Pai e mãe,
Mais uma vez acordei na sarjeta. Essa, sem dúvidas, não era a melhor versão de mim. Que confusão foi aquela? O que houve com o Zedu? Ele disse coisas horríveis para mim, mas, por quê?
***
— Grandão? — Brutus me balançou. — Acorda. Vamos entrar.
— Puta merda. — murmurei, sem abrir os olhos. — Que merda. Estamos lascados, né? Podemos voltar a dormir?
— Sim, mas vamos entrar. — sugeriu Brutus me ajudando a ficar em pé.
Desastre. A primeira palavra que pensei ao entrar na casa de Ramona foi: desastre. O ambiente estava molhado e cheio de lixo. Ainda em que o Seu Wilson, pai de Ramona, ficaria a semana fora, ou seja, a missão de limpeza seria estendida.
— Caramba! — exclamou Brutus, tirando do chão algumas almofadas e colocando no sofá. — O pessoal pegou pesado, hein?
— Eu acho que tá todo mundo dormindo. — comentei deitando no sofá. — Eu estou morrendo de sono, mesmo com todas as tretas que aconteceram, acho, que vou dormir.
— Podemos dormir uns minutinhos. — afirmou Brutus, deitando em um sofá menor.
Na verdade, eu estava com medo. Não queria ver o Zedu. Não lembrava de muitas coisas da festa, mas sentia que algo aconteceria se nos encontrássemos. Por esse motivo, decidi me entregar aos braços de Morfeu. Tá, a última frase foi exagerada, me dá um desconto, vai.
Dormi e sonhei com os meus pais. Eles me abraçaram, dizendo palavras de carinho e incentivo. Acordei com um toque no meu rosto. Era o Zedu. Ele estava sentado ao meu lado. No seu olho direito, uma mancha avermelhada.
— Você está horrível. — afirmou Zedu, tocando no meu rosto e rindo.
— Já se olhou no espelho? — respondi. — Acho que precisamos conversar. Eu não lembro muito bem o que aconteceu, mas sei que foi pesado. Principalmente pelo roxo no seu olho.
— Eu fui um idiota com você. Eu errei. Só que eu não confio em você. Acho que precisamos de um tempo. — ele falou.
— Ok. — concordei, sem ter coragem de olhar para ele.
Uma das piores consequências da bebida? A ressaca moral. Letícia acordou com uma enxaqueca colossal. Ela levantou e correu para o banheiro, encontrou Bernardo dormindo no chão. A minha amiga sorriu e entrou no banheiro. Já Ramona não pregou o olho, pelo contrário. Aproveitou cada minuto ao lado de Julian.
Por incrível que pareça, outro casal que deixou as diferenças de lado foi Mundico e Juarez. Eles acordaram e ficaram assustados. No fundo, ainda havia um sentimento mal resolvido. Apressado, Mundico vestiu as roupas e foi em direção ao corredor, mas Juarez o segurou pelo braço.
— Eu te amo. Me perdoa. Eu te amo. — implorou Juarez.
— Me ama? Por sua culpa não posso mais dançar. — afirmou Mundico se soltando e dando um tapa em Juarez.
— Gente. — soltou Letícia, chocada com a cena, porque nunca viu Mundico ser violento. — Calma, vamos conversar e... — percebendo que Juarez estava pelado. — Olha só. Que coisa grande.
— Já vi maiores. — comentou Bernardo, olhando por cima dos ombros de Letícia.
— Pervertidos. — Juarez virou de costas e vestiu a cueca, mas quando voltou para o corredor não encontrou mais Mundico. — Merda.
Sim, aquela noite rendeu. Na segunda-feira, todo mundo ainda continuava de ressaca moral. Fiquei firme na minha decisão de não procurar o Zedu. Depois de tudo o que enfrentamos, não aceitaria ouvir aquelas coisas de novo.
Nós apresentamos o projeto de ciências e conseguimos a nota máxima, porém, na aula de inglês recebemos uma péssima notícia, outro trabalho em grupo. Na mesma hora, puxei o Lucas, Ramona e Letícia para a minha equipe. O Zedu e Brutus fizeram com outros alunos.
A ideia da professora era fazer um material dinâmico. Então, pegou um pote de vidro com vários papéis dobrados. Ela fez um sorteio dos temas. A minha equipe pegou o tema "música", ou seja, precisaríamos traduzir uma canção em inglês. Fiz um esforço tremendo para não olhar para o Zedu.
No estúdio, contei toda a história para George, que ficou completamente ao meu lado. As coisas no trabalho estavam maravilhosas, como dizem, sorte no trabalho, azar no amor. Nem parecia mais aquele menino perdido. A fotografia trouxe uma versão mais decidida de mim. Bem, foi George quem comentou, mas eu acredito, porque me sinto diferente. Estou mais forte.
Mais uma sessão de reunião por causa da escola. Nos reunimos no Fred's para decidir a abordagem do trabalho de inglês. A primeira ideia foi fazer um curta-metragem, entretanto, o Arthur ainda estava com raiva da Letícia. Então, o Lucas sugeriu fazermos uma apresentação musical. As meninas adoraram a ideia, eu, por outro lado, tinha minhas ressalvas.
— Tá, mas quem vai cantar? A minha voz é horrível. — se adiantou Letícia.
— Eu morro de vergonha. Já não basta toda a história comentando do meu "problema". — afirmou Ramona fazendo aspas com os dedos.
— A minha irmã tem uma banda. Já é um começo. — revelou Lucas.
— Eu posso cantar. — soltei para a surpresa de todos do grupo. Todos me olharam de maneira engraçada.
Sim, meus amigos ainda não conheciam muitos talentos meus como, por exemplo, cantar. Acho que nem a minha família sabia, mas queria mostrar para o Zedu que eu conseguia fazer as coisas sem ele.
A minha família respirava a formatura de Carlos. Só que o coitado se lascou tendo a Giovanna como professora. Ela conseguiu transformar a coreografia dele em um pesadelo. Os dois estavam na sala de casa. Carlos suado e ofegante, a Giovanna plena.
— Podemos tirar uma folga? — questionou Carlos, deitado no chão e fingindo um choro.
— Folga. Eu ouvi direito? — fazendo uma voz engraçada. — Meu filho. Acha que o BTS descansa, enquanto desenvolve aqueles conceitos maravilhosos?
— Eu espero que sim. — Carlos respondeu sem ter ideia de quem era o BTS.
— Carlos, querido e amado, quase padrastro/tio, vai ser um momento único. Toda a tua família vai estar assistindo. A titia vai assistir. Não pode ser um fiasco. Não pode. — o discurso coach de Giovanna afetou Carlos de maneira positiva.
—Tú tem razão, Giovanna! — Carlos exclamou, levantando em um pulo. — Vamos lá.
— Esse é o meu garoto. Do início. — orientou Giovanna, pegando o celular para gravar o mico de Carlos.
Engraçado como as coisas podem mudar rápido em nossas vidas. Eu nunca imaginei que um dia pudesse ficar com o Zedu, mas fiquei. Também não esperava terminar o relacionamento tão rápido. Eu queria entender o real motivo das neuras dele.
Enquanto eu tinha minhas dúvidas, o Zedu se sentia perdido. Desde a morte de seu pai, ele não parecia o mesmo. Ele chegou em casa e encontrou a mãe dormindo no sofá. Zedu a cobriu e seguiu para o quarto. No caminho, esbarrou com o irmão Fred.
Conversar sobre o término do nosso relacionamento foi inevitável. Amável, Fred pediu para Zedu reavaliar a decisão, porque no fundo sabia que a gente gostava um do outro. De forma abrupta, José Leonardo entrou no quarto e os irmãos ficaram calados.
— Vão me excluir agora?
— Eu terminei com o Yuri. — contou Zedu para a alegria de JL.
— Graças a Deus, ele não era para você. Como te disse, ele podia te trair a qualquer hora, você ia ficar sozinho. Agora que tal você voltar com a Alicia? Ela é apaixonada por ti. — aconselhou JL.
— Ele não vai voltar com a Alicia, o Zedu é GAY, JL. O nosso irmão é GAY. Quer você goste ou não. Vamos Zedu, o futebol vai já começar. — Fred preferiu sair para não criar confusão e aproveitou para levar o irmão.
— Ele não pode ficar com homem. Eu não aceito irmão meu gay. Prefiro ele morto. — pensou JL com sangue nos olhos.
Sem ter muita opção, Juarez decidiu fazer o trabalho com Zedu e Brutus. Eles se encontraram na casa de Brutus para iniciar a produção do projeto. Eles chamaram Arthur, porque tiveram a ideia de um curta-metragem (invejosos). A ideia era apresentar um filme de suspense. O grupo pensou no roteiro e marcaram a gravação, afinal, tínhamos apenas uma semana.
Nem preciso dizer, né? A semana passou "correndo". O trabalho era o meu lugar de paz, mas nos últimos dias se tornou um hospício. O casamento estava tirando todos do sério. O George e Jonas queriam o dia perfeito, entretanto, a cada nova conquista, algo acontecia para entristecê-los.
O estúdio virou o quartel-general do casório. Hélder funcionou como uma espécie de planejador do casamento. Para o meu alívio e saúde mental, o Lucas começou a aparecer mais vezes. De uma maneira estranha, a presença dele me deixava relaxado. Nem parecia o mesmo Lucas do início do ano.
— O casamento tem que ser perfeito! — gritou Jonas, após saber que a floricultura não tinha lírios brancos.
— Se um dia eu casa, vai ser pro amor e não para impressionar um bando de gay chato. — Lucas comentou ao ver o desespero de Jonas.
— Ele tá certo. — concordei. — Já pensou? Ter esse trabalho para satisfazer os outros? — questionei fazendo todo mundo rir.
Aos poucos, os risos foram se dissipando. O Hélder fez uma careta engraçada e apontou para trás. Virei e encontrei o Zedu na porta do estúdio. Ele ainda estava de farda, então, aparentemente, não havia ido para casa. Respirei fundo e fui ao encontro dele.
***
José Lucas não entendia como Zedu gostava de ficar com os meninos. Ele tentou, mas não conseguiu encaixar as peças. Ele decidiu conversar com a mãe antes de tomar uma atitude drástica. JL esperou Fred sair para ter mais privacidade com Teodora.
Infelizmente, a conversa tomou outra proporção. A Teodora não via problemas na sexualidade do filho, principalmente, agora que o seu coração se encontrava em luto.
— José Leonardo, meu filho, acho que está na hora de vocês seguir o seu rumo. Um dos inquilinos do prédio no Centro da cidade vai sair. Podemos te instalar lá e...
— Louca! — gritou JL, assustando a sua mãe. — A senhora prefere o viado?
— Não fale assim do seu irmão. — interveio Teodora, que respirou fundo para não explodir com JL. — Meu filho, agora estou trabalhando. Posso te ajudar.
— Estou decepcionado. Nunca imaginei que a senhora fosse ficar do lado do seu filho viado! — JL gritou dando um soco na parede.
— Não grite com a mamãe! — esbravejou Fred para a surpresa de JL. — Você ficou louco? — ficando na frente de Teodora.
— Loucos são vocês. — acusou JL recuando e pegando a mochila. — Eu vou sair deste manicômio. — saindo de casa.
— Ainda bem que eu esqueci meu notebook. — disse Fred aliviado e tocando no rosto da mãe. — Ele estava muito alterado. Você tá bem?
— Sim. Estou. Meu filho, o Zedu não pode saber disso, não pode.
Odeio brigar com o Zedu. A minha pressão sobe. O meu coração fica acelerado. A mente cria mil teorias. Só que dessa vez eu não vou baixar a cabeça. O meu ex-namorado estava com dificuldade para falar. Quando ele ficava estressado, o seu lábio inferior tremia e seus olhos piscavam mais que o normal.
Não! Eu não vou cair nos charmes involuntários do Zedu. Durante todo esse tempo, ele não teve motivos reais para se preocupar. Jamais o trairia. O José Eduardo tinha a obrigação de confiar em mim.
— Fala, Zedu. — soltei, fingindo uma falta de paciência, mas querendo abraçá-lo. — Eu não estou entendendo nada.
— Você tá diferente comigo. Você era o meu melhor amigo e eu sinto falta.
— Ah, jura? — cruzei os braços e suspirei. — Achou que eu ia ficar na bad por você acreditar em fofocas?
— Eu amo você, mas você precisa entender.
— Eu não consigo. — lamentei. — Desculpa, passei por muitas coisas para ficar com você. O que nós construímos foi lindo, mas se você não quer acreditar em mim, paciência.
— Nunca te vi falando assim... eu...
— É, Zedu, cansei de bancar a vítima. Se você me acha uma puta safada, ok, eu não me importo. Eu estou cheio de coisas para resolver. E não tenho tempo de ficar servindo de ponte para você. Vai viver a tua vidinha e me deixa em paz. — voltando para o estúdio e deixando Zedu sozinho.
Puta merda! Trabalho no estúdio, projeto de inglês e crise com o Zedu. A minha semana foi horrível. Além das questões já citadas, ainda não conseguia olhar para Letícia. Afinal, eu peguei o irmão dela. Cheguei na casa de Lucas no horário marcado. A irmã dele nos apresentou os integrantes da banda e escolhemos uma música para a apresentação.
Cada um da equipe escolheu uma música. Preciso dizer a minha? Ok. Foi "Don't Look Back in Anger", do Oasis. Nunca torci tanto para algo, mas, infelizmente, a sorte não estava do meu lado e ensaiamos a canção escolhida. Obrigado, Lucas.
Eu amei a cara dos meus amigos quando comecei a cantar. Eu não sou um Harry Style, mas mando bem nos vocais. Errei algumas estrofes da música, só que percebi que a letra dizia muito sobre a minha relação com o Zedu.
Em um dos ensaios, a irmã de Lucas pediu pizza e o momento que eu evitava chegou. A Letícia se aproximou e implorei o seu perdão, ou melhor, balbuciei um pedido de desculpas.
— Eu... eu... sinto...
— Sente muito por chupar o meu irmão e não me contar. Tudo bem. — Letícia não mediu as palavras e, com certeza, eu fiquei todo vermelho.
— Basicamente.
— Yuri. — ela disse pegando no meu ombro. — Você não precisa esconder as coisas. A mentira é algo muito ruim. Olha, usa como exemplo a minha situação com o Arthur. Se eu tivesse contado para ele, nada disso aconteceria.
— Você está certa. Obrigado por não me crucificar. — garanti a abraçando.
A relação de Mundico e Juarez continuava estagnada. O meu amigo ainda se sentia muito magoado com a coragem do seu ex. Apesar de tudo, eles continuavam se falando diariamente, Mundico sentia a mesma coisa que eu. Naquela tarde, ele foi até um fisioterapeuta com Juarez para tentar marcar uma consulta.
Depois de uma bateria de exames, o médico afirmou que uma recuperação dos movimentos de Mundico era possível. O preço da consulta doeu no bolso de Juarez, uma vez que o pai cancelou os seus principais cartões de créditos.
— Você pagou a consulta com dinheiro? — Mundico questionou.
— Agradeça ao meu pai. — Juarez respirou fundo. — Você vale a pena, Mundico. Eu errei. Eu quero resolver. Não se preocupe. O seu único objetivo é melhorar.
***
Um coração ferido pode nunca se recuperar. Será que nós não teríamos sorte no amor? Letícia encontrou Arthur no Shopping, na verdade, ela o seguiu até lá. Os dois iniciaram uma conversa, mas o ex-namorado da minha amiga ficou muito nervoso e foi embora. Letícia ficou arrasada, começou a chorar e sentiu um toque em seu ombro.
— Arthur?
— Letícia, eu não entendo. Você diz que me ama, mas ficou com o Bernardo. — ele disse chorando.
— Eu não sei. Eu amo você. Mas, eu não sei.
***
O meu quarto parecia uma zona de guerra, a minha tia percebeu o meu comportamento. Ela já sabia que Zedu e eu não éramos mais namorados, então, pediu que eu focasse em outras coisas como, por exemplo, a limpeza da casa.
Naquela noite, a titia decidiu me levar para jantar, sem meus irmãos, achei estranho, mas aceitei. A Giovanna ficou louca, consegui jogar na cara dela que era o preferido da titia. No meio da refeição, a tia Olívia falou sobre um email que recebeu da escola.
***
SEXTA-FEIRA CULTURA DA ESCOLA DOM PEDRO II
OS ALUNOS VÃO FAZER UMA APRESENTAÇÃO ESPECIAL, A PARTIR DAS 10H.
TODOS OS PAIS E RESPONSÁVEIS ESTÃO CONVIDADOS
***
Senhor amado. Como assim? Contei para as minhas amigas e elas já sabiam a novidade. Não queria me apresentar na frente de várias pessoas. Já era humilhação o suficiente fazer isso na frente dos babacas da escola. A professora era maluca.
No dia da apresentação quase não consegui dormir. Até respirar era difícil. Cheguei na escola e havia uma grande placa escrito: "Sejam bem-vindos". Deu vontade de arrancar aquilo da parede. Os amigos de Lucas chegaram e, para a minha surpresa, George e Jonas, também. Isso, eu ia pagar um mico na frente de todos.
— Gente! — gritou Letícia, correndo na nossa direção. — Fiz merda. Chamei Arthur e Bernardo.
— Amiga. Você precisa escolher. — Ramona a repreendeu.
— Ei, Letícia. — disparou Lucas. — E se você for poliamorista?
— Eu não sou pervertida. — soltou Letícia fazendo uma careta engraçada.
— Poliamor não tem nada a ver com promiscuidade. É quando uma pessoa se apaixona por mais de uma pessoa. Às vezes, nem sexo tem.
— Meu Deus. Será? — indagou Letícia aterrorizada com a ideia.
— Garotos! — tia Ray gritou chamando a nossa atenção. — As apresentações não vão acontecer no auditório. Montamos uma estrutura na área externa do colégio.
Merda!!! As apresentações não aconteceriam no auditório. A diretoria teve a brilhante ideia de fazer o evento na quadra da escola e detalhe: com um palco. Eu não ia conseguir. Fui para o banheiro, lavei meu rosto e rezei o 'Pai Nosso'.
Eu pagaria outro mico. Só que com um público maior. Andava de um lado para o outro. Tomei remédio contra a ansiedade,entretanto, ele não fez efeito. Lavei meu rosto mais uma vez, e quando virei para trás esbarrei no Zedu.
— Tá nervoso com a apresentação? — ele perguntou tocando o meu rosto e me fazendo ter um arrepio no corpo. — Não fica assim. — Zedu me abraçou e falou perto do meu ouvido. — Yuri. Você é o garoto mais incrível que eu conheço. Nada pode te deter. Arrebenta.
— Obrigado, Zedu. — agradeci ainda o abraçando.
O corredor que levava até o pátio era bem iluminado. Logo na entrada pude ver a minha tia com meus irmãos. A Giovanna filmava, claro, se eu pagasse mico ela era a primeira a divulgar. Vi de relance, a Teodora e o Fred. Todos os responsáveis estavam lá. Jonas deu uma aceno bastante entusiasmado na minha direção. A professora nos apresentou e falou sobre o nosso número.
— O grupo formado por Lucas, Ramona, Yuri e Letícia fará uma apresentação musical. Eles trouxeram até músicos — explicou a diretora lendo em um papel. — A banda "Calcanhar de Aquiles". — o público aplaudiu e a banda ficou em posição.
Eu não vou conseguir. Não tem como. O meu coração parecia a bateria de uma escola de samba. As palmas das minhas mãos estavam suadas. O microfone quase escorregou da minha mão. Encarei o público e tive uma vertigem. Porque eu fui inventar isso? A banda começou a tocar as notas da canção "The Luckiest Boy", de Boy Sompob. Eles tocaram três vezes e a voz não saia.
— Escuta. — Lucas chamou a minha atenção e cochichou perto de mim. — Eu também estou com medo, mas você não pode desistir. Confessa que essa música é uma declaração de amor para o Zedu. Ele está ali, sentado. Olha para ele, finge que só tem ele aqui. E, outra, eu preciso dessa nota, sou péssimo em inglês, quebra essa. Canta.
— Bom dia. — falei no microfone e a voz ecoou no sistema de som. — Eu me chamo Yuri Teixeira. E depois de uma votação, a equipe decidiu cantar a música "The Luckiest Boy". Os nossos colegas estão distribuindo panfletos com a tradução da canção. E eu a dedico para uma pessoa muito especial que está aqui.
— Obrigada! — gritou Giovanna chamando a atenção para si. — Não precisava.
***
Você sabe quem eu era antes?
Você sabe que eu estava com medo do amor
Fechei a porta para qualquer um
Até que finalmente te conheci
Você me puxou do nada
Você mudou meu mundo inteiro
***
Pressão. A Letícia encontrou Arthur e Bernardo. Ela não sabia quem escolher, então, lembrou das palavras de Lucas e jogou a última carta na mesa.
— Eu quero os dois. — Letícia soltou, então, Arthur e Bernardo se olham de forma esquisita. — Quero namorar com vocês dois, eu amo os dois. Sei que parece estranho, mas isso acontece com algumas pessoas.
— Você está falando de Poliamor? — questionou Arthur, ainda sem entender a linha de raciocínio de Letícia.
— Sim.
— Eu não quero dividir você... — Bernardo afirmou.
— Você não vai me dividir. Eu pesquisei bastante sobre o assunto, vamos apenas compartilhar o nosso amor. —
— Letícia, eu te amo. Te amo muito. — garantiu Arthur pegando na mão da amada. — Você acha que isso vai dar certo?
— Sério? — perguntou Bernardo quase gritando. — Sério que você vai aceitar isso?
— Eu amo a Letícia e farei qualquer coisa para continuar com ela. E você? — quis saber Arthur deixando Bernardo sem palavras.
***
Porque você é o único
Porque você é meu coração
Porque você é meu sonho que está se tornando realidade
O dia em que você entrou na minha vida
Eu me tornei o garoto mais sortudo
Fique comigo para sempre
Só você e eu para sempre
Toda vez que olho nos seus olhos
É como olhar para o céu azul
Você é meu raio de sol
Você é minha luz das estrelas à noite
***
Entre brigas e perdão, a relação de Juarez e Mundico não estava em um lugar bacana. Após a primeira sessão de fisioterapia, Mundico sentiu uma dor descomunal e precisou ir ao hospital. Ele teve uma crise de choro e descontou toda a frustração em Juarez. Palavras pesadas foram ditas. Um coração machucado pode ser uma faca afiada.
— Você nunca vai me perdoar, né? — Juarez perguntou.
— Eu não posso. — disse Mundico chorando.
— Se eu for embora... você vai sentir a minha falta?
— Você vai se mudar?
— Eu não aguento mais a sua indiferença. — revelou Juarez deixando algumas lágrimas escorrerem pelo seu rosto.
— E a escola? Faltam três meses para as aulas terminarem. — Mundico procurou motivos para que Juarez não fosse embora.
— Eu refaço o primeiro ano, mas não posso viver assim. — deixando Mundico sozinho aos prantos.
***
Você sabe que eu anseio por você?
Você sabe que apenas seu amor me leva para casa?
Que mais uma vez
Porque eu acredito no amor verdadeiro
E você afugenta toda a dor
Por favor, fique comigo
Porque você é o único
Porque você é meu coração
Porque você é meu sonho que está se tornando realidade
O dia em que você entrou na minha vida
Eu me tornei o garoto mais sortudo
Fique comigo para sempre
Só você e eu para sempre
Toda vez que olho nos seus olhos
É como olhar para o céu azul
Você é meu raio de sol
Você é minha luz das estrelas à noite
***
A tia Olivia mandou uma mensagem engraçada para o meu celular. ela pediu para me encontrar no Fred's. Deixei os meus irmãos lanchando e segui para o local. Não a encontrei. Preocupado, liguei para saber notícias
— Alô, tia? Não estou vendo a senhora. — falei.
— Eu sei, mas tenho certeza que vai encontrar o que procura. — ela respondeu desligando o celular abruptamente.
O que? Devo me preocupar? Que ligação estranha. De repente, uma forte chuva torrencial começou a cair. Coloquei o celular no bolso e corri na direção da minha casa. Para a minha surpresa, encontrei o Zedu no meio da caminho. Ele estava usando uma blusa branca, ou seja, conseguia ver todo o seu corpo.
— Mamãe disse que eu ia encontrar o que eu procurava aqui. — ele explicou.
— Titia também.
— Essas duas. — Zedu riu, porque entendeu o plano delas.
— Olha...
— Yuri, eu sei que fui um babaca, da pior qualidade, eu aprendi a lição. — Zedu me cortou e se aproximou. — Não tinha motivos para duvidar de você, mas depois daquela declaração na escola, você ficou dias sem falar comigo. O que houve?
— Eu não sei. Tantas coisas aconteceram, acho que cantei aquela música só pra provar que nunca te trairia. — expliquei.
— Eu sei. Você foi um namorado incrível, Yuri. — ele soltou e essa parte doeu no meu coração, eu fui um namorado incrível, ou seja, não sou mais. — Yuri! — Zedu ficou de joelhos no chão ensopado de água. — Eu te amo. Quer ser meu namorado de novo?
— Zedu... para...
— É sério. Vai ser diferente, eu prometo. E sempre que sentir ciúmes de ti, eu vou falar, prometo. Volta pra mim? — ele perguntou fazendo uma cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança.
— Merda. — soltei. Me abaixei e o beijei. — Vamos tirar uma selfie? — perguntei tirando o celular do bolso e tirando uma foto nossa, que estávamos de joelhos no meio da rua durante uma tempestade.
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O dia em que você entrou na minha vida
Eu me tornei o garoto mais sortudo
Fique comigo para sempre
Só você e eu para sempre
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— Que merda. — murmurou JL ao ver nossa foto nas redes sociais de Zedu. — Eles voltaram. O meu irmão não aprende. Olha, comentários da mamãe e do Fred. Eles vão me pagar bem caro. Eles vão se arrepender. Não se preocupe, pai. Em breve. Em breve.