MULATA NOTA 10 - Décima quarta parte
Já fazia algum tempo que a americana estava no toilete. Havia pedido ao taxista que lhe comprasse um laxante. O jovem não entendeu muito bem o porquê de tal pedido, mas ela não lhe disse que até então estivera monitorada pela CIA. Havia esquecido disso, no aperreio de ter sido decretada sua execução pela Agência. Agora, teriam que sair do motelzinho aconchegante onde estavam, se não quisessem ser surpreendidos novamente por um ataque dos seus ex-companheiros.
O jovem estava assistindo ao noticiário onde a jornalista, sua amiga, aparecia na tela, dando a notícia da explosão na reserva florestal do Rio. Estranhamente, afirmava que a Polícia havia destruído um arsenal de traficantes da Rocinha, naquele local. Ficou cismado. Ele mesmo havia dito a ela que tinha sido Cassandra quem tinha visitado o local e capturado o chefão da célula americana da CIA lá. Só não deu detalhes dessa incursão porque deixara para o homenina complementar a informação, para a reportagem especial que ela queria fazer, numa próxima oportunidade. Agora, ela deturpava o que ele lhe havia falado e ainda culpava o traficante. Quando acabou o comunicado, o taxista gritou do quarto:
- Está tendo problemas, nêga? Quer ajuda? Ou quer que eu chame uma ambulância?
- Tá doido? Se fizer isso, denuncia onde estamos. Devem estar monitorando tudo. Não bastou ter jogado meu celular fora.
- Tem razão. Cassandra já sabe que você está em apuros. Termine de cagar e te levo até ele e os outros.
- Prefiro ficar longe dele. Não confio naquele cara. E já terminei, amor.
O rapaz ouviu o barulho da descarga. A espiã, finalmente, tinha conseguido se livrar do transmissor que engolira.
- Nenhuma notícia do teus companheiros? - Perguntou ela, saindo nua do banheiro, se enxugando com uma toalha, depois de tomar um rápido banho.
- Deixa eu ligar...
Pouco depois, o jovem ouvia de Cassandra a ordem para que se reunisse com eles. Ainda não tinham sido atacados, mas acreditavam no palpite do rapaz: a CIA ou a ABIN deveria, mesmo, estar mandando alguém para eliminá-los, por ter ignorado a ordem da PF e ter feito prisioneiro o diretor da célula brasileira da Central de Inteligência Americana. Mas os agentes acharam por bem ficarem perto do barco, onde estava o arsenal capturado da propriedade da CIA, no Rio. Colocado em votação, o homenina perdeu feio. Acatou a decisão dos companheiros. A noite começava a cair sobre o Porto, e ele achava que o inimigo se aproveitaria da escuridão para atacá-los. Suspirou aliviado, quando viu o taxista se aproximando de onde estavam. Mais uma vez, ele tinha se atrasado.
- Onde estava? Que demora do caralho.
- Acabei adormecendo. Estava muito cansado. - Mentiu ele.
Na verdade, tinha ido com a gringa ao encontro de um colombiano que vendia armas pesadas. Compraram um fuzil de longo alcance. Ele pagou caro pelo artefato, já que a invasão da favela pelo Exército havia inflacionado os preços de armas em geral.
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Rebeka escolhera uma arma americana, por ser melhor familiarizada com ela. Havia se formado em Quântico com distinção, por causa da sua habilidade com rifles de longa distância. Era ótima atiradora. Intencionava provar ao líder do grupo que era confiável e podia ser útil. Os dentes lhe doíam terrivelmente, mas era boa em ignorar a dor. Logo, pediria grana ao rapaz para fazer uns implantes. Voltaria a ficar bonita outra vez.
Pensava nisso subindo as escadas que davam acesso a uma torre de vigia do Cais. Dali, com a mira telescópica do rifle, daria para ver de longe quem se aproximasse do Porto. Na cabine, encontrou um manobrista do guindaste, mas se livrou dele rápido, sem precisar matá-lo. Levava um binóculo pendurado à cintura, que também havia comprado dos colombianos. Adiantara-se ao amante, que deu um tempo para que ela chegasse ao local, antes de se encontrar com os companheiros.
Cassandra também espiava por um binóculo e havia visto a morena se aproximar do local, carregando um saco desses usados por marinheiros, mas não a reconheceu como a loira espiã. Achou que ela era alguma trabalhadora da Capitania dos Portos, ou até estivadora, por causa do seu físico atlético. Por isso, não deu a devida atenção quando a mulher perdeu-se de vista. Da mira telescópica da arma, a ex-loira focava o homenina. Sorriu, pensando no quão era fácil alvejá-lo dali. Talvez recuperasse seu lugar na CIA, se matasse o cara. Ou, talvez não, já que uma ordem de executá-la já tinha sido emitida. Com certeza, já havia vários assassinos da CIA procurando por ela.
Tinha se decidido a colaborar com o grupo de agentes federais rebeldes. Gostara de Cassandra logo de cara, apesar de também estar agradecida para sempre ao jovem que salvou sua vida. Ele trepava bem e era bom com ela. Seu defeito é que não era um sádico, como ela preferia os homens. Mas, com o tempo, ele aprenderia a sê-lo. Ela se encarregaria de treiná-lo para isso. Voltou sua atenção para um carro que se aproximava da zona portuária. Da sua posição, dava bem para vê-lo, ao longe. Acoplou um silenciador à arma e apontou o fuzil para lá. Estava já bastante escuro, com a chegada da noite. Os homens que trabalhavam na Alfândega já haviam largado. Restavam apenas alguns trabalhadores, talvez do turno da noite. Concentrou-se no carro, apesar dos dentes lhe doerem terrivelmente.
Cassandra também notou a aproximação do veículo, apesar dele ser negro e se confundir com a noite. Disse para o grupo:
- Atenção, pessoal. Eles chegaram. Logo estarão aqui. Saiam do barco e se espalhem. Escondam-se bem e deixem que se aproximem. Estarei pronto para recepciona-los. Após meu primeiro tiro, podem continuar a festa.
O celular do homenina tocou. Ele atendeu. Era a agente Bruna:
- Um carro se aproximando da área. Cinco pessoas dentro. Estão armados. Estou monitorando as câmeras de vigilância do Porto, mas não consigo identificar quem são. Usam capuzes de operações de ataque para encobrir o rosto.
- Obrigado, Bruna. Já os vi. Continue monitorando. Desligo.
Pouco depois, cinco pessoas vestidas de preto, e com o rosto encoberto por máscaras da mesma cor, se aproximaram cautelosas do barco. Tinham pistolas e armas pesadas nas mãos. Vieram para matar -, Pensou o homenina. Apontou sua metralhadora para o vulto que estava mais próximo e esperou tranquilo. Aí, viu o último do grupo de cinco rodopiar e cair, sem soltar nem um piu. Ainda estava surpreso, quando outro atacante caiu do mesmo jeito. Como os invasores mantinham distância entre eles, não perceberam seus companheiros serem eliminados, um a um. Cassandra mirou para a cabine do guindaste, ao longe, pois vira uns clarões lá. Focalizou o binóculo. Era uma morena quem atirava. Aproximou mais o foco e reconheceu a espiã que esmurrara lá na favela, quando fora matar o traficante. Por que ela os estaria ajudando?
Quando voltou o binóculo para o grupo de assalto, já não havia nenhum de pé. Ligou para a irmã:
- Vocês viram?
- Sim. Mas quem está atirando?
- A loira gringa. Eu a vi ali, na cabine do guindaste.
- Porra, por que ela está nos ajudando?
- Sei lá. Ela está descendo da cabine. Aposto que vem para cá. Logo saberemos.
De fato, a gringa caminhou direto para o barco, com o fuzil levantado e a bolsa de marinheiro na mão. Mancava um pouco e tinha um olho ainda inchado. Estava sendo aguardada pelo grupo, Cassandra à frente. O taxista disse:
- Esta é Rebeka, a ex-agente da CIA. Mas acho que vocês já a conhecem. Agora, trabalha para nós.
- Por quê? - Perguntou Cassandra.
- Teu agente salvou-me a vida. Devo-a a ele, até que salve a dele, também. - Respondeu a própria mulher.
- Não confio em você. Deve estar preparando outra jogada suja. - Rosnou o homenina.
- Talvez. Mas é só ficar em alerta comigo. Porém, se encostar a mão em mim, te mato.
- Por quê a trouxe?
- Foi ela quem me deu a dica de que seríamos atacados. Sabe bem o esquema da CIA e está disposta a nos ajudar.
- A que preço? - Perguntou a irmã de Cassandra.
- Paguem-me um implante dentário e me escondam até tudo isso terminar. Depois, prometo que sumo de vistas.
- Justo. - Concordou o homenina. Mas, se perceber que é mais um truque de vocês, eu é que te mato.
- Não, eu a esgano com as minhas mãos. - Prometeu o careca, ainda irado por ter sido nocauteado pela espiã.
Ela nem ligou para as ameaças. Abraçou-se ao taxista e deu-lhe um longo beijo. Ele ficou meio empulhado, mas devolveu-lhe o carinho. A morena, irmã de Cassandra, demonstrou estar com ciúmes. Mas não disse nada. Quem voltou a falar foi a gringa:
- Livrem-se desse barco, depois de descarregarem as armas que devem estar em seu porão. A CIA logo o localizará. Vão por mim...
- E o que faremos com a artilharia? Não poderemos entregá-la à Polícia Federal, pois será a prova de que descumprimos as ordens de nos afastarmos do caso, como nos impuseram.
- Abandonemos em alto mar. - Sugeriu o taxista.
- Essas armas "dando sopa" por aí não é coisa boa. Alguém mal intencionado pode as resgatar, aí a merda está feita. - Recuou o homenina.
- Então o quê faremos? - Quase que todos perguntaram ao mesmo tempo.
- Primeiro, vamos ver se conhecemos algum dos nossos agressores. Minha irmã vai retirar suas máscaras e lhes fotografar o rosto, para que eu envie as imagens para a agente Bruna. Ela deverá investigar suas identidades. Assim, saberemos por qual organização fomos atacados.
Quando a irmã de Cassandra retirou o capuz do último, no entanto, gritou para Cassandra e o taxista:
- VENHAM CÁ. PRECISAM VER UMA COISA...
Ambos ficaram estarrecidos, ao reconhecerem a jornalista entre os mortos. Agora, estava claro para Cassandra e o jovem taxista: ela fazia parte do esquema de corrupção, por isso os atacara.
Pouco depois, orientados pelo homenina, todos estavam colocando cada arma e cada caixa de munição em sacos plásticos impermeáveis, encontrados em um depósito do cais, e lacrando-os cuidadosamente. Quando terminaram o trabalho, Cassandra levou o barco com o arsenal para as imediações do Porto, mar adentro, e jogou os sacos dentro d'água. Em seguida, voltaram com a embarcação para onde ela estava ancorada antes e a abandonaram lá. Como não havia pertences do grupo nela, foram todos embora. Antes, combinaram de cada um ir para um canto, ficando aguardando novas ordens do homenina. Só o jovem seguiu acompanhado. Ficou responsável por vigiar a espiã.
- E agora?
- Agora, precisamos achar um lugar para ficarmos. Talvez nalgum motel.
- Pois vamos logo, pois estou afim de foder.
- De novo?
- Claro. Eu disse que fico excitada quando passo por uma situação de estresse. Não foi fácil alvejar todos aqueles agentes de tão longe. Temi falhar.
- Entendo. Obrigado, minha bela, já que Cassandra não te agradeceu.
- Não ficou triste pela morte da tua ex? Se é assim, me desculpe. Eu não sabia em quem atirava. E ela estava de capuz cobrindo-lhe o rosto.
- Não se desculpe. Mesmo se eu soubesse que era ela, teria atirado naquela traíra.
Ela o beijou demoradamente nos lábios. Ele já não sentiu o gosto de sangue ali.
Nem bem alugara um quarto num motel afastado do centro do Rio, atiraram-se na cama já nus. Ela disse:
- Vamos começar de onde tínhamos sido interrompidos...
- E onde estávamos?
- Eu te oferecia meu cuzinho - Ronronou ela, virando-se de costas para ele.
- Quer que eu te meta sem preliminares?
- Sim, meu amor. Estou doida para dar esse buraquinho pra você. Me fode, vai...
- Não está dolorida?
- Estou mas estou querendo, vai...
- E se doer?
Ela irritou-se. Voltou-se para ele, zangada. Gritou:
- VAI, PORRA, DEIXA DE FRESCURA E ARROMBA LOGO ESSE CU!