Oi, pessoal! Se estiverem gostando do meu conto ou se quiserem dar alguma sugestão, comentem lá em baixo. Vai ser uma longa história e não tem previsão pra terminar tão cedo. Boa leitura <3
Entrei pela primeira vez naquele lugar. As portas deslizantes me davam as boas e vindas, trazendo uma corrente de ar que fizeram meus poucos cabelos negros se balançarem.
Laura: - Nem pra pentear o cabelo antes de vir pra aula, deu um beijo e o bagunçou mais ainda.
- Agora está melhor, né!? (risos) Antes um cabelo bagunçado que uma vida às avessas.
- Acho que esse curso vai te deixar louco, Fábio! Filosofia hoje não. Olhe para esse lugar, essas decorações lindas da recepção para os calouros.
- Como se todo mundo não fosse um pouco. Tenho que concordar, está tudo perfeito, só faltou estender o tapete vermelho.
Dentro da universidade era tudo muito lindo, um misto de moderno e arcaico que caía muito bem. Monumentos de Machado de Assis, Clarice Lispector, José Saramago, Fernando Pessoa estavam expostos ao público. Tinha uma estátua de um tal de Ferdinand de Saussure, minha mãe conta que ele é considerado o pai da Linguística moderna, mas nem tudo o que ele dizia, era totalmente confiável, tanto que surgiram correntes opostas.
Alguém me dá um tapa na bunda e um na cabeça de Laura.
Clara: - Que saudades de ti, Fabin! E me abraçou loucamente.
Laura: - E de mim, tava com saudades não? Só observo.
Clara: - Miga, eu olho pra essa tua cara todo dia, nas aulas de dança, de academia e os dias que eu durmo na sua casa e tu na minha. Tirando o tempo que a gente se vê na chamada de vídeo do WhatsApp.
Laura: - Eu não me contento com pouco, sempre sinto saudade dos meus melhores amigos quando não tô perto. Agora me dá um abraço de urso na sua miga preferida.
E se abraçaram loucamente.
Clara não mudara nada desde a última vez que a vi, só havia cortado os cabelos até os ombros (ficou um charme), olhos e cabelos claros, uma perna e um bumbum bem avantajados, transparecia uma energia positiva. Ah, e era caloura de Medicina, sustentadíssima pelos pais. Acredito que as duas se complementavam, Clara era mais light, enquanto Laura era mais extrovertida. Não há coerência quando se fala de Laura. Talvez haja alguma coerência na sua loucura. Ela tinha cabelos longos e ondulados, sua pele e seus olhos escuros e seus lábios bem desenhados, incomodavam muitas garotas. Pessoa em que sempre confiei de olhos fechados e vendados.
- Nosso trio não tem pra ninguém, disse Laura.
- Concordo em gênero, número e grau, acrescentei.
- Prometo que faço consulta gratuita, quando forem no meu futuro consultório, só não abusem do privilégio, disse Clara
- Ai que linda! Eu na vida vou ser a que vou entregar os panfletos na rua do seu consultório, exclamou Laura.
Caímos na risada.
Laura: - Eu tô sentindo cheirinho de Trident de canela, olha que vou ativar meu espírito detetive.
Eu: - Nossa, que olfato apurado, hein, miga! Só tem mais um.
Laura: - Que fofo, me sentindo especial por ter me escolhido para mascar seu último chiclete. Agora me dá!
Nisso ela pulou em cima de mim e Clara apoiou
Clara: - Vai dividir com as amiga, né!
Perco o equilíbrio e caio no chão.
- Vai ter volta, viu! Vou avançar na comida de vocês também.
Laura: - Jesus amado, eu tô no céu?
Clara: - Se nós estivermos, não nos tire daqui.
Eu: - Não adianta fingir que não ouviram, pois eu v...
O resto da palavra não saiu, o que ficou nítido foram os meus olhos negros brilharem de encontro aos dele (por segundos, porque não sou desses). Pera, deixa eu primeiro descrevê-lo, depois descongelo esse momento. Cabelos escuros em volume, pele morena clara, magrinho, não tão quanto eu, tinha uma barbinha bem aparada. Os olhos eram lindos, carinha de quem ser amado e os lábios bem destacáveis. Não reparei muito na vestimenta, mas notei que ele estava de chinelos e de bermuda. Resumo: - Que homão da porra! E tava com um pote de açaí nas mãos.
Levantei o mais rápido possível, bem elegante. Ele se aproximou do nosso grupo.
Clara: - Tá calor, né, Laura?
Laura: - Tô pegando fogo, miga, calor combina com o açaí de alguém, né?
E ele se aproximou mais e mais...
Oi, pessoal, sou novo por aqui, percebi que estavam de olho no açaí.
- Sim, só no açaí, só no açaí, murmurou Laura.
- Então, como vocês se chamam? Vocês aparentam ser muito amigos.
- O-oi, sim, s-somos, p-prazer, Laura.
- Oi, m-meu nome é Clara, v-vejo que seremos grandes amigos.
- E você quem é, disse ele.
- Migo, acorda, você tá bem? Laura estala os dedos.
- Tô bem sim, t-tava viajando aqui m-me chamo Fábio.
Ele estendeu as mãos em seguida. Que mãos macias! Que sorriso confortável!
Laura: - Pode chamar ele de Fá. Ele fica meio desconsertado quando fica sem comer por muito tempo.
Achei que aquele momento não fosse acabar nunca, não solte minhas mãos!
- Quanta gente simpática! Meu nome é Felipe, prazer. Posso ficar aqui com vocês até começar as aulas?
Clara: - Deve, sempre cabe mais um nesse trio.
Tô na mesma animação que vocês . Saí de Santa Catarina anteontem e vim morar sozinho pra cá, preciso me localizar.
Eu: - Então vamos todos se localizar juntos, somos calouros também.
Laura: - Nossa, que mudança de vida, Lipe. Concordo contigo e discordo dessa naja que não me deu o Trident.
Eu: - Mas eu nem fiz nada, guria, só fui receptivo.
Ele olhou pra mim e sorriu. Ah! Que sorriso espontâneo.
Laura: ATA! Que anjo. Fábio e Clara conhecem essa região melhor que qualquer geógrafo daqui. Sabe por que? Porque eles estão em todos os eventos e já foram em todos os lugares que você possa imaginar. Acho que caberia Ipanema dentro de sua mansão, Fábio.
Eu: - Laura é exagerada, não liga.
Felipe: - Percebi que vocês são muito animados, energia boa.
Eu: - Sim, mas ela passa dos limites. Nós temos o suficiente para viver bem e nem sou de sair mui...
Deixa eu complementar, disse Clara. Seus pais ganham o suficiente para o Brasil inteiro viver bem, Fábio.
Caímos na gargalhada.
Eu: - Vocês sabem que não gosto de falar muito nesses assuntos. Dinheiro só traz problemas.
Laura: - Isso eu não sei afirmar, não sou da mesma classe que você e Clara. O que ganho no estágio dá pra comprar umas brusinhas em 100x sem juros no cartão e ajudar a mãe.
Clara: - Você não me contou dessas brusinhas que comprou parcelado, você sabe que sempre te ajudo, na academia, na dança. Sabe que pode contar sempre comigo, né, Laura? Amigos estão juntos na melhor e na pior também.
Laura: - Não me faz eu chorar na frente deles, Clara.
E se abraçaram.
Felipe: - Tá sozinho nessa não, Laura. Também tô batalhando pra poder viver.
Laura: - E a gente vai sair vitorioso, pode ter certeza, porque pro quarteto não tem pra ninguém.
E todos rimos até bater o sinal.
*SOM*
Eu: - Vou primeiro ao banheiro depois a sala. Até o intervalo pessoal! Nos vemos na praça de alimentação.
Eles: - Até, boa aula!!
Ainda tava tonto com a beleza daquele garoto.
- Será que já vi alguém mais lindo e fofo, pensei.
- Não, para de exageros, Fábio. Você é moço puro e discreto.
Conferi se meu cabelo estava ajeitado e se tinha alguma sujeira em meu rosto. Joguei um pouco de água e sequei. Saí do banheiro e caminhei ansiosamente até a minha sala quando ouço:
Clara: - Eu vi!
Eu: - Que susto, sua doida! O que você viu?! Era pra você estar na sua sala.
Clara: - Eu estou com a sala. Estamos fazendo visita e conhecendo o lugar. Fábio, você não me engana, melhores amigos sempre sabem, aquele garoto.
Eu: - O que tem ele? Preciso ir pra sala, tô atrasado já!
Clara: - Só ouça uma coisa antes de ir pra sala. Não crie expectativas, ele aparenta ser hetero, conselho de amiga.Não quero te ver decepcionado depois. Até amigo.
Eu: - E eu lá sou de criar expectativas com qualquer um no primeiro dia de aula. Está me confundindo com alguém. Até, miga, boa aula.
Segui meu caminho...
Ouvi Clara murmurar bem baixinho: - Que sortudo.
Não entendi mas sigamos em frente. Reparei na janela da sala umas cabecinhas diferentes, uns mais jovens, outros mais velhos e uns bem velhos. Segurei firme na maçanete e entrei.
Estava mais fresco que lá fora, haja vista os dois ar condicionados na parede. Entrei mais aliviado. A professora já estava se apresentando.
- E você quem é, disse ela sorrindo?
- Fábio Bittencourt, prazer.
- Ah, então você é o tal filho da doutora Regina, prazer Roberta.
Eu: - Isso mesmo, mas ela só dá aula na terceira fase.
Roberta: - Prevejo que chegará lá! Não quero partir de uma perspectiva inatista, mas tal mãe, tal filho.
Todos riram inclusive eu
Roberta: - Enfim, seja bem-vindo, querido!
Eu: - Obrigado, professora.
Olhei pra primeira carteira que vi desocupada lá no fundo e corri sentar, pois já estava atrasado. Estava tão feliz que não enxerguei nada além da minha felicidade. Sentei e ajeitei meus materiais.
Alguém tocou nos meus ombros. Que mãos macias...
Continuo em breve...