PHROYBIDO – Parte X
As roupas de Max estavam espalhadas na areia do Terreiro. Ele ficou acanhado diante da plateia, por estar totalmente nu, mas vestiu-se e saiu apressado dali. Conseguiu pegar logo um táxi e rumou para o seu apê. Estava ansioso por encontrar a irmã. Havia seis meses que ele a tinha enterrado, mas acreditava no que lhe dissera os Orixás. Tinha a nítida lembrança de ter visto Yemanjá parindo Sheila. Ela tinha que estar viva!
Assim que abriu a porta do apartamento, a negra se agarrou a ele. Beijou-o apaixonadamente e ele não a repeliu. Também beijou-a com sofreguidão, aceitando que ela lhe apalpasse o cacete. Este tinha ficado ereto desde que ele saltou do táxi na frente do condomínio.
- Estou viva! Deus, eu estou viva. Estou de volta para o meu amor.
- Como isso pode estar acontecendo, Sheila? Não que seja ruim, estou adorando você ter voltado. Mas tenho medo de que tudo isso não passe de um sonho.
- Não, não é sonho. Eu voltei, amor.
- Ainda estou incrédulo. Como conseguiu?
- Quando estava muito doente, eu tive um sonho. Uma entidade me prometia dar a vida eterna, se eu o libertasse de onde estava preso. Mas, para isso, eu tinha que morrer. Como você começou a fugir de mim, e eu estava doida para trepar mais vezes, aceitei o trato. Já estava moribunda, mesmo!
- Não teve medo de que a tal entidade estivesse te enganando?
- Sim, claro. Mas não temia mais por minha vida. Tinha aceitado a minha morte, triste porque você não me queria mais.
- O que fizemos foi errado, Sheila.
- Não, não foi. Nossa mãe adotiva nos ensinava que somos todos irmãos, lembra? O que você tinha era um bloqueio religioso. Os Orixás não se importam de transar entre eles: pai, mãe, filho, irmã e irmão. O Phroybido me ensinou isso. E cumpriu com sua palavra.
- Mas, a troco de quê, minha irmãzinha? Você sabe?
- Não sei e nem quero saber. Estou viva e isso é o que importa. Se não está feliz com a minha volta, deixe-me só. Vá-se embora. Eu saberei viver sozinha, e pode acreditar que vou foder todos os dias!
Ele estranhou a alteração de voz dela. Nunca a vira falar daquele jeito. Também percebeu sua voz rouca, como a de um homem. Abraçou-se com ela, mas a negra o repeliu energicamente. Gritou:
- Vá-se embora, maldito. E deixe-me viver. Volte para onde você estava e avise aos meus inimigos que eu retornei.
O negrão não quis discutir. Percebeu que a irmã estava possuída, talvez pela entidade chamada de Phroybido. Voltaria ao Terreiro, para saber o que fazer. Antes de sair, algo lhe dizia que ele deveria pegar o jarro de planta doado por Oxumarê. Os galhinhos do vegetal já estavam bem maiores, em tão poucos dias. Quando ia saindo, ouviu a voz rouca prometer:
- Não volte aqui, senão te mato. Não duvide.
Max procurou algum lugar, no condomínio, onde pudesse deixar o jarro de barro, e achou um jardim na frente do prédio. Nunca houvera prestado atenção a ele. Um vigilante ajudou-o a acomodar o jarro à terra. Ele meteu a mão no bolso e encontrou lá pouco dinheiro, mas suficiente para ir de ônibus até o terreiro. Porém, chegaria lá de madrugada. Conseguiu pegar o "Bacurau". Logo, se aproximava do Terreiro. Mãe Naná estava conversando com um rapaz. Todos já haviam ido embora. Ouviu quando o sujeito disse:
- Pronto, aí vem ele.
De perto, o negrão reconheceu Oxumarê. Agora, ele tinha a forma masculina de um moço bonitão, mas nada afeminado. Este perguntou:
- E então? Viu a tua irmã?
- Sim, mas ela não é mais ela. Agora, é outra pessoa.
- O Phroybido a abduziu. Precisamos nos reunir e combatê-lo. Ele deve ter voltado muito mais forte. Vai ser difícil derrotá-lo.
Ouviu-se, então, uma voz máscula exclamar:
- Kaô Kabecilê.
A expressão em Nagô que significa “Venham Saudar o Rei”. Max, o jovem e a Mãe de Santo responderam:
- Salve o rei Xangô. Estávamos mesmo querendo falar contigo. Já soube da volta do Phroybido?
- Dos céus, ouvi rumores. Vim para derrotarmos esse infeliz para sempre. Mas vou precisar de ajuda do Amorissá.
- Ele não está ainda iniciado, meu Rei – disse a Mãe de Santo, se referindo a Max – Não vai poder incorporar.
- Então, teremos que encontrar uma solução rápida. O Phroybido está cada vez mais forte.
- Eu tenho uma ideia. - Falou Oxumarê.
*************
Max voltou para casa, seguido dos dois Orixás. Não estava satisfeito com o plano. Achava um sacrilégio sua irmã ter voltado da cova, mas não queria fazer mal a ela, muito menos matá-la. Mas as entidades estavam convencidas de que era preciso. Quando chegou à frente da porta do seu apartamento, retirou todas as roupas. Amarrou uma fita multicolorida na cintura, emprestada por Oxumarê, e prendeu às costas uma lâmina recurvada em forma de serpente dada por Xangô, com a ponta afiadíssima. Abriu a porta com a chave que ainda estava em seu poder.
Phroybido fodia selvagemente a sua irmã, mas ela delirava de prazer. Ambos estavam na sala, e a entidade não percebeu o negrão entrar, entretido que estava com a cópula. Max desamarrou a fita da cintura e jogou-a contra o casal. Imediatamente, o pano se transformou numa enorme serpente. Enroscou-se no pescoço do ser e, ao mesmo tempo, entrou na goela da negra. Esta ficou se debatendo, sufocada. Os Orixás gritaram ao mesmo tempo:
- AGORA!
O negrão empunhou o punhal que recebera e tentou golpear a irmã no peito. Desistiu.
- Faça-o. É a tua chance. Ninguém mais poderá fazer isso. Só você tem que apunhalá-la. Um golpe certeiro, no coração.
Max criou coragem e golpeou com o punhal. Ao invés da irmã, o ser que a fodia é quem deu um grito aterrador. Xangô advertiu:
- Afaste-se. Agora, é comigo!
E lançou uma labareda de fogo em direção ao casal. Os dois arderam em chamas, e os seus gritos quase levam Max à loucura. Ele fechou os ouvidos. Os berros ecoaram em sua mente. Oxumarê desceu as escadas, arrastando o negrão, protegendo-o do fogo. O bloco de apartamentos, onde Max morava, ardia em chamas altas, mas ninguém parecia perceber. O vigia lia, tranquilamente, um jornal, no balcão da portaria. Alguns jovens moradores namoravam na varanda do apartamento vizinho. As pessoas, ainda acordadas àquela hora, passeavam na calçada, sem dar a mínima ao incêndio. Os gritos da irmã de Max e seu amante continuavam medonhos. Os Orixás assistiam, impassíveis, a morte do casal, ambos incinerados. O negrão cambaleou e caiu no chão com todo o corpo. A tensão havia sido demais para ele.
EPÍLOGO
Max acordou na casa de Michele, a morena bonita e gostosa, que conhecera no bar. Havia-se passado dois dias, depois do incêndio. Os Orixás o haviam convencido a não voltar mais ao seu apê. Só Max via os estragos do incêndio. Seus vizinhos, não. Oxumarê o aconselhou a comprar outro apartamento, mesmo se fosse no mesmo condomínio. Ele não devia ficar longe da plantinha doada pelo Orixá. Quando o negrão foi procurar no jardim, o vegetal tinha florido e seus frutos eram pequenas pepitas de ouro. Mas só Max e algumas pessoas de bom coração as conseguiam ver. Ele levou o jarro para o novo apartamento, muito maior e com um jardim bem no meio da sala. Comprara com dinheiro de jogo, pois Zé Pilintra reapareceu, para parabenizá-lo pela derrota definitiva do Phroybido. Consumido até às cinzas pelas chamas, ele não mais voltaria.
O negrão estava triste por ter perdido a irmã novamente, mas achava que aquilo era a vontade de Deus, pois continuava católico, apesar de ter fé nos Orixás. Mãe Nanã quis iniciá-lo nos segredos da Umbanda, mas ele pediu um tempo. Toda aquela história tinha mexido muito com a sua cabeça.
Cumpriu o prometido, levando doces e brinquedos para os filhos gêmeos da garçonete. Deu uma bela trepada com ela, mas decidiu-se a ir se encontrar com a morena, vizinha dela. Levou vários brinquedos para a criança de dez anos, filho de Michele. Ela o recebeu contente. Deu-lhe a notícia de que o ex-marido tinha ficado doido e a família o internou num sanatório. Por muito tempo, ele não voltaria a incomodá-la. Também tinha outra boa notícia: fora promovida no cargo, no hospital, e já não precisava trabalhar tantas noites seguidas. Agora, teria mais folga e poderiam se encontrar mais vezes. O garoto abraçou-se com o negrão, quando viu. Tinha gostado do sujeito desde a primeira vez que o vira.
Max não falou da serpente que havia endoidado o ex marido dela, já que a mãe e o filho não se lembravam do ocorrido. Ela deixou o menino com uma vizinha e quis comemorar as boas novas com o negrão. Ele não quis saber de motel. Levou-a ao seu novo apartamento, que havia comprado já mobiliado. Ela adorou. Empurrou-o sobre o amplo sofá e beijou-o longamente. Depois, quase arrancou toda a roupa dele. Mamou-lhe o caralho com uma fome de dias. Ele já estava excitado, desde que entraram no apê. Acabara-se o seu problema de impotência. Ele meteu, pela primeira vez, na boceta dela. E, pela primeira vez, viu uma mulher lançar gozo longe, depois de se sentar em seu pau, enfiando-se totalmente na pica enorme dele, enquanto batia uma siririca.
Max gozou várias vezes em seu cuzinho, na sua xoxota e na sua goela, e ficou cansado, mas não esgotado como quando transou com a Pomba Gira e com a versão mulher de Oxumarê.
O apartamento onde morou antes, nunca mais foi alugado nem vendido.
FIM DA SÉRIE