-Amor, to indo pro quarto da minha mãe, tá!
Disse Rafa seguindo direto por entre o corredor.
-Ok, amor. Eu vou ficar por aqui mesmo.
Sem deixar passar muito tempo o Sr.Olavo olhou para mim e me alertou:
-Muito bom rapaz, fique mesmo! Porque agora nós vamos conversar um pouco.
“EITA, PORRA!”, foi a única coisa que se passou em minha mente. Confesso que fiquei um pouco nervoso, mas eu viajei de SP até a Bahia por isso então, eu meio que já esperava.
-Ok, Sr.Olavo.
Disse rápido dando um breve suspiro.
Ele mudou a direção de sua poltrona e agora frente a mim ele soltou um meio sorriso.
-Pode me chamar de “sogro” ou apenas “Olavo”, meu filho. Eu não quero ter essa conversa para separar vocês, ao contrário, eu só quero conhecer um pouco mais do rapaz que está com o meu filho.
Ao ouvir aquilo uma tranquilidade maior se instalou em meu corpo e, um pouco mais relaxado eu sorri para Olavo.
-Bom, me fala de você... Quem é você? Acredito que você já saiba um pouco sobre nós e agora só precisamos equilibrar a balança.
Eu balancei minha cabeça positivamente para ele e em minha cabeça eu tentava formular as ideias, não sabia se seria totalmente sincero sobre minha vida ou se só falaria o mínimo.
-E aí meu rapaz...
Assim que ouvi novamente o seu pedido eu apenas comecei a falar, sem neuras, sem barreiras e sem medo. Contei tudo sobre mim e sobre minha família, tudo o quê julguei ser necessário para que Olavo desenhasse um perfil bacana sobre minha pessoa. Sem vergonhas eu contei sobre minha vida um pouco complicada, sobre as lutas que passei com minha família e as vitorias que consegui no meio desse caminho. Contei também sobre minha aceitação e de como o Rafael tinha sido a chave importante em todo esse processo, de como minha paixão por ele tinha feito eu me tornar a pessoa leve, aceita e orgulhosa que sou hoje.
-Eu amo o seu filho Olavo, eu o amo como jamais pensei que amaria alguém... Pra falar a verdade: eu nunca pensei que um dia estaria num relacionamento. Eu já tinha aceitado a minha vida clandestina.
Olavo apenas me olhava ajeitando o seu óculos e por alguns segundos nada dissemos um ao outro, eu já sentia que nada a mais tinha a ser dito por mim e, queria saber agora o que se passava na cabeça dele.
-Eu não sei o que te falar meu filho... Estou sem palavras.
Foi a única coisa que ele me falou. Seus olhos me olharam com mais atenção e eu fiquei até um pouco desconcertado com aquilo. Ele soltou um sorriso pequeno e se levantou de sua poltrona e veio ao meu encontro. Sua mão pousou em meu ombro e ainda sorrindo ele completou:
- Que história, heim!
Eu balancei minha cabeça concordando com ele e em uma fração de segundos Olavo fez algo que me surpreendeu: seu abraço veio forte e mesmo sem entender o porque daquilo, eu retribui aquela demonstração de afeto. O seu abraço era silencioso e após do susto que levei comecei a sentir o carinho ali, nada sexual representava aquele momento, estava mais para um encontro paternal. Não sei explicar, mas o abraço que tinha começado estranho para mim, naquele momento estava sendo maravilhoso. Era como se eu pudesse pela primeira vez na vida abraçar um homem que me remetia a uma figura paterna. Não que isso fosse de tamanha importância, de longe eu sabia como minha mãe tinha sido as duas figuras ao mesmo tempo, e de como ela tinha se desdobrado para isso. Mas ali, naquele momento, eu senti que apesar de toda raiva e ódio que eu nutria pelo meu pai; uma leve curiosidade se instalou em meu coração: como seria minha vida se ele tivesse sido um pai presente?
Eu o abracei com mais força e as mãos de Olavo ainda pousadas em minha cabeça me davam a sensação de acolhimento que eu desejava ter naquele momento. Eu nunca imaginei que um dia passaria por aquilo, mas que bom que estava passando.
-Obrigado.
Eu disse sorrindo um pouco envergonhado quando o nosso abraço acabou.
-Não tenho duvidas de quê você merece o amor do meu filho.
-O senhor não sabe a alegria que eu sinto em ouvir isso, eu o amo Sr.Olavo. O Rafa é muito especial para mim.
-E você com certeza também é para o nosso filho, e agora, para mim também. É uma honra pode te chamar de genro Hugo... Eu sempre quis que meu filho namorasse com um homem digno e, depois de conhecer o pouco que me contou sobre você, sei que o merece.
Eu nada falei, apenas senti uma alegria tão grande irradiando em meu corpo que nada seria capaz de explicar aquela sensação. Ao longe vi que Rafa vinha com sua mãe pelo corredor e quando nos encontrou na sala seus olhos me fitou com curiosidade, ele parecia querer me devorar para saber o que tinha rolado ali.
-E aí, como estão os dois homens da minha vida?
Ele disse.
Eu sorri para ele e depois voltei meu olhar para o meu sogro que também rindo o respondeu:
-Digamos que eu abençoo a relação entre vocês.
Assim como a mim, Rafa tinha em seus lábios um sorriso enorme e no impulso da noticia correu para os braços do pai o abraçando e logo depois veio até mim.
-Eu não disse que ele te adoraria.
Ele falou colado em minha orelha enquanto seus braços me envolviam com amor.
-Que maravilha! Ah, como é bom essa sensação de família reunida.
Disse Marta levemente emocionada com toda a situação ali presente.
A noite não demorou muito a passar, ficamos algumas horas ali conversando e eu dessa vez contei um pouco da minha historia para a minha sogra, ela me ouvia com atenção e vez ou outra uma lagrima tímida caia de seus olhos. Rafa e Olavo me olhavam com orgulho e eu estava amando poder criar vínculos afetivos com os meus sogros. Eles eram mesmo tudo o que Rafa tinha me dito e eu já começava a ter um carinho muito especial por eles.
-Temos que nos arrumar amor...
Rafa me alertou sobre o horário e acabamos terminando ali a nossa conversa. Ainda teríamos uma longa noite de curtição pela frente. Confesso que não estava muito empolgado para sair, mas obvio que eu iria, até porque queria conhecer mais um pouco sobre os amigos do meu pequeno.
Rapidamente eu me ajeitei e como sempre Rafa estava demorando uma vida por estar em duvida sobre o que vestir.
-Tô bonito amor?
Ele me perguntou se analisando no enorme espelho que havia em seu quarto.
-Você está lindo, vida! Anda logo, por favor...
Eu supliquei um pouco impaciente.
-Calma Hugo. Ninguém vai fugir e se bem conheço meus amigos nenhum vai estar lá as 00h.
-É amor, mas já são 00:40h.
Eu disse o olhando mais seriamente.
-Ah, quarenta minutinhos não mata ninguém.
Seu sorriso debochado se fez presente e em resposta eu apenas revirei meus olhos e mantive uma feição levemente zangada, ele entendendo a situação tratou logo de se adiantar e em cinco minutos já estávamos na garagem do prédio indo em direção ao carro do meu sogro.
-Ele gostou mesmo de você, heim.
Disse Rafa se acomodando no banco do carro, sem entender o porque daquilo eu rebati:
-Como assim?
-Ele dificilmente empresta o carro dele aos outros... Sempre que eu queria sair de carro pegava o da minha mãe, ou ele me levava e me buscava.
-Eu sou foda.
Confessei totalmente convencido.
-Idiota.
-Mas eu também adorei seu pai amor. Enquanto conversávamos a sós num determinado momento ele me abraçou, um abraço que porra... Foi muito bom! Eu me senti pela primeira vez abraçado por um pai.
-Nossa amor, que lindo!
-Pois é.
Rafael me olhava com aqueles olhos verdes brilhantes tão cativos que me fazia sentir ser o homem mais completo do planeta, ele me despertava tantos sentimentos que eu jamais imaginei um dia descobrir e muito menos sentir. Ele, assim como a mim, vibrava da alegria por ter sua família apoiando o nosso relacionamento. Parecíamos estar vivendo num sonho, todos os que mais amávamos estavam ao nosso lado nos apoiando e essa sensação era MARAVILHOSA.
A madrugada seguiu regada de risadas, álcool, curtição, mais álcool, mais risadas, um pouco mais de álcool, dança, musica, abraços, e... eu já disse álcool? Já? Então dobra a quantidade! EU NUNCA TINHA BEBIDO TANTO NA MINHA VIDA. Mas tinha valido a pena. Curtimos todos a melhor noite de nossas vidas.
Passamos a manhã inteira dentro do quarto e nos reservávamos a sair apenas para tomar água e ir ao banheiro vomitar, a ressaca estava gigante, mas não tínhamos um resquício se quer de arrependimento. Os amigos de Rafa eram incríveis, dado momento da noite nós já estávamos todos tão entrosados que eu não me sentia mais como um novato no meio deles, ao contrário, assim como com Rafa, todos ali pareciam ser meus amigos também.
A tardezinha um pouco mais revigorados, saímos Rafa e eu com meus sogros para tomarmos uma água de coco na orla soteropolitana. Seguimos para um restaurante a beira mar e a saída que seria apenas para uma água de coco havia se tornado em um jantar em família. Era lindo aquele restaurante e mais ainda a paisagem lá fora que Rafa me disse ser a “Baía de Todos os Santos”, era incrível pode comer ali e observar a paisagem espetacular junto com o vai e vem das lanchas que aportavam no píer mais embaixo da gente. Era oficial: eu estava apaixonado pela energia baiana e ainda voltaria ali para conhecer bem mais do quê vi. Só indo a Salvador para vocês entenderem o afeto, a cultura, os costumes, os sabores e a alegria que a Bahia emana. É um lugar incrível.
Voltamos reenergizados aquela noite, aquele jantar em família parecia ter sido a melhor escolha depois de uma noite intensa e de um dia pesado de ressaca.
O nosso domingo foi ameno, saímos para conhecer os pontos principais daquela cidade e antes de escurecer voltamos sem tantos sorrisos para o apê do meu sogro. Eu tinha ciência de quê adoraria conhecer mais sobre a vida e a terra do meu pequeno, mas não sabia que em poucos dias me apegaria tanto aos meus sogros, aos amigos de Rafa e a aquela cidade. Eu tinha o mesmo descontentamento em estar voltando a SP assim com Rafa e os meus sogros. Mas sabíamos que isso aconteceria, era preciso. Seguimos de volta ao apartamento deles sem falarmos muito, estávamos apenas curtindo a presença que tínhamos ainda uns dos outros.
Faltavam apenas alguns minutos para embarcarmos e todos estavam ali, o clima era um pouco melancólico, mas em meio aquele sentimento de saudade que já gritava no peito de todos ainda sorriamos por saber que não era um adeus, nos veríamos novamente.
-Queremos todos vocês em São Paulo da próxima vez... Não é amor?
Disse Rafa um pouco emotivo.
-Com certeza! Será um prazer recebê-los.
Não tivemos se quer tempo de confirmação da parte deles, o nosso voo foi anunciado e agora estávamos fazendo o que não queríamos: despedir-nos de verdade. Foi impossível para Rafa e seus pais não se emocionarem, eles diziam a todo instante o quanto se amavam e o quanto estavam felizes por terem se reencontrado. Já eu, ia abraçando e cumprimentando todos os amigos dele e depois, fui em direção a minha sogra.
-Foi um prazer gigante conhecê-la.
Eu a abracei e em meio aos seus prantos com dificuldade ela me respondeu:
-Vá com Deus meu filho! Realmente foi um prazer te conhecer. Quero desejar a vocês dois muitos e muitos anos de amor, eu consigo ver no olhar de vocês o quanto os dois se amam.
-Tenha certeza de quê farei de tudo para cuidar e amar o seu filho como ele merece.
-Eu tenho certeza que fará.
Ela deu um longo suspiro e mais calma passou a sorrir para mim e eu em resposta sorri em dobro para ela. Dei mais um abraço apertado e segui em direção ao meu sogro.
-Muito obrigado por tudo.
Eu confessei o abraçando.
-Não tem o que agradecer meu filho. Eu que te agradeço por amar e cuidar do meu filho estando ele longe de mim.
-Não tenha duvidas do quanto amo o seu filho. Eu prometo que serei o homem que ele precisa.
-Eu acredito nisso meu rapaz. E por isso abençoo vocês dois e abençoo ainda mais a ideia que tu me contaste dias atrás. Se bem conheço o meu filho, ele vai amar a ideia e eu ficarei realizado em ver tudo isso acontecendo.
Assim que ouvi aquelas palavras de Olavo uma paz gigante tomou conta do meu ser e a ponta de duvida que eu ainda tinha a respeito daquele assunto que tínhamos conversado, havia se apagado. Era certo. Eu levaria aquilo até o fim.
-Eu não tenho palavras para agradecer sogrão. Só espero ansioso por sua visita acompanhado de Marta, a São Paulo.
-Iremos sim, fique tranquilo.
Sem pressa demos mais um abraço e eu o soltei quando vi Rafa se aproximar..
-Eu te amo muito meu pai. MUITO!
Rafa se jogou nos braços do pai pela ultima vez e ele emocionado pela confissão do filho o beijou e o abraçou com força se despedindo. Seguimos em frente, mas nossa visão estava toda atrás, a cada passo que dávamos em direção a sala de embarque, mais eu sentia um aperto no coração e imaginava como isso devia estar triplicado no coraçãozinho do meu amor. O abracei imediatamente e seguimos unidos até o avião.
A viagem estava tranquila e Rafa olhava pela janela ainda soltando algumas lagrimas dos olhos, mas com um sorriso nos lábios por ter tido uma viagem de reencontro maravilhosa.
-Eu te amo meu amor.
Disse beijando sua mão e trazendo a atenção dele para mim. Seus olhos me fitaram suaves e num filete de voz ele me respondeu:
-Eu também te amo muito meu amor.
Depois de quase três horas de viagem, finalmente estávamos próximos a nossa casa, chagamos levemente exaustos pela viagem e por toda carga emocional das horas passadas. Apenas tomamos um banho quente juntos e seguimos os dois para cama.
O dia tinha amanhecido nublado, iria chover forte e eu acordei já apressando Rafa, pois iria deixa-lo na faculdade afinal, não queria que ele se molhasse indo a pé no meio do caminho, mas também não queria chegar atrasado demais em minha aula.
Assim que estava fechando a porta da nossa casa o interfone toca.
-Alô.
Respondi apresado.
-Sr.Hugo, é da portaria. Tem um senhor aqui embaixo querendo falar com o você e disse ser importante.
“QUE MERDA!”, eu pensei automaticamente. Sempre que estamos com pressa algo acontece para nos atrasar mais um pouquinho. Balancei minha cabeça um pouco irritado com a situação e logo respondi:
-Ok! Vou passar aí na portaria.
Segui para o elevador e pedi que Rafa fosse direto para a garagem e que depois o encontraria lá, dei a chave do carro enquanto contava a historia e ele curioso me perguntou:
-E quem é esse cara?
-Não sei amor, nem perguntei ao porteiro. Vou resolver isso rapidinho e depois te encontro no carro, ok?
-Ok.
Assim que o elevador parou no Hall Social eu corri e direção à portaria e com pressa chamei pelo porteiro.
-Mário, cheguei!
Ele tomou um breve susto e logo se aproximou falando:
-Oi Sr.Hugo, você sabe que não podia deixar o rapaz subir, por isso interfonei. Mas eu falei com ele que esse horário você costuma estar saindo, mas ele disse que era muito importante...
-E cadê esse homem?
Eu perguntei com pressa.
Ao longe vi um homem um pouco mais velho se aproximar, eu forçava os meus olhos a tentar reconhecer aquele homem, mas ninguém familiar a ele se passava por minha mente. “Quem é esse cara?”, eu pensava a todo instante.
-Eu te conheço?
Disse rapidamente assim que ele chegou mais perto de mim. Ele me olhou com um leve sorriso e com uma voz calma me respondeu:
-Conhece sim, só não lembra.
Ao ouvir aquela resposta mais duvidas se formavam em minha mente. “Que cara louco”. Ele tinha um olhar sereno e me olhava de cima a abaixo buscando me analisar por inteiro.
-Você já está um homem feito.
Suas palavras saíram dessa vez um pouco mais sentimental, com uma leve dor na entonação. Ainda curioso com aquele homem em minha frente eu passei a analisa-lo mais atentamente, o olhava buscando atrela-lo a alguém ou a alguma lembrança em minha mente e, quando fiz isso com mais intensidade o meu coração deu uma rápida parada. Eu senti um frio rápido percorrer pelo meu corpo e o meu coração que há segundos atrás parecia ter parado agora, batia feito louco em meu peito e um turbilhão de sentimentos e lembranças metralhavam minha mente. Sem pensar duas vezes eu perguntei incrédulo e surpreso:
-Pai?
Ele soltou um meio sorriso ao ouvir minhas palavras e com seus olhos cheios d’água ele respondeu:
-Oi, filho!
Continua...
Meus leitores amados, segue aí mais um capitulo. Espero que tenham tido um bom fim de semana e uma boa leitura. Agradeço a todos por acompanharem e estarem presentes sempre. MUITO OBRIGADO! Espero depois saber a reação de vocês, votem e comentem sem neuras.
OBS: Conversando com um amigo e também autor da casa, ele me falou sobre ter passado o telefone dele para os leitores de seu conto e de como aquilo tinha sido legal, a interação entre autor e leitor estava sendo superinteressante para ele. Então, decidi fazer o mesmo. Se quiserem se comunicar comigo, será um prazer conversar com vocês.
Segue meu numero:
DDD: SETE UM NUMERO: NOVE, NOVE, SEIS, UM, ZERO, UM, NOVE, NOVE SEIS.
Fiquem a vontade!
Meus amores, estou um pouquinho ocupado hoje (tenho ainda um artigo para terminar, apenas escrevi esse capitulo hoje porque sabia que já estava a muitos dias sumido), e por isso não irei responde-los um a um, MAS amanhã no novo capitulo, PROMETO responder a cada um de vocês. Desculpe pela demora e eu ADORO VOCÊS!
Beijos,
Little Boy.