Mauro e Bárbara chegam até o hall onde o café era servido. O salão está parcialmente cheio, com cerca de 20 pessoas.
- Meu Deus! A impressão é que estão todos me olhando e apontando. - disse Mauro, puro medo.
- Afff... impressão sua, amiga. Relaxa! Vamos aproveitar este café divino!
Ambos se serviram então com pães, algumas frutas e pedaços de bolo. Sentaram-se à mesa e começaram a comer:
- E então? Preferia ter ficado passando fome no quarto?
- Sinceramente? Não sei... - disse Mauro, já menos retraído.
Passados alguns minutos, Mauro já havia superado quase que completamente o medo e até já meio que achava graça da situação:
- Sério... só eu mesmo: venho pro Carnaval na Bahia e acabo me vestindo de mulher pra não perder café da manhã.
- Hahahaha... amigo: o que vale é ter história pra contar.
- Contar pra quem??? Essa história morre com a gente aqui mesmo. Pelo amor de Deus.
- Claro! Relaxa. Quer mais um bolinho?
- Óbvio!
- Olha lá, hein, amiga? Não vai engordar demais.
Mauro só revirou os olhos e mandou ela ir de uma vez. Assim que a amiga foi, começou a mexer no celular, até ouvir uma voz masculina se dirigindo a ele:
- Esse lugar está ocupado?
Mauro tirou os olhos do celular e olhou para frente. Era um rapaz alto, de mais ou menos 20 anos, acompanhado de um amigo, esse um pouco mais baixo, mas também jovem, que apontava para uma cadeira em frente a dele.
Mauro, sem saber muito o que dizer - e com medo de falar como homem - apenas fez que sim com a cabeça, quase que sem reação.
- Tem certeza? Me parece que estão só vocês duas nessa mesa.
Mauro seguiu mudo. Aterrorizado, procurou Bárbara pelo salão, até que a encontrou já defronte a mesa:
- Olá, rapazes! Tudo bem? - disse ela, com naturalidade.
- Olá! Tudo bem? Meu nome é Carlos e esse é meu amigo Jorginho. Perguntamos para sua amiga se haveria lugar nessa mesa para sentarmos, mas ela não soube ou não quis responder.
- Hahahaha... não dá bola. A Andrielly é super tímida. Mas sentem-se: logo ela se solta e mostra que sabe até falar.
Mauro fuzilou Bárbara com o olhar, que retribuiu com uma piscadinha forçada.
Os três sentaram-se a mesa, ficando Barbara e Mauro de um lado e os rapazes do outro:
- E então? Prontas para o Carnaval de Porto Seguro?
- Prontíssimas! - disse Bárbara, enquanto Mauro seguia em estado de choque. Ainda não sabemos onde será a festa hoje.
- Como não? Hoje é o dia do Carnaval no Axé Moi! Não existe outra opção.
- Siiim... ouvi falar que é ótimo lá. Vocês vão?
- Que dúvida! Já temos até fantasia.
- É à fantasia?
- Obrigatório não é, mas fantasiado paga meia e ainda ganha duas cevas.
- É... definitivamente é à fantasia.
Bárbara e Carlos estavam entrosadíssimos na conversa, ao passo que Mauro só olhava para o chão torcendo para aquilo tudo acabar de uma vez.
- Oi! Meu nome é Jorge - falou baixinho o outro rapaz, tentando conversa com Mauro.
- O... Olá... - arriscou Mauro, com a voz mais delicada que conseguiu.
- Ela fala! - riu Carlos.
- Fala. Mas não muito - completou Bárbara.
- Dizem que as que menos falam são as que mais beijam! - bradou Carlos, rindo.
- Hahahaha... é o que dizem - disse Bárbara, olhando rindo para Mauro que só arregalou os olhos.
- Com licença, gente. Vou para o quarto... - disse Mauro, baixinho, saindo rapidamente.
- Prazer em te conhecer, Andrielly! - falou alto Carlos. Tímida ela, né?
- Bastante. Mas no Carnaval se solta. - riu Bárbara.
Jorginho foi acompanhando 'Andrielly' com o olhar até o final do corredor, quando ela virou. Achou ela uma graça, não poderia negar.
- E aí, gostou, Jorginho?
- De que? - disse ele, aéreo.
- Da minha amiga...
- Er... ahn... bonita ela sim. Claro.
- Tá solteira.
- Hummm... - murmurou ele, entre o interessado e o sem graça.
- Rapazes... foi um prazer conhecê-los, mas precisamos subir. Preciso pegar a chave na portaria porque ficamos trancadas do lado de fora.
- Ok... vamos pro Axé hoje então?
- Já é! Nos encontramos lá ou saímos juntos daqui?
- Vamos daqui, oras. Já economizamos no Uber.
- Show. Beijos! - disse Bárbara, virando nos calcanhares e seguindo em direção a portaria. Pegou então outra chave e subiu. Chegando no andar do seu quarto, encontrou Mauro de braços cruzados, cabeça baixa, recostado a parede:
- Oi, Andrielly!!! - disse ela rindo
- Andrielly??? ANDRIELLY? Barbara, o que que foi aquilo lá embaixo?
- Apenas um café da manhã entre amigos.
- Amigos???
- Sim, ué? Dois belos rapazes quiseram tomar café com duas meninas. Não vejo nada de mais.
- Nada de mais? Fora o fato de que não somos duas meninas, estaria tudo certo.
- Oras, pra quem olhava a cena de fora eram dois homens e duas mulheres confraternizando em um hotel. Nada mais natural.
- Olha, essa situação pode ser chamada de qualquer coisa, menos de natural.
- Enfim... vamos entrar e nos arrumar.
- Isso. Vou pegar minha roupa lavada e sair pela cidade pra comprar outras.
- Não precisa, amiga! Eu tenho roupa suficiente para nós duas.
- Rá Rá! Essa palhaçada termina agora, querida.
- Ah, mas não termina mesmo! Estou me divertindo horrores com isso tudo, eu estou muito afim do Carlos, o Jorginho está bem caidinho por você e nós vamos sim nesse Axé Moi como duas amigas solteiras e muito animadas.
- Ah, mas não vamos MESMO!
- Tem certeza? Pois então: lembra daqueles 5.000 reais que tu me pediu emprestado e nunca me pagou?
- Sim. Eu bati o carro e logo depois perdi o emprego. Quando eu puder te pagar eu te pago.
- Não precisa: basta passar esse Carnaval como Andrielly aqui comigo e a dívida estará mais do que quitada.
- O que? Sério?
- Sim! Cinco mil reais é troco pelo tanto de diversão que essa história vai dar. Pagaria o dobro disso pra ver essa história acontecer.
- Ok, então dívida quitada e me dá mais cinco mil! Fechado?
- Até parece. Cinco mil reais quitado e todos os teus tratamentos estéticos aqui por minha conta! Aí sim.
- Tratamentos estéticos???
- Sim, amore: roupas, salão de beleza, manicure, pedicure, depilação... enfim, tudo o que uma mulher precisa para se sentir linda e sensual.
- Ah, não... isso não vale cinco mil reais. Tô fora.
- Então ótimo: vou ali descer e avisar o Jorginho que ele está apaixonado por um travesti. Aí quero ver a vergonha. Será fim de Carnaval pra ti.
- Você não seria capaz disso...
- Tá, não seria... mas por favor! Eu te imploro! E tu quita tua dívida! E ainda vai dar muita risada disso tudo! Fala sério!
- É... realmente será inusitado, mas... não espera que eu saia aí pelo Carnaval beijando os caras.
- Não... amiga: aqui é Carnaval. Beija quem você quiser: homem, mulher, travesti. Carnaval é Carnaval: você não fará nada que não tenha vontade. E aí, topas?
Mauro sentiu-se sem opção. Ele estava desempregado e levaria muito tempo para quitar aquela dívida, que já durava quase um ano. Ademais, achou que aquilo poderia até ser engraçado de certa forma, viver um Carnaval de outra forma, dar risadas dos caras chegando nele. E ainda pensou que poderia tentar pegar algumas lésbicas gostosas, tipo aquelas dos filmes pornôs onde duas, ou mais gostosas, se pegavam com muito tesão.
- Ok, Bárbara: você venceu. Acabou de ganhar uma amiga para o Carnaval.
- Uhuuuuuul!!! - gritou Barbara, abraçando Mauro. CARNAVAL DAS AMIGAS!!! - e começou a pular.
Continua...