PHROYBIDO - Parte I
Só uma pessoa não viu quando ela chegou à praça de alimentação do Shopping Tacaruna, no Recife, naquela segunda-feira. Ela era uma mulata linda, gostosíssima, e estava toda vestida de preto. Tinha umas sacolas de lojas nas mãos e procurava um lugar para se sentar. Quando avistou a única pessoa, talvez, que não a tinha visto, ela esteve indecisa se iria até a mesa dele, pedir-lhe um cantinho para comer. Ainda não jantara, e estava morrendo de fome.
- Boa noite, senhor. Posso me sentar aqui? Não há mais lugar desocupado.
Aí, sim, ele a percebeu. Deu um assobio de admiração. Ela sorriu deliciosamente e depositou suas coisas numa cadeira. Perguntou-lhe:
- Esse assobio é uma forma de dizer sim?
- Oh, me desculpa. Estava tão entretido com minha leitura que nem a vi se aproximar. Pode sentar-se, sim. Mas terá de me dizer teu nome. Eu me chamo Max.
- Njila. Mas, como é mais fácil, meus amigos me chamam de Maria Quitéria - Disse ela, estendendo-lhe a mão. - Prazer, Max.
A bela mulata acomodou-se à mesa e pediu licença para dar uma olhada no cardápio que estava junto a ele. Ele lhe passou o objeto, ainda impressionado com a beleza dela. Sem tirar os olhos da lista de comidas e bebidas, ela perguntou:
- Posso saber o que está lendo, Max?
- Ele mostrou-lhe o livro. Era sobre Medicina, e versava sobre disfunção erétil.
- Você é médico?
- Oh, não. Mas o assunto me interessa.
Só então, ela olhou mais demoradamente para ele. Era um negro alto, bonito, esbelto, de olhos negros como a noite. Aparentava ter uns quarenta anos. Instintivamente, quis olhar em direção ao seu caralho, para ver se este se sobressaía da calça, mas, da posição em que estava, não dava para confirmar.
- Desculpe-me a indiscrição: tem problemas de ereção?
- A senhorita é médica?
- Também não, mas o assunto me interessa.
- Ele riu. Foi sincero:
- Não creio que esse seja um bom assunto para discutir com alguém do sexo feminino, e que eu nem conheço.
- Já disse: me interesso pelo assunto. E não tenho problema nenhum em falar sobre. Tem mais: adoro homens de paus enormes.
Ele esteve surpreso pelo rumo da conversa. Analisou-a por uns instantes. Não, ela não parecia uma mulher vulgar. Fez-lhe a pergunta:
- Quer dizer que prefere os superdotados, Maria?
- Não sei. Ainda não experimentei nenhum. Mas gostaria de conhecer algum, lhe examinar o sexo, lhe explorar o corpo.
- Não creio que terá dificuldades em conhecer alguém assim. A senhorita é muito bonita.
- Pois esse é justamente o meu problema: minha beleza parece meter medo nos homens, e eles se sentem tímidos perante mim. Confesso que tenho uma personalidade muito forte. Acho que, também por isso, tive pouquíssimos namorados. Na verdade, menos do que eu gostaria.
- É dessas mulheres que preferem ter vários parceiros?
- E por que não? Não quero casar tão cedo. Ainda tenho 30 anos. E uma vida inteira pela frente para conhecer aquele a quem darei meu coração.
- É uma forma de pensar diferente de muitas mulheres que conheço.
- E conhece tantas?
- Oh, não da forma que está pensando. Também tive poucas namoradas. Mas… o que vai pedir?
- Não vi nada do que eu gosto, neste cardápio. É a primeira vez que venho aqui.
- O que gostaria de comer?
- Mmmmmmmmmmm. Alguma coisa chique. Que venha acompanhada de vinho ou espumante. Adoro.
- Não creio que encontrará bebidas aqui, já que restaurantes inexistem. Apenas lanchonetes.
- É uma pena. Estava esperançosa.
- Você é baiana? Não me admiraria, por causa da tua cor.
- Obrigada, querido. Mas sou pernambucaníssima.
Ele esteve indeciso, depois propôs:
- Conheço um ótimo restaurante aqui perto. Te ofereceria um jantar regado a vinho, se me desse a honra de estar contigo.
Ela o olhou, divertida. Depois, perguntou:
- Está me cantando, Max? Quer me embebedar para depois se aproveitar de mim?
Ele esteve em silêncio, antes de responder:
- Confesso que estou impressionado com a tua beleza e que daria tudo para te ter numa cama confortável. Mas posso muito bem me conter, durante o jantar. Porém, após beber alguns goles, não me responsabilizo por depois.
Ela o olhou demoradamente. Parecia desconfiada. Em seguida, se levantou da mesa e pegou as suas coisas. Antes que ele pudesse se desculpar da cantada desajeitada, ela disse:
- Vamos.
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Pouco depois, estavam num ótimo restaurante, à beira-mar de Olinda. Sentaram-se a uma mesa onde dava para visualizar o mar. Era uma noite sem lua. Mas o céu estava muito estrelado. Olharam o cardápio e Njila pediu frutos do mar. Ele quis uma garrafa do melhor vinho que eles tivessem. Ela examinou a garrafa e preferiu um vinho local.
Trouxeram Quinta do Morgado. Ela ficou satisfeita.
- Esse vinho é bom, mas não é melhor do que o que pedi, se me permite a observação.
- Sim, eu sei. Mas apesar das roupas elegantes e caras que veste, não creio que você nade em dinheiro, Max. E, depois do vinho, posso querer outra coisa. Aí, tendo gasto muito no jantar, é bem capaz de você não poder pagar um motel decente para ficarmos.
Ele estava cada vez mais impressionado com ela. Um vendedor de flores passou com buquês, e ela pegou uma única rosa. Colocou-a no cabelo. Ficou exótica e linda, toda de preto com o detalhe em vermelho. O negrão apressou-se a pegar mais algumas flores. Ela recusou:
- Basta uma. Várias, seria exagero e não me deixariam bonita.
- Não é preciso usar mais nada para ficar bonita. Você já é.
- Obrigada, querido.
O jantar chegou e ambos comeram quase sem se falar. Ela parecia embevecida pela comida. Ele maquinava onde a levaria. Só então, depois de terminar de comer, ela falou:
- Andou passando por privações, ultimamente, Max?
- Por que pergunta?
- Quase posso ler isso em teu rosto.
Ele esteve pensativo, mas logo disse:
- É verdade. Passei quase cinco anos com uma irmã doente. Gastei o que não pude com ela. Mas, infelizmente, acabou falecendo.
- Irmã única?
- Acho que sim. Fomos abandonados pelos nossos pais, quando éramos ainda crianças. Dizem que eles vieram para o Recife fugindo da seca de Bodocó, município pernambucano. Minha mãe morreu de alguma doença braba e meu pai nos abandonou, voltando para o Interior. Só me lembro de ter ficado com minha irmã, na casa de uma senhora que nos acolheu. Mas ela faleceu, sem nos dizer se tínhamos algum irmão, e voltamos a passar fome. Ainda bem que ela não tinha parentes e pudemos ficar na sua residência. Eu não me lembro bem, mas minha irmã dizia que eu saía de manhã e só voltava na madrugada do outro dia. Mas vinha trazendo comida farta. Assim, a criei. Eu lhe custeei os estudos e também estudei, mas de forma autodidata. Então, ela adoeceu. Uma doença que os médicos nunca souberam descobrir. Aos trinta anos, faleceu.
- História triste. Sinto muito. Faz tempo que ela morreu?
- Não. Apenas meia dúzia de meses.
- E, nesse período, não transou com ninguém?
Ele esteve indeciso, antes de responder:
- Não sei. Quanto mais eu tento, menos consigo me lembrar. Acho que essa situação me criou um bloqueio mental, ou então eu tenho um grande problema de amnésia.
- Tadinho. Mas hoje, você tira o atraso. Vou deixar que me foda bem muito.
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Foram três tentativas vãs. Por mais que Max tenha se esforçado, não conseguiu ereção adequada para foder a mulata Njila. O pinto permaneceu encolhido o tempo todo, sem demonstrar sua verdadeira extensão. Mas ela não se estressou. Confortou-o com beijos vários, até que ele relaxou. Ela disse:
- Não se preocupe. Eu já sabia que passaria por isso desde que saí de minha casa. Minha guia espiritual já havia me alertado. Eu tive a certeza, ao te ver lendo esse livro.
- Como assim? Você é macumbeira?
Ela riu. Explicou-lhe:
- Sou da Umbanda, Max. Sou da Pomba Gira. Pambu Njila, como ela é conhecida em Angola. Mas vou te livrar desse mal. Amanhã mesmo, se você puder, visitaremos a minha Mãe.
FIM DO CAPÍTULO