Segue mais uma atualização. Boa leitura.
As festas de fim de ano passaram voando, quase não aproveitei devido a ansiedade de viajar e o receio de deixar minha família para seguir novos rumos. A despedida não foi ruim, meus pais, meu irmão, Bartira, nona Motta, Arthur e Júlio, todos eles foram se despedir de mim no aeroporto de Caxias do Sul, onde eu pegaria o voo até São Paulo e depois de lá para Roma.
Foram aproximadamente 1:15 min de voo entre as duas cidades, quando cheguei em são Paulo meu voo já estava sendo anunciado, quando ia entregar meu cartão de embarque meu celular toca.
- Oi Luciano - atendi o telefone com um aperto no coração.
- Oi meu amor... - Ele estava carente e ia fazer um drama.
- O que eu falei sobre drama via telefone? - Ele respirou fundo - não tínhamos combinado que você não faria mais isso? - Ele respirou mais fundo ainda.
- Eu sei, mas eu não quero te ver partindo, mas quero que saiba que eu vou estar te esperando na volta, eu amo você Fabrício e quero o melhor para ti, só liguei para desejar boa viagem e te dar força - agora eu que respirava fundo.
- Eu também te amo ursão, se cuida aí em Belo Horizonte, não vai fazer merda ou se meter em confusão, ok? - Ele respirou fundo, parecia estar se segurando para não chorar.
- Entendido senhor Fabrício - ele riu - você promete não fazer nenhuma merda e se cuidar lá em Turim, você sabe que aquela raça é muito galanteadora, não é mesmo? - Revirei os olhos.
- Aquela raça também é a minha, inclusive a sua também, ou esqueceu da sua cidadania italiana? - Ele bufou.
- Você me entendeu, não vá se engraçar com aqueles carcamanos e nem se engraçar, se der a mão eles vão querer pegar ele e te puxar para cama deles... - Luciano estava com medo de uma traição.
- Luciano, eu não vou te trair, não se preocupe, está bem? - Ele pareceu relaxar e se acalmar.
- Eu sei, mas não é isso, é que eu vou ficar muito tempo sem te ver e tenho medo que no meio do caminho você encontre alguém melhor - ele suspirou - eu nunca fiquei longe de você, está difícil entender isso, essa é a verdade - Luciano tinha medo de ficar sozinho, isso era óbvio, mas eu não ia embora para sempre.
Fiquei alguns minutos conversando com ele no telefone, minutos esses que foram o suficiente para chorar o que tínhamos que chorar e eu e ele seguir em frente tranquilo.
- Vou desligar, estão iniciando o embarque, quero pegar logo meu assento pois são quase 400 passageiros para embarcar - ele sorriu.
- Fica com Deus Fabrício e boa viagem, eu te amo... - ele esperou.
- Eu também te amo ursão, se cuida... - Então finalizei a chamada e fui para fila de embarque.
Decolamos na madrugada do dia 3 de janeiro, a aeronave decolou com lotação máxima e à medida que ganhava velocidade eu me despedia mentalmente de todos, do meu Brasil.
Estava voando no novíssimo BoeingER da Alitalia. Era uma das primeiras viagens desse modelo na rota São Paulo - Roma, antes a rota operada por ele tinha sido Roma - Buenos Aires, 2 dias antes. Dentro do avião já era possível saber que estávamos em um pedacinho da Itália, pelo menos na classe executiva onde eu estava viajando, pois logo que a aeronave estabilizou eu fui servido de e um folhado de avelã que o meu irmão mataria para comer e uma taça de um bom Chianti, o que harmonizou muito bem. Além disso o tom de voz já era mais alto e os comissários mais irreverentes.
Foram 14 horas aproximadamente de voo quando no finalzinho da tarde do dia
03 avistei a costa italiana e logo à frente o aeroporto de Roma - Fiumicino, distante cerca de 40 quilômetros da capital e de onde sairia meu próximo voo para Turim.
- Benvenuto a Roma signore Scopel - saudou Sandra, a chefe de cabine responsável pela classe executiva.
- Grazie signora, arrivedercci - Agradeci e me despedi, logo após sai da aeronave e segui pela ponte de embarque direto para a sala de embarque do T2 que era de uso exclusivo da Alitalia e de onde o meu próximo voo partiria 45 minutos depois.
Naquele fim de tarde o aeroporto estava bem movimentado. Fazia um frio de aproximadamente 2 °C e o movimento de aeronaves era intenso. Além de jatos pousando e decolando a todo momento, pude notar que havia algumas aeronaves desembarcando passageiros, como era o caso de um jato da Delta que recém havia chegado de Atlanta e outro Emirates, um gigante Airbus Aque segundo ouvi falar depois estava desembarcando mais de 500 passageiros em um voo charter.
Foram longos 20 minutos na fila de imigração que só não demoraram mais pois quando mostrei meu passaporte e lá dizia que eu era cidadão italiano o serviço se tornou mais rápido e eficiente.
- Benvenuto ragazzo - me desejou o senhor que em atendeu.
- Grazie - agradeci e sai, era hora de correr para o portão de embarque de onde sairia meu voo para Turim. No caminho liguei para os meus pais e para Luciano que já estava acordado e no trabalho.
Decolamos as 18:35 h para Turim, o voo durou em torno de 1:15 h onde foi servido um chocolate quente e uma mini pizza de rúcula com queijo e molho de tomate, quem me dera fosse no Brasil. Pousamos tranquilamente no acanhado aeroporto internacional que servia a maior cidade e capital do Piemonte de onde era possível mesmo no escuro ver os alpes lá atrás e a neve que caia fina na cidade.
Assim que sai para o saguão do terminal avistei muitas pessoas segurando plaquinhas com os mais variados sobrenomes, mas um senhor de uns 55 anos, grisalho e com roupa pesada de frio com o meu nome me chamou atenção.
- Lei senhor Fabrízzio Scopel? - Me perguntou com esperança quando me aproximei dele.
- Si, iono sono Fabrizzio Scopel, piacere - sorri e estendi a mão, italianos tinham mania de se beijar mas só quem conheciam e eu não queria cometer gafe nenhuma.
- Io sono Marcelo Oliveira, benvenuto a Torino - respondeu sorridente.
- Grazie signore Marcelo - Ele então me ajudou com as minhas malas e saímos em direção a gelada noite de Turim.
- Dove sei? - Perguntou assim que chegamos próximo ao seu carro, um Alfa Romeo Giulia.
- Sono brasiliano - sorri ao olhar seu olhar de espanto para mim.
- Que notícia boa! - exclamou ele me ajudando com as malas - sou paulista, da capital, você pelo jeito é do Sul do país né? - Perguntou ele me fitando.
- Está tão evidente assim? - ele sorriu.
- Você tem sobrenome italiano, mas não me beijou no rosto e não reclamou do frio, sorriu para mim, europeu não poderia ser e nem americano, eles quase não sorriem, então imaginei que fosse sul americano, quando me disse ser brasileiro imaginei - ele virou para trás e piscou para mim.
- Alias, seu chefe é um cara muito bacana, você vai gostar muito dele... - Estava andando com minhas malas e quase tropecei.
- Você o conhece? - ele sorriu.
- Há mais ou menos 55 anos... - demorei para assimilar.
-Peraí, você é meu chefe? - Ele sorriu e assentiu.
- Isso mesmo rapaz, fico muito feliz em receber um brasileiro na minha equipe, modéstia parte nós mexemos com solo melhor que os outros - sorriu ao dizer isso.
- Então é claro que o senhor sabia da onde que eu era, não foi por suposição - ele riu.
- Me desculpe, na verdade notei você um pouco apreensivo e quis quebrar o gelo... - ele parecia ser legal.
- Aliás, o Valmir, como está? - Parei de repente.
- Você o conhece?!- ele pareceu se dar conta do que tinha feito.
- Sim... - afirmou apreensivo - foi ele que me indicou você, me contou sobre o ocorrido, como eu precisava de alguém na área de edificação e controle de qualidade decidi que era hora de chamar reforço sul americano - encarei ele, mas logo fiquei sem graça.
- Então... - ele me interrompeu.
- Fabrício, não estou aqui para te jugar e nem quero que você se sinta mal, o fato é que eu precisava de alguém, pedi ajuda a Valmir já que ele conhece muita gente e ele te indicou, pelo seu currículo vi que não brinca em serviço - ele apertou meu ombro.
- Não mesmo, sou muito bom no que faço... - pisquei para ele.
- Agora sim eu senti firmeza - ele sorriu - vem, vou te levar até minha casa, você ficará comigo e minha esposa e depois com o tempo você procura algo... - Interrompi ele.
- Não precisa... - ele me interrompeu.
- Eu faço questão, minha mulher já deve ter preparado um banquete, não se preocupe, tem mais dois estrangeiros que moram com a gente... - Ele sorriu.
- Como assim? - Marcelo desviou a atenção da rodovia e olhou para mim.
- São intercambistas - disse ele - eu e a Enola recebemos estudantes de todo o mundo para ficarem hospedados em nossa casa, ela adora cuidar dos outros e fazer eles se sentirem em casa, eu sei como é chegar em um lugar estranho e não ter ninguém para me acolher... - ele respirou fundo.
- O senhor mora aqui há quantos anos? - Questionei.
- Há 30, mas a cada 6 meses vou para o Brasil visitar minha mãe e meu irmão, eles vivem no interior, não posso perder minhas raízes... - Ele sorriu.
- Por isso que as minhas baixadas são há cada dois meses? - Perguntei.
- Sim, há cada dois meses você terá 7 dias para fazer o que quiser.... - Ele me olhou e sorriu.
- Obrigado... - Então passou a mão no meu cabelo e bagunçou, por que será que parecia que eu estava em casa?
Marcelo era casado com Enola, uma italiana de Roma, alta e alegre, morena dos olhos verdes, 49 anos, enfermeira chefe em um dos hospitais da cidade. Marcelo e ela não puderam ter filhos, então cuidava de todos com muito zelo, logo percebi que tinha ganhado uma mãe substituta quando ao chegar em sua casa ela me recebeu com beijos e um sorriso no rosto.
- Benvenuto ragazzo... - Ele me deu um apertão que doeu até a alma.
- Grazie signora - Ela me deu mais dois beijos e me puxou para a sala de jantar onde havia a mesa posta e nela uma enorme travessa com macarrão à bolonhesa, é eu estava em casa.
Após ligar para o meus pais e para Luciano me juntei a eles para comer. Sentados à mesa havia mais três rapazes, Josh, Pablo e Rick . Josh era canadense de Toronto, tinha a mesma altura que eu, porém era bem bombadinho e ruivo dos olhos verdes, estava cursando o 3° período de Arquitetura e era sua primeira vez na Europa, tinha 21 anos. Ruan era argentino de Mendonza, com traços fortes que destacavam sua descendência italiana e espanhola era mais alto que eu e um pouco mais branco, olhos azuis e cabelo castanho, estava no 4° período de moda e tinha 22 anos, era visivelmente gay e não parecia constrangido com isso. O último se chamava Rick, era americano de Dallas, branco, alto, mais alto que todos, tinha ares irlandeses, jogava futebol americano e era sua segunda vez no país e na casa deles, tinha 24 anos e cursava agronomia.
O jantar foi interessante, conheci a história de cada um, contei a minha própria história, me senti confortável já que dois ali eram sul americanos e a mama parecia a minha, só que acredito que ela não curtia caminhão e muito menos Marcelo gostava de vinho.
Já era de madrugada quando fui para o quarto, ainda sofria os efeitos do jat leg e foi difícil para dormir. Acabei indo para a sacada e em meio a neve que caia lembrei dos bons momentos vividos dias atrás.
- Caralho, não estou aqui há nem um dia e já estou com saudade de casa... - pensando nisso me escorei e uma lágrima solitária escorreu do meu rosto.