Dos três, o que eu sempre mais gostei foi Marcelo. Não porque fosse o mais bonito, o mais gostoso, o mais simpático, ou o mais qualquer coisa assim, mas porque ele sempre foi na dele. Mas também não era carrancudo, metido. Nada disso; era boa gente. Mas na dele. Gentil, ameno, mas falava pouco. Seus sorrisos eram apenas esboçados, a vida íntima e os problemas pessoais sempre deixados para escanteio nas conversas.
Talvez fosse também por isso que eu gostava dele, pela identificação em termos a mesma reserva sobre nossas vidas. Mas não era o principal. Era alguma coisa no olhar, e desde o primeiro olhar, que me despertava. E eu só saberia muito tempo depois o que era essa coisa. Aprendi na prática, e o que não entendi bem ele mais tarde me explicou.
Marcelo parecia um homem feito, diferentemente de nós três. Era como se estivesse apenas cumprindo aquela etapa dos vinte e poucos anos porque ela era inevitável. Era como se a cumprisse, não que efetivamente a vivesse. Parecia estar lá na frente, e eu gostava disso. Transmitia segurança, serenidade.
Minha empatia por ele foi imediata. E, no seu modo discreto, meio que simulava demonstrar que ela era recíproca. Apesar desse perfil mais maduro, ele não aparentava ser mais velho. Era um rapaz de 22 anos, mais ou menos a mesma idade que nós tínhamos, com o vigor e a jovialidade que temos aos 22 anos. Apenas não vivia divulgando isso – como faziam Otávio, propositadamente, ou Rodrigo, involuntariamente.
Marcelo era o mais estudioso de nós quatro. Era o mais dedicado à faculdade (que também era a mais puxada entre as que nós cursávamos), mas não dá pra dizer que fosse um nerd, ou um CDF. Muitas vezes chegava tarde da noite, e não era tão incomum que eu percebesse que havia entornado algumas, ou muitas, talvez até todas. Também passava a noite fora com alguma constância. E era óbvio que fazia sucesso com as garotas – nem que fosse por ter mais de 1,90 de altura num corpo esguio e bem torneado. Como as mulheres diziam antigamente, era “um tipão” – e não vejo definição que lhe possa cair melhor.
Era o único que tinha o direito de trazer mulheres para o apê. Primeiro, porque era o dono do apartamento (ou melhor, o filho do dono). Só isso já lhe salvaguardava esse privilégio, embora nunca, ao menos que eu me lembre, ele tenha usado essa posição como argumento para qualquer coisa. Marcelo se impunha de outras formas.
Segundo, porque apenas ele tinha um quarto individual, e com cama de casal. Nem era o quarto maior, porque o maior deles era dividido por Otávio e Rodrigo, em duas camas de solteiro num cômodo mais ou menos espaçoso. Bom, eu também tinha um quarto só meu, mas era originalmente o quarto de empregada – até grande para um quarto desses, mas ainda assim apertado demais para estar com alguém. E, claro, impossível de conter uma cama de casal. Além do mais, mulheres nunca me atraíram para o sexo. E eu não levaria caras para o apê.
Mas, embora pudesse, Marcelo nunca exercia o direito de trazer garotas para ficar com ele em seu quarto. Enfim, para fuder. Se comia, e certamente comia, comia fora dali. Trouxe algumas, com as quais estava tendo uma relação mais fixa, mas não permaneceu com elas no apartamento mais do que meia-hora. Chegaram, ele as apresentou a mim, a Otávio ou Rodrigo, dependendo de quem estava em casa, e logo saíram.
Talvez fossem bonitas, talvez gostosas, talvez nem uma coisa nem outra. Também não foram tantas assim: naquele período de um ano, eu mesmo só conheci duas. Está longe de uma grande média para um universitário que tinha a liberdade proporcionada por viver longe da família, mas acima do que se espera de um nerd, ou de um CDF.
E também não se esperaria de um nerd, ou de um CDF, o que ele fez comigo. Bom, talvez se fosse apenas por iniciativa dele, não teria chegado a acontecer nada, ou, pelo menos, não da forma que foi ou, talvez, não ainda naquela época. O que aconteceu foi mais por causa de Otávio, o mais esporrento de nós: do tipo falante, que vive abrindo os braços para se expressar, conhece todo mundo e tem mania de, simpática e infantilmente, contar vantagem sobre tudo o que fazia.
O convívio sob o mesmo teto nos faz conhecer os hábitos de cada um. Um dos hábitos de Otávio era tomar um cafezinho a toda hora. Outro, um péssimo hábito, era não usar cueca quando estava no apê, como se ninguém mais existisse. Bom, um hábito não tão péssimo, de um certo ponto de vista, porque era hipnotizante aquele balançar das formas nas idas e vindas dele pela casa, indo à cafeteira, na cozinha.
Sem camisa todo mundo ficava, inclusive eu, e geralmente vestindo shorts ou bermudas. Era um apartamento de homens, afinal. Então, estar rodeado de caras seminus passou a fazer parte do meu dia-a-dia. Obviamente, essa convivência com os corpos quase que permanentemente expostos daqueles três, ainda que jamais totalmente nus, era uma tentação. E que muitas vezes começava logo ao acordar e se estendia por quase todos os momentos nos quais eu estava com eles.
O mais comum era ninguém pôr a mesa para o café da manhã. Os horários nem sempre coincidiam e, quando coincidiam, em geral um ficava de pé, com a caneca e o pão na mão. E aí, se eu estava à mesa, tinha diante de mim a virilidade de pelos que escapavam das axilas, ou de um peitoral se abrindo num espreguiçar sem malícia, de um sombreado sugestivo que se iniciava abaixo do umbigo e se perdia no cós de um short. Ou, quando um deles estava deitado no sofá, as pernas desleixadas como pedindo carícias, os ombros bem moldados cintilando à luz da tarde. Na saída dos banhos, a sorte de uma toalha enrolada sem cuidado de onde escapava um breve tufo insinuando o que não me cabia ver. Seus corpos faziam parte da minha vida.
Claro, eu evitava olhar. Nenhum deles sabia que eu era gay. Na faculdade, sabiam. Mas nem Marcelo, Otávio ou Rodrigo estudavam na mesma faculdade que eu. Aliás, só Otávio e Rodrigo estavam numa mesma universidade. Além disso, não tínhamos amigos em comum e, fora de casa, não freqüentávamos os mesmos lugares. Também eu não trazia amigos para o apê; nenhum dos três tinha contato com eles. Na realidade, não tinha mesmo amigos gays do tipo que só pela voz ao telefone você saca que é gay. Meus amigos eram poucos, e tão na deles quanto eu; mesmo que os rapazes os conhecessem, não iriam necessariamente perceber qual a minha.
Então, não sabiam o que eu curtia e, na ausência de qualquer satisfação, deduziam que eu também fosse hétero. Nunca tinha negado nem afirmado. Como sou naturalmente reservado com minha vida privada, embora não tão lacônico quanto Marcelo, ninguém estranhava eu não tocar nesse tipo de assunto. Certamente, achavam que eu comia pouco, até por minha evidente timidez, mas não que eu não gostasse de garotas.
Apesar de toda a tentação, não era para mim um grande desafio deixar de lado olhares mais interessados. Eu cresci em cidade de praia, e homens nas ruas apenas com um calção de banho era coisa comum. Então, ser um gay e lidar com a intimidade dos corpos daqueles três rapazes, mesmo sendo uma situação difícil, era algo que, com algum esforço, eu acabava resolvendo sem chamar a atenção.
Mas com Otávio era um pouco mais complicado do que com Marcelo ou Rodrigo. Aquele moreno passeando de lá pra cá com tudo solto, coberto apenas por um short invariavelmente fino, era um acinte. Obsceno, se não fosse um apartamento onde viviam apenas quatro rapazes.
Para quem gosta de pica, era, sim, um desafio gigantesco me furtar a admirar aquelas formas balançantes dele desfilando pela casa. Porque elas não só balançavam sob o short, como balançavam mesmo! O filho da puta tinha partes pesadas naquela área, e o balanço realçava o peso, e vice-versa. Cheguei, uma época, a crer que ele fazia de propósito, para se exibir atrás de algo a mais. Talvez até fosse o caso de exibicionismo consciente mesmo (e eu não lhe tiraria a razão para fazê-lo), mas não com segundas intenções. Nada além daquelas de um macho imaturo que quer mostrar pra todo mundo que foi abençoado pela natureza.
Mais de uma vez Rodrigo o sacaneou por conta daquela ostentação, e em todas ele agiu da mesma forma: escrotizando a situação e mostrando que não estava nem aí. Mais ou menos como dissesse que era confortável ficar sem cuecas e que ele não tinha do que se envergonhar, muito pelo contrário. Então, foda-se.
Apesar dos cuidados e de nem me passar pela cabeça nada além de admiração pelas, digamos assim, formas exuberantes daquele cara, eu não fui tão discreto quanto imaginava. Ou até tivesse sido por um bom tempo. Mas, após um ano, devo ter baixado um pouco a guarda. E então, um dia, ou melhor, uma tarde, ele simplesmente sorriu pra mim e baixou o short, mostrando o cacete ainda mole, grosso, com a cabeça coberta, tudo emoldurado por belos pentelhos negros.
Eu ensaiei um protesto. Mas, antes que terminasse de pronunciar a primeira palavra, ele, sem deixar de sorrir, disse que eu deixasse de ser bobo e aproveitasse.
– Eu já percebi que tu gosta, Zeca. Não gosta? Vem, dá uma mamadinha.
Eu fiquei meio atônito, sem me levantar do sofá nem saber o que fazer. O tom dele era tão desleixado que me pareceu ridículo simular qualquer repulsa. Ao mesmo tempo, não me via à vontade para ir chupar o pau de um amigo meu com o qual dividia o apartamento, e que eu sabia que era doido por buceta.
Como nada fiz além de ficar com cara de bobo, ele se aproximou, com a maior naturalidade do mundo, e se pôs com o caralho a um palmo da minha boca.
– Anda, cara... Só eu e você aqui... Ninguém vai saber, e sei que tu também não vai contar porque é enrustido. Dá uma mamadinha, porque eu sei que você está doido pra isso.
Inclinou levemente a cabeça:
– Eu também estou. Vai. Aproveita. Você sabe tanto quanto eu que não é fácil encontrar um assim.
Caralho, eu me atirei naquele pau. Não, não sou do tipo atirado. Quem dera fosse; teria aproveitado muito mais as chances que a vida tinha me dado. Mas Otávio agia de uma maneira tão trivial, como se estivesse me oferecendo um pedaço de pizza ou tivesse acabado de descobrir que eu curtia o sol de outono, que em décimos de segundos concluí que eu seria realmente um babaca se não topasse o que ele oferecia.
Bom, a mamada foi esplêndida, para ambos. Bastou eu envolver a pica com os lábios para que ela imediatamente fosse tomando volume. À medida que ía crescendo e engrossando em minha boca, fui tendo que reacomodá-la, para poder fazer um serviço bem feito. Ele elogiava, dizia que eu fazia muito bem, e ia me instruindo para alternar as técnicas: às vezes queria que eu engolisse até o fim, em outras deixar ele mesmo meter. Que eu sugasse, que apenas contornasse com a língua, que beijasse, e por aí vai. O cara era doido por mamada, e já devia ter sido muito mamado, e bem, para guiar a coisa daquela maneira.
Quase gozou por duas vezes. Tirava, dava um tempo enquanto eu lambia seus ovos, depois me mandava recomeçar. Não era carinhoso, mas também nem um pouco hostil. Ficava tipo “parça”: dois caras que estavam compartilhando prazer amistosamente, mas cada um na sua. Claro, o prazer prioritário era o dele, mas, até aí, nenhuma discordância.
Pouco antes de gozar, avisou num tom ameno:
– Não precisa engolir se não quiser, mas fica com a boca nele até o fim.
E o que se seguiu foi uma inundação de porra. Tamanha foi a quantidade que tive de me esforçar para contê-la. Foi difícil evitar que transbordasse goela abaixo.
Dei um tempo, com a boca cheia de leite. Não há nada mais broxante do que se levantar imediatamente após o sexo e deixar o macho sozinho. Esperei um ou dois minutos, até que a respiração dele se normalizasse, e segui para o banheiro para cuspir.
Enquanto secava o rosto, fiquei pensando em frente ao espelho em como devia agir. Nada daquilo estava nos meus planos. Sequer havia passado pela minha cabeça que Otávio estivesse percebendo minhas olhadas, discretas e nem tão freqüentes assim. E, menos ainda, imaginaria que um dia ele fosse me oferecer aquele cacete suculento. Não mesmo.
“Ok, risco de ele espalhar que sou gay não há”, conclui, titubeando antes de abrir a porta. Justamente por não ser metido a machão, mas apenas a gostosão, ele não ía querer que soubessem que havia um viadinho na casa e que havia lhe feito um boquete. Além do mais, ele me conhecia há um bom tempo, mas não minha face gay: e se, por trás da imagem simpática e tímida, eu fosse uma “bicha vingativa”? Quem lhe garantiria que, ele espalhando histórias sobre mim, eu também não sairia por aí contando como ele tinha gostado da mamada de um viado? Olho por olho, dente por dente, ora bolas. Então, eu sabia de pronto que aquilo seria um segredo, e que nenhum dos dois abriria o bico. Mas como ficariam as coisas agora?
A primeira resposta veio logo quando voltei à sala: ele estava deitado no sofá mexendo no celular, como se nada demais tivesse acontecido. Mas também não fingiu que nada demais tinha acontecido:
– Cara, tu é demais. Acho que essa foi a melhor mamada que recebi na vida. Vamos repetir isso, viu? – disse, sem nem olhar pra mim, mas numa voz animada, como era comum nele.
“Vamos repetir isso?”, perguntei pra mim mesmo. O que ele queria dizer?
A segunda resposta veio dois dias depois, à noite: mal eu havia deitado, abri os olhos me deparando com aquele caralho maravilhoso, já à meia-bomba, quase encostado no meu rosto.
– Rapidinho, Zeca. Podem acordar.
Aos poucos, fui suspendendo o corpo e me reacomodando na cama, ao perceber que dessa vez ele não queria ser chupado. Ele queria era meter. E começou a fuder minha boca como se fudesse uma buceta.
– Cara, to no maior atraso. Tu vai ser minha salvação – avisou, forçando a pica com jeito, em meio a uma ou outra engasgada minha.
Não era fácil ter a boca fudida por um caralho daquele, mas fui me saindo bem. E também contei com a sorte de ele ter sido bem rápido: o leite jorrou logo, quente e generosamente.
– Valeu, cara – agradeceu, mal havia encerrado a ejaculação.
Saiu guardando a ferramenta pesada por baixo do short, que certamente ficou manchado com os últimos corrimentos de porra. Fiquei meio na dúvida do que fazer, enquanto o sabor do seu leite represado na boca me fazia sentir como se ele ainda estivesse comigo, e não ido embora. Ao lado do quarto havia um banheirinho, compondo a área de serviço, mas eu não tinha como recorrer a ele para me desfazer daquele esperma todo. Era usado como armário, quase que abarrotado de roupas pra lavar e outras coisas; não dava nem para entrar. E ir ao banheiro mesmo, o que ficava no corredor que dava para os dois quartos e que era o único do apartamento, nem pensar. Corria o risco de chamar a atenção.
Eu podia simplesmente inclinar a cabeça e deixar o leite derramar todo no chão. No dia seguinte, logo ao acordar, bastaria passar um pano e depois enxaguá-lo. Ninguém notaria nada. Não iam ao meu quarto, nem passavam por ele. Só eu mesmo freqüentava a área de serviço; eles iam muito pouco lá.
Não pensei em nada disso. Nem me passou pela cabeça abandonar o esperma de Otávio numa poça ao lado da cama. Eu tinha que dar um destino e só o que pensei é que o único destino possível era eu mesmo. O destino só podia ser meu próprio corpo. Então, simplesmente engoli.
Bom, não era uma coisa habitual na minha vida, por razões óbvias de segurança. Mas não foi a primeira vez que engoli porra. A diferença é que, dessa vez, não foi com um namorado. Nem tampouco por acidente, como havia acontecido com um desconhecido que forçara a barra numa pegação de cinema.
Eu decidira engolir. Eu é que decidira, quase que naturalmente, porque naqueles segundos me pareceu ser o rumo certo para o que aquele cara havia despejado em mim . E não era de um namorado. Não era de um gay como eu. Era o esperma produzido por um hétero gostosão que era meu parceiro de apartamento, um parceirão de putaria tal qual dois caras que se punhetam vendo um vídeo pornô, e nada além disso. Um cara comum, com quem eu não tinha qualquer relação amorosa, que tinha gozado na minha boca como se fosse uma buceta e que eu sabia que, no dia seguinte, iria me tratar da mesma maneira bacana como fazia há um ano. Não era a porra de um namorado, de um outro gay após um flerte ao som de um batidão eletrônico, de um desconhecido numa pegação, de um dos vários que faziam parte dos cenários que eu conhecia para o sexo. Era a porra de um cara.
Eu demorei a dormir. Não parava de pensar que tinha bebido da porra do Otávio. Muita porra. Porra produzida por um macho que usara minha boca como uma buceta, na falta de uma mulher para atendê-lo. Era estranho, mas isso me excitou tremendamente.
– Por que você não engole, cara? Deixa de besteira; sou teu parça – falou, com muita convicção, lá pela quarta ou quinta vez que me pôs pra mamar.
Ele não sabia que eu já havia engolido, naquela noite em meu quarto. E, claro, nem pensou em me perguntar o que eu tinha feito daquela vez com a porra dele. Era um detalhe ao qual ele nem atinava em dar atenção.
– Tá limpo; comigo não tem erro – completou.
Foi muito convincente, mas, na verdade, nem precisava se esforçar para me convencer. Sem eu mesmo saber, só esperava que ele me desse uma deixa para que eu pudesse voltar a engolir, e com ele sabendo. E ele, também sem saber, me deu essa deixa. Eram dois prazeres: um era beber seu esperma, o outro era fazer isso com ele me vendo fazer e me vendo ter gosto em fazer.
A partir dali, virou um hábito mamar Otávio e consumir o esperma que ele produzia em seus bagos enquanto eu mamava. Não todo dia, não toda hora, claro. Mas sempre que ele queria, e cada vez com maior frequência.
...
[continua]
[PS: Abaixo, pus umas respostas aos comentários que os leitores fizeram a este início da história]