AMOR DE PESO - 02X17 (final) - O INÍCIO DE NOSSAS VIDAS

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Homossexual
Contém 6999 palavras
Data: 13/07/2018 22:46:43
Última revisão: 06/07/2022 20:03:22

Pai e mãe,

Não sei o que fazer, o Zedu foi sequestrado pelo próprio irmão. Se eu chamar a polícia vou ser morto, e agora?!

***

Eu estava desesperado

Eu estava desesperado. Não sabia o que fazer. O José Leonardo colocou o Zedu dentro de uma caminhonete e sumiu do mapa. A sorte foi que consegui colocar o celular dentro do veículo. Convoquei os meus amigos e expliquei toda a situação. Ninguém queria acreditar na loucura do JL, nem eu mesmo acreditava, entretanto, a vida do meu namorado corria risco.

Através de um software, a Letícia conseguiu localizar o celular, só que atualização do trajeto acontecia aos poucos. Cogitamos chamar a polícia, porém, ficamos temendo uma atitude extrema do JL.

Para completar, a tia Olivia não estava em casa. Eu fiquei de babá dos capetinhas. "Que merda!", pensei, olhando fixamente para a tela do computador. Cada segundo contava. Cada segundo era importante. A cada segundo o meu coração se partia.

Letícia, Ramona, Brutus, Mundico e Juarez. Eles foram meu alicerce neste momento tão tenso. Cada um agiu de uma maneira que facilitou a minha vida. Mandei Juarez e Mundico até a casa do Zedu para buscarem pistas, mas eles não encontraram nada promissor.

— A casa está uma bagunça, principalmente, a sala. — explicou Juarez, mostrando fotos e vídeos da casa do Zedu. As imagens me desesperaram.

— O Fred deve ter lutado com ele. — imaginei com o coração acelerado. — Precisamos resgatar o Zedu. — soltei para a surpresa de todos.

— Como assim, nós? — perguntou Ramona.

— Isso. — Brutus tomou a dianteira da situação. — Somos amigos do Zedu. Pegamos o José Leonardo de surpresa.

— Mas não temos armas, nem equipamentos. Isso é loucura. — afirmou Letícia, sem tirar os olhos da tela do notebook.

— Temos armas sim! — exclamei levantando. — O quarto do Richard.

Enquanto isso, José Leonardo levava a família para sua antiga casa. Lá, aconteceria a segunda parte de seu plano. O jovem estava transtornado e falava sozinho. Uma forte chuva começou a cair em Manaus. O clima na cidade esfriou e a cidade virou um caos.

— O pai vai ficar muito feliz. Acabou tudo, gente. — divagou JL, andando de um lado para o outro. — Vamos ser uma família feliz. Eu prometo.

O quarto do Richard era cheio de surpresas. Estilingue, spray de pimenta, pó de mico, cordas, enfim, uma infinidade de 'armas'. Escolhemos algumas coisas e colocamos em uma mochila. Para a nossa surpresa, o Richard entrou e nos encheu de perguntas, aparentemente, o Mundico não conseguiu segurar a curiosidade dele.

Com as "armas" em mãos, criamos um plano para surpreender JL. A Letícia voltou para frente do notebook e atualizou o software de localização. Eu nunca fiquei tão agradecido pela criação da tecnologia, em outras épocas, isso não seria possível.

— Gente, ele parou o carro. — avisou Letícia. — Adivinha onde? — literalmente, nos amontoamos atrás da Letícia para olhar.

— Meu Deus. — me espantei ao ver que o endereço era a antiga propriedade da família do Zedu. — Juarez, você pode ficar com meus irmãos?

— Eu não sou bom com crianças, prefiro enfrentar o psicopata. — afirmou Juarez, cruzando os braços e olhando para Mundico.

— Vão logo, eu fico. — se voluntariou Mundico.

***

A chuva não impediu de Lucas encontrar novamente com João. Os dois se beijaram e fizeram sexo no estúdio de George. Lucas realmente continuava o mesmo bobo apaixonado, mas ninguém manda no coração, né?

João tratou de arquitetar um plano contra mim. Cara, alerta de spoiler: eu já estou no fundo do poço (babaca). Em algum lugar do seu coração, Lucas acreditou que o amigo pudesse mudar, só que a realidade o atingiu como uma bala.

— Eu não vou te ajudar. — soltou João, vestindo as roupas.

— Claro que vai, você me ama, faz tudo o que eu mandar. — afirmou João, com um tom de superioridade.

— Já te amei mais. — disse Lucas, cerrando os punhos e enfrentando o João. — Só que você é tóxico. Me destruiu de todas as maneiras possíveis.

— Vai começar com drama? — desdenhou João, dando uma risada.

— Você é uma pessoa desprezível, João. Achou mesmo,por um momento, que eu trairia a confiança do Zedu e Yuri?

— Eles não são seus amigos! — gritou João, no mesmo instante que um trovão ecoou no céu.

— São! — Lucas gritou de volta. — Eles são. — empurrando João. — Eles são melhores que você. Eles me levantaram, me acolheram e foram bons comigo.

— Não encosta em mim. — João tentou revidar, mas Lucas foi mais ágil.

— Nunca mais me procure! — ordenou Lucas, aos prantos, socando o rosto de João. — Eu te odeio! Eu te odeio!

Os dois começaram uma luta no meio do estúdio. Lucas não arregou. Se defendeu como pode e acertou vários socos em João. De repente, George apareceu e os separou.

— O que significa isso?

— Seus viados. — esbravejou João. — Tomara que peguem Aids, que morram!! Que morram!! — saindo correndo do estúdio.

— Você está bem? — perguntou George.

— Não, tio. Eu estou perdido. Estou quebrado. — admitiu Lucas o abraçando e chorando copiosamente.

— Ei, a gente vai dar um jeito. Não se preocupe. — George abraçou o sobrinho e olhou o seu rosto. — Quebrado ficou o rosto do babaca que saiu correndo. Ensinei bem o meu menino.

Nem nas piores ressacas, Zedu sentiu tanta dor de cabeça. Ele não conseguia entender o que estava acontecendo. Ao acordar, se viu amarrado ao lado de sua mãe e Fred, que continuavam inconscientes. Zedu forçou as correntes, porém, suas mãos foram imobilizadas.

Não demorou muito e JL apareceu. Mesmo assustado, Zedu manteve a calma e buscou uma maneira de dialogar com o irmão.

— JL. Deixa a gente sair daqui, por favor. — implorou Zedu, forçando a corrente, mas sem sucesso.

— Meu irmão. — puxando Zedu pelo cabelo. — Vamos encontrar o nosso pai, todos.

— Você está louco.

— Cala boca. — dando um tapa em Zedu. — Querer a minha família de volta não me torna um monstro. — colocando a arma próximo ao rosto de Zedu. — Seremos felizes, Zedu. Eu te prometo.

Chegamos ao local onde gravamos o filme de Arthur. A antiga casa de Zedu. Mesmo chovendo, decidimos continuar a missão de resgate. Pulamos o muro (nem sei de onde consegui forças para tal proeza), mas o terreno era grande demais.

Onde o louco do João Lucas estava? Nos protegemos atrás de alguns entulhos de lixo. A chuva deixou o clima mais tenso. Conhecíamos algumas entradas e saídas, afinal, utilizamos aquele espaço. Bolamos um plano e decidimos nos separar para procurar por pistas. Formamos duas equipes: curupira (Eu, Letícia e Ramona) e mucura (Brutus e Juarez). Só pra deixar claro, a ideia foi do Juarez.

Em casa, Richard percebeu que alguém havia mexido em seu quarto. Ele reparou que vários 'brinquedos' sumiram. Ele desceu e viu o notebook aberto. Meu irmãozinho viu todas as mensagens que eu havia trocado com meus amigos. Giovanna passava pela sala, quando Richard praticamente a puxou para a cozinha.

— O Zedu foi sequestrado, o Yuri e os outros, estão em uma missão de resgate. — contou Richard, ficando vermelho.

— Não viaja garoto.

— Olha. — mostrando as mensagens para Giovanna, que fez uma expressão de surpresa. — O Zedu é meu amigo também. Eu quero. — afirmou Richard com um semblante decidido.

— Tá, só porque estou entediada, mas como vamos dar um perdido no Mundico?

— Vamos agora. Ele está no banheiro. Vou chamar um carro. — explicou Richard, pegando o celular e pedindo um carro por aplicativo.

Sim, os trastes foram atrás de nós. Enquanto isso, Letícia, Ramona e eu, nos aproximávamos da antiga casa do meu namorado. O meu coração parecia que ia sair pela boca. Do nada, um gato pulou de uma lixeira e nos assustou.

Dentro do casebre, JL, escutou o barulho e foi investigar. Por sorte, conseguimos nos esconder atrás de um carro velho. O maluco passou próximo de nós, prendi a respiração o máximo que pude. Ao ver a cena, Brutus quebrou uma garrafa e chamou a atenção do irmão de Zedu.

Como ninjas, nós três demos a volta pela casa e esperamos o JL se distanciar mais. Entramos e encontramos a família de Zedu. O meu namorado estava consciente, então, o desamarrei. Ele não queria sair, porque sabia o plano do irmão.

Foi difícil convencê-lo, por isso, libertamos sua mãe e Fred. Letícia tirou um perfume de sua bolsa e espirrou no rosto deles, que acordaram aos poucos. Corri e fechei a porta de casa, pois não queria uma surpresa desagradável do psicopata.

— Onde estamos? — questionou Teodora, passando a mão no pescoço.

— Mãe. É o seguinte, o JL está louco. Ele nos dopou e trouxe para o terreno antigo. Ele quer nos matar. — Zedu não pouco os detalhes.

— O desgraçado me acertou com um bastão. — revelou Fred, levantando com dificuldade, mas acabou recebendo a ajuda de Ramona.

— Precisamos sair daqui e buscar ajuda. Agora. — falei com uma urgência em minha voz, porque a última coisa que queria era enfrentar o meu cunhado endiabrado.

— Podemos ir pelos fundos. Vou procurar uma saída. — sugeriu Letícia, correndo para a parte de trás do casebre.

— Mãe, eu sei que é difícil agora, mas precisamos sair daqui e chamar a polícia. — Zedu colocou as mãos nas bochechas de Teodora.

— Podemos fazer isso agora. — afirmei pegando o celular, mas deixando cair no chão quando JL derrubou a porta.

— Que palhaçada é essa? — JP perguntou, então, os nossos olhares se cruzaram. — Tinha que ser, o gordo. Eu devia ter te matado quando tive oportunidade. — apontando a arma na minha direção.

— Não faz isso. — implorou Zedu, ficando na minha frente.

— Pelo amor de Deus, meu filho. Você vai ser preso. Vamos conversar...

— Chega! — gritou JL. — Todos pedem pelo Zedu. Sempre foi assim. Desde que esse garoto nasceu eu fui rejeitado.

— Eu sempre amei todos vocês. — disse Teodora chorando, pois temia que o filho fizesse uma besteira.

— Mentirosa. — JL protestou apontando a arma na direção da mãe. — Eu sempre te pedi ajuda, sempre. Você estava muito ocupada, seu mundo girava ao redor do perfeito Zedu! Porra, eu era seu filho também.

— Eu juro por Deus, que... — Fred ficou na frente da mãe e olhou com desgosto para JL.

— Jura o quê? Que vai me matar? Sempre foi um fraco, também sofria por causa do Zedu, até mais do que eu. Zedu sempre foi melhor que a gente em tudo.

— Eu fico. — soltou Zedu. — Deixa eles irem, JL. Eu fico com você.

— Não. — peguei no ombro do meu namorado.

Que situação horrível. Eu nunca fiquei com tanto medo. JL nos usava como alvos. A todo momento, a sua mão escolhia uma vitima nova.

De repente, as luzes do casebre se apagaram. Usando os óculos especiais do Richard, a Letícia tacou uma barra de ferro na cabeça de José Leonardo, que caiu no chão inconsciente.

Peguei meu celular no chão e liguei a lanterna para nos ajudar a enxergar a saída. Ajudei o Zedu, enquanto as minhas amigas davam auxílio para Teodora e Fred.

Do lado de fora, um sereno ainda persistia em cair. Encontramos o Brutus e Juarez, que ficaram aliviados quando viram todos bem.

O que uma mãe não sacrifica por um filho? Ainda em choque com o comportamento de JL, a Teodora tentou voltar para o casebre, porém, foi impedida pelo Fred. Ela relutou, porque acreditava que JL poderia mudar e se arrepender. Aproveitando a distração do primogênito, Teodora correu em direção da casa, só que JL apareceu segurando a arma e disparou.

Eu nunca ouvi o som de uma arma. O barulho ecoou na minha cabeça por alguns segundos. A Teodora não conseguia acreditar que JL teve coragem de atirar em sua direção. Só que o projétil atingiu o ombro de Fred, que se jogou na frente da mãe como um colete a prova de balas humano.

— Mãe. — Fred olhou para Teodora e, também, não acreditava que JL havia lhe atingido.

— Não! — gritou Teodora, chorando, se aproximando de Fred e os dois caíram juntos no chão.

— Corram! — Brutus ordenou. Ele puxou Ramona e Juarez, que estavam ao seu lado e fugiram em busca de abrigo.

Eu fiquei no meio do fogo cruzado. O Zedu estava imóvel. A Teodora era um alvo fácil para JL. Letícia até tentou achar algo para deter JL, mas não havia nada útil na mochila que carregava. Assobiando, José Leonardo se aproximou da mãe e Fred.

— Eu falei. — se ajoelhando perto de Fred. — Seu fraco. Nunca gostei de você. — apontando a arma para a cabeça de Fred. — Vai encontrar o papai.

Puxei Zedu, porém, ele estava imóvel. Eu não queria que ele visse aquilo. Queria protegê-lo. Evitar que toda essa dor se espalhasse dentro dele. Só que um drone bateu na mão de JL e ele perdeu o tiro.

— Agora! — ordenou Giovanna, que pilotava o drone.

— Ei, idiota! — Richard chamou a atenção de JL e lançou uma rede de pesca em cima dele. — Ninguém mexe com meus amigos. — acionando um dispositivo que deu um choque no irmão de Zedu.

— Vocês estão loucos? — perguntei me aproximando deles e os abraçando.

— Precisamos sair daqui. — avisou Richard. — Isso não vai segurar ele por muito tempo.

—Fred. Filho. Levanta. — Teodora usou toda a força para erguer Fred, que estava perdendo muito sangue.

— Mãe, precisamos sair daqui. — disse Zedu, usando toda sua força e carregando Fred no colo.

Com dificuldade, a gente conseguiu levar Fred até o local da saída. Todos os nossos amigos já aguardavam lá. Outra vez, um por um, eles foram passando pelo muro. O momento mais delicado foi quando passamos o Fred, que urrou de dor, mas conseguiu chegar do outro lado.

Na minha vez, senti algo puxando. Olhei para baixo e o vi. José Lucas segurou na mochila e me puxou de volta. Zedu também pulou para me ajudar. Os dois começaram uma luta, mas JL tinha o dobro do tamanho do meu namorado. Fora de si, ele apontou a arma na nossa direção e preparou para nos executar.

Dois disparos foram ouvidos. Teodora caiu de joelhos no chão e começou a chorar. Ela ainda não conseguia acreditar na perversidade de JL. Brutus e Juarez carregaram Fred para uma área mais afastada. Eles ficaram preocupados que JL pudesse aparecer. As meninas e meus irmãos ampararam a Teodora.

***

Minha tia chegou e Mundico dormia no sofá. Ela acordou o meu amigo e quis saber o que estava acontecendo. Ele explicou tudo, mas a tranquilizou, dizendo que meus irmãos dormiam no quarto. Eles foram lá e não tinha ninguém. Titia ficou desesperada, claro, e seguiu com Mundico para a antiga casa de Zedu.

Lance de sorte. Sobrevivemos por um lance de sorte, o Zedu conseguiu derrubar o irmão com uma pedrada na cabeça. Isso deu um tempo para voltarmos para o casebre. Nos escondemos no segundo andar. Eu não vou mentir, estava cagado de medo. Procuramos alguma coisa para usarmos como arma, só que não tinha nada.

"Viadinhos", gritou JL ao entrar na casa. Ele olhou todo o primeiro andar e não nos encontrou. Em seguida, JL subiu os degraus e começou a falar coisas desconexas sobre a infância dele. O meu coração estava acelerado. Eu não tinha ideia de como escapar desse pesadelo.

— Viadinhos! — atirando para cima. — Cadê vocês?

— Se ele conseguir. — falei para Zedu, já desistindo de lutar. — Eu quero dizer que eu sempre te amei.

—Não. — sussurrou meu namorado. — Não vamos morrer. — olhando em volta e encontrando um espelho antigo. — Já sei.

A polícia chegou e cercou toda a área. Uma equipe de paramédicos levou Fred para o hospital. Juarez o acompanhou, já que Teodora não queria sair até encontrar o Zedu. Não demorou muito e a tia Olivia chegou. Ela correu e abraçou os meus irmãos, que fizeram um resumo de toda a confusão.

Os policiais iniciaram um plano de ação para pegar o JL. Quem ficou encantado com o trabalho da polícia foi o Richard. Ele se aproximou do grupo, que discutia a melhor abordagem para nos resgatar.

— Eu acho que posso ajudar vocês. — revelou meu irmão, que de primeira causou uma boa impressão nos policiais.

Desesperada, a Teodora pediu perdão para a titia. As duas se abraçaram chorando. A tia Olivia gostava muito da mãe do Zedu. A admirava por nunca desistir mesmo quando a vida lhe jogava um balde de água fria. De mãos dadas, elas fizeram uma oração pedindo proteção para mim e Zedu.

Com o controle do drone em mãos, Richard sobrevoou toda a propriedade em busca de JL. Através da câmera do celular, os policiais analisaram o terreno e acharam alguns pontos que poderiam ser úteis para uma emboscada. A Giovanna chamou a titia para acompanhar a ideia do irmão.

— Nunca mais vou te brigar por causa desses presentes, eu juro. — disse titia.

— Voa mais para a direita. — pediu o policial, analisando com cuidado a imagem. — Não vejo marcas de sangue no chão, acho que eles conseguiram fugir. — pegando no ombro de Richard. — Você consegue ir para a casa?

— Moleza.

Como não havia perigo iminente, um grupo de policiais entrou no terreno. Enquanto isso, José Leonardo continuava com o seu jogo psicológico. Ele gritou que teríamos uma morte lenta e dolorosa. O Zedu preparou um plano simples, mas que era a única chance de pegar o JL.

— Eu sei que vocês estão aqui. Tranquei todas as portas. Zedu!! Por que fez isso com a tua família? Eu te odeio! — gritou JL segurando a arma e olhando cada parte do segundo andar. — Tinha que ter te matado quando era criança.

Finalmente, JL encontrou Zedu e não pensou duas vezes antes de disparar a arma. Só que ao invés de acertar o irmão, ele destruiu o espelho. Aproveitamos a distração e atacamos JL, que deixou a arma cair no chão. Eu o segurei para que Zedu pegasse a arma.

— Filho da puta. — JL me deu um tapa, mas eu não desisti, o segurei como se a minha vida dependesse disso, o que era verdade no caso. — Viados!!! Eu odeio vocês.

Com ódio no coração, JL me deu uma cabeçada e perdi o sentido por um tempo. Zedu ficou na sua frente com a arma na mão. Ao ver que o irmão não teria coragem de puxar o gatilho, JL o empurrou na direção da varanda. Eles atravessaram uma porta de vidro. Os dois brigaram para pegar a arma, só que Zedu levou a melhor e ficou em pé.

— Atira. — mandou JL com um sorriso no rosto. — Acaba com isso.

— Zedu! — gritei. — Não faz isso. Por favor.

— Eu preciso acabar com isso, ele nunca vai deixar a gente em paz. — disse Zedu, que começou a chorar, porque não queria matar o irmão.

— Me mata, viado. Faz alguma coisa que preste na tua vida. Eu quero encontrar o papai. — instigou JL.

— Esse não é você. Amor, por favor. Larga essa arma. — implorei, mas Zedu continuava apontando para o irmão.

— Eu... eu... — Zedu tremia de frio e medo.

De repente, o drone sobrevoou por cima de nós. JL aproveitou a distração para empurrar Zedu da varanda. Eles caíram no chão desacordados. Eu corri e olhei para baixo gritando pelo Zedu. Para o meu desespero, JL levantou, com dificuldade, e pegou a arma das mãos do irmão caçula.

— Não! — gritei ao ver a cena. — Zedu! — JL deu uma risada alta, destravou a arma e apontou para Zedu.

— Acabou, seu bosta. — ele disse, antes de puxar o gatilho.

— Não! — implorei, fechando os olhos e ouvindo um disparo.

Não conseguia abrir os meus olhos. Fiquei de joelhos no chão e torci para o próximo tiro não ser em mim. O Zedu morreu? JL teve coragem de matar o seu próprio irmão? Meu Deus, porque as coisas não podem ser fáceis? Depois de alguns segundos, cerrei as mãos e abri os olhos.

O alívio tomou de conta do meu peito. O Zedu continuava bem, mas JL havia sido atingido no ombro e caiu no chão. Peguei a arma e joguei o mais longe que consegui. Em seguida, peguei o Zedu e o levei para uma parte mais afastada. Um grupo de policiais cercou JL, que não reagiu, apenas se deixou ser levado.

— Ei. Tá tudo bem. — abracei Zedu na intenção de tranquilizá-lo.

— Sim. Vamos ficar bem. — afirmou Zedu, chorando.

Emocionada, Teodora se aproximou de JL e garantiu que não guardava rancor. Depois, sua atenção voltou para Zedu, que estava um verdadeiro caco emocional. Nem com a morte de Ulisses, eu o vi daquele jeito. Os seus olhos pareciam vazios.

Encontramos a turma do lado de fora do terreno. Para a minha surpresa, um grande número de curiosos aguardavam informações. Alguns filmavam, outros comentavam. Só que o meu foco estava no Zedu.

Seguimos para o hospital em silêncio. Passamos por um exame e fomos liberados. Encontramos nossos amigos no saguão do hospital. Fred continuava em cirurgia. O médico trouxe uma notícia animadora, ele não teria nenhuma sequela.

A minha tia cuidou de Teodora. Ela providenciou tudo, principalmente, a respeito da prisão de JL. Carlos chegou algum tempo depois, mesmo doente quis nos ajudar. Para o namorado da titia sobrou a missão de ser babá dos diabinhos. Ele os levou para casa e preparou uma janta improvisada, farofa de ovo com cebola.

Enquanto colocava a comida nos pratos, o Carlos percebeu uma melancolia no olhar de Richard. Afinal, ele viu coisas que nenhuma criança deveria. Apesar de ser desmiolado, o meu irmão caçula não estava preparado para aquele tipo de desventura.

— Ei, você quer tomar banho agora? — perguntou Carlos, bagunçando os cabelos de Richard.

— O irmão do Zedu vai ficar bem? — Richard recrutou ficando emotivo e abraçando Carlos.

— Vai sim. Não se preocupe. — Carlos abraçou o meu irmão forte e quis lhe transmitir segurança. — Eu prometo que nunca vou deixar ninguém te fazer mal. Eu prometo.

***

De novo no hospital, mas, dessa vez, eu não conseguia ser o namorado que o Zedu merecia que eu fosse. Repassei toda a experiência que tivemos. Se no meu caso foi difícil, nem imagino para ele. O médico retornou e explicou que a cirurgia de Fred havia sido um sucesso.

O meu namorado chorou bastante, afinal, se sentiu tão impotente naquela situação. Teodora parecia uma morta-viva. Eu a compreendia. A mãe de Zedu sofreu dois baques em pouco tempo: a perda do marido e a loucura do filho, além de quase perder Fred. Minha tia não a deixou por um segundo.

— Sabe, quando fiquei grávida do JL, confesso que quase fiz um aborto... — confessou Teodora chorando, mas sendo amparada pela tia Olivia. — Por isso que ele não se sentia amado.

— Ei, para. Você foi uma ótima mãe. Teodora. — pegando na mão de Teodora e se emocionando. — Qual mãe aceitaria tão bem o filho ser gay como você fez, hein?! Você não fez nada de errado, infelizmente, algumas pessoas nascem assim, vocês só não prestaram atenção.

— Obrigada, não sei o que eu faria sem vocês.

— Eu que tenho que agradecer. O Yuri, sempre foi um menino tímido, nunca fez amizades e o amor do Zedu, que começou como amizade e floresceu, fez toda a diferença. Nos últimos meses, eu vi um Yuri diferente, mais forte e decidido. Teve pedra no caminho, claro, mas eles cresceram tanto. Somos uma família.

Burocracia e mais burocracia. A titia usou todo o seu conhecimento nos trâmites do hospital e ajudou em todos os processos jurídicos. Peguei um café na lanchonete e levei para Teodora.

— Queria pedir desculpa pelas atitudes do JL. — pediu Teodora, que não fazia ideia do paradeiro do filho. Ela acionou o seu irmão para cuidar do filho.

— Dona Teodora, não se preocupe. Estou bem, o Zedu está bem e, graças a Deus, o Fred, está fora de risco.

— Eu sei que deveria estar feliz, mas perdi tanto. — ela disse chorando.

—Eu sei como é. Perdi meus pais. Sei que deve ser diferente, mas como já disse para o Zedu, existem pessoas que dependem de mim, não posso me entregar.

— Eu entendo, Yuri. — deixando a xícara de lado e pegando na minha mão. — Acho que nunca tive a oportunidade de dizer, mas, eu fico feliz que o Zedu tenha se encontrado. Tudo graças a você. Eu não sei como te agradecer.

— Obrigado. O Zedu me faz muito feliz.

— Eu sei também que ele te fez sofrer muito, isso faz parte da vida, agora vocês precisam seguir sem medo, não importa o que as pessoas falem. Vocês se amam. — aconselhou Teodora.

Sim. A conversa foi ótima, apesar de todas as circunstâncias. Por alto, eu soube que JL seria levado para uma penitenciária de Manaus. Ele feriu uma pessoa com arma, além de manter outras em cárcere privado. Zedu ficou muito triste nos dias que seguiram. Eu, como sempre, não o deixei sozinho.

— Desculpa ter estragado as nossas férias. — lamentou Zedu.

— Zedu. Você não estragou nada. Eu gosto de estar contigo. Saber que você está seguro. Nunca se desculpe por algo que não é sua culpa. — o beijei e descansei a cabeça em seu ombro. — O que vão fazer nas festas de fim de ano?

— Vamos ficar em casa mesmo. A mamãe está sem clima e o Fred ainda está se recuperando.

— Amanhã tem a formatura do Carlos, se você ainda quiser ir.

— Vou amor. Prometi, né?

***

Nos últimos dias, Letícia e Arthur, não tiveram notícias de Bernardo. Eles decidiram fazer uma visita ao namorado. Ao chegar lá, levaram um baque. A mãe do jovem informou que ele havia ido estudar na Colômbia. Letícia não conseguiu acreditar. No fundo, ela nutria um sentimento forte por Bernardo e não entendeu a sua decisão de deixar o país.

Naquela mesma tarde, Letícia e Arthur, foram até a casa de Bernardo, ele havia desaparecido completamente. Ao chegar lá, encontraram a mãe do jovem, segundo ela, o filho havia ido estudar na Colômbia. Letícia não conseguiu acreditar naquilo, ela sentiu um baque tão grande, afinal, minha amiga amava Bernardo, e não conseguiu entender a decisão dele.

— Acho que ele não estava pronto. — afirmou Letícia ao entrar no carro de Arthur.

— Verdade. Ele nunca me falou sobre estudar na Colômbia. Sou o pior amigo do mundo. — lamentou Arthur, dando partida no carro e saindo do estacionamento.

— Amor, se você ainda quiser ficar com outras pessoas e...

— Não, Arthur. Não quero outras pessoas. O lance com vocês foi real, mas eu te amo. A minha maior preocupação nessa história era se você me enxergaria de maneira diferente. — explicou Letícia.

— Eu te amo, Lê. Faço qualquer coisa por você. Confesso que essa experiência mudou algo em mim. Quero tentar coisas novas, mas vamos devagar. — Arthur revelou tirando uma risada tímida de Letícia.

— Vamos fazer funcionar, bebê. Vamos fazer funcionar. — Letícia acariciou a orelha de Arthur. Se sentindo a garota mais feliz do mundo, por ter um namorado de mente aberta e apaixonado.

***

Uma. Duas. Três. Brutus e Ramona aproveitaram uma viagem do pai dela para se reconectarem. Finalmente, Brutus conseguiu vencer seus preconceitos e levou sua namorada ao céu. Depois da terceira vez, eles decidiram comprar uma pizza.

— Quem diria, Brutus. — disse Ramona, mordendo um pedaço generoso de pizza portuguesa e levantando a sobrancelha.

— Tenho até janeiro para encontrar novas maneiras de te dar prazer — Brutus revelou os seus planos sensuais para Ramona, que sorriu e jogou um beijo.

— Te amo, meu Brutus.

— Também te amo. Eu aguento um quarto round. — afirmou Brutus, que levou uma azeitona na cabeça.

— Cala boca. Estou morta.

***

Entre tapas e beijos, Juarez e Mundico, finalmente, puderam assumir o relacionamento. E não. Não foi fácil, principalmente, por causa do pai de Mundico, o seu Francisco. Porém, eles tiveram total apoio de Diana. Nas férias, os dois planejaram uma viagem, só que não conseguiram devido ao processo que Juarez respondia na justiça, além das horas de serviço comunitário que ele precisaria pagar.

Em uma das sessões de tortura, era assim que Juarez chamava o serviço comunitário, Mundico decidiu visitar o namorado. Juarez usava uma farda branca com a logo do projeto "No Caminho Certo", bermuda azul e uma bota amarela e, claro, um chapéu alaranjado, que fazia parte da farda.

— Você fica tão sexy com essa roupinha de gari. — comentou Mundico se aproximando e abraçando o namorado.

— Eba! — exclamou Juarez de maneira irônica. — Trouxe a minha marmita?

— Claro que trouxe. — tirando a marmita da mochila e colocando sob a mesa. — Sabe mais o que eu podia te entregar?

— O seu coração. — respondeu Juarez sorrindo e fazendo o coração de Mundico palpitar rápido.

— Bobo. Eu te amo. Mesmo que você seja o culpado de não viajarmos. — reclamou Mundico ainda abraçado com Juarez. — Sabe como você pode me recompensar? Ir jantar comigo e com meu pai. Te amo demais, filhote.

— De novo? — questionou Juarez, antes de revirar os olhos. — Ele jogou um balde de água em cima de mim. Ele acha que eu te trouxe para o mundo da homossexualidade.

— Para. Ele prometeu que vai se comportar. Vamos. — pediu Mundico, segurando as bochechas de Juarez.

— Tua irmã vai, né?

— Sim.

—Graças aos deuses. — respondeu Juarez, beijando o namorado.

***

Depois que passei a andar com a turma dos ursos (George, Jonas e Hélder), entendi melhor o meu estilo de roupa. Para a formatura de Carlos, optei por uma camisa branca com detalhes de flores, uma calça social azul e uma gravata da mesma cor, além de um suspensório. O Zedu também estava lindo com um terno cor de vinho.

Fomos todos apertados no carro da tia Olívia. A Giovanna conseguiu a proeza de combinar o cabelo verde com o vestido, só que não parou de reclamar no caminho para o local do evento. A festa estava linda. O tema da noite foi Gladiadores, ou seja, logo na entrada havia homens e mulheres vestidos como na Grécia Antiga.

Um encontro interessante? Da minha família com a do Carlos. Ok. Eu já conhecia algumas pessoas como o Julian, que ficou com a Ramona, mas deixa esse assunto quieto. A mãe dele, a Dona Suzana era um amor de pessoa e nos adorou.

As formaturas são chatas. Quer dizer, os primeiros momentos dela. Afinal, o evento é feito para celebrar os estudantes e não os seus familiares. Depois de milhares de vídeos e homenagens, chegamos ao momento mais tenso da noite: a dança dos alunos.

Para a surpresa da nação, o Carlos arrasou na coreografia. Nem preciso dizer que a Giovanna passou o resto da noite se gabando da evolução de um aluno tão dedicado. A gente se divertiu muito, dançamos e bebemos, sem a tia Olívia saber, claro.

Zedu aproveitou para extravasar naquela noite. Eu amava a minha família. Não era completa, mas era apenas minha. A tia Olívia podia ter suas dúvidas, só que estava se saindo muito bem no papel de mãe. Giovanna, Richard e eu, nos tornamos pessoas do bem graças a ela.

— Amor, prova esse drink com chapeuzinho. — pedi entregando um copo de Martini para o Zedu, que bebeu e adorou.

— Eu te amo, bebê. — Zedu se declarou me beijando. Um beijo com gosto de Martini de morango.

— O Yuri e Zedu estão bêbados, né? — perguntou Carlos, enquanto dançava uma música romântica coladinho com tia Olívia e nos observava.

— Sim, estão. Mas, eles merecem um descanso. Esses meninos passaram por poucas e boas. — titia tentou justificar o nosso comportamento.

— Olivia. A cada dia que passa eu me apaixono mais. Você sempre sabe tomar a decisão certa para os teus sobrinhos.

— Você também, Carlos. Eu sempre tive dificuldades em achar um parceiro que aceitasse esses três pestinhas. Você os recebeu de braços abertos. — beijando Carlos. — Eu sei que é repentino, mas você gostaria de morar comigo?

— Tem certeza? Você está pronta? No caso, eu estou pronto, mas você está? Se não tiver, tipo, eu entendo perfeitamente e...

— Eu quero. Eu quero. Vem morar conosco. — pediu titia, roubando um beijo de Carlos.

— Tia. — Richard a chamou. — Eu não estou encontrando a Estrela.

— Que estrela? — questionou tia Olívia olhando com desconfiança para Richard.

— Socorro!! — gritou uma mulher. — Tem uma cobra no salão.

— Eu a achei. — disse Richard sorridente e correndo na direção da cobra.

— Cobra... — Carlos desmaiou e tivemos que socorrê-lo.

***

Sim. Esses são os meus parentes e amigos. Não somos perfeitos, longe disso. Temos os nossos problemas e falhas. A minha vida deu um giro de 360º, a partir do momento em que entrei no avião que ia para Manaus. Nunca imaginei que lá encontraria amigos para a vida e, claro, um amor para chamar de meu.

Não foi fácil. Sofremos bastante para chegar até aqui. Houve drama, dúvidas, lágrimas e gritos, porém, conseguimos. Hoje, somos uma grande e bonita família, por que sim, existe beleza no caos.

No natal, a família de Zedu foi visitar JL no presídio. Ele estava diferente. Os cabelos grandes, o rosto esquelético e o semblante cansado. O silêncio reinou na mesa da família. Então, Teodora tomou o passo inicial e fez um discurso sobre perdão. Ela ficou emocionada e chorou, porque não entendia o motivo que levou o filho a fazer algo tão cruel.

— Estamos de coração aberto, José Leonardo. Algumas feridas vão demorar para cicatrizar, mas estamos do teu lado. — disse Teodora, alcançando a mão do filho e apertando.

— Eu sei, mãe. Eu ainda estou buscando entender. Me arrependo de tudo. Eu sinto muito. — afirmou JL, chorando, após ter tempo de digerir todos os seus erros. — Fred e Zedu. — voltando a atenção para os irmãos. — Eu sei que vai demorar. Nem eu me perdoei. Mas espero que um dia vocês me perdoem.

— A cicatriz não vai ficar tão ruim. As gatinhas vão adorar. — brincou Fred, sorrindo para o irmão, tentando o primeiro passo para o perdão.

— Eu, eu não consigo. — Zedu levantou e saiu correndo.

Algumas feridas vão demorar a sarar. Porém, aquele pontapé inicial era primordial para a cura. Na noite de Natal, a família de Zedu decidiu não fazer nada. Só que a tia Olívia não achou justo e preparou uma ceia especial para nós. Às 21h, da noite de Natal, batemos à porta da casa do meu namorado.

— Olívia? — Teodora perguntou ao ver toda a família reunida.

— Feliz Natal! — desejamos titia, Carlos, Richard, Giovanna e eu, cada um segurando um prato diferente.

— O que vocês estão fazendo aqui?

— Não te deixaríamos passar o natal sozinha. — afirmou tia Olívia, sorrindo para a mãe de Zedu.

— Temos que celebrar em família. — falei para causar uma boa impressão para a sogra.

— Quem está aí? — Zedu apareceu na sala e ficou envergonhado ao nos ver.

— Feliz Natal. — desejei o beijando. — Trouxemos comidinhas.

— Você não existe. — afirmou Zedu.

A ceia rendeu bastante. A minha família e a do Zedu, unidas, mais do que nunca. Agradeci aos céus, porque sei que muitos jovens gays não têm essa oportunidade. Encerramos a noite com um show de karaokê, Giovanna e eu, brilhamos.

Posso te contar um segredo? Sempre achava o mês de dezembro uma época ruim. Afinal, eu não tinha os meus pais e vivia depressivo. Só que tudo mudou. Eu não estava sozinho. Finalmente, encontrei um sentido nesta celebração.

***

A gente decidiu passar o Ano Novo na praia da Ponta Negra. O local ficou lindo para receber a virada. Preparamos um piquenique às margens do Rio Negro. Confesso, que caprichei no meu prato. Provei de tudo um pouco: farofa, lasanha, batatanese, peru, além dos doces (pudim, bolo e creme de cupuaçu).

Antes de ir para a comemoração, escrevi mais uma carta para os meus pais. Agradeci por tudo, acho que meu ano se resumiu em gratidão.

Enquanto algumas pessoas aproveitavam o tempo para comer, outras curtiam as bandas do Show da Virada (no caso, de Manaus). Depois de encher o "bucho", segui para a praia, porque os meus amigos estavam em uma sessão fotográfica.

— Gente, vamos tirar uma foto. — Ramona nos chamou para uma selfie.

Quem diria? No último ano, passamos a ceia de Ano Novo no apartamento da minha avó. Nem preciso dizer que foi um desastre, né? Acabei me isolando no quarto de visitas e dormi cedo. Mas, a magia existe na cidade de Manaus e estou celebrando o réveillon em grande estilo, ao lado de meus amigos e namorado.

— Pessoal. Queria dizer algo. — chamei a atenção dos meus amigos.

— O que é grandão? — perguntou Brutus, abraçado a Ramona.

— Deixem o menino falar. — interveio Letícia sorrindo.

— Esquentadinha. — Arthur brincou apertando a bochecha da namorada.

— Vai dizer que nos ama. Eu já sei. — Juarez afirmou dando uma risada irônica.

— Para. — mandou Mundico, a única pessoa que mandava em Juarez.

— Qual é a grande declaração? — questionou Lucas.

— Fala, amor. —pediu Zedu pagando no meu ombro.

— Queria dizer que estou muito feliz hoje. — comecei, procurando não me emocionar. — Vocês tornaram esse ano maravilhoso. Quero agradecer aos meus melhores amigos no mundo todo. A minha relação com vocês começou tensa, inclusive, alguns eram meus inimigos. Porém, graças a Deus, que estamos juntos aqui. Eu não sei o que o futuro nos reserva, mas, quero vocês no meu caminho para sempre. Sério, vocês não tem noção do que fizeram na minha vida.

— E você não tem noção do que fez na minha. — Zedu me abraçou.

— Zedu. — falei o beijando.

***

Pai e mãe,

Hoje, o Zedu e eu, completamos cinco anos de namoro. Teve obstáculos? Sim. Lágrimas? Com certeza. Confusões? Demais. Entretanto, tudo valeu a pena. Se o tempo voltasse, eu tomaria as mesmas decisões, apesar de ter machucado algumas pessoas. Porque mesmo os erros serviram para o meu aprendizado.

Durante muito tempo, achei que eu não tinha direito a felicidade. Afinal, eu era gordo e completamente fora dos padrões. Só que com o tempo e a ajuda de pessoas maravilhosas, descobri que posso ser mais do que imagino.

A viagem para Manaus foi o início de um futuro maravilhoso. Claro, como já disse, as coisas não vem de mãos beijadas. Seguimos por um caminho de lutas e felicidades. Zedu e eu, seguimos firmes, depois do ensino médio fomos estudar em São Paulo. Eu no curso de Engenharia; o Zedu, Marketing.

Ramona e Brutus, bem que tentaram, mas hoje são apenas amigos. Ela passou em primeiro lugar no curso de Direito da Ufam, já o meu amigo decidiu cursar Educação Física.

Letícia fez um mochilão pela América Latina. Ela teve um encontro com Bernardo, eles passaram três meses viajando. O namoro com Arthur continua firme, apesar das idas e vindas. Inclusive, o curta-metragem do Arthur ganhou um prêmio no Festival de Gramado. Claro, que a minha atuação foi a responsável por essa conquista.

Mundico e Juarez criaram um Companhia de Dança que é conhecida em Manaus, a "Pés Arco-íris". Vez ou outra, eles viajam pelo Brasil para participarem de festivais.

Lucas conheceu um homem chamado Charles. Apesar da diferença de idade, os dois construíram um ótimo relacionamento. O meu amigo seguiu a carreira do tio e se tornou um excelente fotógrafo.

Tia Olívia e Carlos se casaram e esperam o primeiro filho. Eles realizaram o sonho da minha irmã e se mudaram para uma casa maior. O escritório de Carlos deu certo, o meu tio (estranho) virou um dos melhores advogados criminais da cidade.

Giovanna está no terceiro ano. A doidinha se tornou uma mulher forte e decidida. A minha irmã continuou no universo da arte, aos 15 anos descobriu a pintura e a nossa casa vive cheia de retratos pintados a óleo.

Richard, por outro lado, continua do mesmo jeito, sempre inventa um jeito de parar na diretoria. Para o desespero de Carlos, o meu irmãozinho comprou várias cobras. Como era de se esperar, o Richard ficou um adolescente lindo e, com certeza, vai nos dar trabalho por causa das namoradas ou namorados (nunca diga nunca).

A família de Zedu sofreu algumas perdas. Teodora e Fred continuam morando juntos. O primogênito da minha sogra está noivo de uma moça maravilhosa. Nós os recebemos em São Paulo nas últimas férias. Quando ao JL, bem, eles sempre o visitam no presídio, após o julgamento, ele foi condenado há 10 anos, mas pelo bom comportamento, sua pena foi diminuindo.

Zedu e JL ainda não conversaram sobre o que aconteceu entre eles. O meu namorado sente mágoas do irmão e, aparentemente, essa ferida vai demorar a fechar.

O importante é que estamos bem e com saúde. Eu sei que de alguma forma, vocês ainda cuidam de nós. E, por favor, continuem cuidando, porque a Giovanna acabou de tirar a carteira de motorista e o Richard quer uma motocicleta. Ou seja, o trabalho de vocês não está nem perto de acabar.

Eu sei que vocês já sabem de tudo isso, afinal, nos observam do céu, mas quando eu escrevo a minha história, eu não sei, parece que se torna mais real. Eu guardo todas as cartas em uma gaveta, acho que em breve vou precisar de uma segunda.

Eu amo vocês. Do seu filho querido, Yuri Teixeira.

***

ALGUNS ANOS DEPOIS

Como sempre estamos atrasados. A tia Olívia vai ter o bebê nesta semana e não chegamos em Manaus. Ok. A culpa é minha que precisei entregar um trabalho da faculdade. Pedimos um carro pelo aplicativo e o motorista não demorou a chegar. Peguei as nossas mochilas, enquanto o Zedu carregava uma caixa, encomenda da minha sogra e, com dificuldade, colocamos no porta-malas.

No trajeto para o aeroporto, o motorista que se chamava Vladmir começou a zapear pelas músicas da sua playlist.

— Espero não chegar atrasado no aeroporto. — falei, mais como um mantra do que outra coisa. — O bebê vai nascer essa semana.

—Trouxe os presentes? — Zedu perguntou, olhando para o cabelo através da câmera do celular.

— Claro. — respondi coçando a minha barba.

Nem preciso dizer que mudamos com o passar dos anos. Eu estou ostentando uma barba, que custa uma fortuna, e o Zedu, deixou os cabelos crescerem. Viramos um casal vaidoso, sempre compramos produtinhos de beleza, principalmente, os que a Giovanna indica.

De repente, uma música conhecida começa a tocar no sistema de som do carro. Era "Don't look back in anger", do Oasis. Olhei para o Zedu e nós rimos. Peguei na mão do meu namorado e o acariciei.

— Será que a Sally vai aguentar esperar? — Zedu perguntou, abrindo um sorriso que poderia iluminar todo o mundo.

— Ela sempre espera. — respondi, encostando a minha cabeça no ombro dele. — Ela sempre espera.

***

Então Sally pode esperar

Ela sabe que é tarde demais

Enquanto ela caminha

Minha alma se afasta

Mas não olhe para trás com raiva

Eu ouvi você dizer

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Comentários

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Muitos elogios devidos já foram feitos então não vou repetir só vou dizer OBRIGADO por esse presente. Te desejo muita paz, saúde e sucesso.

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Que história!!!! Como estou lendo anos depois dela ser escrita resolvo comentar somente no último capítulo. Rapaz, como você escreve bem e que sensibilidade!!!! Fiquei simplesmente apaixonado pela história que foi muito envolvente e tratou de tantos assuntos de forma suave porém decidida e deixando clara a normalidade dos diversos tipos de amor e como todos podemos conviver em paz e harmonia... Você mostrou a todos a dor que o preconceito pode causar e o quanto é difícil de superar. Quando vi que a história se tratava de um "gordinho" fiquei muito receoso de ler e descobrir que o conto cairia no "ligar comum" tratando o assunto de forma "discreta" e sem profundidade mas você me surpreendeu muito e positivamente. Nunca pare de escrever seus romances porque você é muito bom nisso!!!! Meus parabéns e um grande abraço!!!!

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História linda em 2 dias li as duas temporadas, você está de parabéns, pois não só falou sobre as diferenças, mas demonstrou sensibilidade para descrever vários tipos de amor. 👏👏👏👏

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Flynnagin, não sei se você vai ler isso, mas quero agradecer as palavras. Não é fácil escrever em um lugar onde as pessoas só se importam com sexo e beleza. Suas palavras me deram forças. Quero agradecer ao VALTERSÓ também, sempre me incentivando, mesmo quando não gostava. Obrigado mesmo!

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Parabéns pela história, menino! Assim como o Yuri foi amadurecendo nesses últimos capítulos, sua escrita também amadureceu. Amei demais acompanhar essa histórias desses lindos. E ainda em choque com o tombo com João e Lucas mas infelizmente acontece na nossa realidade ne? Tomara que você escreva outras histórias sobre rapazes gays de Manaus, principalmente gordinhos. Enfim, parabéns guri! tu tem futuro e NÃO ESQUECE DO WATTPAD HEIN humpf

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EU TO SÓ AS LÁGRIMAS! POR FAVOR, ALGUÉM VEM AQUI JUNTAR MEUS CACOS! MEU DEUS! QUE CONTO!

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NÃO PODERIA SER UM FINAL MELHOR. LAMENTO O FIM. SEMPRE EMOCIONANTE AS AVENTURAS DE TODOS. LAMENTO POR JL, AINDA ACREDITAVA QUE ELE PUDESSE SE REGENERAR. MAS... NEM TUDO É COMO A GENTE GOSTA, NEM TUDO É COMO A GENTE QUER. LAMENTO TB POR BRUTUS E RAMONA. JURAVA QUE IA DAR CERTO. QUANTO A YURI E ZEDU SEM COMENTÁRIOS. MERECEM TODA A FELICIDADE QUE ESSE MUNDO PODE LHES PROPORCIONAR. PARABÉNS.

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