Collet e voltava mais deprimido ainda. As esperanças de reencontrar o Adolf iam se desvanecendo como uma mancha impregnada numa roupa que vai desaparecendo com as lavagens. Embora todo aquele amor que eu sentia por ele ainda estivesse fervilhando em meu peito, eu não sabia o que fazer com ele.
Quando eu pensava na perfeição daquele verão e no que veio em seguida, meu coração experimentava uma aflição atroz. Não saber onde o Adolf estava, se vivo ou morto, era mais doloroso do que imaginar que, para ele, eu não tinha passado de uma diversão passageira e inconsequente, tal como a pelada no dia em que nos conhecemos. Só então, puxando pela memória, tentei encontrar uma única ocasião na qual ele tivesse dito que me amava. Não encontrei nenhuma. Adolf nunca disse que me amava.
Desde o incidente com a irmã, Junot estava cada vez mais próximo de mim. Eu estava tão desesperançado que não encontrava mais forças para brigar com ele, mesmo sem perceber que já não brigávamos mais. Eu o aceitei com a mesma resignação que vinha aceitando tudo. Nós estávamos no último ano do lycée, nos preparando para o baccalauréat. Eu ia muito à casa dele, onde era considerado um herói pela família, depois do incidente do estupro. Subíamos para o quarto dele e ficávamos estudando até a hora do jantar. Ele também vivia enfurnado na minha casa com o mesmo objetivo. Numa dessas ocasiões, minha mãe e meus irmãos tinham ido à Paris, pois já se cogitava a possibilidade do meu pai ser solto da prisão. Josephine tinha ido a Brest fazer compras pessoais, aproveitando que os serviços na casa diminuíram com a viagem da minha mãe. Junot e eu havíamos nos estirado sobre o tapete do meu quarto, resolvendo equações matemáticas. Ele havia se aproximado tanto de mim que, a todo o momento, nossos ombros resvalavam um no outro. Eu não havia percebido essa proximidade até sentir seu hálito roçando meu pescoço, e sua mão entrando pela fenda do meu short, enquanto deslizava capciosamente sobre minha nádega. Senti um calafrio percorrendo meu corpo como há muito não sentia. Tomado de cuidados, ele avançava sorrateiro, temendo que a qualquer momento eu esboçasse uma reação agressiva. Em outros tempos, essa certamente seria minha atitude, mas eu passivamente deixei que ele continuasse. Sentindo-se mais autoconfiante com minha resignação, ele começou a tirar meu short. Inclinou-se na minha direção e juntou sua boca com a minha. Eu a abri e a língua dele entrou em mim, ávida e predatória. Ele apalpava minhas nádegas cheio de tesão e desejo, curtindo cada segundo que aquela carne rija e quente passava em suas mãos. Eu não reagia, era como se estivesse anestesiado, apenas deixava acontecer. O pau dele estava duro e o incomodava preso dentro das calças. Ele se despiu e me mostrou a pica, como costumava fazer no colégio, massageando seu contorno obsceno dentro da cueca. Eu abaixei a cueca dele para libertar o cacete pulsante. Era um pau normal, excitado e pronto para entrar em ação, mas nada tinha haver com o caralhão delicioso do Adolf. Não tinha a mesma intimidação cheirosa e sensual. Estava longe de ter as mesmas proporções e detalhes anatômicos, que eu conhecia até os mais ínfimos detalhes. Não vinha acompanhando daquele sacão enorme onde as bolas do Adolf estavam sempre cheias de seu néctar viril. Era apenas um pau pedindo para ser chupado, e foi isso que eu fiz. Chupei-o lenta e torturantemente, fazendo o Junot gemer com os dentes cerrados. Senti o sumo salgado fluindo para a minha boca. Imaginei e sonhei com o impossível, deixando que as lágrimas rolassem pelo meu rosto. Deixei que o Junot me abraçasse e bolinasse minha bunda a seu bel prazer. Senti seu dedo entrando no meu cuzinho e fiquei encarando-o. Ele flexionou minha perna direita, o que expos meu reguinho liso e a rosquinha rosada do meu cu. Acoplou-se a mim e guiou a pica para dentro do meu cuzinho. Não soltei mais do que um leve suspiro. Fiquei imóvel até sentir que ele estava todo dentro de mim. Ele estava agitado e afobado, metia o falo naquela maciez acolhedora com impetuosidade e tesão. Parecia não estar satisfeito com a profundidade em que me estocava, por isso, deitou-me de bruços e subiu sobre meu corpo languidamente estirado sobre o tapete. Agarrou-se ao meu tronco e continuou metendo, o saco batia nas minhas nádegas num shlap, shlap afoito. Eu jogava a cabeça para trás de encontro ao ombro dele e gemia pelas lembranças do passado. Ele forçou meu rosto na direção dele e me beijou. Eu o beijei. Ele se excitava cada vez mais. A musculatura anal apertava sua pica em movimentos peristálticos e o fazia urrar de prazer. Instantes depois, ele despejava despudoradamente sua porra nas minhas entranhas. Fiquei deitado debaixo dele, respirando acelerado, enquanto esperava o pau amolecer e ele saca-lo do meu rabo. Assim que ele tirou o pau do meu cu, girou meu corpo e, me abraçando, beijou minha boca fazendo-me sentir seu sabor.
- Sempre fui louco por essa bundinha tesuda! – sussurrou ele. Eu lhe dirigi um sorriso morno.
- É toda sua, quando e como quiser. – devolvi, sem emoção. Ele me agarrou novamente e outra ereção preparou a pica para o coito. A impetuosidade dos hormônios fez com que ele me fodesse mais duas vezes. Para o meu cuzinho e meus anseios elas foram tão anódinas quanto a primeira.
Deitava-me com ele até o término do colégio. Meu pai foi solto pouco antes do Natal. Voltamos a morar em nossa casa de Nantes, depois de uma grande reforma, que concertou o que a guerra e os anos abandonada haviam destruído. No dia em que deixamos Porspoder fui caminhar na praia, chovia fino como naquele dia em que fiquei assistindo à pelada dos alemães. Cruzei as pernas na posição de lótus, como um iogue, sobre a mesma rocha, fitei o mar e o farol du Four, sobre o qual as ondas se atiravam em fúria, chorei até perder a noção do tempo.
Em maio a guerra chegou ao fim na Europa, Hitler já não existia mais, a Alemanha rendeu-se incondicionalmente aos ingleses, americanos e russos. Agora só se ouvia falar dela através de notícias que vinham do longínquo oriente, onde destemidos kamikases ainda combatiam nas ilhas do Pacífico em torno de um ideal. Mas, os heroicos americanos, que supostamente lutavam para salvar o mundo da opressão de ideais ditatoriais, ainda tinham uma última surpresa para o mundo, matar mais de 60000 pessoas instantaneamente e ferir mais deno dia 6 de agosto em Hiroshima e, matar mais 30000, também instantaneamente, e ferir novamente outrasno dia 9 do mesmo mês em Nagasaki. O mundo os aplaudiu como se aplaude um palhaço no tablado do circo, sem se dar conta que a partir daí a ordem das coisas ia mudar drasticamente.
A Europa e suas instituições estavam estraçalhadas. Os aliados tiveram que repartir o bolo com a insípida França que se orgulhava da La Résistance, da qual, a bem da verdade, poucos franceses participaram, sendo o envolvimento de outros povos muito mais aguerrido do que o dos próprios franceses. Os poucos que participaram, como meu pai, foram logo aprisionados e muito pouco fizeram para merecer sua fatia no bolo europeu. As universidades estavam capengas e eu estava na idade de ingressar numa delas. Talvez um futuro melhor estivesse reservado para mim se atravessasse o Atlântico e fosse estudar numa universidade americana. Foi o que fiz.