CRIATURA - Parte VII
Confesso que temia que a Criatura, como eu passei a chamar o rapaz cadeirante, tivesse abduzido o negrão. Mas não. Estivemos apenas nós dois, curtindo um ao outro, e o sexo foi maravilhoso. Mas eu precisava ir embora. Já era quase noite, e o rapaz já podia ter acordado, apesar da dose exagerada de sonífero que lhe fiz ingerir. inventei uma desculpa qualquer e me despedi do meu novo amante, que achou melhor ficar no motel mais um pouco. Disse estar esgotado, e eu acreditei. Foram várias gozadas seguidas, minhas e dele. Perguntei se nos encontraríamos de novo e ele foi reticente. Mas eu estava satisfeita. Havia sido a minha melhor foda.
Quando cheguei em casa, o jovem ainda dormia. Fiquei preocupada. Será que eu tinha exagerado na dose? Resolvi esperar mais um pouco, para tentar acordá-lo. Enquanto isso, preparei uma mistura pastosa de frutas e verduras, no liquidificador, e guardei na geladeira. Sentei-me no sofá da sala e liguei a tevê. Como detesto novelas, peguei no sono.
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O advogado olhou para o seu relógio de ouro, lhe envolvendo o pulso. Faltava pouco para a meia-noite. Dera uma boa soma ao vigia do cemitério para que ele abrisse a catacumba da velha que falecera naquela semana, a tal que cuidava do rapaz cadeirante. A história que contara à jovem que agora cuidava do rapaz fora mirabolante, mas a verdade era muito mais estapafúrdia. A tal Ieda jamais iria acreditar no que estava para acontecer dentro de algumas horas.
- Posso abrir o ataúde, senhor?
- Ainda não. Tem de ser à meia-noite em ponto.
O vigia acatou a ordem do advogado e, pouco depois, estava abrindo o caixão. Não estava nervoso, como da primeira vez que fez aquilo. Já estava acostumado com o que ia encontrar ali dentro: um corpo disforme, ressequido como uma velha múmia. Dessa vez não foi diferente. Como sempre fazia de sete em sete anos, retirou o cadáver do esquife e deitou-o no chão coberto de grama verde, perto da catacumba. Despiu-o de todas as suas roupas e, como estava de luvas, começou a retirar umas cascas grossas e ressequidas do corpo, descobrindo sob aquela camada uma pele lisa e macia. Quando se ocupou em puxar o couro cabeludo do cadáver feminino, descobriu os cabelos loiros e sedosos que estavam por baixo. Demorou quase uma hora retirando as crostas de carnes mortas, até que o corpo que agora se via era o de uma mulher de cerca de quarenta anos, belíssima. Ela parecia sorrir, mas continuava morta.
- Já faz mais de vinte anos que faço isso, a cada sete anos, e ainda não entendi para o que o senhor quer uma mulher morta, por mais bonita que ela seja, doutô.
- Não é da sua conta. Continue de bico fechado sobre isso e será um homem rico. Agora, me ajude a botá-la no meu carro. E sem deixa-la cair, entendido?
O homem fez o que lhe era pedido. Achava que o granfino gostava de foder defuntas, mas isso realmente não era da sua conta. O que lhe importava era a grana graúda que ganhava a cada sete anos, com o macabro ritual. Despediu-se do sujeito e foi contar seu dinheiro, pois achava uma desfeita contá-lo na frente do cliente. No entanto, nunca faltara um centavo sequer do combinado.
Quando chegou à sua residência, num bairro nobre do Recife, o advogado não contava com quem carregasse seu fardo macabro para dentro. Não tinha empregados na casa àquela hora. Também nunca se casara. Por isso, ninguém viu quando atravessou o portão da residência de muros altos transportando o corpo até a sala, deitando-o no sofá. Fechou todas as portas e voltou a carregar a defunta, desta vez para o banheiro. Acomodou-a numa banheira que encheu de água morna, até que o cadáver ficasse submerso. Misturou essências à água, tornando-a muito cheirosa. Depois, tirou toda a roupa, sentou-se numa poltrona que havia dentro do amplo banheiro e encheu-se de paciência para esperar.
De repente, o cadáver agitou-se dentro da banheira. Sentou-se rápido, com dificuldades para respirar. Passou a mão no rosto, incomodado com a água morna. Aí, viu o advogado, que observava alerta. O ser macabro falou, com uma voz ainda esganiçada:
- Fez tudo como devia?
- Sim. Como sempre. Mas desta vez temos um pequeno problema...
- Tudo a seu tempo - disse a ex-defunta. - Agora, dê-me o que mais preciso.
- Venha até mim. Assim, testará as tuas forças.
Ela esfregou o corpo demoradamente, passando também sabonete líquido e depois retirando a espuma, antes de se levantar da banheira. Depois, agachou-se entre as pernas do advogado e o chupou com gula, até que ele gozou em sua boca. Foi uma gozada cavalar, na qual ele quase não parou de verter porra. Ela elogiou:
- Sim, vejo que cumpriu bem o acordo. Deve ter, mesmo, passado esses sete anos sem foder ninguém, pois consegue verter uma quantidade de esperma digna de fazer inveja a qualquer homem.
- Eu preferia gozar na tua boceta, ou no teu cu apertado.
- Sabe que não podemos ter esse tipo de intimidades. Correríamos o risco de perder tudo. Agora, descanse um pouco, pois vou querer de novo.
Dito isso, ela voltou para dentro da banheira e continuou a passar essências no corpo.
O advogado fechou os olhos. Aproveitou a pausa para relembrar o passado. Tinha contado apenas parte da verdade à cuidadora do cadeirante. O fato é que quando acordou, todo dolorido, naquela noite dos anos 70, não reconheceu sua recente namorada loira. Esta, que antes era carinhosa e frágil, havia se transformado numa mulher calculista e mandona. Não demorou muito a ele descobrir que a feiosa líder do grupo havia assumido o corpo da sua nova namorada. Por isso, não estranhou quando ela afirmou ter exigido do alienígena beleza eterna. Como a loira era a mais bonita e gostosona do grupo de mulheres, a feiosa deixou o próprio corpo e assumiu o da outra. Portanto, sua antiga namorada infiel tinha se fodido para gerar o feto alienígena, e pago com a própria vida por isso, para a líder gozar das vantagens em um pacto com o alienígena.
Nos primeiros anos que se passaram, a mulher foi envelhecendo muito rápido, ficando cada vez mais com a pele enrugada. No sétimo ano, no entanto, ela disse-lhe ter recebido uma nova visita do extraterrestre, que lhe explicou como voltar à sua bela forma. Mas teria que seguir alguns procedimentos: sempre ter sexo com o mesmo macho, mas apenas para lhe beber todo o esperma. Não poderiam ter outro contato sexual senão a felação, sob pena de ambos perderem a vida. E o mais importante: a cada ano beber todo o sangue de uma mulher jovem, de preferência bela, se ela quisesse preservar sua própria beleza e juventude. Por isso, contratavam em agências de emprego as mais bonitas acompanhantes pro rapaz, que seria usado como bode expiatório, caso a Polícia descobrisse os assassinatos das moças.
Mas Hermelinda, a feiosa caça-alienígenas, detestava cuidar do rapaz. Tentou assassiná-lo de todas as formas, desde facada, tiro e inclusive envenenamento, mas o branquela não morreu. Então, planejou matá-lo por sede ou de fome. Não lhe dava o que comer nem o que beber. Por isso, ele foi ficando cada vez mais debilitado. Foi quando descobriu os poderes do jovem. Ele lhe falava diretamente à sua mente. Temeu que ele se queixasse ao pai extraterrestre, quando finalmente o conhecesse. Por isso, negou-lhe saber quem era o pai. Escondeu-lhe a origem o quanto pode. Fez um acordo com ele: contrataria alguém para cuidar-lhe, em troca de ele não tentar se vingar dela ter-lhe tentado matar. No entanto, orientava a cuidadora da vez para não alimentá-lo direito, deixando-o sempre com fome e fraco. Quando a caseira se rebelava, era morta pela ex-feiosa que lhe drenava todo o sangue, pois se alimentava de vidas. Vidas presentes contidas no sangue e vidas futuras, extraídas dos espermatozoides vivos. Desta última vez, no entanto, ela abstraiu-se do corpo hospedeiro sem ter tido tempo de orientar a tal Ieda de como ela deveria drenar as forças do rapaz.
O advogado nunca soube como ela conseguia morrer e ressuscitar mais jovem, mas isso não lhe interessava. Era por demais ambicioso, e seu deus era o dinheiro. Enquanto a bela coroa o abastecesse dele, faria tudo o que ela pedisse. Desta vez, porém, percebeu que ela retornou bem mais jovem. Com certeza iria querer lhe drenar de mais porra que antes, para manter sua energia, já que agora era mais jovem e certamente mais fogosa. Ele acostumara-se a foder apenas com ela. Aliás, a ser chupado só por ela. Certa vez, tentou foder uma puta, quando a coroa loira havia morrido pela segunda vez, mas quase teve um infarto em pleno ato, quando a mulher de programa apenas molhou de saliva sua pica. Depois disso, não mais arriscou. Guardou-se casto para Hermelinda. Até porque ela chupava muito bem!
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O jovem acordou assustado. Debateu-se na cama, como se tivesse recuperado parte das forças. Sacudiu a cabeça. Eu senti medo de que soubesse que eu o havia drogado. Tive a certeza quando me perguntou:
- O que me aconteceu? Você me drogou, amor? Por que fez isso?
Tentei bloquear meus pensamentos, para que ele não cismasse de mim, mas não sabia como fazer isso. Percebi que ele estava confuso. Arrisquei:
- Você não lê mentes? Por que não vasculha a minha e descobre a verdade?
- Já tentei, mas estou zonzo. Não consigo coordenar meus pensamentos...
Sorri, intimamente. Tive a certeza de que havia descoberto uma forma de contê-lo. Ofereci-lhe a mistira de suco de frutas combinada com verduras. Eu adorava. Mas não sabia se ele iria gostar. Ele adorou. Disse que nunca havia experimentado algo igual. Eu já havia adicionado sonífero à mistura, quando fui buscá-la na cozinha. Por isso não tomei nem um gole. Aí, ele ficou alerta, como se estivesse ouvindo alguma coisa. Disse:
- Aquela desgraçada voltou. Logo, estará aqui.
- Quem? - Perguntei-lhe.
- Ela, a minha mãe Hermelinda. Voltou mais uma vez do túmulo!
Primeiro, eu me espantei. Depois, achei que ele estava delirando por causa da droga inserida no seu suco. Mas ele estava, realmente, apavorado. Exigiu:
- Depressa, leve-me para a tua casa. Ela não pode nos encontrar aqui.
- Calma, bem. Você está agitado. Relaxe. Quer uma chupadinha? - Eu não podia ser mais dissimulada.
Ele ficou indeciso, por um instante. Depois disse:
- Está bem, estou mesmo querendo. Mas tem que ser uma foda rápida. Sinto que ela logo estará aqui.
Foi uma foda demorada. Eu me esmerei em chupá-lo, temente de que ele quisesse foder-me o cu ou a boceta. Estava ainda dolorida da trepada demorada com o negrão. Ele fechou os olhos e acho que ficou prolongando o gozo. Não deu mais nem um piu, adorando o que eu lhe fazia com a boca. Fiquei molhadinha, mas fiz de tudo para que ele não percebesse. No entanto, estranhei que ele não houvesse lido meus pensamentos. Estaria a Criatura perdendo os seus poderes?
FIM DA SÉTIMA PARTE