Na guerra e no amor vale tudo – Final
Havia algumas semanas que eu chegara a Boston ainda no auge do verão. Fazia tempo que eu não via uma cidade como aquela, completamente inteira, sem nenhuma marca de destruição ou edifícios marcados pela artilharia. Embora as cidades francesas tenham sido relativamente poupadas dos bombardeios, à exceção de cidadezinhas da Normandia e algumas outras que foram totalmente reduzidas a pó como a vila de Oradour-sur-Glane, dizimada em retaliação à morte de um militar alemão, havia sempre um sinal da guerra ainda presente por onde se andasse na França em 1946.
Por aqui nada fazia lembrar os horrores daquela guerra recém-encerrada. Respirava-se um ar de liberdade sem igual. Todo massacre promovido pelos americanos tinha sido feito em terras distantes, seus habitantes nunca tinham visto cadáveres espalhados pelas ruas, famílias chorando seus mortos, crianças órfãs perdidas na solidão. O que se via na fisionomia das pessoas era um orgulho acintoso e debochado, uma altivez prepotente, um senso de terem feito justiça, mesmo ignorando as atrocidades que seus soldados cometeram. Os poucos dias nesse país e o contato parco com sua população já foram suficientes para que eu nutrisse uma repugnância desprezível por essa América heroica. Tudo era tão superficial e artificial nesse povo que pressenti meus próximos cinco anos na universidade de Harvard, cursando a faculdade de engenharia, virem a se tornar os mais enfadonhos da minha vida.
Através de um conhecido do meu pai, encontrei um apartamento fora do campus da universidade e longe das fraternidades que alojavam os estudantes, depois da Western Avenue, a poucas quadras da universidade, no bairro de Lower Alston, depois de cruzar o Rio Charles, num prédio de dois andares, de tijolinhos aparentes e janelas brancas, na pequena Holmes Street. O espaço do apartamento era grande para os padrões europeus, mas consegui deixa-lo confortável e aconchegante com a pouca mobília que havia adquirido em lojas de móveis usados. A diversidade na origem e estilo dos móveis deixou a decoração bastante eclética e harmoniosa, embora eu não tivesse pensado nisso ao adquiri-los. Eu me sentia bem comigo mesmo toda vez que abria a porta de entrada e me deparava com meu arranjo, aquilo tinha uma cara familiar, embora fosse apenas eu a ocupar o espaço. Para que minha sensação de lar fosse completa só me faltava a companhia do Tango e do Saphir, de quem eu sentia uma saudade imensa e dolorida.
Era uma tarde de segunda-feira de meados de setembro, meu primeiro dia do Fall Semester no curso de engenharia de Harvard, eu tinha caminhado até um café na Massachusetts Avenue para montar uma planilha com os horários das minhas matérias, depois de sair do campus da universidade. Aquele era um lugar movimentado de Cambridge, não só pelas centenas de alunos da universidade que circulavam por ali, como pelo movimento incessante de carros, por se tratar de uma zona central da cidade. Do café, eu apreciava o ir e vir das pessoas e os tons de amarelo ao ocre das folhas das árvores nas calçadas sendo levadas pelo vento, preparando-as para o inverno. Até as estações do ano eram diferentes das que eu conhecia, embora estivéssemos no mesmo hemisfério terrestre. Fiquei tão absorto com minha planilha e todo aquele movimento, que só fui perceber que estava ficando tarde quando algumas luzes começaram a se acender nos edifícios ao redor. Era cedo para jantar, mas tarde para ficar ali ao vento que começava a penetrar pelo meu suéter. No caminho de casa encontrei Franny, minha vizinha de apartamento. Ela era uma moça pouco passada dos trinta anos, bonita, com cabelos loiros longos e levemente cacheados que jogava para um lado numa espécie de cacoete que fazia ao girar a cabeça. Ela me avistou antes do que eu a ela. Era muito extrovertida e, assim que me viu, apressou os passos na minha direção e enganchou seu braço no meu.
- E aí, como foi seu primeiro dia de aula? – perguntou com um sorriso fácil.
- Nada de especial, fiquei sabendo quais matérias teria que fazer nesse semestre, conheci os professores, e constatei que vou ter dias bastante agitados com pouquíssimas folgas. – respondi.
- É uma pena! Eu pensei que teria companhia para sair. – disse, visivelmente interessada em conseguir um namorado.
- Certamente não vai poder contar comigo. – retruquei.
Eu não havia perguntado a ela o que fazia para se sustentar. Haviam me dito que os americanos não gostam que se faça perguntas sobre a maneira como ganham dinheiro, nem quanto gastam para determinada coisa. Portanto, estava seguindo essa regra, embora desconfiasse que aquelas saídas noturnas dela tinham haver com algum trabalho pouco recomendável. Ela costumava voltar pouco antes do amanhecer e, nunca acordava antes do meio dia. Eu também achava suas roupas um pouco justas demais, exibindo muito de suas curvas fartas que atraíam os olhares masculinos por onde passava, como agora, ao cruzávamos com um grupo de universitários. Ela parecia não se importar com aquilo e fingia não perceber o assédio. No mais, era uma garota divertida que, ao ver que o apartamento, vizinho ao seu, desocupado havia algum tempo recebia a mobília, veio ter comigo e dar as boas vindas. Desde então, havíamos trocado algumas frases em encontros casuais no corredor do prédio. Algo nela me dizia que havia muito escondido por trás daquele sorriso querendo demonstrar simpatia, como um iceberg, que deixa aflorar apenas uma pequena parte de seu colossal tamanho. E, como tudo o que eu não precisava eram problemas, tratava-a com um distanciamento educado.
Meu outro vizinho de porta era um homem alto e musculoso que deveria ter uns quarenta anos. Era um tipo muito atraente e másculo, queixo anguloso, sobrancelhas grossas, olhos verdes, uma barba cerrada que devia lhe dar muito trabalho, pois nas poucas vezes em que o encontrei pude notar que havia se ferido tentando escanhoá-la. Ele devia trabalhar com alguma coisa relacionada à construção, pois sua picape CC-152 da GMC, sempre estacionada rente ao edifício debaixo das janelas de seu apartamento, normalmente tinha a caçamba carregada com cavaletes, escadas, e apetrechos usados em construções. Ele me encarou com um olhar incisivo, porém triste, na primeira vez em que nos encontramos, dizendo chamar-se Lonnie. No entanto, fez uma inspiração profunda antes de me estender a mão grande e pesada, o que tornou seu peito mais largo e vistoso debaixo da camiseta colada à pele, como se fosse um pavão fazendo a corte ou querendo intimidar um adversário. De alguma forma, a tática funcionou, pois ao tocar naquela mão áspera, onde a suavidade da minha se perdeu, eu me senti constrangido diante de toda aquela virilidade. Mas, bastaram nossos olhares se cruzarem, para eu perceber que sua intenção não era a de me intimidar e, sim, me impressionar. Devolvi-lhe um sorriso doce, que parece ter tido o mesmo efeito sobre ele. Depois disso, só o vi de longe, pela janela da sala do meu apartamento, uma vez chegando num final de tarde e, noutra saindo com duas crianças num domingo pela manhã. Fiquei imaginando que talvez fossem seus filhos, pois ambos estavam felizes por estar na companhia dele. Como não moravam com ele, devia haver uma história por trás disso tudo. As pessoas parecem sempre carregar um enigma em suas vidas até que as conheçamos melhor. O que me chamava à atenção em relação a ele era o som noturno de um saxofone entoando acordes melancólicos que pareciam brotar de uma alma sensível e ferida, embora fossem lindos de ouvir.
Com a chegada do meu primeiro spring break nos Estados Unidos, eu me preparava para uma semana de solidão e recolhimento, uma vez que estava indo muito bem em todas as matérias e não precisava me debruçar, horas a fio, sobre os livros para recuperar algum assunto perdido, e também não tinha planejado nenhuma viagem como a maioria dos estudantes. Por isso recebi com surpresa o convite de véspera do Mike para passar uns dias na casa de veraneio da família em Cape Elizabeth, no Maine. Mike foi o único aluno da minha turma que procurei evitar ao máximo assim que começaram os entrosamentos na classe. A razão dessa atitude deveu-se ao fato de ele ser fisicamente muito parecido com o Adolf. Grande, loiro, de olhos muito azuis, corpo musculoso, até a maneira de sorrir parecia uma cópia fiel do sorriso do Adolf, e isso ainda doía muito em meu peito. No entanto, ele usou de uma série de estratagemas para se aproximar de mim. Começou timidamente soltando algumas frases em francês, só para me contar que estava estudando o idioma de sua avó materna. Depois, conseguiu se infiltrar no grupo do qual eu participava e, que precisamos montar para um trabalho coletivo que o professor da disciplina de estruturas dos materiais havia programado. De início, ficar ao lado dele, numa proximidade que muitas das vezes me permitia sentir o calor que emanava de seu corpo, ou o perfume de sua loção de barba, me causava tanto sofrimento que eu era obrigado a me afastar, recorrendo ao banheiro para deixar aquelas lágrimas que afloravam das minhas vistas caírem em profusão até que o coração voltasse a se acalmar do descompasso que o agitava. Ele chegou a perceber que algo se transformava dentro de mim quando ele se aproximava. Também percebeu que não se tratava de uma repulsa, mas de algo mais profundo e sensível. Isso despertou sua curiosidade, bem como uma provocação que o obrigava a ajeitar o caralhão dentro das calças. Ele me fez o convite no último dia antes da semana de folga, num quase segredar, para que ninguém mais o ouvisse.
- Venha! Garanto que você vai adorar as praias e as paisagens. Eu estarei sozinho com os meus pais, uma vez que meus irmãos já têm sua programação. Assim não precisarei ficar sozinho. – ele não sabia, mas tinha o mesmo jeito dengoso de pedir as coisas que o Adolf. E, eu nunca havia recusado nenhum pedido dele. Seria o momento de começar a atender aos pedidos do Mike?
- OK! Só espero não incomodar. Seus pais concordam com seu convite? – Se houvesse a mínima chance de algo não se ajustar eu teria um motivo para fugir desse compromisso. Ter o Mike ao meu lado por tantas horas seria um exercício de desprendimento e superação que eu precisava começar a praticar, ou minha vida jamais seguiria em frente.
- Óbvio que sim! Eles estão loucos para te conhecer. – respondeu ele.
- Como assim, loucos para me conhecer? – indaguei surpreso.
- É que costumo falar muito de você lá em casa. – respondeu ele, com a maior naturalidade.
- E o que você conta sobre mim para eles? – questionei.
- Tudo!
- Tudo é muito vago. Além disso, você não sabe tudo sobre mim. – retruquei.
- Mas quero saber! – isso me deixou ainda mais preocupado. Especialmente, por que eu já o tinha flagrado duas vezes tentando me esconder uma ereção depois de acompanhar com um olhar priápico o movimento das minhas nádegas enquanto eu caminhava a frente dele.
Os dias em Cape Elizabeth foram maravilhosos. Os pais do Mike ainda eram jovens e tinham uma disposição e um humor invejáveis. Algo me dizia que o pai tinha uma noção do motivo que levou o filho a me convidar e, parece que ele aprovava a atitude e a escolha do filho, pois minha bunda também atraiu seu olhar muito discreto e contido. As praias rochosas com suas falésias e as ondas se arrebentando contra elas num alvorecer de espuma branca me lembrou muito nossa praia em Porspoder. Até a presença do farol de Portland chamou minha atenção. Embora não emergisse do mar como o de du Four, mas se apoiava sobre uma falésia na costa, levou meus pensamentos para longe numa melancolia dolorida.
- Tudo bem? – perguntou o Mike, enquanto caminhávamos pela praia.
- Sim.
- Você está tão calado! Lembranças? – ele parecia conseguir penetrar nos meus pensamentos.
- Sim.
- Pelo visto sofridas. – sua voz tinha um tom tão calmo e compreensivo que precisei fazer força para não deixar aquele nó que se formara na minha garganta aflorar num choro difícil de explicar.
- Algumas. Mas, não vamos falar sobre isso. Você me prometeu mostrar lugares lindos. Este eu estou amando, quero conhecer os outros. – retruquei, colocando um sorriso forçado no rosto.
- Vamos lá! Ainda quero que conheça uma porção deles. – ele riu, também forçado. Será que estávamos entrando em sintonia?
O spring break terminou sem que o Mike conseguisse realizar seus planos, cujo objetivo era mergulhar seu caralhão na tentação libidinosa da minha bunda arrebitada, desvendando os segredos escondidos nas profundezas daquele rego desenhado sob o tecido da roupa e, os que se camuflavam no meu coração amistoso, disso eu não tinha mais a menor dúvida. Porém, não se mostrou frustrado por não conseguir o que queria. Bastou-lhe saber que tínhamos nos aproximado muito um do outro durante aqueles dias. Satisfazer seus instintos primais era uma questão de tempo. Disso ele tinha certeza, uma vez que as três tentativas que fez, investindo com encoxadas obstinadas que encaixaram sua virilha nas curvas da minha bunda, não tinham sido rechaçadas com veemência, mas assimiladas como uma possibilidade remota e um sorriso condescendente. Ele sabia que precisava esperar até que aquele passado, que sempre exibia uma espécie de véu soturno encobrindo meus sorrisos, desaparecesse para que eu o enxergasse, e tudo aquilo que queria me oferecer. Amei-o por isso. Menos de uma semana depois, dei-lhe a abertura pela qual ele tanto ansiava. Ele estava se queixando de não conseguir entender algumas aulas da disciplina de equações diferenciais, a prova bimestral estava se aproximando e ele não conseguia resolver os exercícios passados pelo professor. Eu tinha um ótimo desempenho nessa matéria e me prontifiquei a ajuda-lo, chamando-o para o apartamento a fim de resolvermos as questões juntos. Até hoje não sei se aquilo foi uma armadilha muito bem articulada ou, se as minhas explicações tinham mesmo feito com que tudo ficasse tão fácil e transparente como uma água límpida, conforme ele mesmo afirmou, pois ele resolveu os exercícios sem nenhuma dificuldade aparente. Acabamos terminando de resolver as questões em poucas horas, ele achou cedo para regressar para casa, pediu uma pizza e algumas cervejas e, pouco depois, me levou para cama como se isso fizesse parte de um pacote elaborado em sua mente. Por que era evidente que o Mike já tinha se decidido sobre isso havia muito tempo, sua mão começou a apalpar minha bunda durante as encoxadas que me deu enquanto eu lavava os pratos e talheres que havíamos utilizado. Ele puxara meu tronco de encontro ao seu, enquanto a mão devassa sentia aquela fartura de carnes que ele ficava observando como um lobo fareja um cordeiro menos atento num rebanho, eu ouvi o zíper dele abrir. Podia ter me esquivado, podia reclamar, podia ter corrido, mas desde que deixei Porspoder e, consequentemente deixei de me encontrar com o Junot, não sentia a gana de um macho querendo me enrabar com todo esse tesão. Não sei o que falou mais alto naquele momento, se minha penúria sentimental, se minha natureza benevolente rendendo-se à bondade de ânimo para com as necessidades do Mike ou, se uma concessão ao querer do meu cuzinho se contorcendo de tesão. Lambi e chupei sua ereção tão logo a tirei de suas calças, ali mesmo ajoelhado diante dele na cozinha. Ele segurou minha cabeça entre as mãos e metia o caralhão na minha garganta, fazendo-me provar seu esmegma e um abundante fluído pré-ejaculatório, como um macho dando a conhecer sua virilidade. Aqueles aromas que emanavam da virilha pentelhuda me fizeram capitular. Ao chegarmos ao quarto eu já estava nu, ele abria minha bunda para examinar meu cu, rosado e tão miúdo, que ele já previa a dificuldade de fazer a cabeçorra de seu falo passar por ali sem produzir um estrago considerável. Primeiro era preciso conseguir minha total submissão, minha aquiescência, para isso posicionou seu rosto dentro do meu rego e lambeu, mordeu e vasculhou com sua língua predadora o entorno pregueado do buraquinho anal. Quando meus gemidos estavam se transformando em clamores pungentes, ele puxou minha cintura de encontro a sua virilha. Em pé ao lado da cama, meteu a pica no meu cu, numa estocada abrupta e vigorosa, enfiando um terço do seu membro naquele orifício, o suficiente para garantir que não fosse expulso, enquanto, um espasmo meu fazia-o fechar-se ao redor de sua carne rija. Eu estava seco e esfolado, pois ele demorou muito, muito tempo bombando, e quando terminou, eu estava sangrando, sabia que meu sangue ia se misturar com o sêmen do Mike, fazendo-o orgulhar-se de sua performance. Na penumbra do abajur da cabeceira nossos corpos languidos e extenuados se entrelaçaram no silêncio do quarto. Ambos arfavam quando os braços dele se fecharam ao redor do meu corpo, aprisionando-me junto a ele. Nossas respirações tinham serenado, e eu podia ouvi-lo respirar pelo nariz e pela boca entreaberta, sentia o lento ofegar de seu peito colado nas minhas costas. Como tudo isso era familiar. Tive vergonha de me levantar para ir ao banheiro, pois estava sentindo o esperma escorrendo de dentro de mim pelo rego que procurava fechar contraindo a musculatura glútea. Apesar da dor que ainda sentia entre as pernas, mesmo depois de ele ter tirado o caralhão amolecido de dentro de mim, foi como se eu sentisse alguém cuidando de mim outra vez. Pelo menos naquele momento, ter o corpo do Mike atrelado ao meu, diminuía minha solidão e afastava as reminiscências do passado.
Eu tornei a mergulhar nas minhas ocupações na universidade. Havia aceitado alguns convites da Franny para conhecer lugares de Boston onde ainda não tinha estado, o que a deixou bastante animada. Talvez até imaginando que as coisas entre nós poderiam assumir outra relevância. Desde a semana passada em Cape Elizabeth com o Mike e seus pais, eu voltei a sentir aquele perigoso vazio em minha alma. Digo perigoso, pois foi essa mesma sensação, que há tempos não me atormentava, mas que me fez aceitar passivamente a rola gulosa do Junot, como se, preenchendo minhas entranhas, eu fosse reviver a plenitude do amor que Adolf me fez sentir.
Então, numa noite chuvosa, depois do Mike ter me deixado na porta do edifício, certamente esperando uma deixa para subir comigo, após termos assistido The best years of our lives, um filme que relutei em assistir por se tratar de três veteranos da Segunda Guerra tentando voltar a assumir suas vidas civis ao retornarem do front. Após a guerra, Fred Derry, Homer Parrish e Al Stephenson se encontram num voo em um avião militar retornando ao seu país. Fred é um condecorado capitão da Força Aérea, Homer é um marinheiro que perdeu as duas mãos após seu navio ser atacado e que foram substituídas por próteses mecânicas de duplo gancho e Al serviu na Infantaria do Exército como sargento de pelotão no Pacífico. De volta à vida civil, Al é um banqueiro que mora num apartamento confortável com a esposa Milly e os filhos adultos Peggy e Rob. Ele regressa ao antigo emprego e passa a ser o responsável pelo departamento de empréstimos a veteranos como ele. Já Fred precisa voltar a ser balconista de loja, pois não consegue nada melhor. Ele havia se casado com a namorada vinte dias antes de partir para a Guerra e fica decepcionado quando sabe que a esposa trabalhou em bares noturnos enquanto esteve fora. Ao mesmo tempo, se sente atraído por Peggy, filha de Al. Homer era um ex-jogador de futebol americano e estava noivo de sua vizinha. Apesar de a moça continuar gostando dele e querendo se casar, Homer reluta em assumir o compromisso temendo que ela esteja sentindo apenas piedade por ele. Eu, que tive a vida marcada por esse conflito, procurava por todos os meios me esquecer da dor que ele me causou, da enorme perda que precisei superar com minha pouca idade, por isso havia dito ao Mike que não queria ver nenhum filme de guerra. Mesmo assim, ele insistiu e, já tinha descoberto o jeito certo de me abordar para conseguir o que queria.
Passava um pouco da meia noite quando subi as escadas e dobrei o corredor escuro na direção do meu apartamento, pois o síndico ainda não havia mandado substituir as lâmpadas queimadas, e acabei tomando um susto. Bem diante da primeira porta, a do saxofonista, encontrei-o sentado apoiando as costas na porta e bloqueando quase totalmente a passagem do corredor com suas pernas compridas. Contando apenas com a luz que vinha de fora, por uma fileira de janelas rente ao teto, pude constatar que sua jaqueta estava rasgada e cobria estranhamente seu tronco, as calças estavam molhadas ao redor da braguilha e da perna esquerda, parecendo que havia se mijado nas calças, mas o que me impressionou, foram os hematomas em seu rosto inchado e a posição de seu punho direito, era como se sua mão estivesse apenas pendurada pela pele do antebraço. Ao me aproximar, senti um forte cheiro de álcool e imaginei que estivesse bêbado. Ele apenas balbuciou algo ininteligível quando me viu.
- O que foi isso ....? – por alguns instantes não conseguia me lembrar de seu nome.
- Um pequeno contratempo! – resmungou o Lonnie. – Aqueles malditos sumiram com a minha carteira e as minhas chaves. – acrescentou.
- Quem fez isso com você? Você já foi à polícia? – questionei, sem saber que atitude tomar.
- Eu vou pega-los! Um por um, eles não perdem por esperar. – continuou resmungando.
- Quem são? Quer que eu o acompanhe até a delegacia? – prontifiquei-me, embora estivesse morrendo de sono.
- Não! Nada de polícia. Eu mesmo vou resolver esta questão. Aqueles filhos da puta vão me pagar caro. – devolveu enfático.
Eu não queria coloca-lo dentro da minha casa, não àquela hora e, nem naquelas condições, porém, fui me convencendo de que não havia outra solução. Fiquei furioso comigo mesmo por não conseguir me livrar da mania de me encher de cuidados pelos outros, especialmente, quando esse outro era um homem tão atraente quanto o Lonnie.
- Venha! Vou ajuda-lo a levantar-se, vamos para o meu apartamento para ver o que se pode fazer com esses ferimentos. – disse, ajudando-o a apoiar-se em meus ombros.
- Você é um rapaz muito bonito e doce! Obrigado pela ajuda. – seu tom de voz me pareceu mais grave e sensual, talvez fizesse isso de propósito.
- Deixe de bobagens! Sente-se aí, vou procurar alguma coisa para cuidar desses ferimentos. Estão horríveis! O que foi isso, socos? – perguntei, ao deixa-lo no sofá, e indo ao banheiro procurar um estojo de primeiros-socorros que minha mãe havia insistido em enfiar na minha bagagem quando deixei a França e jamais havia usado.
- Provavelmente! Mas, eles vão sentir o peso dos meus quando formos ajustar as contas. – balbuciou.
- Quem são esses ‘eles’ de que você está falando? Assaltantes? – indaguei curioso, enquanto removia os coágulos de sangue de sua têmpora e do canto da boca. Ele segurou na minha mão com sua mão esquerda, pois a outra tinha o dobro do tamanho normal, e deixou escapar um gemido quando pressionei suavemente a região.
- Três caras que contratei para fazerem um serviço. Um serviço porco que o proprietário não aceitou e não quis pagar enquanto não fosse consertado. Eu me recusei a pagar o que havia combinado e os três resolveram cobrar de outra maneira. – sentenciou.
Eu não quis perguntar sobre a mancha molhada nas calças nem a origem daquele cheiro de álcool. Ele podia encarar aquilo como uma invasão e, para mim pouco importava como ele conduzia sua vida. Contudo, ele pareceu adivinhar meus pensamentos.
- Eu tinha acabado de comprar uma garrafa de Bourbon, tomado alguns goles e posto a garrafa entre as pernas enquanto dirigia, quando eles me cercaram num Nash Ambassador na Western com a N Harvard Street. – revelou ele.
- Acho melhor você tirar essas roupas rasgadas e sujas e, se enfiar debaixo do chuveiro. Vou providenciar uma roupa de cama e você se aloja no sofá por esta noite, amanhã veremos o que fazer. Você precisa ir a um hospital, provavelmente há uma fratura no seu punho. – afirmei.
Ao se despir, constatei os imensos hematomas espalhados pelo tronco peludo e musculoso. Não nego que tive vontade de acaricia-los como forma de mitigar suas dores. Porém, essa não seria uma atitude nada conveniente para com um completo estranho. Mesmo tendo disfarçado o olhar, não deixei de reparar no tamanho acintoso da verga que pendia pesada entre suas coxas vigorosas. Ele cambaleou apoiando-se na mobília no caminho até o banheiro, enquanto eu arrumava o sofá para ele dormir. Cerca de quinze minutos depois, ouvi-o chamando, a água da ducha havia parado de correr.
- Não encontrei a toalha. – disse ele, não se encabulando com sua nudez privilegiada. Eu é que senti meu rosto se incendiando, diante daquele corpo musculoso e sensualmente molhado. Quando lhe entreguei a toalha, sem encara-lo, ele segurou minha mão com firmeza. – Não sei como te agradecer pelo que está fazendo por mim! – exclamou, demorando-se a tirar a toalha da minha mão e cobrindo-a com as suas encharcadas.
- Não estou fazendo nada de excepcional! Tenho a certeza de que você faria o mesmo por mim. – afirmei, constrangido com aquele contato físico embaraçador.
- Eu moveria céus e terra por você! – sussurrou. Eu puxei minha mão num gesto rápido. Que diabos de conversa era essa? Ele nem me conhecia, como podia imaginar que eu ficaria feliz por um homem me dizer essas coisas?
- Você está falando demais! O queixo voltou a sangrar. – afirmei, percebendo que o corte oblíquo no queixo começava a verter um filete de sangue que descia até seu pescoço. A barba hirsuta, feita pela última vez há uns dois ou três dias, não permitiria que o curativo aderisse com a necessária firmeza. – Temos que fazer essa barba, caso contrário o curativo vai se soltar em pouco tempo. – acrescentei.
Seus movimentos com o barbeador eram temerosos, usando a mão esquerda para deslizá-lo pelo rosto, eu já previa os talhos que ia fazer manejando-o com tanta inabilidade. Não era a toa que sempre estava com cicatrizes na cara.
- Deixe que eu faço isso! – afirmei, tirando o barbeador de suas mãos e começando a deslizá-lo sobre aqueles pelos que mais pareciam espinhos. Ele se rendeu com prazer. Não disse nada enquanto eu o barbeava, mas posso jurar que estava se deliciando com o toque das minhas mãos. Eu nem ousava baixar meu olhar na direção de sua virilha, pois sabia que aquele contorcionismo de suas pernas e, o fato de manter a toalha sobre a genitália só tinham uma explicação, ele estava de pau duro.
Depois que ele se meteu nu debaixo do cobertor, procurando a melhor maneira de ajustar seu corpanzil de quase dois metros naquele sofá minúsculo, eu levei a toalha úmida que ele havia usado até a pequena lavanderia depois da cozinha. Num ato reflexo, puramente instintivo, que jamais supus ser capaz de protagonizar, levei a toalha até meu rosto e aspirei seu cheiro. Toda pele do meu corpo se arrepiou, quando o aroma viril impregnado nela entrou nas minhas narinas. Só então percebi o quão vulnerável e carente eu estava, para que um simples cheiro de macho me deixasse nessas condições. Preparei uma caneca de chocolate quente para cada um antes de voltar para a sala, onde ele olhava fixamente para o teto, apoiando a cabeça sobre os braços cruzados atrás da nuca, absorto em pensamentos.
- Ah! Marcel, meu meigo e doce Marcel! – sussurrou ele olhando fundo nos meus olhos, ao pegar a caneca das minhas mãos. Eu podia jurar que já tinha ouvido essa expressão alguma vez. Sorri para ele, um sorriso idiota, pois era assim que me sentia diante daquele homem maduro e deliciosamente sexy.
Fui para o quarto, depois de tomar uma ducha na tentativa de minimizar aquele calor que havia se espalhado por toda minha pele. Apesar de estar praticamente nu, o sono não queria vir. Imagens do rosto do Adolf flutuavam ao meu redor, com todas as expressões de que me lembrava, tão vivas que bastaria eu estender a mão e passar meus dedos sobre ele, para sentir sua presença. Afora isso, aquele imenso vazio que me fazia sentir oco e, que só ele era capaz de preencher. Os cacetes do Mike e do Lonnie só reforçavam esse vazio. Seria possível um deles me preencher e me devolver a razão de viver? Em algum momento da madrugada eu comecei a dormir, a quietude se interrompeu com a chuva ganhando força lá fora. As copas das árvores do outro lado da rua se agitavam com o vento que as açoitava, pingos grossos batiam de encontro às janelas, o vento sibilava ao passar pelas frestas e minhas pálpebras finalmente caíram pesadas. Eu tinha me esquecido de desativar o alarme do despertador e ele tocou estridente sobre a mesa de cabeceira, eram cinco e quarenta e cinco de um sábado molhado. Depois de voltar à posição que estava antes de travar o despertador, minhas costas tocaram em algo quente, que eu já havia percebido como acolhedor e confortável ao despertar sonolento e perdido. Era o peito do Lonnie, resvalando seus pelos na pele nua do meu torso. Passado o susto, notei que meu cuzinho se contorcia como uma dançarina de cabaré, guloso e depravado. Empurrei minha bunda contra sua virilha, o ar que escapava de sua boca resvalava na minha nuca, sua reação àquela maciez tocando suas partes pudendas foi imediato, um braço instintivamente cingiu meu corpo e o puxou para si, a rola e sacão se encaixaram no meu rego. Ele dormia. O que fazer? Afastar-me e sair da cama àquela hora da madrugada? Ficar e deixar aquele macho ficar me currando enquanto talvez estivesse tendo sonhos libidinosos? E, o que fazer quando ele realmente acordar e me encontrar ali vulnerável e disponível, encaixado em seu sexo? Era cedo demais para pensar em qualquer coisa. Era tarde demais para continuar fugindo. Caí no sono mais uma vez.
No encontro entre as duas cortinas separadas por uma fresta estreita passava a única luminosidade que alumiava o quarto. Ela estava sobre as nossas cabeças quando abri os olhos, lentamente, quase sincronizado com a ereção do Lonnie, que procurava pela minha rosquinha anal deslizando dentro do meu reguinho apertado. Ele pensou que eu estivesse dormindo e deixou-se levar pelo tesão que retesava toda sua pelve. Movia suas ancas com cuidado contra minhas nádegas, refastelando-se na rigidez carnuda dos meus glúteos. Sua respiração começou a acelerar, tanto quanto as batidas do meu coração. Não dava mais para fingir que estava dormindo e não sentindo aquelas arremetidas lascivas. Eu quis espreguiçar-me imaginando que, durante o movimento, podia afastar meu corpo do dele. Porém ele foi mais rápido, o braço que me cingia puxou-me com força contra seu peito, sua boca começou a lamber a pele do meu ombro.
- Quero entrar em você Marcel! – rosnou ele, me encoxando sem nenhuma sutileza, para que percebesse o tamanho de sua necessidade.
- Pensei que você estava todo quebrado! – exclamei, um pouco irônico.
- Mas ainda tenho energia suficiente para te fazer feliz! – devolveu garboso.
- Então faça! – sussurrei, empinando a bunda.
Lonnie guiou seu cacetão desajeitadamente com sua mão esquerda dentro do meu rego, levou um tempo até ele conseguir encontrar minha rosquinha, o que o deixou num estado de excitação e urgência quase desesperador. Quando sentiu meu cuzinho piscando de tanta agonia, deixou de lado as sutilezas e usou da força para meter o caralho naquele buraquinho apertado. Eu gritei. Havia muito tempo que algo tão grosso não passava pelos meus esfíncteres. Eu já sabia que aquela dor aguda e pungente só podia significar uma coisa, o cacetão estava me dilacerando as pregas para conseguir me penetrar. Essa sensação de sentir minhas carnes se rasgando sempre me deixava aflito, era impossível prever o dano, ele só se manifestaria depois e, nos dias subsequentes, quando até sentar se transformava num movimento que requeria muita cautela. Ele arremetia contra minha bunda com força e determinação, o pau ia deslizando para dentro do meu cu em estocadas animalescas. Eu gemia e me agarrava ao lençol, mordia a ponta do travesseiro e procurava me manter sobre a cama, enquanto ele movia sua pelve e ia empurrando todo meu corpo, a fim de atolar toda a pica em mim. Aquilo ia me preenchendo penosamente, embora o prazer de sentir o vigor de um macho novamente pulsando em mim estivesse crescendo lentamente. Eu me entreguei enquanto gemia baixinho e sensualmente. Quantas lembranças não me trazia estar com um macho engatado no meu cu? Não era o momento de recordar o passado. Eu precisava viver o presente. Aquele presente, no qual eu podia satisfazer as necessidades desse homem viril e, com isso, tentar por um fim nas minhas carências. Será que pela mente desse homem também perambulavam pensamentos tão problemáticos? Ele não dizia nada, ora apenas gemia através dos dentes cerrados, ora bufava como um garanhão cobrindo uma égua. Nós nunca sabemos o que vai pela cabeça dos outros, seria esse o motivo pelo qual a humanidade estava se perdendo? Sem que eu o soubesse, a mente do Lonnie fervilhava.
Quantos anos esse garotão podia ter, a metade da minha, uns vinte dois ou vinte e três? As poucas vezes em que o vi sempre tinha esse olhar tristonho, mesmo quando sorria. O brilho encantador de seus olhos ensejava uma alegria ainda juvenil, mas algo devia ter acontecido que descerrou essa cortina de tristeza diante de seus olhos. Eu o vejo saindo todas as manhãs, bastante cedo, para a universidade. Desde que se mudou para cá, essa tinha se tornado minha distração enquanto engolia um café horrível, eu nunca soube como fazer um café descente, ou então, a primeira cerveja do dia. Eu nunca tinha visto uma bunda como a dele num homem. Bundas tão carnudas, volumosas e empinadas, para mim, sempre estiveram associadas àquelas negras da Virginia ou da Carolina do Sul, nunca a um homem. Agora meu pau estava todo dentro dela, eu estava dentro dela. E, esse veadinho não se opôs quando meu pau o procurou. Sei que o estou machucando, dá para sentir como sua rosquinha está apertando deliciosamente a minha pica. No entanto, ele não reclama, ele não me manda tirar essa coisa nojenta e monstruosa de seu cuzinho. Eram sempre esses os adjetivos que Brenda usava ao se referir ao meu falo, nojento e monstruoso. O que ela esperava de um caralho de macho? Aquela boceta por acaso era um poço asséptico? Não era dali que também saia sua urina, aquele sangue mensal asqueroso, aqueles fluídos de cheiro acre? Por que só o meu pau era nojento? Aliás, para Brenda eu sempre estava fedendo, sempre estava suado, sempre isso, sempre aquilo. Eu nunca fui bom o suficiente para ela. Só quando aquele seu namorado grã-fino a desprezou às vésperas de seu aniversário é que ela aceitou meu primeiro beijo. Aceitou minha mão debaixo de sua blusa, aceitou que eu apertasse suas tetas, aceitou que eu metesse meu pau na sua boceta molhada no banco de trás do Chevrolet Fleetline do Norman, meu padrasto, colocando em seu ventre nosso primeiro filho. Pensando bem, eu nunca fui bom o suficiente para ninguém, todos olhavam para esse descendente de irlandeses como se fossemos uma escória. Eu sempre trabalhei duro, desde os catorze anos, ajudando o Norman na oficina, para que ele não pudesse dizer que estava criando o filho de outro. Depois, passava as madrugadas, sozinho, atrás do balcão da Drogaria Clement’s, fazendo de tudo para que notassem minhas qualidades. Cuidei do estoque da loja do senhor Sherman com tanto zelo que ele me colocou como chefe do almoxarifado de todas as suas lojas. Eu ralava fazendo horas extras para estar à altura da Brenda. Para que aqueles seus pais judeus me achassem digno de sua preciosa filha. Engoli todo tipo sapo, daquela sua irmã esnobe com aquele marido médico, daquele seu irmão gerente de banco, de toda sua família de nariz empinado que nunca achou que eu valesse alguma coisa. Todos eles um bando de judeus filhos da puta que se julgam melhores do que os outros por que em algum lugar nas escrituras alguém escreveu que eles eram o povo escolhido de Deus. Enquanto eu trabalhava feito um mouro de sol a sol, Brenda ia tingir os cabelos, tomar chá com as amigas, ia fazer compras com a irmã perdulária. E tudo era motivo para lamentações. Quando descobriu que estava grávida novamente, disse que a culpa era minha que só sabia fazer sexo como um animal. Tudo que eu tenho na minha vida são meus garotos. Brenda já não conta mais. Eu não quis acertar aquela sua cara de desprezo em mais uma de nossas inúmeras discussões, foi um mero acidente. Eu apenas gesticulava extravasando minha raiva por mais um de seus gastos inúteis, quando ela resolveu passar entre mim e a geladeira. Não era minha intenção quebrar seu nariz. Mas, foi isso que ela contou aos pais, à polícia, aquele maldito advogado que me afastou dos meus filhos com uma petição ao juiz que nem sequer ouviu meus argumentos direito, foi logo assinando uma restrição que me impedia de me aproximar da Brenda e dos meus filhos a menos de duzentos metros. Como não beber quando o mundo se volta contra nós? O advogadozinho da Brenda usou também isso, uma infeliz colisão de trânsito depois de eu tomar algumas cervejas, para prolongar o período de restrição. Precisei alugar um apartamento, quando meus ganhos mal cobriam a hipoteca da casa onde a Brenda morava em segurança com nossos filhos. Contratar um advogado que já tinha levado mais de vinte e cinco mil dólares sem que nada de positivo acontecesse, exceto a chance de ver meus filhos por um dia a cada quinze. Isso depois daquela vadia da assistente social ficar analisando meu caso e bisbilhotando minha vida por quase um ano. E agora, quando tudo parecia entrar nos eixos novamente, esses filhos da puta me aprontam uma dessas com aquele cliente difícil, fazem um trabalho miserável e querem receber pela porcaria que deixaram na casa dele. Eu estou cansado, muito cansado de lutar contra o mundo. Um homem nunca deveria passar pelo que eu passei durante toda a minha vida. Um homem que fez de tudo para ter uma esposa e uma família, mas que precisa ir a um inferninho, meter trinta dólares na cinta liga de uma puta que se esfrega numa barra diante de outros tantos, para poder ver suas tetas, sua boceta e um sorriso profissional. Se quiser tocar na vadia ou meter o caralho, que nem sabe mais o que é foder, precisa colocar pelo menos uma nota de cem dólares em suas mãos, cem dólares de um dinheiro suado que elas arrancam de trouxas como eu. No entanto, esse garoto de corpo escultural, olhar doce, sorriso amistoso e, como contou a Franny, filho de um banqueiro na França, não me trata como lixo. Eu podia ficar dias aqui dentro do cuzinho macio e quente dele, sentir o cheiro de bergamota em sua pele fresca, ouvir esses gemidos tímidos em resposta a minha rola que pulsa furiosa dentro dele como uma fera enjaulada. Ele não passou por mim no corredor fingindo que não me viu. Ele colocou essas suas mãos suaves no meu rosto cansado, cuidou de mim como se eu fosse o que de mais precioso tinha na vida. Achou que eu não o vi cheirando a toalha com a qual sequei meu corpo e meu cacete. Agora está aqui, acariciando meu braço peludo, deixando meu pau foder seu cuzinho delicioso, querendo minha porra. Ele a terá, toda porra que a Brenda despreza, que as putas só admitem na camisinha, que uma vadia qualquer corre para lavar de sua boceta assim que tiro o pau de dentro dela. Eu vou dar a ele toda minha porra com carinho e sem a preocupação de que amanhã ou depois me obrigue a assumir um filho. Não, veadinhos como ele não engravidam. Eu nunca havia pensado nisso, eles só nos dão o prazer. Eu nunca havia pensado em veados, eu não os condenava, nem os humilhava com brincadeiras como faziam os outros garotos da escola ou os homens pelas ruas. E, esse rapaz que tem tudo para me tratar como um João Ninguém, me dá sua atenção, seu carinho, seus beijos ardentes, seu corpo maravilhoso, seu cuzinho saboroso, tudo isso sem que eu tenha que gastar um único dólar sequer.
Fazia ao menos vinte minutos que o Lonnie não pronunciava uma única palavra, só arfava e metia seu cacetão, num maravilhoso vaivém, no meu cuzinho. Agora que eu tinha me acostumado ao tamanho descomunal do pau dele, podia sentir como ele era quente e pulsava no ritmo das batidas do coração dele. Eu sentia o suor do peito dele nas minhas costas, o cheiro almiscarado de feromônio de macho que sua pele exalava, seu hálito morno roçando minha nuca, tudo me fazendo flutuar nas nuvens.
- Você é tão delicioso, Marcel! Quero gozar no seu cuzinho. Quero te dar a minha porra. – grunhiu o Lonnie, acelerando as estocadas e fazendo minha pelve, já dolorida, arder como o fogo. Eu gozei quando sua voz grave e sussurrada no meu ouvido anunciou seu desejo de esporrar em mim. Só de imaginar a umidade viril de um macho escorrendo pelas minhas entranhas, me fez ejacular como há muito eu não fazia.
O Lonnie quis me virar de bruços, mas soltou um gemido quando tentou colocar sua mão machucada no meu ombro. Eu mesmo fui à posição que ele queria. Sem tirar a rola do meu cu, ele montou em mim, passou seu braço bom ao redor do meu tronco e grunhiu no meu pescoço enquanto metia no meu cu. As estocadas atingiam minha próstata e me obrigavam a gritar. Ele urrou e os jatos de porra começaram a me encharcar espalhando um calor prazeroso pelo meu baixo ventre. Eu quis chorar, mas nenhuma lágrima desceu pelo meu rosto. Acho que eu já chorei todas, a que tinha direito. Demorou um tempo até o caralhão do Lonnie parar de pulsar dentro do meu cu e amolecer. Ele era bem pesado, porém, eu não queria apressá-lo a sair de cima de mim, parecia que estar debaixo daquele homem era como estar seguro e protegido de todos os perigos. Creio que ao manter-se naquela posição ele também estava esperando por algo mais. Talvez o pau amolecer, ou talvez apenas dar um tempo para que ele voltasse a endurecer completamente e partir para um novo embate. Mas ele escorregou lentamente para o lado, ao mesmo tempo em que sacava o pau do meu cu e girava seu corpo deitando-se de costas, enquanto erguia o braço com o punho ferido para não força-lo. Só então eu me virei na direção dele, durante toda a foda eu não havia visto a expressão de seu rosto, e me inclinei encarando-o com ternura. Seu lábio inferior estava bastante inchado, especialmente no canto da boca próximo ao ferimento que ia até o queixo, sobre o qual eu havia feito o curativo na noite anterior. Na testa também havia escoriações que agora estavam escuras e mostravam nitidamente onde a pele havia sido arrancada. Ele me deu um sorriso com aquela boca torta, havia tanta gratidão nele que não resisti e procurei algum lugar naquele rosto onde pudesse colocar um beijo sem machuca-lo. Foram muitos, que contornaram a borda da mandíbula, caminharam úmidos e quentes por seu pescoço, que ele estendia e franqueava aos meus lábios, e que ele recebia com satisfação. Aos poucos ele foi deslizando a mão sadia, enorme e áspera, entre as minhas coxas, contornando as nádegas e penetrando no meu rego, até meter um dedo no meu cuzinho. Ele sentiu como estava molhado com sua porra e, que já estava tão fechado que era preciso forçar para o dedo entrar naquele casulo acolhedor. Enquanto me dedava, ele olhava fixamente nos meus olhos, com um olhar atrevido e devasso, como se depois do que tinha feito, aquele buraquinho tivesse se tornado propriedade sua.
- Quero você mais uma vez, agora! – sussurrou. Desta vez fui eu quem abriu as pernas e sentou em seu colo. Rebolei sentado sobre sua virilha e logo precisei me agarrar a seus ombros para aguentar a pica que começava a entrar em mim. Cavalguei-o até nos satisfazermos. Ele quis me puxar para junto dele ao terminar de gozar, mas deve ter sentido dor no braço direito e desistiu.
- Você precisa ir a um hospital para ver esse punho, veja o tamanho desse inchaço. – afirmei. Ele assentiu com um movimento da cabeça, embora confessasse que queria continuar deitado ali comigo.
Fomos juntos tomar uma ducha. Ele gostou quando o ensaboei, deslizando o sabonete por seu peito e depois o massageando com as pontas dos dedos. Seu olhar se arregalou e ele esboçou um sorriso quando fiz o mesmo com sua genitália. Era tanto carinho como ele nunca tinha recebido. Fiz um café e uma omelete que ele devorou como se não visse comida há dias, antes de sair para chamar um chaveiro que abrisse a porta do apartamento dele. Uma vez que, até então, ele continuava com uma toalha enrolada na cintura. Ele quis pegar sua picape onde o tinham cercado, talvez ainda estivesse lá, se a polícia não a tivesse removido. Por sorte ele tinha chaves reserva dela e podia ele mesmo dirigir até o hospital.
As radiografias mostraram a fratura no punho e foi preciso imobilizar a mão com um gesso que deixou apenas as pontas dos dedos de fora e chegava quase até o cotovelo. Ele recebeu a notícia de que teria que usá-lo por aproximadamente 45 dias, quando deveria voltar para nova avaliação. Ele rosnou alguns impropérios enquanto olhava para o chão e cerrava o punho da mão esquerda. Aquilo significava não trabalhar por todos aqueles dias, talvez até mais, conforme o médico havia dito. No entanto, suas contas não podiam esperar por todo esse tempo. Se não recebesse a pensão dos meninos, Brenda ia informar o advogado que certamente o acionaria junto ao juiz com aquela satisfação de estar ferrando um inimigo. Filhos da puta, quando estiver recuperado, vou rachar a cabeça de cada um daqueles miseráveis, pensou consigo mesmo, o ódio fervendo em suas veias. Só o rosto meigo daquele rapaz, onde seu cacete tinha passado boa parte da madrugada, é que lhe trouxe algum alívio e, ele estava ali, ao seu lado, solidário e prestativo. Era impossível não se apaixonar por ele.
Passei os dois meses seguintes ajudando o Lonnie. Quando não estava na faculdade, estava no apartamento dele dando uma geral na bagunça que estava espalhada por todos os cantos, ou ele estava no meu, filando um café da manhã ou uma janta, pedindo para que eu amarrasse os cadarços dos sapatos e, muitas vezes, com um risinho safado na boca já cicatrizada, que segurasse seu pau enquanto ele mijava. Era só um pretexto para me botar sobre o sofá ou a cama e me foder, uma vez que minha mão macia tocando no seu cacete o excitava até arrepiar toda extensão de sua coluna. Eu estava gostando daquilo, tinha conseguido empurrar meu passado temporariamente para debaixo do tapete como se fosse uma sujeita que quisesse esconder. Lonnie era um homem maduro, ardente, sabia exatamente o que fazer para me satisfazer e a si próprio. Eu achava incrível como ele era capaz de me foder tão mansamente e, ao mesmo tempo, tão vigorosa e intensamente a ponto de arregaçar meu cuzinho e deixar meu baixo ventre se contraindo em movimentos espasmódicos por horas.
- O Lonnie me contou o que aconteceu com ele e como você o ajudou quando o encontrou no corredor e ainda o faz. – disse a Franny, ao nos encontrarmos num final de tarde na mercearia perto de casa.
- Você viu, foi abominável o que fizeram com ele! Os próprios empregados! – exclamei.
- Ele fez uma porção de elogios a você. Eu não sei se teria paciência para cuidar de um homem como ele. Nem a esposa teve. – confessou.
- Não estou cuidando dele! Apenas dando uma força enquanto se recupera. – afirmei, não querendo que ela interpretasse aquilo como uma forma que havia encontrado para me relacionar com um macho. Mas, ela sabia que era isso que estava acontecendo.
Depois de negar alguns convites dela para sairmos, de me retrair e não demonstrar a menor emoção quando ela subiu sua mão pela minha coxa até o pau durante uma sessão de cinema, que aceitei depois de muito relutar, de não ficar com aquele olhar embasbacado que outros rapazes da minha idade esboçavam ao ficar encarando seus seios dentro dos decotes sensuais que costumava usar justamente para isso, ela se convenceu de que meu interesse por mulheres acabava, quando muito, numa amizade. O sonho acalentado, logo que me mudei para o apartamento ao lado do dela, de conseguir conquistar um rapagão jovem e bonito com todo aquele patrimônio que suas roupas caras e seu jeito educado revelavam existir, tinha se esvanecido. E, ela tratou de continuar sua procura em terrenos mais férteis.
Quanto a mim, eu estava contente por ter encontrado alguém com quem conversar mais intimamente e aplacar as necessidades do meu cuzinho impetuoso. O Lonnie também estava feliz como nunca, seu sorriso tinha voltado junto com a esperança de solucionar seus problemas. Tudo se encaixava de forma harmoniosa.
Eu estava precisando de alguns livros, queria estudar em casa para algumas provas difíceis e, os livros da biblioteca eram tão requisitados que havia a necessidade de esperar para consegui-los. Fui procura-los na livraria da universidade. Eu só estivera ali no início do ano letivo, comprando algum material. A chuva que se abateu sobre o campus naquela tarde não dava trégua. A entrada da livraria estava lotada de estudantes que haviam fugido dela e se abrigado no primeiro edifício que encontravam. Fui abrindo caminho por entre a multidão que conversava alto e ria, quando achei que fosse ter uma síncope. Tudo a minha volta se tornou um grande borrão indistinto, exceto uma silhueta que caminhava na minha direção, alta, musculosa, loira, desenvolta e tão espantada quanto eu. Adolf. Meus olhos estavam me pregando uma peça, talvez por que havia dias que voltaram aqueles momentos em Porspoder com ele. A pontada no meu peito foi tão forte, como se eu tivesse recebido um coice, que não conseguia respirar. Senti que ia cair no chão. Mas a silhueta continuava avançando diretamente para mim, sorrindo e incrédula como eu. Os braços começaram a se abrir quando faltavam três passos para o encontro, e se fecharam ao redor do meu corpo no exato instante que em tudo se apagou. Tudo não passou de uma fração de segundos, meu corpo estava sendo sacudido e os olhos se abriram novamente. Adolf estava a centímetros do meu rosto, seu beijo me tocou e eu comecei a chorar. Era mesmo ele, era o cheiro de calêndula entrando nas minhas narinas, era o frêmito do corpo dele reverberando no meu. Ele quase precisou me arrastar até um canto do saguão, longe do tumulto, quando finalmente consegui balbuciar e tocar seu rosto.
- Adolf! – a minha voz se misturava ao choro.
- Marcel! – apesar da voz firme, os olhos estavam marejados e brilhavam como duas estrelas. – Eu não consegui acreditar no que meus olhos estavam vendo quando te vi entrar na livraria. Procurei por você em setembro de 1945, logo que a guerra terminou. Depois, em meados do ano seguinte, pouco antes de vir para cá, voltei a Porspoder e, igualmente, ninguém conseguiu me informar seu paradeiro. Vocês haviam se mudado, foi tudo que obtive como resposta. Desde então andei desiludido, certo de que jamais o encontraria de novo. E, eis que você me surge do nada, quando nem esperava mais por isso. Meu Marcel! Não acredito que você esteja em meus braços novamente! – sua voz ia adquirindo um tom eufórico à medida que falava. Em nenhum momento ele me soltou, as pessoas à nossa volta já estavam reparando em nós.
Ele tinha vindo para os Estados Unidos na mesma época que eu, iniciado a faculdade de administração e estava morando numa das fraternidades do campus da universidade. Por isso, fomos ao meu apartamento. Uma longa conversa, que entrou noite adentro, foi esclarecendo aqueles mais de dois anos de afastamento, de desesperança e solidão mútuas.
Durante o recuo das tropas alemãs, após a invasão da Normandia pelos exércitos aliados, Adolf foi ferido em combate e feito prisioneiro. Transferiram-no para Paris onde ficou até algumas semanas após a assinatura da rendição incondicional pondo fim à guerra. Duas semanas depois estava em Munique reencontrando-se com os pais no que restara de sua cidade destruída e de sua casa. O irmão não teve a mesma sorte, o avião que pilotava foi abatido em combate com as tropas russas que avançavam na Silésia em fevereiro daquele ano. Os aliados quiseram confiscar a empresa do pai, mas desistiram depois que ficou provado que ela havia sido desviada de sua produção original pelos nazistas e, que seu pai nada teve haver com isso. Era por essa razão que ele estava nos Estados Unidos agora, estudando administração, para ajudar o pai a reconstruir o que haviam perdido, e ele desistindo da medicina em nome desse compromisso. Tão logo o trânsito de civis se tornou mais seguro, ele voltou à França a minha procura. Porém, nós já havíamos voltado para Nantes. Ele não sabia que aquela casa em Porspoder era um refúgio litorâneo da família e não nossa residência permanente.
- Fiquei sem chão quando encontrei a casa vazia e, uma vizinha me comunicou que vocês se mudaram. Ela não tinha nenhuma outra informação ou, se as tinha, negou-se a me dizer. Tudo o que passava pela minha mente era aquela discussão que tivemos antes de nos separarmos. Mas, eu não tive outra maneira de te proteger. Se ligassem você ou sua família a mim, vocês estariam correndo sério perigo. Por isso, não dei mais subsídios que te permitisse me encontrar, eu temia que você viesse atrás de mim. Como, aliás, você fez retornando para aquele apartamento em Brest, contrariando minhas ordens.
- Eu precisava saber se você estava bem, se estava vivo. O avanço dos aliados sobre o território francês foi tão brutal que eu temi por sua vida. – afirmei, justificando minha atitude. – Eu fiquei achando que tinha sido apenas um passatempo para você, enquanto estava longe de casa e naquelas condições. – acrescentei, num quase sussurro envergonhado, pois agora conseguia enxergar que ele nada mais fez do que me proteger.
- Eu não podia fazer nada por você. Não podia te dar esperanças, pois não sabia se sairia vivo da Guerra. Não podia te levar comigo, mesmo porque, para onde? Não podia te prometer nada, pois aqueles eram dias onde apenas o presente contava, todos que pensavam no futuro não sabiam se estariam vivos no dia seguinte. O que você queria que eu fizesse? A única coisa a fazer era deixa-lo ali, relativamente seguro, e torcer para que estivesse lá quando, e se, eu conseguisse voltar algum dia. Foi isso que eu fiz. Uma vez que, agora sim, eu podia falar em um futuro para nós dois. Eu podia, enfim, pronunciar as palavras que guardava no meu peito desde o dia em que te conheci. Eu podia dizer, eu te amo. – afirmou convicto, deixando as lágrimas verterem profusas enquanto me tomava em seus braços.
- Amo você Marcel! Amo e preciso de você. Nunca mais fuja de mim. – disse ele, beijando-me com uma voracidade primitiva.
- Eu nunca esqueci você, meu amor. A vida perdeu o sentido quando você partiu. Tudo que fiz nesse período foi uma tentativa para continuar vivendo, mas as emoções e os sentimentos novos nunca conseguiram me trazer a paz que eu procurava. – afirmei, retribuindo cada um de seus beijos.
Não nos demos conta das horas passando. Havia tanto a dizer, havia tanto a perguntar, havia um buraco a ser preenchido em nossas vidas. Aos poucos aquela proximidade, abraçados no sofá, não conseguia mais suportar o furor que se implantou em nossos corpos. Eles precisavam se tornar um só, para que nosso reencontro se tornasse uma realidade. Nossos olhares brilhavam denunciando o desejo de união. Adolf começou a me despir ali mesmo, tocando cada parte do meu corpo como se verificando se tudo estava exatamente com ele havia gravado em sua mente. Eu fiz o mesmo quando desabotoei sua camisa. No entanto, quando vi aquela depressão escura na altura de sua clavícula esquerda, num formato pouco maior do que uma moeda de cinquenta centavos de dólar encimada por uma incisão de 10 centímetros, enquanto na omoplata havia uma cicatriz circular com mais de um palmo de diâmetro, e a ponta dos meus dedos tocou a cicatriz, comecei a chorar. Por uma fração de segundos aquilo me fez ver, num relance, que ele podia não estar vivo naquele momento. E, eu senti uma angustia tão forte que só pude agradecer aos céus por ele estar ali diante de mim, ardendo de desejo, são e salvo, inteiro como eu sempre o desejei.
- Ei, ei! Não vai dar uma de chorão agora, não é? Eu estou aqui, não estou? – disse ele, adivinhando o que se passava na minha cabeça.
- Eu nunca suportei a ideia de viver sem você ao meu lado. – exclamei, enquanto ele secava minhas lágrimas com o polegar.
- Eu vou te mostrar o quão vivo eu estou. – murmurou, pegando-me no colo e seguindo na direção da porta aberta do quarto.
Se havia algo único que o Adolf sabia fazer era me levar à submissão, fazendo-me experimentar o poder de seu corpo. Toda vez que ele se deitava sobre mim, como estava fazendo agora, ele me fazia sentir seguro e desejado. Ele me fazia sentir seu ardor, a essência de seu cheiro viril e, a consistência de sua rola rija. Eu acariciei seu torso nu, enquanto ele afastava minhas pernas com seu joelho abrindo minhas nádegas. Ele pegou uma das minhas mãos, beijou-a e a levou sobre sua ereção, fazendo-me sentir sua higidez e o poder de sua masculinidade. Lentamente ele foi alojando sua verga entre os meus glúteos, esfregando-a no meu reguinho, e me fazendo sentir seu calor e sua rigidez sobre e, ao redor do meu ânus e períneo, com movimentos de vaivém num ritmo ondulatório e sensual. Eu gemia, meu corpo tremia de tesão, meu cuzinho queria devorar aquele cacetão. Ele me encarava sabendo exatamente o que aquilo estava provocando em mim. Ele sorriu quando pedi suplicando que ele entrasse em mim.
- Primeiro quero que me chupe. – disse ele, postando-se ajoelhado sobre o colchão bem rente ao meu rosto.
- Eu chupo! Faço tudo que você quiser. Preciso de você. – balbuciei, antes de segurar aquela jeba pesada numa das mãos e colocar a glande úmida na boca.
- Você precisa voltar a se lembrar do cheiro e do sabor do seu macho. – grunhiu ele, excitado e deixando o pré-gozo fluir em abundância na minha boca.
- Nem que mil anos se passassem eu me esqueceria deles! Eu te amo Adolf! – exclamei, com a voz embotada pelo cacetão que estava a sugar, ao mesmo tempo em que erguia meu rosto para ver sua reação.
- Ah, Marcel! Você tem a capacidade de me enlouquecer! Quantas noites não sonhei com você, como está agora, chupando minha pica com esses lábios habilidosos e suaves? Quantas vezes não lambuzei e engomei as cuecas, com os fluidos que saíam da minha rola, assim que pensava em você? Quantas vezes meu coração não quis sair pela boca quando me recordava de suas juras de amor? – murmurou, acariciando meu rosto enquanto eu lambia seu sacão.
Ele foi metendo em mim devagarinho, nós nos encarávamos, eu me agarrava aos ombros dele e me abria. Nesse momento, percebi que na verdade, nunca tinha me aberto com nenhum dos outros, que eles entraram em mim, mas sem essa comunhão que acontecia com o Adolf. Descobri, naquele instante, que havia uma diferença entre entregar-se e abrir-se para um macho. A pica gigantesca entrava em mim e me preenchia, seu olhar doce pairando diante do meu rosto com um sorriso cheio de amor, as lágrimas descendo pelos cantos dos meus olhos, eu fazendo força para não perder aquela imagem. Eu tinha meu Adolf de volta, eu tinha meu amor de volta e havia reencontrado a razão de viver e a felicidade, tudo que aquele homem mergulhando em mim significava.
Decidimos que não fazia sentido continuarmos morando separados, que já havíamos perdido tempo demais afastados pela guerra e pelo desencontro. Pouco mais de uma semana depois, ele se mudava para o meu apartamento. Ele já havia pensado em sair da fraternidade antes. O pós-guerra nos Estados Unidos não foi um período propriamente acolhedor para os alemães. Adolf não gostava do clima na fraternidade, sentia que o tratavam como se ele fosse uma raposa dentro de um galinheiro. Ademais, o país estava começando a viver uma onda sem precedentes de soberba, arrogância e pretensa superioridade, reivindicando para si a fama de únicos responsáveis pela derrota do eixo e da vitória no Pacífico. Embora a difícil readaptação dos que tinham lutado na guerra à vida civil estivesse presente em cada esquina do país, a mídia e, logo depois, a indústria cinematográfica em franca expansão, retratava-os como heróis que nunca foram.
Eu tinha conversado com o Lonnie, contando-lhe o passado que ele desconhecia e o que o Adolf significava na minha vida. Ele foi compreensivo, mas não estava propriamente satisfeito em perder aquele carinho e afeto que eu lhe dedicava e, que o estava fazendo reerguer-se.
- Confesso que sempre percebi que não conseguia te satisfazer plenamente, que havia um buraco em sua alma que homem algum conseguiria preencher. – revelou ele, quando disse que o Adolf viria morar comigo e que nossos encontros amorosos não poderiam continuar.
- Você é um homem maravilhoso! Se não enlouqueci de solidão todos esses meses foi por que você estava ao meu lado. – retruquei, como se estivesse agradecendo aqueles momentos ardentes que tive com ele.
- Você cuidou muito mais de mim do que eu de você. Transformou-me num novo homem, me fez ver que minha esposa nunca esteve a minha altura, quando eu achava justamente o contrário. Deu-me forças para encarar a batalha judicial que vai me devolver a oportunidade de conviver com os meus filhos. Você foi meu grande e doce anjo durante todo esse tempo. – afirmou ele, tomando-me em seus braços e me beijando não mais com aquele tesão prestes a entrar em mim com seu falo enorme, mas com a ternura de uma gratidão sem tamanho.
Justamente nesse momento o Adolf irrompeu na porta com os braços carregados de suas coisas, iniciando a mudança que havíamos planejado. Sua fisionomia se transformou quando me viu deslizando a mão pelo rosto do Lonnie. Carrancudo, rosnou um cumprimento em resposta ao do Lonnie, fingindo não ver a mão que ele havia lhe estendido. Constrangido, fui até o quarto onde havia deixado algumas peças de roupa do Lonnie que haviam ficado espalhadas pelo apartamento. Não foi para as três camisas passadas e limpas nos cabides que o Adolf esticou seu olhar repreensivo, mas para as camisetas e cuecas dobradas com perfeição que estavam na minha outra mão. Ao transpor a porta após se despedir, o Lonnie arrependeu-se de ter demorado tantos dias para vir buscar suas coisas.
- Vejo que seu vizinho não era um simples vizinho. Com tanta roupa íntima em seu apartamento eu imagino que você tenha prestado bons serviços a esse sujeito. Ele topou abrir mão de você, assim, numa boa? Ou será que espera por visitas suas ao apartamento dele? – Adolf estava furioso. Seus olhos estavam injetados e sua voz seca e acusatória me feria como um punhal.
- Você está sendo grosseiro Adolf! Nós ficamos separados por mais de dois anos, sem nenhuma perspectiva de nos reencontrarmos. Embora eu não tivesse nenhuma notícia sua, nem sequer sabia se estava vivo, me sentia um adultero. Era como se eu estivesse cometendo um crime, uma traição a sua memória. Em nenhum momento e, por ninguém, senti o amor que sentia por você, mas mesmo assim achava que estava sendo infiel. Infiel a que, eu me pergunto? – eu já estava chorando quando terminei de falar, por que não suportava a ideia de que tinha traído o Adolf, mesmo não sabendo se algum dia o viria outra vez.
- Esse sempre foi o meu maior medo. No dia em que nos despedimos em Porspoder, eu sabia que você seria assediado e, eu não estaria lá para lutar pelo que é meu. Sabia que esse seu jeitinho doce, esse oceano de carinho que você têm a oferecer e, esse seu corpo gostoso logo despertariam a cobiça de um macho. Isso me atormentava quase todas as noites, pois eu me perguntava, nos braços de quem ele está agora entregando o amor que é só meu? – ele dizia isso com a dor estampada no semblante carregado.
- Eu tentava apenas sobreviver sem você. Não quero que pairem questões não resolvidas entre nós, por isso vou te dizer que o Lonnie não foi o único em quem procurei encontrar parte do que você significa para mim. – mesmo ele me encarando com a cara amarrada, achei que era o momento de deixar tudo em pratos limpos. – Lembra-se do Junot, aquele colega do colégio, que te encarava como se fosse um ímpio profanando um santuário? Não me lembro de como aconteceu, eu juro, só sei que um dia ele estava dentro de mim e, que eu não tinha forças para lutar. Há o Mike, um grande e estimado amigo que a muito custo conseguiu quebrar a redoma que eu construí ao meu redor tentando me blindar do sofrimento da sua ausência. Ele estuda comigo e ... – estava sendo difícil enumerar essas confissões, eu me sentia uma puta.
- e come o seu rabo entre uma aula e outra. É isso que você não consegue dizer. – sua voz voltou a ficar seca e rude.
- Aconteceu algumas vezes, mas nunca mais aconteceu depois que ... bem, depois que eu ajudei o Lonnie. Adolf, eu não sou um depravado, não sou uma puta! – comecei a soluçar, pois era assim que me sentia nesse momento. Ele saiu e bateu a porta, sem me dar a chance de pedir perdão.
Era uma sexta-feira, eu já havia perdido as aulas da manhã por conta da mudança do Adolf para o apartamento. Fazia mais de duas horas e meia que ele tinha passado furioso e revoltado pela porta, e não regressado. Tínhamos planejado seguir até Boylston às margens da represa de Wachusett a 80 quilômetros de Boston para passar o fim de semana numa cabana à beira do lago, no final daquela tarde, com a picape que o Adolf tinha alugado para fazer a sua mudança. Passava das duas da tarde quando não suportei mais a espera. Fui até a fraternidade atrás dele, era ridículo brigarmos agora que nos reencontramos. Ele não estava lá. Um estudante me disse que ele tinha colocado suas coisas numa picape e seguido com o Tommy até a fraternidade onde ele morava. Quem é Tommy? O estudante não conseguiu me explicar, ou não quis falar no assunto. Indicou-me a fraternidade onde ele morava, mas me preveniu que talvez estivesse em aula. Estaria eu sendo invasivo e bisbilhoteiro se fosse atrás desse Tommy? É estranho como basta uma informação sobre quem amamos e que desconhecemos para nossa imaginação colocar minhocas em nossa cabeça. A Gallatin Hall é uma construção no estilo georgiano renovado implantada num extenso gramado a oeste do edifício da faculdade de administração e, naquela hora do dia, o movimento de estudantes circulando no grande saguão de confraternização era pequeno. O primeiro estudante com o qual cruzei não soube me dizer quem era o Tommy, nem os dois seguintes que saíam apressados para algum compromisso. Finalmente, um me indicou o andar, embora não soubesse em que quarto ele morava. Subi as escadarias ainda achando que devia dar meia volta e esperar pelo Adolf em casa. Mas, uma porta se abriu assim que cheguei ao fim do patamar.
- A última porta à direita no fim do corredor. – apontou o rapaz musculoso, com um uniforme e um taco de rugby debaixo do braço, que saiu por ela. Ele olhou para a minha bunda descaradamente quando me viu seguindo na direção indicada por ele.
Quando me preparava para bater com os nós dos dedos na porta, ela se abriu ligeiramente com uma aragem que passou pelo corredor, pois estava mal encaixada na fechadura. Imediatamente, uma voz queixosa e lamuriosa se fez ouvir saindo de algum lugar lá de dentro. Eu não podia ver as pessoas, mas logo reconheci a voz do Adolf. A voz queixosa falava de abandono, de falta de consideração, questionava o interlocutor sobre o amor que nunca lhe tinha declarado, acusava-o de valer-se de uma fase de dúvida sobre sua sexualidade e, algumas outras coisas que as palavras pronunciadas com menos impetuosidade não me permitiram distinguir. A voz do Adolf era nítida e firme, rebatia as acusações e se justificava, alegava que também ele estava vivendo um momento conturbado da vida e tinha tomado decisões equivocadas, pelas quais pedia mais uma vez perdão. Eu estava tremendo, minhas pernas não conseguiam me obedecer e voltar pelo mesmo caminho que tinham vindo. Meus ouvidos estavam tão focados na conversa que não percebi que alguém atrás de mim empurrou a porta e passou pelo vão ao mesmo tempo em que questionava minha presença ali. Um rapaz de compleição esguia, rosto delicado, cabelos ligeiramente longos estava pendurado no pescoço do Adolf como se ele fosse o tronco de uma árvore. Quando me viu, Adolf afastou os braços do rapaz de seu pescoço e os segurou firmemente contra seu corpo. A expressão no rosto do rapaz mudou instantaneamente, de suplicante e chorosa para desconfiada e recriminatória, assim que me viu parado feito uma estátua estarrecida. Imediatamente, ele soube quem eu era. Eu precisei sair dali correndo. Nem sei como cheguei à rua, um vento frio soprava as folhas dos cedros e plátanos que cercavam o edifício. O ar gelado entrava nos meus pulmões e aumentava o tremor do meu corpo. Por que saber que o Adolf tinha se envolvido com alguém estava me deixando tão abalado? Afinal, eu também havia procurado por alguma coisa perdida, um consolo, na companhia de outras pessoas. Não, não é bem isso. À medida que me afastava dali, daquela cena, a caminho de casa, meus pensamentos começaram a se aclarar. Do que eu realmente estava com medo, era de que o Adolf sentisse mais amor por esse tal de Tommy que, afinal era um cara muito atraente e bonito, do que tinha sentido por mim. Seria infantilidade minha? Eu já sabia que, tanto na guerra, quanto no amor, as regras não obedeciam a princípios preestabelecidos, tudo era válido, tudo era justificável, tudo se fazia, mesmo que a ética, o direito, o justo não fossem respeitados. E, era desses meandros obscuros e do que acontecia neles que residiam os meus temores.
Adolf destrancou a porta do apartamento com sua chave cerca de vinte minutos depois de eu haver chegado e me sentado num canto do sofá com as pernas encolhidas sobre o assento, tentando digerir os acontecimentos daquele dia tumultuado. Ele veio diretamente a mim, sentou-se ao meu lado, mas hesitou em finalizar o movimento que seus braços fizeram para me abraçar, contendo-se no meio do caminho.
- Eu já havia terminado com o Tommy no dia seguinte ao nosso reencontro na livraria. O termo não é bem terminado, pois nunca houve nada entre nós além de sexo casual. É isso que você precisa entender. Logo que cheguei aos Estados Unidos, comecei a sair com uma garota, eu precisava aliviar a pressão que sentia aqui. – começou relatando, ao colocar a mão sobre o volume opulento entre as coxas. – Tommy é primo dela. Quando o vi pela primeira vez, enxerguei nele a mesma necessidade de proteção, a mesma facilidade de doar seu carinho e afeto, a mesma pureza e ingenuidade de espírito que há em você. Se fui leviano com alguém, foi com essa garota. Na primeira oportunidade que surgiu, eu precisei constatar se o Tommy tinha a me oferecer aquilo que você sempre me ofereceu. E, tinha. À exceção de uma coisa, amor. No fundo eu sabia que não havia amor nem da minha parte nem da dele. O que havia, era uma atração física intensa, ambos reconhecíamos no outro, qualidades que havíamos perdido, ele com um ex-namorado, e eu com você. Naquele momento em que você nos viu juntos, ele estava desesperadamente me dissuadindo a mudar minha decisão de não nos encontrarmos mais. – concluiu.
- Eu estava fazendo o mesmo com o Lonnie, mas você não quis me ouvir. – afirmei, erguendo meu rosto para encará-lo.
- Somos dois estúpidos! – ele e eu pronunciamos a frase ao mesmo tempo e, ao mesmo tempo começamos a rir. Ele avançou sobre mim e nos beijamos, demorada e devassamente.
- Nossa primeira briga! – disse ele, depois de tirar sua língua da minha boca.
- Nossa primeira briga! – repeti, acariciando seu rosto. Fizemos amor desajeitadamente em cima daquele sofá, quando ele tirou o caralhão amolecido do meu cuzinho esfolado, uma lua em quarto crescente estacionada diante da janela da sala parecia uma espectadora de nossa reconciliação.
- Acho que precisamos brigar mais vezes. – disse ele, com um sorriso malicioso.
- Eu vou amar se todas elas terminarem assim. – retruquei. Voltamos a nos beijar. Com os corações mais leves e, na certeza daquilo que sentíamos um pelo outro, viajamos até Boylston, para passar o fim de semana. Na cabana à beira do lago ficamos revezando entre conversas sobre o tempo em que estivemos afastados e, tórridas protagonizações sexuais.
Meus pais nos aguardavam no aeroporto naquela manhã de julho de 1951 e, de sol raro em Paris, quando o Lockheed Constellation da TWA vindo de Nova Iorque aterrissou na pista. Havia cinco anos que eu não os via. Meu pai tinha envelhecido, suas têmporas estavam entremeadas por uma porção de fios de cabelo branco, dos quais eu não me recordava de estarem ali quando embarquei para os Estados Unidos. Minha mãe pouco havia mudado, talvez uns vincos mais profundos nos cantos dos olhos. Meu pai foi o primeiro a me apertar em seus braços, o fato de eu haver crescido longe de suas vistas enquanto esteve na prisão, fez com que nossa afeição um pelo outro aumentasse muito. Minha mãe foi mais comedida em sua receptividade, especialmente por que atrás do meu ombro onde ela havia apoiado a cabeça depois de me beijar, estava o Adolf. Havíamos terminado nossos cursos na universidade e regressamos para uma Europa muito diferente da que havíamos deixado cinco anos atrás. Além do clima dinâmico refletido nos semblantes das pessoas, tudo estava em reconstrução. Isso ficou mais evidente depois de termos passado aquela noite em Paris e, no dia seguinte, viajado para nossa casa em Nantes. Eu queria passar o verão com meus pais e minha família; por isso, dois dias depois, viajamos até nossa casa de veraneio em Porspoder. Eu também queria contar a eles que Adolf não era apenas um amigo que reencontrei, por acaso, na mesma universidade.
- Eu e o Adolf nos amamos e decidimos viver juntos! – a afirmação reveladora veio após uma observação do meu irmão quanto ao tempo que ele e eu havíamos morado juntos em Boston. A mesa do jantar mergulhou num silêncio constrangedor. – Sei que pode parecer estranho para vocês que dois homens se amem, mas é exatamente isso que sentimos um pelo outro. E, esse amor nasceu aqui, mais precisamente, ali. – apontei pelas janelas da sala de jantar que davam vista para o farol du Four.
- Você faz ideia dos problemas que vão enfrentar quando as pessoas souberem disso? – a voz do meu pai soou tranquila, como se a revelação não o tivesse abalado, provavelmente devido às notícias que eu enviara por carta ao longo dos anos de faculdade e, aonde nem uma única veio sem que houvesse uma porção de alusões ao Adolf.
- Nosso amor está enfrentando problemas desde a guerra, Monsieur Leroux. Temos conseguido fortalece-lo esse tempo todo, mas compreendo sua preocupação. E me sinto lisonjeado com ela. – afirmou o Adolf. Minha mãe baixou o olhar por uns instantes, ciente de que havia contribuído para esses problemas aos quais o Adolf se referia.
A ponderação racional do Adolf parece ter conquistado meu pai, pois ele assentiu e nos desejou boa sorte. Porém, o silêncio da minha mãe foi mais revelador do que as palavras que deixou de pronunciar. Era evidente que ela não estava de pleno acordo com esse romance.
- Pode não ter sido isso que você esperava para o meu futuro, mãe. Mas, eu sei o que sinto pelo Adolf e o que ele sente por mim, eu estaria jogando fora a minha felicidade e a dele se não assumíssemos e vivêssemos nosso amor. Nós tivemos uma prova disso quando achávamos que tínhamos nos perdido um do outro. Foram os piores anos da minha vida. – afirmei. Ela me sorriu, embora eu soubesse que talvez levaria anos para ela se convencer das minhas palavras.
- A vida é de vocês. Terão que conviver com as dificuldades e com as consequências de suas escolhas. – disse ela, mais motivada pelo olhar inquisitivo do meu pai do que por suas convicções.
Meus irmãos foram menos questionadores, tanto quanto eu, eles sabiam que a guerra havia derrubado muitos conceitos e, que a vida doravante seria diferente para as gerações seguintes.
Passamos todo o verão na costa da Bretanha, aonde as famílias agora vinham desfrutar do ar marinho e dos dias ensolarados sem o fantasma de uma guerra pairando no ar. Ao final do verão viajamos para Munique, onde os pais do Adolf aguardavam ansiosos a volta do filho. Não consegui conter as lágrimas quando ele os abraçou ao mesmo tempo. Ambos choravam, pois o retorno dele significava muito para aquela família pequena. Eles conheciam a dor de um filho nunca mais regressar ao lar. Adolf era tudo que havia restado na vida deles. Quando a mãe dele veio me abraçar, chorava como uma criança, tocou meu rosto com suas mãos trêmulas e me desejou boas vindas. Quando meu olhar encontrou seus olhos azuis úmidos eu percebi que ela me aceitava como um presente que lhe fora enviado pelos céus para recompensar a dolorosa perda que sofrera. O fato de havermos decidido viver com eles foi o motivo que os fez voltar a ter esperança na vida.
Adolf foi paulatinamente assumindo o controle da empresa do pai. Os dois estavam mais próximos um do outro do nunca. O pai se encantava com o entusiasmo e as propostas que o Adolf fazia para a expansão do negócio. Pouco antes do Natal de 1952, a casa que o Adolf e eu estávamos construindo em Inning, próxima ao lago Ammersee, cerca de 38 quilômetros a oeste de Munique tinha ficado pronta. É um chalé assobradado implantado num terreno de 2.300 metros quadrados que margeia o lago, que nos foi presenteado pelos pais dele. Eles estavam tão orgulhosos quanto nós ao visitarmos a obra poucos dias antes de nos mudarmos para lá. Eu estava radiante, não só pelo fato de ser a primeira obra que concretizava no meu inicio de carreira como engenheiro, mas porque aquela casa era o símbolo concreto do nosso amor. Os pais dele passaram aquele Natal conosco, e os meus se juntaram a nós no Ano Novo. Foi a oportunidade que encontramos para unir as famílias.
As janelas do nosso quarto, que davam para o lago, estavam circundadas por uma camada de neve muito branca e limpa que caíra durante toda a noite. Era a nossa primeira semana sozinhos, depois da partida de nossos pais, e eu quis me espreguiçar na cama. Assim que estiquei os braços, o Adolf circundou meu corpo com seu braço musculoso, impedindo que eu me afastasse dele e sua pica escorregasse para fora do meu cuzinho.
- Aonde pensa que vai? – grunhiu ele, ainda sonolento.
- A lugar algum, estava só me espreguiçando. – respondi.
- A partir de hoje vou instituir um pedágio antes de cada vez que você sair da cama pela manhã. – ronronou ele, agora mais desperto.
- Ah é! E que pedágio é esse? – perguntei com um sorriso provocante no rosto sonolento.
- Como sempre acordo de pau duro de manhã, você fica encarregado de cuidar dele. – retrucou safado.
- Não me diga! E o que você sugere que eu faça? – provoquei.
- Pode começar por isso aqui. – respondeu ele, dando-me uma encoxada que fez penetrar toda a parte do caralhão dele que havia saído do meu cuzinho. Eu gani quando ele me preencheu com sua plenitude máscula.
Eu puxei seu braço e fiz seu rosto se aproximar do meu, o suficiente para que, girando o rosto na direção dele, conseguisse alcançar sua boca. Beijei-o sensual e carinhosamente, apertando seu cacete entre minha musculatura anal, rítmica e progressivamente, até sentir seu sumo viril inundando meu cu e extravasando no meu reguinho. Nossos corações batiam na mesma cadência, eles também tinham aprendido a se tornar um só, e a partilhar o mesmo sentimento que os unia.
- Eu já te disse o quanto te amo? – perguntou ele. Meu beijo foi a resposta.