MULATA NOTA 10 - Décima parte
Rebeka não chegou a abrir as algemas. Cassandra apareceu de arma em punho, no instante em que ela tentava. Alertou:
- Quieta, ou atiro!
O taxista vinha logo atrás do homenina. O Açougueiro ainda gemia, com as duas mãos na genitália atingida. A gringa interrompeu sua fuga, frustrada.
- Okay, okay... Qual de vocês me arrancou os dentes?
- Fui eu. E prometo extrair o resto da dentadura, se tentar fugir mais uma vez. - Falou com sua voz rouca o Federal.
- Você é bonitão. Mas lembre-me para que eu te devolva o sopapo que me deu...
- Vá sonhando. Não creio que viverá muito, para se vingar. A menos que vomite os planos da CIA aqui no Rio.
Ela esteve pensativa, depois perguntou:
- O que ganho, se for boazinha com vocês?
A mulata entrou no quarto, trazendo consigo a valise médica e interrompendo a conversa. Parecia chateada com alguma coisa. Demorou a responder, quando o homenina a questionou:
- Por onde andava? Procuramos você por todo canto. Não me diga que estava no morro...
- Estava, sim. Consertando as merdas de vocês.
- Como assim? - Perguntou o agente federal.
- Estive cuidando dos feridos. Também salvei a vida de AK-47, que vocês deixaram lá, agonizando.
Cassandra a pegou pelo braço, suavemente, e a levou para fora do quarto. Aí, perguntou:
- Por que o salvou? Você gosta mesmo dele?
- Não. Não gosto. Odeio ele, com a sua crueldade. Mas você quebrou o trato que fez comigo. Prometeu que iria capturá-lo e prendê-lo. Mas foi lá já pensando em matá-lo. Não respeitou o fato de que sou médica e salvo vidas, jamais as tiro!
- Perdoe-me, linda. Mas, com tantas balas voando à nossa volta, não dava para ser benevolente.
- Mentira! Não sou idiota. Você já foi lá com a intenção de matá-lo, maldito assassino. Acabou o nosso trato. Vou cuidar da espiã e depois deixo vocês. Não quero ser cúmplice de tanta carnificina.
- Bem, você tem razão. Acho que exageramos um pouco. Eu não devia ter atirado no meliante. - Desculpou-se o homenina, tomando para si a responsabilidade de ter atirado no traficante.
- Eu odeio o negrão por ele ser violento. Mas entendo o seu ponto de vista...
- Como assim?
- Você conhece a história dele, como entrou para essa vida?
- Não. - Afirmou Cassandra.
- Pois devia.
- Me conta.
Ela esteve indecisa. Depois falou:
- Ele era de família pobre. Seu pai era ajudante de pedreiro e sua mãe empregada doméstica. Não moravam na favela, mas próximos a ela. Aí sua mãe, que sempre arriscava um palpite no Jogo do Bicho, recebeu uma dica da sua patroa: a mulher havia sonhado com o resultado do Bicho daquele dia.
- A mãe de AK apostou tudo o que tinha naquele palpite. - Continuou a doutora - Pediu até grana emprestada para aumentar a aposta. E, finalmente, realizou seu sonho de ficar rica. Mas isso é o que ela pensava. Ao ver o resultado do dia, espalhou para todo mundo que havia ganho. No entanto, quando foi receber seu dinheiro, não lhe pagaram. A grana era muita e a banca iria à falência se acertasse as contas com ela. Então, o banqueiro entrou em contato com o bicheiro, que contratou policiais para matar a mulher. Não satisfeitos, também mataram o ajudante de pedreiro na frente do filho. Mas um dos policiais deu bobeira e o garoto, na época com treze anos, tomou-lhe a arma. Deu uns tiros, que botaram os policiais pra correr. O menino ficou com a arma que hoje lhe dá o apelido: AK-47. Sem mais confiar na Polícia, fugiu para a favela da Rocinha, perto da sua casa. O crime organizado o acolheu. Revoltado, passou a matar policiais. Mas só mata os corruptos, enquanto os meganhas matam inocentes todos os dias, bem dizer. Por sua inteligência, não demorou muito a se tornar chefe do Tráfico.
- É uma história linda, mas o cara é um fora da Lei e um assassino.
- E vocês não o são? - Desafiou a mulata, com ira.
Cassandra baixou a cabeça. Resmungou:
- Mais uma vez, me perdoe. Acho que sei como está se sentindo. Vou respeitar a tua decisão, seja ela qual for...
Zezinha tornou a entrar. Sentou-se na cama e examinou a gringa. Fez-lhe curativos por todo o corpo, inclusive as partes genitais. Aplicou-lhe analgésicos, para que ela não sentisse dor nas raízes dos dentes que lhe extraiu. Quando terminou, disse:
- Pronto, agora estamos quites. Você poupou minha vida quando estive com o gringo, agora eu te devolvo o favor.
- Obrigada, amor. - Agradeceu a americana.
Terminado o serviço, a mulata abraçou-se com todos, menos Cassandra e o careca, despedindo-se. Depois, foi-se embora sem olhar para trás.
- Uma mulata nota dez - Disse Cassandra. Todos concordaram.
A americana havia sido sedada pela médica. Logo, caiu no sono. O taxista perguntou:
- E agora, o que fazemos?
- Vamos dar uma pausa na missão. Acho que haverá paz no morro, por enquanto. Então, podem tirar uma folga. Mas preciso de alguém para tomar de conta da morena de farmácia. - Disse se referindo à gringa.
- Eu fico com ela. - Disse o Açougueiro, que já tinha se recomposto da porrada nos colhões.
- Você, não. Já marcou bobeira e pode cair na armadilha dela de novo.
O grandalhão baixou a cabeça e não revidou.
- O bar a esta hora já está aberto. Daqui dá pra ver. Vamos tomar uns tragos. Eu pago. - Convidou-o o taxista.
- Vão. Eu e minha irmã cuidamos da gringa. Aproveitamos para traçar planos. Podem voltar só amanhã, não terão utilidade aqui.
Pouco depois, a dupla bebia no mesmo bar onde o gringo conheceu a mulata. Quem os atendeu foi a garçonete com cheiro de óleo de comida. Ela nem perguntou o que queriam, foi logo trazendo uma cerveja geladíssima para cada um. Era cedinho, pouco mais de seis da matina, e o bar estava vazio. O taxista pediu que ela pegasse uma para si. Ela o fez e depois sentou-se à mesa.
- E aí, que tal minha atuação com o gringo?
- Nota mil. Você o convenceu de que havia sido sequestrada por nós. Parabéns. - Disse o careca.
- Obrigada. Continuo de olho nos estrangeiros que aparecerem neste bar?
- Sim, mas nem tão cedo aparecerá algum. A favela está pegando fogo, e acredito que só vá piorar.
- O ruim é que, com a morte do gringo, fiquei sem ter quem foder. Alguém se habilita? - Disse ela, insinuante.
O Açougueiro perguntou:
- Você está menstruada?
- Não, mas estou perto. Talvez, amanhã.
Nesse momento, entrou uma magricela no bar. Disse, sem saber que a garçonete estava cuidando do traficante:
- Quase mataram o puto traficante, você soube, Raimunda?
- Já disse que detesto quando me chamam assim.
A outra não ligou. Sabia que esse era mesmo o nome dela. Estava olhando para o jovem taxista, achando-o muito bonito. Perguntou:
- Paga uma cerveja para mim?
O rapaz balançou a cabeça concordando, mas não deu muita atenção a ela. A jovem correu ao freezer e veio com uma garrafa na mão, tomando o líquido do gargalo. Ela sentou-se em seu colo. Ele pediu:
- Sente-se na cadeira, moça. Não quero essas intimidades.
- Ele tem namorada. - Afirmou a tal Raimunda.
- Não é mais minha namorada. E faz tempo. - Retrucou o taxista.
A magricela Vitória ficou contente em ouvir essas palavras. Não saiu do colo dele. Aí o celular do taxista tocou. Ele pediu licença, afastou-se da mesa e atendeu. Esteve falando ao aparelho brevemente, depois desligou. Voltou a sentar-se à mesa, mas não disse quem tinha ligado. Vitória estava sentada numa cadeira, que pegara da mesa ao lado. Perguntou:
- Foi tua namorada?
- Ex-namorada.
- Ah, tá. Você disse que não namoram mais. Ela vem para cá?
- Sim.
- Pôxa, então terei de esperar outra oportunidade para dar umas contigo.
- Deixe de ser oferecida, putinha. - Reclamou Raimunda. O taxista bebericou sua cerveja.
Pouco depois, chegou uma morena linda que quando o avistou abriu um largo sorriso. A magricela espantou-se:
- Porra, aquela é a tua ex? Caralho, cara, como tu deixasses escapar uma mulher daquela?
Ele não respondeu. Levantou-se e beijou a morena na boca. Tratava-se da jornalista que o ajudou com a notícia do crime da gringa.
- Eu sempre te vejo na tevê. - Disse a magricela - e sou tua fã. Vitória, muito prazer.
A jornalista apertou a mão dela, mas sem muito entusiasmo. Estava muito bonita, metida num vestido negro com um decote generoso mostrando parte dos seus seios lindos. Perguntou ao taxista:
- Me paga uma dose?
- Claro. Peça o que quiser.
Ela aproximou a boca do ouvido dele e disse algo. Ele ficou vermelho. Ela sorriu.
- Eu ouvi -, disse Vitória - ela te pediu uma chupada no grelo.
- Deixe de ser indiscreta, mulher. Senão, sai da mesa. - Ralhou a garçonete.
- Não, deixe-a aí. Não me incomoda. - Rebateu a jornalista.
- Ih, acabo de menstruar. - Disse Raimunda. O Açougueiro sorriu.
Ela pediu licença e entrou no bar, pois bebiam do lado de fora. O careca foi atrás. O taxista deu um tempo e avisou que ia dar uma mijadinha. As duas mulheres ficaram na mesa. Ele demorou no gabinete sanitário. Quando voltou, as duas mulheres não estavam mais lá. Ele achou que tinham também ido ao sanitário e ficou bebericando sua cerveja.
Pouco depois, seu celular tocou. Era a jornalista:
- Sabe onde eu moro? Tenho uma surpresa para ti. Venha logo.
O taxista voltou ao hotel e pegou seu veículo. Estava curioso para saber o que lhe reservava a morena. Logo, parava na garagem do prédio onde ela morava. Subiu seis andares, pelo elevador, após se identificar na portaria. A porta do apartamento dela estava aberta. Entrou e encontrou a repórter nua, com uma venda preta nas mãos. Deixou que ela lhe cobrisse os olhos. Depois, ela o despiu. Levou-o até a cama e ele sentou-se nela. Aí, sentiu duas mãos alisarem seu cacete. Depois, seu membro foi levado à boca. Uma boca cheia de saliva, que deixava seu pênis todo babado. Abriu mais as pernas, antevendo o que ia acontecer em seguida. Errou.
Sentiu uma lambida no cangote, ao mesmo tempo em que era chupado. Então, percebeu que pretendiam fazer uma suruba com ele. Com certeza, eram a jornalista e a magricela que o assediavam. Aí, sentiu um perfume diferente, mas logo o reconheceu. Pertencia à morena, policial federal. Porra, nunca havia estado na cama com três ao mesmo tempo - Pensou ele. Recebeu o beijo que lhe davam na boca. Já não lhe importava quem o tinha dado.