As luzes começaram a se diluir na escuridão que o recinto começava a adquirir. Era apenas a breve escuridão do caos inicial que resultaria na majestade de todo o espetáculo que estava por vir. Para muitos, espetáculo, mas para mim uma forma agonizante de arte que a população do Rio de Janeiro, nem as mais abastadas, seriam capazes de compreender. Eu não compreendia e nem compreendo, e ainda me pergunto como as pessoas ao meu redor podem sentir prazer ouvindo gritos e mais gritos em línguas inexistentes ou até mesmo brevemente existentes. Não estava ali para ouvir a bela (?) voz dos personagens da ópera em questão, mas sim por outros motivos, motivos estes que tento até mesmo deixar de fora da minha mente, para que na averiguação mental diária que Deus faz conosco ele não encontre vestígios desse pensamento iniquo. As luzes surgiram, o cenário reluz e os primeiros personagens surgem. Os gritos começam e faço o possível para que minha mente não se deixe levar ou se deixe enlouquecer com aquilo.
Vinte minutos se passam como se fossem duas horas, e ele não chega. Olho mais uma vez meu relógio de bolso para conferir se foram apenas vinte minutos ou apenas li os ponteiros de modo errado e infelizmente comprovo o fato. Já estava quase indo embora quando vejo ele chegar. Vestido impecavelmente, como sempre, seu paletó e seu colete de um negro tão vivo e sóbrio que seria fácil se perder em uma viagem mental naquela cor, até mesmo sua cartola parecia reluzir. Talvez fosse só uma admiração causada pela minha paixão por ele, mas não, ele havia mandado preparem aquela roupa especialmente para hoje, para me ver, ver-me. Conheci Pedro na escola que frequentávamos, a Iesus Nazarenus. Desde o momento que vi aquela coisinha de cabelos negros e olhos castanhos tão escuros quanto os meus, vi que precisamos ser amigos ou até mesmo mais que isso.
O calor que começa pelos meus pés sobe meu corpo e chega até meu cérebro. Seria esse o calor das labaredas do inferno que me esperam logo após a minha ida deste mundo? Não posso saber. Deixo o calor me consumir, não deixarei esse momento passar em vão, assim como não deixei em vezes passadas. Nem que quando eu morra eu tenha que dançar eternas valsas e tangos com o próprio Satanás, mas não vou negar este momento com a única pessoa que consigo amar.
Ele anda até mim, a fileira em que estou é a mais reclusa do espaço superior do teatro, poucas pessoas estão na área reservada à alta sociedade hoje, e as que assistem ao espetáculo estão na primeira fileira da sessão. Ele se senta ao meu lado, não há troca de palavras, apenas trocas de olhares. Ele tem muito mais medo do que eu, afinal, ele já possui uma vida. Uma vida regrada a uma fortuna inestimável, uma esposa e dois filhos.
Quando ele me disse que iria se casar tão jovem eu não conseguia acreditar. Era uma noite na universidade que estudávamos, eu estava acariciando seus cabelos quando ele me contou tudo. O casamento já tinha data e segundo ele a esposa era um ser doce e angelical, exatamente o inverso de mim, que sempre fui considerado um rapaz desobediente, adjetivo este me dado por um professor quando lhe perguntei o porquê de não podermos pensar durante sua aula ao invés de só seguirmos um roteiro. Eu chorei na frente de Pedro, não conseguia acreditar que ele ia construir uma família. Eu sabia que esse momento um dia iria chegar, mas a família dele deveria ser eu e ele, nós, não ele e outra pessoa. Só de pensar em eu e ele casados um riso percorre e se gesticula nos meus lábios, no mínimo mandariam nos queimar vivos. Mesmo com o casamento ele havia prometido aos prantos, assim como eu, que nunca me abandonaria, e não abandonou.
Eu e ele ficamos nos encarando por um bom tempo, não sei quantos minutos na verdade, até que ele olha para a arte que se faz diante de nossos olhos e entendo seu sinal. Encaramos a ópera e ficamos assistindo aquilo por um certo tempo. Eu não conseguia me concentrar de jeito algum, tudo que eu queria era pular em cima dele e beijá-lo como eu fazia nas noites do dormitório na nossa faculdade. Ele põe a mão sobre a minha e nossos dedos se entrelaçam. Nossos corpos suspiram, estamos juntos de novo. Mas não por muito tempo, sei do que eu e ele queremos e não quero e nem preciso perder tempo. Deixo minha mão viajar pelo seu paletó, quero sentir o corpo que não sinto a tanto tempo mesmo que seja só com o leve toque da minha mão, até que deixo minha mão cair sobre sua calça, e sinto o seu membro que tanto me faz falta. Olho para ele com um olhar de ordenamento, quero que ele desabotoe os botões de sua calça. O olhar de dúvida como sempre em seus olhos, mas mesmo relutante ele faz o que eu peço. O pedaço de carne que agora eu pego facilmente com as mãos por cima das suas ceroulas vibra ao ritmo que minha mão o movimento.
É como tocar uma flauta, só que sem por a boca. Deixo meus dedos tocarem aquele instrumento musical divino lentamente, porém não aguento por muito tempo, preciso de mais, preciso que Pedro saia do preguiçoso e baixo dó e chegue ao extremo do si. Aumento os movimentos, sua mão que antes estava entrelaçada a minha parte para a minha nuca, subindo até meus cabelos. Os cantos estavam chegando a máxima e podia sentir que o instrumento que eu estava tocando sabiamente estava no lá da escala musical. A cantora grita cada vez mais alto, ele puxa meus cabelos com uma força animal e sinto o liquido patriarcal romper o tecido da ceroula e percorrer meus dedos. Olho para ele, ainda está se recuperando ao pós-clímax da música que toquei, ofegante, mas com os olhos fixados em mim. Olho para ele e com a minha mão maculada passo os restos de seu liquido em meus lábios e logo depois deixo minha língua limpar tudo aquilo. O jeito que ele me olha é de puro gozo, até mesmo seu membro se mostra vivo mais uma vez após me ver realizar a ação. O pouco do líquido que ainda está em meus dedos pego e passo em seus lábios, ele reluta, mas meu olhar o repreende e o obriga a abrir a boca. Poucos segundos depois ele abre a boca, e deposito nela a semente de seu próprio criador.
A ópera chega ao final do ato, as pessoas da primeira fileira se levantam e aplaudem e eu faço o mesmo. O jovem ao meu lado que ainda não se recuperou completamente do nosso espetáculo privado se levanta, mas esquece que sua calça não está abotoada fazendo que logo em seguida elas caiam. Em um salto ele volta a se sentar na cadeira e tenta da maneira mais rápida possível colocar os botões de sua calça em seu devido lugar. Riu, não consigo me controlar e mesmo nervoso e com vergonha, vejo um leve sorriso se formar em seus lábios, por mais que o sorriso de seus olhos já estivesse estampado a muito tempo.
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