AMOR DE PESO - 2X03 - PARINTINS, A TERRA DA MAGIA

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Homossexual
Contém 4544 palavras
Data: 25/03/2018 00:16:44
Última revisão: 06/07/2022 19:39:20

Pai e mãe,

Dormir em rede é uma relação de amor e ódio. Ainda bem que no rio faz bastante vento. Vocês adorariam passear pelas estradas aquáticas da Amazônia. É uma sensação única.

***

Duas horas de sermão. Os ouvidos do Richard ficaram doendo de tanta bronca que levou. Afinal, em menos de um dia, o meu irmão conseguiu infiltrar uma cobra e mudar a rota do barco.

Desde menor, o Richard nunca foi parecido comigo. Herdamos os cabelos loiros do meu pai e ponto. Ele conseguiu os olhos verdes da mamãe e as maçãs do rosto rosadas do papai. No futuro, o meu irmão vai ser bonito, só que se depender do seu comportamento, com certeza, estará lascado.

A partir daquele momento, a tia Olívia passou a vigiar o meu irmão com olhos de águia. A gente até cogitou amarrá-lo na cadeira. Por sorte, Carlos não deixou, odeio pessoas sensatas. Meu irmãozinho ficava muito impaciente quando era proibido de fazer alguma coisa.

— Vai demorar muito? Carlos, você tem medo de cobras? Será que podemos adotar um boi? Eu vi que o festival é representado por dois bois, um branco e outro preto. — Richard estava acelerado para o desespero de Carlos.

— Vamos demorar um pouco, né. Você mudou a rota do barco. Agora, fica quieto, antes que a tua tia apareça e...

— Valeu, Richard. — disse Giovanna indignada, cortando Carlos e dando uma bronca em Richard. — Por sua causa, a viagem vai demorar mais. O meu protetor solar está acabando.

— Para de reclamar. A tia já está estressada. — alertei, com medo da Giovanna dar um show dentro do barco.

— Não tenho culpa. Não queria estar aqui. Sou tão vítima quanto ela. Deixa eu dar um jeito nesse cabelo. — pretendo os cabelos loiros em um coque e indo em direção à sua rede.

— A rainha do drama atacou de novo? — perguntou Zedu, ao passar por uma mal humorada Giovanna.

— Sempre.

— O pessoal está falando que vamos chegar em duas horas. — ele contou me deixando mais alegre.

Após um momento de estresse, decidi deitar na rede para ouvir música. Não demorou muito e o Zedu chegou e deitou comigo. No início, fiquei com medo da rede cair, porém, o Carlos fez um bom trabalho e ficamos tranquilos.

Passei o lado direito do fone para o Zedu e ficamos ouvindo uma sessão de Coldplay. Durante a música, a música "Paradise", o Zedu deu um sorriso e suas covinhas ficaram evidentes.

Era aquilo que eu amava nele, a gente se entendia, até por demais. Fiquei fazendo carinho no cabelo do Zedu. Então, o meu namorado deitou a cabeça no meu peito e curtimos as últimas horas de viagem nos curtindo.

Como gosto de deixar a playlist no aleatório, cada faixa era uma surpresa. As notas de "Don't Look Back In Anger", do Oasis, começaram a soar no fone. Amo a voz do Noel Gallagher, ela me transmite paz.

— Você já ouviu essa música quantas vezes? — perguntou Zedu, me acariciando com o polegar.

— É um clássico do rock, Zedu. Precisa ser ouvido quantas vezes for necessário. Não se pode medir uma música dessa...

— Só tenho uma dúvida?

— Qual?

— Quem é essa tal de Sally. — Zedu soltou rindo, levantando a cabeça e olhando para mim.

— Bobo. — o beijei, pois estávamos em nosso espaço seguro.

***

"Então Sally pode esperar

Ela sabe que é tarde demais

Enquanto ela está caminhando por aí

A minha alma desliza

Mas não olhe para trás com rancor!

Não olhe para trás com rancor!

Ouvi você dizer"

***

Finalmente, o barco chegou em Parintins, fiquei surpreso com a movimentação em frente a cidade. Saltaram até fogos de artifício quando o barco chegou. A Giovanna se sentiu uma celebridade, isso foi o que ela disse depois.

A minha tia avisou a todos que ventiladores seriam instalados no barco, afinal, a gente dormiria lá. Um guarda também faria a segurança, e só quem tivesse a pulseira poderia entrar.

O porto era uma bagunça, gente para todos os lados. Vários barcos ficaram na mesma situação que a nossa, eu, realmente, gostaria de ir para um hotel, porém, a titia queria mostrar apoio ao grupo de dança.

Uma hora de reunião para falar sobre as regras de convivência. A titia conseguia deixar qualquer coisa chata, ainda mais quando se tratava de um assunto profissional. Com todas as orientações dadas, os grupos de dança seguiram para o ensaio.

Nós aproveitamos para turistar no Centro da cidade. Graças a Deus, levei um chapéu e óculos escuros e, claro, bastante protetor solar para não ficar com marcas vermelhas no corpo.

O nosso guia foi o Mundico, que ensaiaria no período da noite, pois, como o festival era grande, os grupos de dança ensaiavam separados.

— Vamos! — gritou Zedu, um pouco distante de nós.

— Estamos esperando o Mundico. Ele entrou na loja. — expliquei, aproveitando a sombra do estabelecimento.

— Tudo é o Mundico. — resmungou Zedu, cruzando os braços.

— Tá com ciúmes? — perguntou Brutus, rindo e tirando com a cara do Zedu.

— Eu? Jamais. Confio no meu taco. — respondeu Zedu, apontando o dedo do meio para o amigo.

O Mundico realmente conhecia a cidade e sabia a história de tudo. Registrei o passeio e virei o fotógrafo do tour, nunca tirei tantas fotos bonitas. A cidade era pequena, porém, tinha um charme ímpar.

Podemos falar do almoço desta cidade? Gente, que perfeição. Comemos em uma peixaria familiar. Dividimos duas bandas de tambaqui, um dos peixes mais deliciosos do Amazonas. A garçonete trouxe os acompanhamentos e meus olhos brilharam.

Baião de dois, farofa de banana da terra, vinagrete e, claro, as estrelas do almoço, as bandas de tambaqui enroladas na folha de bananeira. Algo regional e instagramável, segundo, a Ramona que tirou algumas fotos.

Uma dica? Esprema um limão no seu peixe, principalmente, se for a costela. Cara, uma combinação maravilhosa e suculenta. Éramos sete (Eu, Zedu, Ramona, Letícia, Brutus, Giovanna e Mundico) e duas bandas de peixe, infelizmente, precisei me controlar e comi menos do que gostaria.

Após o almoço, ficamos conversando e esperando a comida baixar. O Mundico falou sobre a história de Parintins, uma cidade que ganhou destaque por causa da cultura popular.

Seguimos o tour pela cidade dos bumbás. Entramos em uma rua, onde tudo era azul. As casas, postes, lojas e, até mesmo, as fachadas da rua, remetiam à cor do boi Caprichoso.

O Mundico explicou que a cidade era dividida entre o Garantido, o boi vermelho; e Caprichoso, o boi azul. Então, os moradores levavam a sério o embate do festival. Aproveitamos para fazer uma selfie na frente de uma casa azulada.

— Eu não moraria aqui. O azul não me cai bem. — disse Giovanna, desaprovando a paixão dos torcedores do Caprichoso.

— Estamos perto da Escolinha do Caprichoso, né? — perguntou Zedu, limpando o suor da testa.

— Gente, o boi tem uma escola. — soltou Giovanna, fazendo o grupo rir.

— Giovanna, a escolinha do Caprichoso é um lugar onde a diretoria do Caprichoso ensina arte para as crianças carentes da cidade. — contou Mundico passando a mão na cabeça da Giovanna, que se sentiu uma idiota.

Não demorou muito e chegamos na Escola de Arte Irmão Miguel de Pascale, o nome da Escolhinha do Caprichoso. Como era de se esperar, a escola era azul. Na verdade, nunca vi tantos tons de azuis na vida para o desespero de Giovanna.

Nem preciso dizer que ficamos encantados com o espaço. Conseguimos acompanhar o ensaio dos itens mirins. Eram crianças da escola que participariam de uma das partes da apresentação do Caprichoso.

A apresentação começou e a minha irmã ficou apaixonada, principalmente, pela sinhazinha mirim. Era uma menina da idade dela que dançava usando um longo vestido azul e segurava um guarda-chuva. Era muito bonito ver aquelas crianças se apresentando. Uma moça veio falar conosco e perguntou se a gente queria fazer parte da apresentação.

Usei a desculpa de fotografar para escapar da dança. Porém, os meus amigos não tiveram a mesma sorte. Os únicos que se saíram bem foram o Zedu e Mundico, já o resto, só Deus na causa. O Brutus parecia que estava matando pernilongo.

Com fotos e vídeos comprometedores da Giovanna em mãos, ganhei mais uma arma para usar no futuro. Com o fim do ensaio, uma moça se aproximou e cumprimentou o Mundico. Ela se chamava Hélida e coordenava uma das alas do Caprichoso.

A Hélida encantou a todos nós. Ela era uma das muitas beldades daquele lugar mágico e acolhedor. Mundico nos apresentou e explicou para a moça sobre o tour que estávamos fazendo na ilha de Parintins.

— Fico feliz que estejam gostando do passeio. Gente, eu vi vocês e queria fazer uma proposta.

— Qual? — quis saber Luciana, louca para se tornar um item do Caprichoso.

— Estamos precisando de pessoas para compor uma das alegorias. Será que vocês gostariam de participar? — quis saber Hélida, fazendo a alegria dos meus amigos.

— Claro. — respondeu Ramona toda animada com a possibilidade de entrar no Bumbódrono.

— Nem precisa perguntar duas vezes. — Brutus falou animado, enquanto fazia um high five com o Zedu.

— Bem. Esse crachá dá acesso ao bumbódromo. — ela disse nos entregando alguns crachás. — Vocês precisam estar lá, amanhã, às 18h, em ponto. — Me mandem um whatsapp, o Mundico tem o meu contato.

A gente saindo em uma alegoria do Festival de Parintins? Meu Deus. E agora, o que vou fazer?

O Zedu notou a minha preocupação, enquanto voltávamos para o barco, ele pegou no meu ombro e disse algo que quase faz eu me derreter.

— Eu não vou cansar de dizer como tú é lindo. Você mudou tanto a minha vida e pra melhor, claro. Não deveria se preocupar com a opinião dos outros. Você deve se divertir.

— Obrigado. — agradeci o abraçando, sem me preocupar com as pessoas que andavam na rua.

Naquela noite não parava de pensar no convite de Hélida. Até que a minha tia achou bacana a ideia e deu permissão para os meus amigos. Que droga, hein. O plano original era assistir ao festival e não participar dele.

No dia seguinte, acordei com os gritos de algumas dançarinas, levantei assustado e todos corriam dentro do barco. As malas espalhadas pela embarcação me deixaram assustado, comecei a andar e esbarrei com uma dançarina, ela parecia ter sido atacada por algum tipo de animal.

— O que aconteceu? — perguntei a ajudando.

— O diabo. Ele tá solto no barco. — saindo correndo da embarcação.

— Como assim?

Encontrei minhas amigas em cima das mesas do barco. Já o Brutus e Zedu, estavam correndo atrás de alguns bichos. De início, a cena era engraçada e confusa, ao mesmo tempo.

O animal era feio, parecia um rato careca e muito grande, meu coração disparou na hora. Zedu conseguiu chutar um que caiu fora do barco na água. Brutus não teve muita sorte, o animal, subiu nele e no desespero, o meu amigo, pegou o animal pela cauda e o lançou longe.

— Socorro! — exclamou Giovanna com vários animais no seu corpo. — O cabelo não, o cabelo não! — a minha irmã não prestou atenção para onde estava indo e caiu na água.

— Giovanna! — gritei correndo e pulando na água para ajudar minha irmã.

A água estava quente, uma mucura passou nadando do meu lado, eu gelei na hora, imaginei os outros animais que podiam estar ali. A Giovanna se segurava em uma boia do barco. Ajudei a minha irmã e subi novamente no barco.

A minha tia chegou e não entendeu a movimentação. Todo mundo começou a falar junto, e quase ficou impossível de entender o que, realmente, havia acontecido no barco.

— Dona Olívia. — Ramona falou tomando a liderança para explicar o motivo da confusão. — O grupo de dança saiu cedo para o ensaio, tipo, muito cedo. Depois algumas meninas voltaram para tomar banho, e abriram a porta do banheiro e várias mucuras começaram a nos atacar.

— E você não ouviu nada? — titia perguntou olhando para mim, que estava todo ensopado e sonolento.

— Esse aí, não houve nem um terremoto quando está dormindo. — reclamou Giovanna enxugando os cabelos.

— Te salvei, sua má agradecida. Deveria ter deixado as mucuras te levarem. — disse dando língua para Giovanna.

— Achei melhor não acordá-lo. — Zedu veio em minha defesa para a raiva de Giovanna. — Ele odeia qualquer tipo de animal.

— Ah, claro. Enquanto eu sou atacada. Olha, titia. — mostrando as marcas no corpo e fingindo um choro. — Meu cabelinho. Tá acabado.

Ao ver toda a confusão, Richard tentou sair de fininho, mas foi impedido pela tia Olivia. Após alguns minutos de interrogatório, o Richard se entregou. Ele viu os animais em outra embarcação e os levou para a nossa.

— Meu amor, as mucuras são perigosas. Elas podem passar doenças. — titia se abaixou para falar melhor com o traste, digo, o Richard.

— Elas são fofinhas titia. — tirando uma mucura do bolso e assustando tia Olívia que deu um grito.

O pequeno animal olhava para nós e escolheu Giovanna como sua vítima. A mucura correu na direção dela e se prendeu nos cabelos da minha irmã, que saiu correndo desesperada.

O primeiro dia em Parintins foi animal, literalmente. No fim da tarde, demos mais uma volta, o lugar estava lotado. Eram pessoas de todas as nacionalidades. Ouvi turista falando em português, espanhol, inglês, e até japonês. Fomos assistir ao ensaio do grupo de dança, eles levavam a sério, graças a Deus, que o enjoado do Juarez parecia muito ocupado para jogar alguma indireta.

Ao ver os meninos sem camisa e de tanga, a Ramona perguntou se o Zedu dançava daquela maneira em suas apresentações. O coitado ficou todo sem jeito, porém, o Brutus falou sobre a vestimenta de Zedu no passado: uma tanguinha, colares com sementes de frutas regionais e um cocar. Confesso, que tal imagem me deixou alegre.

Uma voz rouca chamou pelo nome original do Zedu, no caso, José Eduardo. Se tratava de Euclides, o coreógrafo do grupo que deu um forte abraço no meu namorado e o chamou de filho.

— Rapaz, porque sumiu? — quis saber Euclides, limpando o suor da testa com um lenço azul.

— Escola. Família. Muitas coisas acontecendo. — desconversou Zedu, que, simplesmente, não sentia mais prazer em dançar, por isso, largou a equipe de dança.

— São seus amigos? — perguntou Euclides apontando para a nossa direção.

— Sim. — respondeu Zedu falando os nossos nomes e nos apresentando para Euclides.

— O amigo de vocês foi um ótimo dançarino. — destacou Euclides deixando Zedu envergonhado. — Cara, eu soube que o jacaré quase comeu seu pé. — ele comentou, olhando para o pé de Zedu e vendo a marca deixada pelo animal.

— Sim. Me perdi na floresta. Mas, no fim, tudo acabou bem. Fiquei apenas com uma cicatriz maneira no pé.

Verdade. A recuperação do Zedu foi muito rápida e os médicos fizeram um ótimo trabalho. Quase não dá para ver a cicatriz, ficou parecendo um arranhão.

Entre uma lembrança e outra, Euclides falava com muita empolgação do Zedu dançarino, chegava até a ser engraçado. Ele pegou o celular e começou a mostrar várias fotos do meu namorado.

Claro, que nós adoramos ver, principalmente, o Brutus que pensou em todas as possibilidades para zoar o melhor amigo.

O meu namorado, de sunguinha e cocar na cabeça, uau. Olhei para ele que ficou vermelho de tanta vergonha, se houvesse um buraco, tenho certeza, que o José Eduardo pularia sem pensar duas vezes. Imagina quantas pessoas não desejavam estar no meu lugar?

— Ah, é assim que você fica de sunguinha e penugem. — brincou Brutus, deixando Zedu irritado.

— Zedu, meu amigo. — Ramona riu e bateu palmas, de uma maneira lenta e parabenizou os atributos do Zedu.

— Um cara bonito sempre arrasa. — disse Letícia pegando no ombro do Zedu, que já havia passado por todos os degraus da vergonha.

— Beleza não é tudo. É preciso ter talento. Pena que você não vai seguir essa carreira.

— Zedu tem um fã-clube, né? — perguntou Brutus de forma irônica. — Onde eu me inscrevo para ser uma Zeduzete? — ele perguntou fazendo todo mundo rir.

O Richard estava de castigo absoluto. A minha tia o deixou deitado em uma rede, ele só poderia sair dali se fosse uma emergência. O meu irmão ficou olhando para o teto, bufando.

De repente, ele começou a ouvir crianças brincando no barco ao lado. Primeiro, Richard analisou o perímetro e se certificou que não havia nenhum adulto. Em seguida, o pestinha levantou e observou a brincadeira durante alguns minutos.

— Ei, garoto. — uma menina chamada Alana chamou a atenção de Richard. — Vem brincar.

— Não posso.

— Porquê?

—Enchi o barco de Mucura. Estou de castigo e para completar meus irmãos estão passeando. — contou Richard, enquanto a garota se aproximava do barco.

— Puxa. Tudo bem. Me chamo Alana, quando puder brincar avisa. Eu já vou. — se despediu a garota, que se jogou na água e nadou sendo seguida por seus amigos.

Aproveitamos uma distração dos nossos amigos, no caso, o Zedu e eu, e fugimos para aproveitar o início da noite. Afinal, estávamos precisando de um tempo de qualidade para a nossa relação.

Seguimos para um restaurante que vendia tacacá, um prato típico da região Norte. O tacacá é feito com tucupi (um caldo amarelado), goma de mandioca, jambu e camarão seco. Nem preciso dizer, né? Uma delícia.

O legal do restaurante é que ficava na orla da cidade. Diferente da capital, o interior é um pouco mais ventilado. Pegamos as nossas cuias, o tacacá é servido em uma cuia preta com vários grafismos indígenas, e ficamos aproveitando a brisa da noite.

Eu sou um cara muito reservado, porém, ao lado do Zedu, me transformo. Não sei explicar o que acontece. Temos uma conexão especial, algo que nunca vivi antes. A única coisa que me incomodava era a falta de um pedido de namoro.

— Você está distante. — Zedu comentou, enquanto, caçava um camarão no molho do tacacá.

— Eu? Desculpa. Ainda tô pensando nas mucuras. Aqueles bichos são horrorosos.

— O teu irmão é uma figura. Quase mijei de rir. Ele sempre foi assim? — ele perguntou, ainda com dificuldade em encontrar um camarão.

— Sempre. — respondi, pegando um camarão da minha cuia e levando o espeto até a boca do Zedu, que, finalmente, degustou um camarão. — Ele tem uma imaginação muito fértil. O que me deixa preocupado muitas vezes.

— Obrigado. — Zedu agradeceu a gentileza e deixou escapar um sorriso.

— O que foi? — perguntei, todo derretido com aquele sorriso perfeito.

— A vida. Como o universo funciona para nos ajudar. Você vindo para o Norte, se mudando para o meu bairro, praticamente, ao lado da minha casa, invadindo a minha vida e mudando meus conceitos. — declarou Zedu, conseguindo pescar um camarão da sua cuia, levanto o palito até minha boca e oferecendo o alimento.

— Bobo. — disse comendo o camarão e pensando em como retribuir palavras tão doces. — José Eduardo, você mudou muitas coisas em mim também. Eu te amo.

— Não esqueço o dia que transamos. Eu fiquei muito nervoso, o meu coração, nossa, quase explodiu. Nem senti a dor na perna. — Zedu lembrou da noite em que transamos no meio da mata, no mesmo dia em que um jacaré mordeu o seu pé.

— Foi o momento mais feliz da minha vida, José Eduardo. — tive que concordar com o Zedu, aquele dia foi maravilhoso.

— Tenho medo de fazer alguma besteira e perder você. — revelou Zedu, mexendo o caldo do tacacá com o palito.

— Você não vai. É mais fácil você me deixar. — respondi, deixando o lado inseguro do Yuri aparecer com força.

— Porque diz isso? — Zedu deixou a cuia de lado e tocou no meu rosto, sem se importar com as outras pessoas que passavam na orla.

— Ah, Zedu. Você é bonito, simpático e amigo de todos. Qualquer pessoa ficaria feliz em namorar você.

— Seu nome agora é qualquer pessoa? — ele perguntou levantando uma das sobrancelhas e me fazendo rir.

— Seu bobo.

— Eu sei que não é nada muito caro, mas comprei um presente para você. — Zedu anunciou, tirando uma caixinha do bolso e colocando na minha frente. — É de coração. — abrindo e mostrando um colar com as nossas iniciais.

— Que lindo. — falei, emocionado, com o presente que ganhei do Zedu. — Só que tem um problema.

— Qual?

— Esse. — expliquei, tirando uma caixinha do bolso e revelando o meu presente: um chaveiro com uma foto nossa. — Eu sei que você não pode usar isso agora. Mas, achei fofo e especial. Essa é a primeira foto que tiramos juntos. José Eduardo, você quer namorar comigo? — perguntei, sem ter medo ou vergonha de assumir meus sentimentos no meio da orla de Parintins.

— Quero. — Zedu respondeu sem pensar duas vezes, se aproximando e me dando um selinho. — Você foi a melhor coisa que me aconteceu este ano.

Infelizmente, não podemos dar aquele beijo de cinema. Demos um refresco para a família tradicional brasileira. Porém, a vontade de atracar o Zedu na orla foi grande. Estava feliz, leve e, oficialmente, namorando. Nada poderia me colocar para baixo, quer dizer, era o que eu pensava.

Enquanto uns ganhavam declarações de amor, outros precisavam se empenhar dobrado. O Mundico começou a ensaiar uma sequência de músicas para a apresentação. Ele caiu algumas vezes, e ficou surpreso quando Juarez apareceu na sala de ensaio.

Apesar do incômodo, Mundico, abstraiu a presença do colega e continuou o ensaio, porém, escorreu e caiu pela quarta vez.

Com a delicadeza de um guindaste, Juarez, passou um relatório sobre todos os erros que fizeram Mundico cair no chão. Querendo se livrar do colega, Juarez, se aproximou e mostrou como deveria ser feita a coreografia.

— O problema é a posição da tua perna. — Juarez se aproximou e tocou na perna esquerda de Mundico. — Com licença.

Juarez elevou a perna de Mundico, só que o corpo do bailarino tinha vontade própria e respondeu com uma ereção. Desesperado, ele saiu dos braços de Juarez e agradeceu pelas dicas.

— Só precisa lembrar disso. — disse Juarez, pegando a garrafa e indo em direção ao bebedouro, mas, percebendo a ereção de Mundico.

— Merda. Merda. — pensou Mundico imaginando cenas tristes para acabar com sua alegria.

No dia seguinte, recebemos uma mensagem da Hélida nos chamando para o primeiro ensaio. Depois de muito pensar, acabei declinando o convite. Se têm duas coisas que não combinam são: Yuri + Dança.

Para espairecer, a tia Olívia nos acompanhou no ensaio. Como eu suspeitava, a parte dos meus amigos envolvia poucas peças de roupas, eles seriam ribeirinhos em uma alegoria.

Aproveitei para registrar todo o ensaio. A Hélida era uma pessoa bem competente e conseguiu auxiliar todo mundo, uma vez que, tirando o Zedu, ninguém era especialista em dança.

Depois do ensaio, o nosso grupo decidiu comer pizza. A minha tia e Carlos foram convidados para um jantar na casa do prefeito de Parintins, infelizmente, não fomos chamados. Queria comer na casa de alguém rico. Sempre é bom, né? Voltamos para o barco e encontramos Mundico, ele conversava com alguns amigos.

— Ei, galera. Como foi o ensaio. — ele perguntou curioso, pois, recebeu algumas fotos que enviei.

— Ótimo. Só precisei fingir que lavava roupa. Posso ser a próxima Paolla Oliveira. — brincou Ramona, imitando sua performance no ensaio.

— Isso não lava roupa nem em casa, imagina, em Parintins. — soltou Brutus nos fazendo rir, mas a piada lhe rendeu um beliscão na barriga.

— Verdades doem. — comentou Zedu, rindo e zoando com a cara de Brutus.

— Gente, vou tomar banho, antes que uma fila enorme se forme. — avisou Letícia entrando no barco.

— Vamos tomar banho? — perguntou Brutus para Ramona, que se desvencilhou do namorado.

— Sim. Você está precisando. Com licença. — Ramona, praticamente, levou o Brutus para dentro da embarcação.

— Pink, cérebro. Banho, os dois. — mandei meus irmãos para o chuveiro também.

Yuri: (olhando para os irmãos) – Vocês dois... banhos também. E o senhor. (olhando para Richard) – Cuidado. Vão.

Ficamos conversando com o grupo de Mundico por alguns minutos. Engraçado, que o Yuri do ano passado não ia ter todo esse molejo social. Os meus amigos e o Zedu, abriram um novo mundo para mim.

Com os grupos ensaiando e meus amigos descansando para o jantar, dei um jeito de tomar banho com o Zedu. Apesar do espaço pequeno, a gente conseguiu tomar um banho relaxante. E que relaxante.

— Meu namorado está preparado para o Festival? — Zedu perguntou, enquanto passava shampoo nos meus cabelos, me deixando com tesão ao falar a palavra "namorado".

— Sim. Sempre vi pela televisão, agora vou poder sentir. Realmente, Parintins é a terra da magia.

— Fecha os olhos, vou ligar o chuveiro. — avisou Zedu me fazendo rir. — O que foi?

— Você me faz sentir uma criança.

— Você é minha criança. — Zedu afirmou massageando minha cabeça e tirando o excesso de shampoo.

— Nunca imaginaria, nem em um milhão de anos, que em Manaus eu teria um namorado que me daria banho.

Depois de um banho gostosinho, pegamos a fila do jantar. O prato da noite era frango assado no forno. Fiz um prato perfeito e subi com o Zedu para a área de lazer da embarcação.

A empresa da titia trouxe uns ventiladores industriais para ajudar no calor da Amazônia, o vento era perfeito, só que o barulho nem tanto. Por isso, preferimos comer em outra parte, para escutar melhor as fofocas.

Começamos a falar sobre várias coisas, principalmente, sobre o retorno das aulas. No meu coração, esperava que não tivéssemos muitas emoções fortes e nenhum bullying para comigo.

Já por causa de uma obra mal feita, Mundico mudaria de escola e abandonaria todos os amigos do ensino Médio. Dei a maior força, porque apesar de não ter feito amigos no antigo colégio, sabia como era difícil mudar, ainda mais no meio do ano letivo.

— Vai dar tudo certo, Mundico. — disse Letícia levantando o copo de suco de cupuaçu e propondo um brinde. — Que esse ano seja o melhor para todos!

— Para todos! — gritamos ao brindar com os sucos.

Com o bucho cheio. Nós começamos a brincar de várias coisas legais como, por exemplo, Stop, detetive e assassino e, claro, o clássico verdade ou desafio. Ficamos tão cansados que dormimos no chão do barco.

Pela manhã, senti um braço pesando no meu rosto, era o do meu príncipe. Levantei e cocei a cabeça. Arrumei o Zedu e o deixei dormindo com os meus amigos. Desci e minha tia estava conversando com alguém no telefone, e Carlos ajudava a cozinheira do barco a servir o café.

Esse dia foi mais lento. Principalmente, no ensaio dos meninos. À tarde, fomos contemplar o pôr do sol na Praça do Comunas, que ficou marcada na minha relação, pois, foi lá que pedi o homem da minha vida em namoro.

No outro dia, Mundico e seus amigos tiveram uma surpresa. Os dançarinos disputariam para conseguir uma dança solo na primeira noite do festival. Juarez foi o primeiro e impressionou a todos. Mundico dançou algum tempo depois, e dizem que ele conseguiu realizar uma grande performance.

— Gente. — Hélida chamou a atenção dos dançarinos. — Vocês fizeram um trabalho maravilhoso. Mas, infelizmente, apenas um vai conseguir o solo. A gente demorou para escolher o dançarino, mas a pessoa é...

— Quem será? — se questionou Juarez. — Tem que ser eu. — levantando e indo em direção à Hélida.

— Mundico! — exclamou Hélida batendo palmas, deixando o Mundico impactado.

— Como assim? Isso é ridículo. — pensou Juarez, saindo da sala de ensaio. — Eu sou o melhor dançarino desse lugar. Maldito. — jogando a garrafa de água para longe.

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NOSSA ESSE IDIOTA DO JUAREZ ESTÁ MERECENDO E PRECISANDO DE UMA LIÇÃO DE HUMILDADE. E URGENTE. ALGUÉM TEM QUE FAZER ESSE FAVOR PRA ELE.

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