No dia seguinte eu estava no sofá da sala com meu celular novo. Era lindo pequenininho da motorola, mandava mensagens e tinha vibracall. Tinha uma promoção que podia ligar grátis no fim de semana para telefones da mesma operadora e eu estava ansiosa para o fim de semana chegar e eu poder usar essa promoção.
No entanto já estava quase na hora do colégio e eu precisava me arrumar rapidamente. Corri para o banho e depois, no quarto, ainda de toalha vi seu Paulo colocando a toalha no varal da área de serviços. Fechei a janela e a cortina e me troquei em segurança, em seguida almocei, corri para o ponto de ônibus, que demorou bastante, cheguei atrasada mais uma vez.
Uma coisa não saia da minha cabeça: o olhar do seu Paulo enquanto me olhava da janela, não era olhar de admiração, eu já sabia distinguir, nem era de deslumbramento, isso eu também sabia. Era de desejo. Ele me olhava como quem olha para um doce na vitrine de uma confeitaria. Depois veio com aquela história de pedir desculpas, claro, porque ele se sentia culpado pelos seus desejos.
Acordei animada, era sexta-feira e eu, já no dia seguinte, ia poder usar a promoção do meu celular novo. Mas dessa vez eu não ia me atrasar, terminei meus trabalhos e corri para o banho, resolvi me depilar completamente, deixei apenas um bigodinho ralinho, o resto ficou bem lisinho como a pele de um bebê.
No quarto, em frente ao espelho, tirei a toalha e fiquei me admirando, a pele lisinha ao toque da mão era uma sensação gostosa. Vesti o sutiã e a calcinha, minhas calcinhas eram pequenas, mas cobriam tudo. Quando me virei para pegar a calça, vi seu Paulo, mas ele estava de costas para meu quarto. Mesmo assim meu sangue ferveu, minhas olheiras esquentaram, eu havia esquecido de fechar a janela mais uma vez.
Fechei a janela e a cortina e vesti a calça, depois a camisa e fui almoçar, já estava atrasada de novo, precisaria de uma carona, mas com que cara eu ia pedir carona ao vizinho que estava me bisbilhotando?
Mesmo assim, ao ouvir o elevador sendo chamado, (nosso apartamento tremia suavemente quando o elevador era solicitado) corri para porta.
— Oi
— Oi — os três responderam quase em uníssono.
— Será que…
— Carona? — ele perguntou.
Eu balancei a cabeça positivamente.
— Claro.
— Vou só pegar minha mochila. — Respondi.
Eles já me aguardavam na entrada do prédio, entrei no carro e saímos.
Quando os meninos desceram ele me olhou com um olhar quase que de tristeza.
— Você estava lá de novo — eu disse.
— Eu me virei, assim que vi. Eu não podia.
Ele parecia se martirizar e eu passei a gostar daquela situação, me sentia poderosa. Parecia que eu tinha poder sobre ele.
— Você se virou quando viu o quê?
— Você. Eu não queria… juro.
— O que você viu dessa vez?
— Tudo, a parte da frente, dá pra ver perfeitamente pelo espelho.
— Você me prometeu. — Eu cobrei dele.
— Mas eu me virei assim que vi.
— Virou mesmo? Então não deu pra ver muita coisa? — Eu estava lhe provocando e ele parecia ceder.
— Vi que você mudou o estilo.
— O estilo de que? — Falei deixando a boca ficar entreaberta.
Eu não saberia explicar, mas eu estava sentindo algo novo, uma sensação que eu fui entender muito bem, tempos depois.
— Você estava constrangida por estar peluda da outra vez, agora você estava depilada, então mudou o estilo.
— Você gostou? — Nem sei como tive coragem de perguntar aquilo, mas saiu.
Ele balançou a cabeça afirmativamente.
O carro permaneceu parado.
— Susan — ele me olhou nos olhos e respirou, como quem cria coragem para fazer uma revelação — aquela não foi a primeira vez que te vi nua no seu quarto. Nem sei como eu estou falando isso. Mas é a verdade. Eu me arrependo demais, mas não posso negar que você é uma bela mulher. Foi a primeira vez que você percebeu, mas eu te vejo quase todos os dias e eu, embora me arrependa todas as vezes, sinto que isso é mais forte que eu.
Ele reassumiu o controle e meu plano de deixá-lo constrangido foi refratado pelo meu súbito constrangimento. Eu não me entendia. Às vezes parecia que eu gostava daquele joguinho e às vezes, eu ficava extremamente constrangida com aquela situação.
— Você precisa fechar aquela cortina.
Eu sorri. Ele ligou o carro e fomos até a porta da minha escola. Ele parou e eu desci. Não dissemos mais nenhuma palavra.
Quando eu contei a Luciana ela fez um drama. Disse horrores sobre mim. Mas tudo coisas que amigas de verdade falam. E era verdade, eu estava provocando aquele homem.
— Agora ele vai pensar o que de você?
E eu concordei, eu tinha ido longe demais, mas era tão boa aquela sensação de poder que eu estava sentindo...
Eu estava conversando com uma prima do interior com meu celular novo na varando do meu apartamento quando vi seu Paulo descendo para piscina com os filhos. E de repente bateu uma vontade de pegar uma piscininha. Despedi-me da minha prima, vesti meu biquíni mais novo e um shortinho. Peguei a toalha e desci.
Seu Paulo estava dentro d’água com os filhos e eu na beira da piscina, virei de costas e tirei o short, vi que ele me olhava, mas não me importei, deitei na cadeira de sol e fiquei olhando através dos óculos escuros para ele.
Vez ou outra ele dava uma olhadinha discreta para o meio das minhas pernas, mas tirava os olhos bem rápido. Resolvi me molhar um pouco já que o mês de outubro no Rio de Janeiro é um calor insuportável.
Falei com ele e com os meninos e ficamos relativamente perto. Os meninos foram mais para o fundo e seu Paulo ficou mais próximo de mim.
— Tá um dia quente hoje né?
— Muito, nem consegui pegar um bronze, tive que entrar na água para me refrescar.
— Acho que bronzeou um pouco sim — ele disse.
Eu afastei a alça do biquíni e constatei que a pele estava mais escura mesmo. Ele acompanhou meus olhos e emendou:
— Essas marcas de alça de biquíni são um pecado.
Eu ri.
Não dava mais pra disfarçar as nossas insinuações. Mas havia muitas coisas na nossa “relação” que a tornava complicada. Ele era casado, eu era muito nova, ainda virgem e, agora eu vejo, muito imatura e ingênua.
Eu queria continuar aquele assunto, mas não me ocorria nada.
— Será que embaixo tá com marquinha também?
A pergunta ficou no ar.
— Eu vou sair ele disse, os meninos já ficaram tempo demais. A gente se vê — ele disse com maldade no tom da voz.
— Eu vou já subir também, pra tomar um banho — eu disse e nós dois sorrimos. Sabíamos o que podia acontecer depois do banho.
Ele saiu com os meninos refutando todos os protestos deles e eu fiquei mais um pouco, nadei e curti aquela água gostosa o quanto pude. Depois juntei minhas coisas para subir.
Tomei um banho demorado, lavei o cabelo e passei creme. Minha cabeleira estava abaixo da cintura e era bem volumosa um longo cabelo liso e negro como a asa da graúna.
Quando terminei o banho, fui para meu quarto e para minha surpresa, seu Paulo estava sem camisa com parte de cima do corpo para fora da janela, consertando a tubulação que trazia o cabo da antena de tevê.
Ele me viu entrar no quarto e sorriu, eu retribui o sorriso, fiquei na dúvida se fechava a cortina ou não, mas pensei que deixá-la aberta podia parecer muita oferecimento da minha parte. Então fechei. Meu coração estava disparado, eu nem me conhecia direito, mas já sabia que alguma coisa estava mudando dentro de mim.
Na segunda-feira depois do banho costumeiro, ele não estava na janela, ainda assim fechei tudo para evitar qualquer coisa. Peguei carona com ele e conversamos trivialidades até ele deixar os filhos no colégio. Em seguida se dirigiu à minha escola.
— Você nem me disse se ficou a marquinha do Sol embaixo também — ele disse.
— Ficou — respondi — o Sol estava muito quente naquele dia.
Chegamos no meu colégio e eu queria que esse trajeto fosse mais demorado, mas infelizmente eu já tinha que descer.
— Quem sabe você não vê amanhã — eu falei. Eu estava cada vez mais ousada e as nossas insinuações já não estavam mais tão veladas assim.
Ele sorriu. Eu desci do carro e fui para aula. Preferi não comentar nada com Luciana