+Link da conta antiga com meus contos anteriores.
+
https://www.casadoscontos.com.br/perfil/215222
+
+
Cheguei no prédio e o Matteo me esperava na portaria. Ele me deu sua bengala e uma corda. Ofereci meu braço e o guiei até meu carro que estava estacionado no outro lado da rua. Seu sorriso me fez feliz, e por alguns segundos imaginei que ele também estaria feliz ao me ver, mas descartei a ideia na hora; ele poderia estar feliz sim, mas não do jeito que eu queria. Parei de alimentar ideias no meu coração. Dei a volta dando a partida e perguntei o porquê da corda e ele me explicou que eu o guiaria com ela na caminhada e corrida. Lembrei de ter visto na Tv uma vez.
Perguntei se tinha dormido bem e me disse ter demorado um pouco a pegar no sono.
ㅡ eu apaguei assim que cheguei. Por isso não vi sua mensagem.
ㅡ talvez por isso demorei a dormir. Fiquei esperando você responder e perdi o sono.
ㅡ desculpa, não fiz de propósito. Se eu tivesse visto, tinha te respondido na hora...você é prioridade máxima na minha lista de contatos, bonitão.
ㅡ nossa! Assim eu me sinto importante kkkkk.
ㅡ mas você é importante, até demais. Você é um amigo e tanto.
ㅡ rsrs, você tambem. Quer tomar café comigo depois? ㅡ fiquei pensando se estava sendo sincero demais, mas eu não conseguia me controlar, ninguém mandou ele ser lindo.
ㅡ claro. Vi sua mensagem e engoli um suco bem rápido, estou faminto. Porque se atrasou?
ㅡ eu não encontrava meu tênis de corrida. Minha diarista deve ter pego pra limpar e esqueceu de por no lugar. Aí tive que pegar esse de uns sete anos atrás. Tem até um furinho o pobrezinho.
ㅡ rsrs, se tivesse me falado, eu teria procurado pra você.
ㅡ ah não, a gente ia se atrasar ainda mais.
O pessoal já estava chegando e alguns indo embora. Fizemos um breve aquecimento e coloquei sua bengala no meu bolso. Dei a corda a ele e segurei a outra ponta. O tempo começou a mudar e nuvens apareceram não sei de onde. O vento batia leve e eu assistia seus cabelos balançarem. Pedi que parasse de caminhar e pedindo licença, tirei seus óculos. Ele ficou curioso querendo saber o que eu estava fazendo.
Limpei as lentes com minha camiseta e disse que colocaria de volta. Ele ficou parado e ajustei o óculos em seu rosto.
ㅡ pronto!
ㅡ o quê você fez?
ㅡ só limpei as lentes. Agora não se vê mais as manchas dos seus dedos.
ㅡ rsrs, por isso estava me encarando?
ㅡ eu te encarando? Quem te disse isso kkkkk?
ㅡ todas as vezes que você vira a cabeça na minha direção, quase não sinto o vento bater no meu rosto.
ㅡ minha nossa, dá pra fingir que você não percebe certas coisas? ㅡ fiquei sem graça e ele começou a rir.
ㅡ hahaha, se for pra te deixar menos constrangido, eu finjo não perceber.
ㅡ ah que beleza, não te admiro mais. ㅡ um breve silêncio e ele começou a rir.
ㅡ você é muito bobo.
ㅡ pelo menos eu te divirto, rsrs.
Continuamos a caminhada e corremos um pouco. Eu tentava guia-lo na corrida e ele tentava não rir da minha falta de prática. Alguns minutos depois e eu já estava quase um profissional e pronto pra correr uma maratona com ele se fosse preciso. Ele pouco conversava, estava concentradíssimo e eu tentando não "cantar" o homem que estava me tirando o fôlego, o chão e atormentando meu coração.
Paramos e lhe ofereci um copo de água. Ele se sentou na arquibancada e trouxe a água pra ele. Me sentei no degrau de cima e ele pediu para me sentar ao seu lado.
ㅡ está ventando e fica horrível te ouvir. ㅡ ele disse e eu ajeitei seu cabelo.
ㅡ pronto, estou aqui. Quer mais água?
ㅡ não, bebi demais. Obrigado.
Vi um grupo de garotas vindo e uma delas veio sorrindo em nossa direção. Percebi que o Matteo prestava atenção na tagarelice feminina e sorriu de volta quando a moça o chamou pelo nome. Ele nos apresentou e me pedindo desculpas, ela disse que "roubaria" o Matteo por instantes e o levou.
Me sentei na novamente e fiquei esperando que voltassem. Vinte minutos se passaram e resolvi caminhar pelo ginásio.
Eu estava perto das piscinas e havia uma pilastra logo à frente. Caminhei em direção a mesma e de longe vi a moça escorada na parede e o Matteo de frente pra ela. Estavam conversando e ela parecia feliz. Feliz demais pro meu gosto. Ele coçou a cabeça e ela se aproximou o beijando. Saí rápido de onde eu estava e voltei a me sentar nas escadas. Meu corpo tremia, minhas mãos suavam e não pude conter as lágrimas. Eles voltaram minutos depois e minha vontade era de desaparecer. A moça estava radiante e eu mortificado. Ela se depediu de mim dizendo que estava atrasada e que era pra eu cuidar bem "desse cara maravilhoso". Antes de ir, selou os lábios do Matteo com os seus e se foi sorrindo, me deixando completamente destruído.
Continuei sentado com o Matteo em pé na minha frente. Uma nuvem escura corria o céu dizendo que iria chover logo e ele ouviu os trovões.
ㅡ acho melhor a gente ir, parece que vai chover. ㅡ disse e ele ficou em silêncio por alguns segundos.
ㅡ vamos tomar café aonde? ㅡ eu estava com o coração partido e secando minhas lágrimas.
ㅡ acho melhor eu ir pra casa, Matteo. Se importa?
ㅡ não, imagina.
Me levantei e ele pediu a bengala. Tirei do meu bolso e entreguei a ele. Fomos até meu carro em silêncio e o ajudei a entrar.
Eu não poderia deixar ele perceber que estava chateado, mas ele já tinha se dado conta e quebrou o silêncio.
ㅡ me perdoa por eu não te oferecer mais do que minha amizade. ㅡ respirei fundo.
ㅡ você não precisa me pedir perdão. Já conversamos sobre isso e aceitei com prazer ser pra você um amigo a quem você possa dividir seu tempo e não mais que isso. A vida tem dessas coisas. Nem sempre a gente se apaixona e é correspondido.
Ele abaixou a cabeça e continuei dirigindo. O ajudei a atravessar a rua e deixei ele na portaria do prédio. Um abraço foi dado e quando nossos peitos se tocaram, perdi o rumo da minha vida e ele teve a certeza que eu estava magoado. Esfreguei meu nariz empapado em lágrimas em seu ombro e o abracei forte. Suas mãos carinhosas tentavam consolar o cara que ele acabara de partir o coração. Sai daquele abraço e ele sentiu seu ombro molhando quando o tocou.
ㅡ Vini...
ㅡ eu já vou indo. Se cuida.
ㅡ espera...
Fui pro meu carro e me afundei em um choro profundo. Me esqueci do tempo e de onde estava. Aquele homem havia me dado e tirado tudo de mim ao mesmo tempo. Eu sabia que não deveria criar expectativas, mas não imaginava perder ele tão depressa. Quinze minutos preso no automóvel e estava me sentindo sufocado. O volante era testemunha da minha dor. Eu não queria ter visto o quê vi, duas vezes.
Coloquei minha mão trêmula na chave e dei a partida.
Me tranquei no meu quarto.
Minha irmã me ligou mais de cem vezes e meu cunhado bateu na porta da minha casa o dia todo. Meu pai me ligou, minha madrasta me mandou mensagem pedindo pra eu responder apenas se estava bem.
ㅡ estou bem. Só quero ficar sozinho!
Depois que respondi a Laura, ninguém mais me imcomodou.
Fiquei em casa durante toda a semana e não entrei em contato com ninguém.
Eu não via a hora das férias acabar e voltar a trabalhar.
Me dei um tempo sozinho nesse meio tempo e peguei meu carro indo em direção as trilhas. Subi o Morro do Remanso e fiquei por lá. Armei uma barraca, li bons livros, escutei boa música e chorei sozinho.
Era noite quando parei meu caro no outro lado da rua e vi o Valter na frente de casa. Desci e ele veio na minha direção de braços abertos. Me afundei nele e meu cunhado me levou pra dentro. Me fez café fresco e sentou ao meu lado.
ㅡ ah seu viado, porque me matar tanto assim de preocupação? Uma semana sem falar com a gente.
ㅡ faço isso pra te irritar. Adoro.
ㅡ eu sei disso. Tem algo que quer me contar?
ㅡ não...porquê?
ㅡ tem certeza?
ㅡ você viu o Matteo essa semana?
ㅡ a semana toda trabalhamos juntos na marcenaria depois do expediente. E acho que ele estava mais preocupado contigo do que todo mundo. Todos os dias me perguntava se você estava bem. Eu não sou bobo, Vini. O que está rolando com vocês?
ㅡ não está rolando nada e nunca rolou. Também nunca forcei nada pra que alguma coisa rolasse. Aceitei de coração aberto a amizade dele, Valter, mas o cara esfregou uma paquera dele na minha cara, sabendo que eu tinha sentimentos por ele. Sei que não foi de propósito, mas ele poderia ter evitado o primeiro beijo na kenga pra ela não ter abertura de se despedir dele com um selinho bem na minha frente. Ele nem ao menos pensou nisso. Poxa, saímos pra caminhar só nós dois e o cara sai pra conversar e volta namorando bem debaixo do meu nariz.
ㅡ sabia que você ia acabar se magoando. Desde aquele dia na loja que vi vocês juntos, percebi que ia dar nisso.
ㅡ passei uma cantada no cara que me fez perder o rumo...
ㅡ você não fez isso? Não é sua cara fazer esse tipo de coisa.
ㅡ fiz, mas foi tão espontâneo e verdadeiro que na hora saiu sem eu perceber. A gente conversou depois e pedi desculpas, mas ele podia ter me cortado logo de cara e não falar mais comigo. Entende?
ㅡ mas não fez.
ㅡ burrice minha ter continuado na dele, mesmo como amigos...
ㅡ burrice total. Você já sabe que não dá certo...você mesmo vivia me falando isso.
Ele me abraçou e fiquei em silêncio por um bom tempo. Peguei meu celular e coloquei carregar. Eu havia desligado e tinha zilhões de mensagens, inclusive do Matteo.
" sei que está puto comigo e com raiva por eu ter permitido àquele beijo na tua frente, mas juro que nunca foi minha inteção te magoar. Também fui pego de surpresa. Eu nem deveria ter ido falar com ela e te deixar sozinho.
Respeito o quê sente por mim e sim, eu sei que é sincero e verdadeiro. Me perdoe. Quando ver essa mensagem, me deixe ao menos saber se está bem e vou enterder se não quiser mais olhar na minha cara, mas preciso falar contigo, nem se for pela última vez."
Pedi ao Valter que me deixasse sozinho. Queria decidir o que faria em relação a tudo.
ㅡ vai lá pra casa depois. Tua irmã está preocupada contigo.
ㅡ amo vocês, mas não estou afim de sair. Pode ir tranquilo. Diz pra Penny que estou bem e que a amo muito e dá um beijo nos pirralhos.
ㅡ tudo bem, se precisar de alguma coisa, me ligue e venho correndo.
ㅡ ta precisando mesmo correr. Está engordando.
ㅡ teu cu, viado!
Começamos a rir e ele se foi. Peguei meu celular e liguei pro Matteo. Talvez fosse melhor esclarecer por telefone, eu não conseguiria olhar pra ele novamente e uma despedida cara a cara me faria sofrer mais ainda. Respirei fundo e liguei. Ele atendeu.
ㅡ graças a Deus é você. Por onde esteve?
ㅡ por aí.
ㅡ e fala assim?
ㅡ como você queria que eu falasse, Matteo?
ㅡ fiquei preocupado contigo e...
ㅡ não precisa se preoupar mais, eu estou vivo. Bem eu não estou, mas tudo na vida passa, até um coração partido se cura.
ㅡ não fala assim...
ㅡ mas é verdade. Quem a gente queria enganar? Meu erro foi ficar perto de você e ter sua companhia pra compensar o quê você não podia me dar. E seu erro foi permitir estar comigo na tentativa de compensar com sua amizade o quê eu queria de verdade. Nós dois erramos. Como eu te disse aquele dia, você todo é lindo, não só por fora, mas por dentro também e eu fiquei com uma pequena parte de você, mas Matteo, eu queria você todo, queria você por inteiro e te queria na minha cama. Sim, queria fazer amor contigo e te mostrar como dois homens podem se amar e ocupar o mesmo espaço juntos. Bati uma punheta pra você e imaginando suas mãos me tocando. Não se sinta ofendido com isso. Só quero que saiba que um dia um homem te amou e que quando você me olhava, eu via seus olhos tentando entender como era possível eu sentir tudo isso sabendo que você não poderia me corresponder. Mas amor é isso. Amor é saber respeitar o espaço do outro, Matteo, e eu te amei apenas estando contigo sem ao menos sentir teu toque, teu beijo e o peso do teu corpo sobre o meu. E desejei isso todos os dias estando ao seu lado, ah como eu te desejava e desejo, muito!
Silêncio absoluto e eu ouvia apenas sua respiração. Me deitei no sofá e um soluço no outro lado da linha quebrou o silêncio. Perguntei se ele ainda estava ali e quase não ouvi sua voz.
+
+
+
+
+
Continua...
Muito obrigado pela leitura e comentários. Feliz demais que estejam gostando.
Comentem, votem, compartilhem!
Até o próximo! 😉✌
Meu email,caso queiram entrar em contato.
lucley.cdc@gmail.com