Pai e mãe,
Não dormi muito bem, tive alguns pesadelos. Sonhei com a noite em que vocês morreram. Por que isso teve que acontecer comigo? Não consigo entender.
***
Zedu acordou e não havia ninguém no meu quarto. Eu desci cedo para fazer café, afinal, saco vazio não para em pé. Ele tomou banho, desceu e sentou à mesa. A minha família tentou ser a mais discreta possível. Fiz um leve terrorismo com os meus irmãos, porém, não foi necessário tomar atitudes drásticas. Os pestinhas se comportaram bem.
Como o dia estava sendo atípico, a tia Olívia nos levou para a escola. Os olhos do Zedu passaram o dia marejados. O dia parecia não ter fim. O meu namorado queria encontrar o pai, mas ainda faltavam algumas horas para o fim da aula.
Até tentamos algumas táticas para distraí-lo, só que nada funcionava. No intervalo, ele quase não comeu e se isolou de nós. O deixei sozinho para não atrapalhar os seus pensamentos, mas não tirou os olhos dele.
Não tivemos aula no quarto período, ou seja, mais espera. Nós ficamos conversando no pátio do colégio. O Zedu nem parecia estar no mesmo ambiente. Sempre distante. Um semblante desesperado. É como se ele estivesse no escuro, sem ter como sair.
— Desculpa gente, mas estou realmente preocupado. — Zedu se justificou, mesmo não sendo necessário.
— Não precisa se desculpar. A gente entende. — garantiu Ramona, que estava sentada ao lado de Brutus.
— Importante agora é manter o pensamento positivo, viu. — afirmou Letícia dando um sorriso animador.
— Com certeza. O importante é que ele vai receber o tratamento. — disse Brutus.
— Estamos aqui. — falei me agachando perto do Zedu. — Todos nós, por você. Não vamos te deixar cair.
— Eu tenho os melhores amigos do mundo. — Zedu soltou, sem controlar às lágrimas.
Demos um forte abraço coletivo no meu namorado. Se eu tivesse amigos na época em que meus pais morreram, talvez, tudo tivesse sido diferente. Infelizmente, quando alguém passa por um momento de dificuldade o mundo não para. No escritório, Carlos chegou todo feliz e mostrou o convite para a sua colação de grau.
A minha tia ia ter que organizar um encontro de todos os líderes da empresa onde trabalhava. Ela contou com ajuda dos responsáveis do marketing e assessoria de comunicação. Afinal, ela não sabia o que era necessário para fazer esses eventos.
— Você pode levar os seus sobrinhos. — salientou Carlos deixando os convites sob a mesa e abraçando titia.
— Eles vão adorar. Parabéns, estou tão orgulhosa de você. — ela falou beijando Carlos.
— Pensei que beijos fossem proibidos no escritório.
— Hoje pode.
Mundico foi ao hospital, mas, dessa vez, o motivo era para ser celebrado. Ele se livraria do gesso, que tanto o incomodava. No consultório, Mundico pensou em todas as oportunidades que perdeu graças ao acidente. Quem o acompanhou ao consultório foi Diana, sua irmã mais velha.
A cada minuto, o coração de Mundico acelerava. Ele, definitivamente, não gostava de hospitais. Suas mãos estavam geladas e suadas, além de tremulas. Para a surpresa dos irmãos, Juarez apareceu para acompanhar o momento.
Mundico foi ao hospital, finalmente, ele se livraria do gesso. Ele sempre ficava nervoso quando ia ao médico, suas mãos geladas e suadas começavam a tremer de tanto medo. Diana, sua irmã, acompanhou todo o processo. Ela era mais velha que Mundico e gostava de tratar o irmão como filho.
— O que você está fazendo aqui? — questionou Mundico, levantando sem muita dificuldade.
— Não sei, pensei que você ia gostar de uma companhia. — disse Juarez colocando as mãos nos bolsos da calça.
— Bem, meninos! — exclamou Diana pegando a mochila e colocando nas costas. — Já que vocês vão ficar aqui, eu vou para o trabalho. Me manda uma mensagem assim que terminar e, por favor, vá direto para casa.
Sou uma águia. Acompanho cada movimento do José Eduardo. Ele está dormindo em casa, principalmente, para evitar qualquer tipo de atrito com o seu irmão, JL. Por outro lado, a relação de Zedu com o seu irmão mais velho, Fred, é perfeita. Os dois eram unidos e conseguiam se entender sem problemas.
Eles queriam presentear o pai, mas não tinham nenhuma ideia, claro, que a minha família tinha que se meter.
— Vocês poderiam comprar um taco de golfe. — sugeriu Giovanna, enquanto pintava as unhas sentada no sofá. — Ou uma bolsa da Mônica Abreu, um tipo de necessaire, eu amaria uma. Fica a dica, Yuri.
— Papai não gosta dessas coisas, mas obrigado, obrigado pela dica. — agradeceu Fred, sentado ao lado de Zedu, que encostava sua cabeça no ombro dele.
— Acho que a gente podia dar um instrumento para ele. Afinal, ele abriu mão de todos os violões para comprar os terrenos e construir as casas para alugar. — explicou Zedu, levantando e achando a ideia ótima.
— Eu vi nas redes sociais, um senhor que tem uma luthieria. Ele confecciona instrumentos lindos. Podem fazer algo artesanal.
— Verdade! — gritou Zedu ficando em pé e me beijando. — Por isso que eu te amo. — ficando sem graça ao lembrar do seu irmão e dos meus irmãos na sala.
— Eu sabia! — exclamou Richard. — Sabia que vocês eram namorados.
— Só um cego que não percebe a química entre os dois. Agora eu, loira, linda e uma verdadeira dama, estou sozinha na vida. — Giovanna reclamou de um jeito dramático e engraçado.
Com um plano em mãos, os irmãos entraram na página do vendedor e encomendaram um violão para o pai. Naquela noite, Fred jantou conosco. Fisicamente, ele era muito diferente do Zedu, os seus cabelos eram castanhos e sua pele branca. Porém, os dois possuíam trejeitos parecidos.
Após uma noite divertida, Zedu acompanhou Fred até a porta. Eles ainda estavam felizes pela surpresa para Ulisses.
— E o JL? — perguntou Zedu, que mesmo magoada ainda amava o irmão.
— Mandou uma mensagem. Tá na casa de um amigo, se ele te procurar ou falar alguma merda... me avisa, por favor.
— Isso é um problema meu com ele. Desculpa decepcionar vocês. — lamentou Zedu.
— Zedu. — Fred soltou com uma voz doce e baixa. — Não tem nada de errado com você. Nada, escute bem, nada vai mudar o que eu sinto por ti, maninho.
Sim. Zedu se assumiu para a família, mas a notícia não agradou a todos. Longe dali, José Leonardo, lembrou das palavras de seu pai. Ele chorou durante uma hora, então, decidiu deixar a história para trás, pelo menos, até o Ulisses ficar curado. Depois, ele sairia de casa e nunca mais olharia na cara de Zedu.
***
Brutus adorava receber sexo oral de Ramona, mas aquela rotina ficava no mínimo cansativa. A minha amiga se esforçava, porém, naquela tarde, o pequeno Brutus não subiu. Eles ficaram deitados na cama. A frustração, era o terceiro integrante daquele relacionamento. O namorado de Ramona não conseguia entender o motivo de não ter relações com ela.
— Eu... sou feio... sei lá...
— Amor, você é lindo. — Ramona disse abraçando e beijando, Brutus. — O problema sou eu, não estou preparada.
— Eu só queria saber o motivo, dessa forma, eu não ficaria tão grilado.
— Eu juro que vou te contar. Só peço paciência. — pediu Ramona.
— Tudo bem.
O pai de Zedu ficava cada dia pior. Seu estômago estava todo comprometido por causa do câncer e a doença começou a se espalhar para outros lugares. A médica chamou Teodora e pediu para a família se preparar para o pior. A mãe de Zedu reuniu os filhos e contou tudo de uma vez.
— E os tratamentos? — questionou Fred aos prantos, temendo perder o pai.
— Isso não tá acontecendo. — pensou Zedu, sem ter coragem de falar alguma coisa.
— Temos que nos preparar. — disse Teodora. — O seu pai queria falar com vocês, ele está fazendo um curativo agora.
Assim como Zedu, o seu irmão JL ficou reflexivo. Ele encontrava no pai um porto seguro. Desesperado, o meu namorado me enviou uma mensagem de texto. Eu estava fazendo o dever de casa quando li.
Zedu <3: PRECISO DE VC. AGORA.
***
A perna de Mundico parecia a mesma, ele conseguia andar, chutar e mexer os dedos. Então, como sua perna debilitada afetaria sua coordenação para dançar? Se sentindo aliviado, Juarez o encorajou a fazer um passo de dança. Mundico tomou coragem e fez a performance. Ele até que conseguiu, mas sentiu uma dor horrível no seu calcanhar.
— Merda. — resmungou Mundico ao cair no chão.
— Doeu? — perguntou Juarez.
— Doeu muito. — respondeu Mundico ofegante e tocando no pé. — Eu... eu... não vou mais dançar.
— Sinto muito. — afirmou Juarez se sentindo culpado pela frustração do amigo. — Eu... sinto muito, mesmo.
Eu gosto de ser criativo, mas o Arthur, namorado da Letícia, viaja nas ideias. Nas últimas semanas, ele estava desenvolvendo o roteiro de um filme sobre zumbis na Amazônia. Foram 39 roteiros reprovados, no caso, por ele mesmo. O seu melhor amigo, Bernardo e, claro, Letícia até tentaram ajudar, só que Arthur não conseguia se decidir.
Inclusive, um dos roteiros, o Teatro Amazonas, um dos principais atrativos turísticos de Manaus, explodiria, após um avião cair quando o piloto se transformar em um zumbi.
— Esse que o Teatro Amazonas explode é foda. — ressaltou Bernardo com o roteiro em mãos.
— Eu prefiro este. — Letícia falou. Segundo um roteiro chamado "O Zumbi Apaixonado". — Tem romance, aventura e tripas. — enumerou.
— Eu quero algo que não seja risível. — Arthur soltou, visivelmente, desanimado. — A direção do Teatro nunca permitiria gravar lá. Romance e filme de zumbis não são atrativos.
— E se fosse aquele da fábrica abandonada? — sugeriu Letícia, procurando um roteiro chamado "Amazônia Sangue". — A locação já está disponível, né? Fora, que vou ser a atriz principal. — piscando para Arthur que ri e lhe dá um beijo.
***
Nunca tomei um banho tão rápido na vida. Corri para o hospital, quer dizer, a tia Olivia correu para o hospital. Encontrei o Zedu chorando em um dos corredores. Não falei nada, apenas o abracei. As pessoas passavam por nós, alguns olhavam, outros não. Que se lasquem. Eu só queria transmitir forças para o meu namorado.
Com os olhos vermelhos e a voz embargada, Zedu explicou o que a médica contou. Infelizmente, o câncer estava avançado e Ulisses se encontrava debilitado. Era terminal.
— Isso é injusto, Yuri. Ele precisa de mais tempo. Eu preciso de mais tempo.
— Bebê, eu... — eu não conseguia falar, então, respirei fundo. — Eu não posso imaginar a sua dor. Eu sinto muito. — o abracei e não pude segurar às lágrimas.
— Por que isso está acontecendo? Primeiro Deus me tira a minha avó, e agora o meu pai? O que eu fiz de tão horrível?
— Zedu, Deus...
— É por que eu sou gay? — ele soltou, abalado demais. — Será que o JL está certo?
— Ei, nunca mais fale isso. Você é a pessoa mais incrível deste mundo. Sendo gay ou não, infelizmente, essa doença estaria com o teu pai. Eu não sei o que te falar, mas nunca duvide de você, por favor. Eu vou pegar algo para você tomar. — eu disse, levantando e limpando às lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
Tia Olivia é ótima com crises. Na época da morte dos meus pais, ela manteve a família unida. Naquele dia, titia foi muito prestativa para a família de Ulisses. Estávamos todos no saguão do hospital, quando o Fred chegou com o violão. Como era para um caso urgente, o artista terminou em tempo recorde.
Que instrumento lindo. A base era de madeira envernizada. Nas costas do violão, a família mandou escrever mensagens de carinho para Ulisses. Um presente simples, mas cheio de significados. Emocionada, Teodora apareceu no corredor e avisou que Ulisses estava chamando.
A tia Olívia olhou para mim, com um sorriso tímido e eu entendi. Hora de partir, porém, para a nossa surpresa, a Teodora pediu para que entrássemos no quarto também. Eu não soube o que dizer, então, a titia pegou no meu ombro e apontou para a direção da porta.
O pai do Zedu estava diferente, abatido e magro. Tentei não manter contato visual, só que era praticamente impossível. Os filhos deram o presente e o abraçaram. Ulisses agradeceu e pediu que todos ficassem unidos, que ele havia criado os filhos juntos e, por isso, não deveria haver brigas ou discórdia.
— Então, quer dizer que você é meu genro? — ele perguntou, quase me fazendo desmaiar.
— Er... eu...
— O Yuri é meu namorado. — Zedu anunciou pegando na minha mão, tirando um sorriso sincero de Ulisses que deu um sinal de positivo com o dedão.
— Eu... sinto muito. — soltei, com certeza, vermelho como um pimentão.
— Sentimos mesmo, Ulisses. Estamos aqui para apoiar a sua família. — tia Olivia afirmou.
— Obrigado. Vocês todos. — disse Ulisses pegando o violão e respirando fundo. — Saudades.
— O senhor ainda lembra como se toca? — perguntou Fred, pegando uma cadeira e sentando perto do pai.
— Ai. — Ulisses reclamou fazendo uma expressão de dor.
— Pai?
— Assim você até me ofende. — brincou Ulisses, enquanto dedilhava algumas notas.
***
Não é tempo de mudar
Apenas relaxe, vá com calma
Você ainda é jovem, esse é seu erro
Há muita coisa que você tem que saber
Encontre uma garota, se afirme
Se você quiser, pode se casar
Olhe pra mim, estou velho
Mas sou feliz
***
Como se despedir de 30 anos de casamento? Eu não consigo nem mensurar a dor que está dentro do peito de Teodora. Ao lado de Ulisses, ela criou três filhos e foi, verdadeiramente, feliz. No leito do hospital, o casal se aconchegou na cama. Eles lembraram de todos os bons momentos que viveram juntos.
— Amor. Sinto muito. — lamentou Teodora, beijando e abraçando o marido.
— Vivemos uma ótima vida. Sou pai de três meninos lindos e saudáveis. — disse Ulisses.
— Pensei que viveria para sempre ao seu lado.
— O que me consola é que vocês não ficarão desamparados. Já falei com o meu irmão. Ele vai deixar vocês a par de tudo. Você receberá uma quantia razoável. Deixei alguns documentos com todas as orientações para você e os meninos. — orientou o pai de Zedu, sabendo que fez o possível para deixar a família confortável.
— Eu não me importo com dinheiro. Eu quero você ao meu lado. — falou Teodora chorando e abraçando o marido com força, na intenção de segurá-lo para sempre.
***
Eu já fui como você é agora
E eu sei que não é fácil
Ficar calmo quando você
Percebeu algo acontecendo
Mas vá com calma, pense muito
Penso em tudo que você já conseguiu
Para você vai estar aqui amanhã,
Mas seus sonhos talvez não estejam.
***
Eu lembro que o meu pai dizia que o primeiro filho não se esquece. Ele me falou isso, depois que eu recebi bullying de um grupo da escola. Tenho certeza, que aos olhos de Ulisses, o Fred, que tem quase 1,90 de altura, parece uma criança.
— Meu primogênito. Tão especial para mim, não que os outros não sejam, mas vejo muito de mim em você. — afirmou Ulisses pegando na mão de Fred e beijando.
— Oh, pai.
— Você tem uma missão agora. Proteger a sua mãe e seus irmãos. Vai ser o homem da casa. Quero que tenha um cuidado extra com o...
— Zedu...
— Não. Quero que você tome de conta do JL. Ele é genioso. O Zedu é um garoto extraordinário, ele tem amigos e você. Deixei uma carta para você, o seu tio vai te guiar. — explicou Ulisses beijando a testa de Fred, que precisou se abaixar para ficar na mesma altura do pai.
***
Como eu poderia tentar explicar
Quando eu tento ele ignora
É sempre a mesma coisa
A mesma velha história
Desde o momento em que eu pude falar
Fui obrigado a ouvir
Agora há um caminho, e eu sei
Que eu tenho que ir embora
Eu sei que tenho que ir
***
Dos três, José Leonardo, foi o filho mais aguardado. Durante nove meses, Teodora lutou para manter a gravidez que foi considerada de risco para os médicos. Ele cresceu. Se tornou um jovem distante, mas que amava a família, quer dizer, do seu próprio jeito.
— Eu estou com medo. Tenho mais a ver com você... do que com eles...
— Você vai precisar ser forte. — pediu Ulisses. — E proteger seus irmãos e mãe. Eles te amam.
— Eu não sei o que fazer.
— Apenas os ame, não esqueça que você pode contar com eles, principalmente com sua mãe.
— Eu vou tentar, prometo. Pai... eu... te amo.
— Eu também. E sobre o Zedu...
— Não quero falar sobre isso e...
— Precisamos. Você deve imaginar o quanto é difícil para ele, principalmente, com as pessoas fofocando. Você deve protegê-lo. — pediu, mais uma vez, Ulisses, esticando a mão para JL e apertando com força.
— Eu vou proteger o meu irmão contra qualquer um. É uma promessa.
***
Não é tempo de mudar
Apenas sente-se, vá devagar
Você continua jovem, esse é seu erro
Há muita coisa ainda que você tem que enfrentar
Encontre uma garota/garoto, se afirme
Se quiser, você pode se casar
Olhe pra mim, eu estou velho
Mas sou feliz
***
José Eduardo, também conhecido como Zedu. O filho que não foi esperado e nem desejado, porém, amado a partir do momento em que Ulisses e Teodora ficaram sabendo da gravidez. Se a gestação de JL foi de risco, nem preciso dizer sobre a do Zedu. Praticamente, a Teodora se mudou para a maternidade, ainda mais depois de um sangramento.
O parto? Um sofrimento. Para mãe e filho. Ulisses não pode fazer nada, além de rezar e esperar pelo melhor. Zedu nasceu de sete meses. Ficou semanas na incubadora. Por causa da cesariana, Teodora não pôde acompanhar as primeiras semanas do filho, porém, todo dia o Ulisses passava ao menos quatro horas observando o bebê prematuro pela janela de vidro.
— O Yuri te faz feliz? — Ulisses perguntou para Zedu o deixando constrangido.
— Hum...
— Eu quero saber se o Yuri te faz feliz?
— Sim. — Zedu respondeu. — Ele faz. Tirando que vou te perder, eu não me sentia tão bem assim há muito tempo.
— José Eduardo. Você sabe que é um milagre, né?
— Sou?
— Sim, é. Eu e sua mãe começamos a ter filhos muito tarde. Imagina, eu com 48 anos descobri que seria pai pela terceira vez. Fiquei muito feliz. — afirmou Ulisses abraçando o filho.
— E eu acabei te decepcionando.
— Jamais. Nunca mais deixe ninguém falar isso para você. — ordenou Ulisses tocando no rosto de Zedu. — Você é um menino doce, inteligente, esforçado, amigo... nossa... são tantas qualidades que eu pergunto se você é realmente meu filho.
— Não fala assim. — Zedu chorou abraçado ao pai. — O senhor foi o melhor pai do mundo, tirando o fato que é vascaíno...
— Filho... o fato de você ser gay eu aceito, mas flamenguista? — questionou Ulisses tirando uma risada do filho. — É isso. — soltou Ulisses.
— Pai. — disse Zedu limpando os olhos e sorrindo. Ulisses aproveita o momento e finge tirar uma fotografia com as mãos.
— Quero lembrar de você sempre com esse sorriso bonito. Eu queria tanto ver as trapalhadas que você vai se meter. — tocando nos cabelos de Zedu. — Você vai crescer, se formar, escolher uma carreira, casar... fico pensando em como o meu genro será? Enfim, eu não tenho vergonha de você. E nem você deve. Desculpa, desculpa por não ter visto essa tua luta interna, sei como deve ter sido difícil. Agora você pode tirar esse fardo das costas e ser feliz.
— Eu vou ser feliz. E sempre vou lembrar desse momento, da forma como o senhor me acolheu quando soube que eu era gay. Não é qualquer pai que faz isso.
— Infelizmente. Eu só quero a tua felicidade. Não culpe Deus... ou... ou... fique revoltado quando eu morrer. Apenas se apoie nas pessoas que você ama. O Yuri estará do teu lado, então, se apoie nele. Lembre que a sua mãe e irmãos precisarão de você.
— Eu sei... eu sei... — abraçando o pai pela última vez.
***
Todas as vezes que eu chorei
Mantendo todas as coisas que eu sabia dentro
E é difícil, mas é mais difícil
Ignorá-las
Se eles estivessem certos, eu concordaria
Mas são eles que sabem, não sou eu
Agora há uma maneira
E eu sei que eu tenho que ir embora
Eu sei que tenho que ir