Após uma cansativa viagem, eu e minha amiga Bárbara finalmente chegamos a Porto Seguro. Depois de vôos atrasados, turbulências e três conexões, enfim aterrisávamos na fantástica terra baiana para curtirmos nosso Carnaval como merecíamos. Ainda sonolentos, desembarcamos da aeronave e partimos para a salinha de desembarque em busca de nossas malas.
Após quase meia-hora esperando naquela esteira de malas, só restávamos nós no aguardo. A Bárbara já havia pegado sua mala, estando eu apenas aguardando a minha. Porém, para nossa surpresa, a esteira das malas foi desligada, assim como as luzes do aeroporto foram diminuindo, como que prestes a fechar. Fomos até o guichê da companhia, onde indagamos acerca de minha mala. A atendente, pouco receptiva, informou que todas as malas do avião já haviam sido retiradas e que realmente não havia mais bagagens por retirar. Fiquei louco:
- Como assim? Minha mala, com minhas roupas, com tudo?! Perdeu-se em uma conexão?
- Não temos como saber agora, senhor - disse ela com aquela usual voz anasalada e impaciente de atendentes pouco sorridentes. Amanhã o senhor poderá abrir um chamado para investigarmos. Hoje, infelizmente, pelo horário, não conseguiremos.
Era já quase 1h da manhã e realmente éramos dos poucos que restavam no local. Indignado, proferi algumas ameaças vagas ('isso não vai ficar assim', 'vocês vão ver', aquela coisa básica), e fui saindo do aeroporto com minha amiga.
- Olha que absurdo! E agora, o que eu faço?
- Calma, amigo. Vamos chegar no hotel e descansar. Chegando lá pensamos.
Bufei chateado, mas enfim, ela tinha razão: realmente o negócio era ir para o hotel e relaxar a mente.
Pegamos um táxi e em meia hora estávamos já instalados em nosso quarto. Ficamos em um mesmo quarto (Bárbara e eu éramos ex-namorados e amigos de longa data, por isso entendemos que valia a pena economizarmos e ficarmos juntos), porém com camas de solteiro separadas.
- Vou pro banho! - exclamou ela.
Fiquei deitado na cama, olhando folhetos do hotel que mostravam os principais locais de festa do Carnaval e aos poucos fui começando a desopilar, pensando que no final das contas estávamos lá para nos divertirmos e não nos estressar.
Logo veio Bárbara, linda, enrolada numa tolha de banho.
- Maurinho! QUE banho! Meu Deus!!! Não perde!
- Tô indo.
E realmente, o banho era maravilhoso. Coloquei a cabeça debaixo do chuveiro e comecei a curtir um pouco a viagem. Terminei o banho, me sequei e lembrei que não tinha roupas para colocar, apenas a roupa - imunda - com a qual passei o dia viajando.
- Bárbara! - gritei de dentro do banheiro.
- Fala, amore!
- Você se importa se eu ficar de toalha pelo quarto? Acabei de lembrar que não tenho roupas limpas para colocar.
- Que?
- É, tipo, não vou colocar a mesma roupa que estava. Está fedendo.
- Mas, Maurinho, ficar andando de toalha pelo quarto é meio absurdo, né? Tudo bem que somos amigos e tal, mas tudo tem limite.
- Ok, entendo... tens alguma sugestão? Quer pedir emprestada alguma roupa para algum outro hóspede do hotel?
- Afff... até parece. Eu te empresto alguma coisa.
- Bárbara, não, né? Você é a guria mais patricinha que conheço. Não deve ter uma roupa unissex que seja. Só usa vestido e saia... aí complica.
- Obrigada pelo elogio: sou bem paty mesmo. E você tem razão quanto às minhas roupas, mas vou procurar alguma coisa bem 'menos menininha' pra ti. Acalma o coração.
Bárbara então começou a mexer em sua mala e realmente se deu conta de que seu amigo Mauro tinha total razão: ela só tinha roupinhas extremamente femininas. Pegou uma peça que lhe pareceu o menos pior e alcançou pra ele da porta do banheiro:
- Foi o melhor que pude arranjar. Desculpe.
Mauro apenas esticou o braço pra fora e pegou. Quando trouxa para dentro do banheiro, quase teve um ataque:
- Bárbara! Um vestido?!
- Foi o melhor que pude arranjar, amor. Ao menos ele é amarelinho e não rosa - disse ela rindo. Mas deixa de ser fiasquento, menino: é só pra ficar aqui no quarto hoje. Eu juro que não conto pra ninguém.
Mauro ficou então alguns segundos olhando aquele vestido num verdadeiro dilema. Por fim, pensou que realmente não seria nada demais e resolveu colocá-lo. Era um vestido amarelo super delicado de alcinhas, com um bordadinho na barra inferior. Curto.
- Meu Deus!!! Que lindaaaa! Arrasou - gritava Bárbara, entre assobios de 'fiu-fiu', quando ele entrou no quarto.
- Não tem graça... - disse Mauro, entre o envergonhado e o amuado.
- Fala por ti. Eu achei super engraçado.
- Affff.
Mauro estava recolhendo sua mochila do chão, quando Bárbara falou:
- Querida... você não acha que vai ficar andando por aí com esse 'material' à mostra, né? - disse Bárbara, apontando para a região pélvica do amigo.
- Olha, não pretendia colocar minha cueca usada, mas se preferes assim.
- Não! Nem pensar! Cueca fedorenta com esse meu vestido que amo?! Jamais. Peraí que te empresto uma calcinha.
- Ah, não... calcinha já é demais, Bárbara.
- Ai, grande coisa! Já está de vestido mesmo! Calma que eu acho uma que vai super combinar com teu vestido.
Mauro apenas respirou fundo e cruzou os braços, como que não tendo muito o que fazer diante daquele cenário.
Bárbara então pulou até sua mala, jogou algumas peças de roupa pra cima e exclamou:
- Arrá!!! Achei. Toma, bota aí, amiga! - e jogou a calcinha na direção de Mauro.
Mauro pegou no ar e analisou em suas mãos: era uma calcinha amarelinha, cheia de bordados de flores. Uma graça.
- Sério? Essa? Você não tem nada bege, bem simples? Tipo, nada sexy?
- E eu lá sou de usar calcinha bege, Mauro? Faça-me o favor.
Derrotado, Mauro então se abaixou e vestiu a peça. Para sua surpresa, era mais confortável do que imaginava:
- Nada mal até... - disse ele, menos chateado.
- Que bom que gostou, amiga! Se quiser, tenho mais pra emprestar!
- Não precisa, querida! É só para essa noite. Aliás, vamos dormir que estou exausto.
- Boa ideia.
Ambos então deitaram em suas camas e apagaram a luz. Ainda teriam muito Carnaval pela frente.