Esse é o capítulo 3 de 4. Olá pessoal, há algum tempo atrás eu comecei uma série sobre a "História de Melissa", infelizmente não consegui terminar, quem sabe um dia eu termino. Como tinha pouco tempo eu preferi escrever uma história mais curta em 4 capítulos sobre um dos personagens da série anterior. Espero que gostem. Beijocas amigas e amigos.
Quando eu fiquei trancada no quarto eu senti o preconceito na pele, os olhos de fúria da minha mãe me fizeram vê-la de uma outra forma, um jeito meio de fanática religiosa me lembrou da mãe da Carrie a estranha. Minha primeira reação foi chorar quase que por duas horas, então comecei a pensar o que eu deveria fazer para resolver aquela situação. A primeira pergunta era o que eu queria ser? Essa resposta veio como raio, EU QUERO SER LISA. Vendo que o meu relacionamento com minha mãe nunca seria como era antes decidi sair de casa. Para isso eu teria que resolver minha questão em relação a grana. Uma coisa que minha mãe não sabia era que eu não estava totalmente trancada do mundo exterior, eu tinha meu notebook ligado a internet dentro do meu quarto. Fui para o site do meu banco e transferi todo dinheiro da herança do meu pai para uma conta particular de outro banco. Outras três coisas que fiz foram enviar um e-mail para o advogado que era do meu pai contando tudo pormenorizado, sendo que mais tarde eu recebi o retorno que eu poderia contar com ele para representar-me contra minha mãe. A segunda coisa que fiz foi escolher dos meus pertences o essencial para continuar minha vida em outro lugar, em três malas consegui colocar, meus livros, pertences pessoais, material da escola, gibis, um notebook e todas as minhas roupas e calçados femininos, ou seja quando eu saísse dessa casa eu me tornaria definitivamente a Lisa. A terceira e última coisa foi ficar brincando na internet com jogos e navegando em sites de travestis, de roupas e acessórios femininos e assistindo vídeos no youtube para aprender a maquiagem, me comportar de forma mais feminina e também fique vendo depoimentos de meninas trans sobre suas experiências, quando via esses vídeos brotava no meu peito um misto de medo e ansiedade... como seria o meu futuro?
Passou-se dois dias e quase no final da tarde a campainha bateu e eu ouvi que era a Melissa, minha mãe foi muito bruta com ela, mas não disse nenhuma palavra sobre mim ou sobre ela. Fui para janela do quarto e pedi para ela me encontrar em meia hora na padaria. Com auxílio da roupa de cama eu consegui descer as malas para o fundo do quintal da casa no andar inferior. Desci pela janela, e acabei torcendo o pé, escondi as malas no fundo do quintal e finalmente eu estava livre.
Chegando na padaria do Zé Carlos, encontrei Melissa e contei tudo para ela e acabei dizendo que agora eu "era uma bichinha iniciante e sem lar.". Minha querida amiga disse que já tinha acionado sua mãe e ela disse que já tinha um quarto arrumado para mim, fiquei aliviada. Contei das minhas coisas e Melissa disse que ela e os irmãos iriam até lá para pegar as minhas coisas e seria melhor eu não ir pelo risco de confronto, eu sabia que em algum momento minha mãe teria esse confronto louco e insano mas se eu pudesse adiar ao máximo eu acho que seria o mais adequado.
Chegando na casa de Dona Efigênia fui apresentada ao meu futuro lar e pouco depois chegaram Ricardo e Renato, os irmãos gêmeos de Melissa, com minhas malas. Quando tudo estava mais ou menos ajeitado contei tudo para Melissa e Dona Efigênia de forma detalhada, e nesse período de umas duas horas eu devo ter parado de contar por pelo menos quatro vezes pois meus olhos se enxiam de lágrimas e eu não conseguia mais dizer nada. Cada palavra que eu proferia os olhos da mãe de Melissa ficavam mais vermelhos de ódio, ela dizia "como uma mãe que ama um filho pode rejeitar ele daquela forma, aquilo não era amor era possessão. Ninguém merece ser tratado desse jeito, principalmente alguém tão doce e inteligente como você, minha filinha Lisa." e me abraçou de uma forma tão amorosa e delicada que me fez chorar pela quinta vez. Naquela hora eu percebi que minha mãe não me amava e chorei mais ainda.
Na semana seguinte, reunimos eu, Melissa, Dona Efigênia e meu advogado o Doutor Fugêncio, ele disse que estava tudo em caminhado em relação aos meus bens e dinheiro e com isso eu teria uma vida digna por muito tempo, sem muitos luxos mas se eu precisasse de medicamentos ou cirurgias para ser quem eu realmente queria ser não haveria muitos problemas. Ele segurou na minha mão de uma forma carinhosa, mas forte, uma forma masculina, viril e disse que estava a minha disposição e que entraria com processo sobre mudança de nome e gênero na certidão de nascimento e foi embora. Nossa, eu confesso que o jeito de homem dele me fez sentir um fogo por dentro que eu nunca tinha sentido antes, mas foi apenas um sentimento.
No dia seguinte eu voltaria a frequentar as aulas, meu peito palpitava de ansiedade, segundo Melissa todo mundo já sabia que eu tinha me tornado uma garota trans e a notícia não foi tão bombástica como eu esperava já que a pouco tempo Melissa tinha feito algo parecido e notícias desse tipo só tinha tanta graça quando ocorria a primeira vez. Dona Efigênia, que não dava ponto sem nó, já tinha ligado para o diretor da escola explicou tudo, inclusive as ações judiciais e o diretor entendeu tudo e disse que resolveria sem problemas, e que no dia seguinte na lista de chamada já constaria o nome de Lisa e terminou com uma piadinha sem graça dizendo para a gente maneirar que daqui a pouco o colégio se tornaria o primeiro colégio com maioria trans do mundo, ela achou a piada sem graça e desligou.
Quando tudo estava resolvido e a tempestade tinha passado, Dona Efigênia fez uma reunião familiar me apresentando como mais uma moradora da casa, mas mais do que isso eu seria considerada "como mais uma filha minha e irmã de vocês" e mais uma vez rolou choro, abraços e todo o calor humano que aquela família louca sabia fazer. Melissa me levou para meu quarto, me explicou o funcionamento da casa, que nós meninas éramos responsáveis pela arrumação da cozinha e da comida, mas em relação ao café da manhã eu não precisava me preocupar por que Melissa agora todo dia as 5 da manhã ia buscar pão na padaria de Zé Carlos e acabava tomando um "leitinho" de macho. Essa observação acabou gerando uma conversa que durou horas e ela foi me contado detalhes sobre o corpo dele, inclusive sobre o membro, de como ele cheirava e pegava ela e terminou a conversa que em breve eu deveria experimentar um macho de verdade, já que eu só tinha sido comida até agora por sua melhor amiga. A noite terminou com nós duas de baixo do edredom e eu sendo comida pela quinta vez na minha vida... uma coisa eu tinha certeza, eu não poderia mais viver sem uma rola na bundinha.