Prólogo:
A mulher estava caída no chão do vasto salão, tingindo o piso branco com o vibrante e intenso vermelho de seu sangue. O homem ajoelhado a seu lado estava completamente perdido, devastado,lhe acariciando os cabelos enquanto as lágrimas lavavam seu rosto.
- Vyana, ahh, minha doce Vyana.- Os lábios dele tocaram os dela, que agora já eram tão frios quanto os seus. - Porque tinhas de ser tão frágil? Meu passarinho. O que farei agora, sem a luz da tua presença?
Os dedos dele percorreram pelo rosto da jovem, colocando seus cabelos loiros atras da orelha, acariciando seus lábios rubros, deslizando lentamente para o pescoço. Ele encarou com amargura a marca da ferida que havia tirado a vida de sua amada. E então compreendeu.
"Quando nos encontrarmos novamente, não haverá uma próxima vez para nós dois, meu passarinho. Você pertence a luz, e nela deve permanecer."
•Capítulo 1-
" A escuridão lhe convoca "
O dia lá fora era frio e cinzento. O céu estava perdido em uma cor mórbida e sem vida, as nuvens cobriam o sol por completo. Uma leve chuva começava a cair, mas foi a brisa gélida daquela manhã, esvoaçando as cortinas e entrando pela janela do quarto que o fez despertar.
Vicktor se sentou na cama com um salto. Estava ofegante, suado, e chorando.
- "Esse sonho "- pensava consigo enquanto tocava as lágrimas. -" esse sonho mais uma vez. Porque?"
O vento frio que entrou pela janela fez os finos cobertores esvoaçarem pelo quarto de forma fantasmagórica até caírem no tapete. Com os ombros encolhidos esfregando as mãos nos braços, ele se levantou com cuidado, caminhando lentamente até a janela. Respirou profundamente, desfrutando do clima frio que aquela manhã lhe proporcionava. Reparou então que não estava se sentindo tão mal como nos outros dias. O que era uma surpresa agradável, ainda mais naquela manhã. Trancou a janela, depois, em um giro gracioso, foi até o espelho preso à parede do outro lado do cômodo. Conforme se aproximava da imagem refletida, mais ele diminuia seus passos.
-"não ah nada."-pensava consigo enquanto tocava o espelho. -"nada com que eu deva me preocupar. "
Apesar das diferenças, aquele ainda era ele. O mesmo Vicktor de sempre, pequeno, frágil, dócil e gentil. Aquele era um dia especial, e era bom que ele estava se sentindo bem naquela manhã. Esse havia sido o seu primeiro presente. Não deixaria que seus problemas internos estragassem o que estava por vir.
Vicktor não era vaidoso, mesmo assim recebia vários elogios de Geórgio e Ethan referente ao modo como se vestia. Naquela manhã ele escolheu nada mais do que um jeans escuro ajustado ao corpo, uma blusa preta de manga longa e gola alta, Meias pretas, um chinelo de pano, e isso era tudo o que ele precisava.
-" um chocolate quente também seria bom. " -pensou já se levantando e caminhando em direção a porta.-"talvez abra meu apetite!"
Por alguma razão, ele percebeu que alguém se antecipava do outro lado da porta. Antes que tocasse a maçaneta, alguém a abriu.
Ele também parecia diferente aos olhos de Vicktor naquele dia. O contraste do azul dos olhos de Ethan com o ruivo de seus cabelos sempre chamou atenção do garoto, mas naquela manhã era diferente. Tudo parecia mais vivo, todas as cores eram mais intensas.
-13 anos. -Disse o rapaz sorrindo, dando um passo para dentro do cômodo. - está na hora de crescer um pouquinho mais , não acha? Parabéns Vick.
- Obrigado, Ethan.
Talvez por estarem muito próximos um do outro, Vicktor tinha a ligeira impressão de poder enxergar as diversas cores das veias de Ethan, e até mesmo escutar o som desua pulsação. Essa percepção era perturbadora, desconfortante, e dolorosamente assustadora. O garoto recuou disfarçadamente, caminhando até a poltrona em frente ao espelho.
-Está se sentindo melhor hoje?
- sim, por incrível que pareça. - Vicktor estava de costas para o amigo, apenas o observando através do espelho.
-Geórgio preparou ele mesmo um bolo. Você sabe, ele adora essas coisas.
- nem todos gostam de comemorar essa data. Mas, sim, imaginei que ele faria isso. Seu pai é mesmo... maravilhoso.
Ethan caminhou até o garoto, colocando a mão em seu ombro de forma protetora.
-Nosso pai. -corrigiu ele.- Sabe bem que faz parte dessa família tanto quanto eu há muito tempo.
Vicktor apenas conseguiu forçar um sorriso em resposta.
-Ele está nos esperando. -concluiu Ethan caminhando até a porta.
-Sim. Me dê apenas mais alguns minutos.
O alívio que se fez em seu interior apartir do momento em que Ethan se retirou do quarto foi incontestável. Isso o machucava, porque Ethan era a pessoa qual Vicktor mais desejava estar perto. E isso parecia cada vez mais difícil nos últimos meses. Inquietação, adrenalina, excitação, eram sensações fáceis de se lidar, comparado com a dor ardente que queimava por todo seu corpo,se espalhando por seu interior, corroendo seus ossos e atingindo até mesmo sua alma. Ficar próximo de Ethan lhe trazia à tona todas essas sensações de uma forma ainda mais avassaladora. Vicktor vinha vivênciado essas experiências em segredo, desejando ser como um dia já foi. Ele tinha uma vaga idéia do que acontecia consigo, mas temia procurar por uma resposta definitiva.
•••
Para a surpresa de Vicktor, a sala não estava lotada de convidados, nem decorada com balões coloridos espalhados por todos os lados, como nos outros anos. Ao contrário disso, apenas Geórgio o esperava sentado à mesa, junto a um bolo de chocolate com 13 pequenas velas colocadas em círculo.
-Como se sente nessa manhã, Vick? - perguntou Geórgio se levantando e caminhando em direção aos garotos.
Geórgio era um homem alto, grisalho, possuía traços marcantes, um porte atlético, olhos castanhos,e uma barba por fazer. Um homem saudável e em plena forma.
-Me sinto bem melhor.
- fico aliviado, então...- Geórgio abraçou o garoto, lhe acariciando os cabelos. - Feliz aniversário, Vicktor! Que essa nova fase Seja repleta de alegrias e conquistas.
- Será assim. -Vicktor tentava passar confiança em suas palavras, mas tinha impressão de falhar na maioria das vezes.
Ethan estava em frente ao bolo, acendendo as velas.
- faça um pedido.
O garoto se aproximou da mesa , inclinou-se fechando os olhos e soprou, pensando.
-" que eu me mantenha digno, de receber todo o afeto dessas pessoas. "
Depois de comerem, no habitual silêncio da casa Lankaster, Vicktor se levantou da mesa, recolhendo os pratos e os levando até a pia.
- Não se preocupe com isso, Vick.- disse Geórgio enquanto organizava um maço de correspondências em cima da mesa. - Hoje é o seu dia, deixe que Ethan se encarregue da louça mais tarde.
O garoto se aproximou da mesa, sentando-se em frente ao pai.
-más notícias?-quis saber
O homem espantou-se ao ser distraído, deixou a carta cair em cima da mesa enquanto pressionava os dedos nas têmporas.
- Não exatamente. - Respondeu por fim .- A carta é para você e Ethan.parece que Urick não poderia deixar o dia de hoje passar em branco.
"Urick" Vicktor sentiu um calafrio que percorreu por todo seu corpo ao escutar o nome do amigo. O garoto sentiu-se aliviado ao receber a notícia, pois aguardava por uma já a bastante tempo.
Urick Patersson foi um de seus melhores amigos, assim como Ethan. Ambos eram confidentes, inseparáveis. Viveram desde a infância no orfanato Leopod, onde desenvolveram sua amizade com o decorrer dos anos. Sempre foi assim, até o dia em que Geórgio apareceu, determinado a dar uma vida diferente a um dos garotos. Ethan foi o primeiro, tinha já 15 anos quando fora adotado e partiu do orfanato. Mesmo assim o rapaz os visitava frequentemente, mantendo a promessa que fizeram anos atrás, de que sempre seriam uma família independentemente das circunstâncias. Mas a saudade foi implacável, Ethan não conseguia ficar distante dos garotos, e por isso, Geórgio de bom grado, prontificou-se a trazer Urick e Vicktor a casa Lankaster. Aquele foi um ano inesquecível para os três. Vivenciciaram momentos grandiosos, permitiram-se agir como crianças, recuperando assim, parte da infância que nunca tiveram.
Tudo era bom, todos os momentos eram prazerosos, até o dia em que Urick passou a adoecer. O garoto sentia-se frequentemente cansado, sem apetite, perdia peso com facilidade, queixava-se muito devido a luz do sol, alegando que esta apenas o fazia se sentir pior ainda. As coisas permaneceram assim, piorando cada vez mais, até o dia em que Urick completou 13 anos.
No seu 13° aniversário, tudo na vida de Urick tornou-se cinza. Geórgio havia preparado uma festa surpresa para ele durante a noite. Mas quando foi chamá-lo em seu quarto na manhã seguinte, deparou-se com o garoto ajoelhado no chão, escorado na parede com as mãos ensanguentadas cobrindo o rosto.
"Me desculpe, me perdoe "
"Por favor, me ajude "
Havia sangue por todo o lado, juntamente com os restos de carne esparramados pelo chão. Urick não foi o único a deixar a casa Lankaster naquela manhã, Sherekan também. Depois disso, Geórgio nunca mais acolheu gatinhos ou qualquer animal de estimação em sua casa.
Tudo o que Geórgio disse a Ethan e Vicktor depois do ocorrido foi que Urick estava muito doente, e que seria transferido para um lugar adequado para se recuperar. Tempos depois, os garotos compreenderam o que havia acontecido em meio a várias conversas com Geórgio. Mas o fato é que o homem não gostava de trazer aqueles assuntos para sua casa, isso era a evidente mesmo agora, após um ano.
Vicktor pegou a carta, deixou Geórgio e correu para o quarto de Ethan.
- Você não vai acreditar! - disse ele entrando no quarto e atirando-se na cama ao lado do amigo.
-O que foi, algum presente?
- melhor do que isso! - disparou Vicktor enquanto abria a carta. - é o Urick!
Ethan não se conteve e tomou a carta das mãos de Vicktor antes mesmo de ele começar a ler.
Vicktor percebeu, que pouco a pouco, o sorriso e o entusiasmo iame desaparecendo do rosto de Ethan. Dando espaço para uma expressão fria e carregada de aflição. O rapaz deixou a carta cair em cima da cama , virando o rosto para a janela sem dar uma palavra.
-O que aconteceu?
- Veja você mesmo.
Vicktor já estava trêmulo quando finalmente começou a ler.
"Geórgio, Ethan, creio que não seja necessário mencionar o quanto a saudade é dolorosa. Não se passa um dia sem que eu me lembre de vocês. Todos vocês. Até mesmo você, Vicktor, seu chorão! "
O garoto não conteve o riso ao se lembrar do quanto Urick zombava dele quando criança por ser o mais emotivo dos três.
"Hoje é seu aniversário. Acredito que esteja temeroso, aflito e com medo. Afinal, completa 13 anos. E nós bem sabemos que este é um número amaldiçoado. Esse é um momento decisivo, que determinará para sempre como irá viver sua vida. Desejo realmente, que esse dia seja diferente para você. Mas, no fundo, acredito que você não tenha com o que se preocupar, sua personalidade é totalmente o oposto daqueles que são convocados para o outro lado. Você não se adaptaria aqui, acredite. As pessoas, acho que ainda posso chama-los assim, são completamente diferentes nesse lugar. É difícil até mesmo para alguém como eu. Nenhum deles tem simpatia por aqueles que escolhem reprimir a natureza vampirica. Dizem que sou covarde, fraco e burro. Gostaria de poder ter mandado notícias antes, mas a dor é incontrolável, passo a maior parte dos meus dias sedado, para conter os surtos que a sede provoca. Meu monitor disse que não tenho muito mais tempo. Duas semanas no máximo. Me restam então duas opções. Beber sangue humano e aceitar a imortalidade, abrindo mão de todas as coisas que eu poderia ter sendo como sempre fui... Ou aguardar esse tempo, na esperança de que eu ainda possa reverter isso e voltar ao normal, mesmo sabendo que o preço para isso pode custar minha vida. Não é preciso dizer o que vou fazer, afinal, é óbvio. Eu também não precisaria dizer isso, mas, não sei se terei outra oportunidade, então, é sempre bom lembrar que... Eu amo vocês. Serão sempre, eternamente, minha família. Talvez eu devesse ter sido mais como você, Vicktor. Não deveria ter desprezado a oportunidade de dizer isso mais vezes.
Com amor: Urick. "
Vicktor se esforçou para conter as lágrimas. Ethan ainda mantia o olhar fixo para a janela, distante.
- Ele vai conseguir. Acredite.
- ele já desistiu, Vick. Sabíamos que isso poderia acontecer. -As palavras dele eram carregadas de amargura e tristeza.
- Ele ainda tem tempo. As chances são pequenas, mas ainda a esperança.
Ethan direcionou o olhar para Vicktor.
- e se ele não conseguir? Ou pior, e se ele ceder?
Ethan não sabia dizer qual das duas alternativas era a pior. Se era perder o amigo pelo inevitável destino de qualquer ser humano, ou perder ele para a imortalidade. Qualquer uma das alternativas iriam os separar eternamente.
- Se Urick ceder. - Vicktor tomou as mãos de Ethan nas suas e prosseguiu. - se ele ceder, será uma decisão dele. E, dada às circunstâncias, acredito que seja o melhor a se fazer. Ele sempre será o mesmo em nossas lembranças.
- Você é tão ingênuo, Vick. Ele jamais será o mesmo se isso acontecer.
- que escolha ele tem? - perguntou o garoto, a voz trêmula.- Ele poderia se adaptar, sem mencionar, que tem apenas 14 anos. Quantos sonhos terá de interromper? Essa seria uma maneira de continuar.
- Os sonhos dele já foram interrompidos de qualquer forma. -Disse Ethan, apressado. - Os sonhos dele como humano jamais poderão ser alcançados. Mas ele terá novas ambições, claro.
- Acredito que qualquer tipo de vida, é melhor do que a morte. Dessa forma poderíamos nos encontrar novamente, você não gostaria disso?
As palavras de Vicktor o fizeram pensar. Recordações distantes passaram diante dos olhos de Ethan, obrigando o rapaz a responder.
- Ele não seria o mesmo. Não nos trataria da mesma forma.
- Urick jamais nos machucaria.
Ethan não conseguiu conter o riso, nem a ironia.
- Ah! Tem toda razão Vick! Sabe que eu ainda teria minha família comigo se realmente existissem Vampiros assim, não sabe?
Com isso, o rapaz se levantou e saiu do quarto. Deixando Vicktor sozinho com a carta na mão, perdido em pensamentos.
"Seria mesmo ele capaz de odiar Urick se escolhesse prosseguir?"
O garoto direcionou o olhar para a cômoda ao lado da cama, observado o retrato dos verdadeiros país de Ethan.
" eu entendo seus motivos. Realmente entendo, mas... Você me odiaria também? "
Esse pensamento o fez congelar. Embora ele não estivesse se sentindo tão mal como Urick esteve em seu lugar, Vicktor sabia que algo estava acontecendo consigo. Isso o aterrorizava. Como iriam agir ao saber? Ou pior, como contar a eles? Vicktor não fazia idéia de como fazer, e também, sentia medo.
- talvez eu tenha mais tempo. -dizia a si mesmo.- Eu preciso de mais tempo.
O garoto deitou na cama, com a cara afundada no travesseiro úmido devido às lágrimas. Adormeceu algumas horas depois.
•••
Geórgio estava em seu escritório, lugar onde passava a maior parte do tempo. Ele lustrava cuidadosamente uma série de armas e as colocava em cima da mesa. Ethan bateu na porta duas vezes antes de entrar. Geórgio deixou a adaga cair no chão com o espanto.
- posso voltar depois, se quiser. -sugeriu o rapaz, já se afastando.
- Céus Ethan! Não, não é preciso.
O garoto deu um passo para dentro do cômodo, caminhando até a poltrona em frente ao pai e sentando-se logo em seguida.
-Gostaria de conversar sobre... Urick
-é claro. Imaginei que mais cedo ou mais tarde, você ou Vicktor me procurariam para isso. Continue.
-Eu gostaria de me encontrar com ele mais uma vez. Para lhe dizer
- para lhe dizer o que Ethan? - Geórgio percebeu que asuas palavras soaram ríspidas demais. Colocou o revólver em cima da mesa e então prosseguiu. - Mesmo que isso fosse possível, mesmo que isso o ajudasse de alguma forma, você jamais poderia entrar naquele lugar. A menos que fosse um vampiro ou que fizesse parte do círculo de caçadores. Mesmo assim, levaria um bom tempo.
- Você poderia me levar! - insistiu o rapaz.- sei que poderia fazer isso, em nome aos vários anos de serviços prestados.
- As vezes você é tão ingênuo quanto Vicktor. Vejo que ainda tem muito a aprender, Ethan.no mundo vampirico, quebrar as regras pode ser algo fatal, não se esqueça disso.
- o que sugere que eu faça então? Deixar que ele simplismente desista?Deixar que Urick se entregue?
- me dói ter de lhe dizer isso, Ethan, mas não há nada que você possa fazer. Apenas ter fé nele.- Geórgio percebeu o rapaz lutava para conter as lágrimas. Mas sabia que já era tarde demais para facilitar as coisas.-E acima de tudo você deve ser forte. Eu entendo sua aflição, Urick foi como um filho para mim! Mas no momento, tudo depende dele.
Sem mencionar que, tempos ainda mais difíceis estão para chegar. Nosso cuidado deve ser direcionado para outra pessoa apartir de agora.
Ethan estava prestes a questionar sobre o que o pai falava, quando foi interrompido pelo som da campainha tocando. Geórgio deu um longo suspiro. Entregou a adaga para Ethan e antes desair o alertou.
- Ela foi minha no passado. Sua lâmina tem muitas histórias. Proteja a si mesmo e as pessoas que ama com ela. Pois, agora é sua.
•••
Geórgio recebeu os visitantes, e os acomodou na sala principal. Tratava-Se de Pierre Lafaiate e Dayene Suzie. Ambos Vampiros da instituição Lafaiate. Geórgio pediu para Ethan que lhes trouxesse vinho enquanto se acomodava no sofá.
- sentimos muito pelo inconveniente. - disse Pierre de forma muito cortês.- gostaríamos de ter vindo mais cedo, mas... A noite é mais confortável, como sabe.
- Não é preciso se desculpar. -Disse Geórgio após uma breve risada.- Estava esperando por vocês, embora deve admitir que não imaginei que seriam tão pontuais. Vieram no dia de seu aniversário!
Ethan entrou na sala, carregando uma bandeja com três taças.
- vinho é tudo o que posso lhes oferecer hoje.- disse Geórgio após perceber o sorriso cínico e encantador de Dayene. - De melhor qualidade, isso eu garanto.
-Não tenho dúvidas disso, Senhor.
A mulher direcionou o olhar para Ethan, que após entregar as bebidas se posicionou em pé, ao lado de Geórgio.
- esse é meu filhos mais velho, Ethan.- disse Geórgio, gesticulando para que o rapaz se sentasse a seu lado.- 17 anos. Um homem feito, eu diria. Ethan fará parte do círculo de caçadores um dia, ele fará o alistamento no próximo ano.
Pierre avaliou o rapaz dos pés à cabeça, com um sorriso amistoso.
- Ele me parece bem enérgico,
Será ótimo para ele.O garoto irá amadurecer.
"Não sou um garoto! " Ethan pensou em dizer, mas o sorriso nos olhos de Pierre o fez perceber que já não era mais necessário.
- falando em crianças. - disse Dayene iniciando o assunto. - Como está seu outro filho, Geórgio? Onde está Vicktor?
Ethan não se conteve e direcionou um olhar desesperado para o pai.
-Ele está... bem. Eu o tenho avaliado.
Pierre tomou um gole de vinho enquanto cruzava as pernas. Ele deixou que Dayene prosseguisse.
- Entendo...- disse ela.- más Onde ele está agora?
- Dormindo! -disparou Ethan, sem ser chamado.
Pierre colocou a taça na mesinha de centro.
- Senhor Lankaster, estamos aqui para fazer nosso trabalho. Quanto antes terminarmos isso, melhor. Faremos o teste e iremos embora .
-Vicktor é humano e ele está bem! Não precisa sequer fazer o teste!- disparou Ethan mais uma vez.
- Não é você quem decide isso, criança. - A voz de Pierre era fria feito gelo.
- Basta!!- gritou Geórgio, colocando silêncio no ambiente. -Ethan, vá chamar seu irmão.
- Mas, ele não..
- Faça o que eu digo, Ethan!
O rapaz se levantou com brutalidade e deixou a sala.
- tem sido uma época difícil para ele.- disse Geórgio quebrando o silêncio que havia se feito. - Devido ao que aconteceu com Urick, suas ações são perfeitamente compreensíveis.
Pierre tinha em seu rosto uma expressão fria, mas ao mesmo tempo encorajadora.
-Não tem sido fácil para nenhum de nós. -Disse ele - As pessoas encaram o que fizemos com maus olhos. Me diga, Geórgio, Seu filho mais novo tem conhecimento sobre o mundo noturno?
- vagamente, eu o mantive o mais distantepossível de tudo isso.
-Mais uma criança mimada.- disparou Dayene, com não mais do que uma sugestão de sorriso no rosto.
- Realmente. - confirmou Pierre.- afã lata de conhecimento é o que sempre prejudica o processo. Seu filho Urick não estaria em uma situação tão complicada se tivesse sido um pouquinho mais instruído. Ele reprimiu tanto a sede que a essa altura nem mesmo o sangue humano pode salvá-lo. Ethan sim, é como você, alguém que pode proteger, a seus métodos. Mas os outros dois, não. Pois estes são como nós.
•••
Vicktor estava novamente sonhando, o mesmo sonho de todas as noites, que ele esquecia acima que acordava, restando apenas aquela sensação nostálgica. Ethan entrou no quarto, sem acender a luz. Percebeu que Vicktor ainda dormia, e então se aproximou. Se sentou ao lado do garoto, avaliando o modo como ele se contorcia na cama, estava suado, ofegante, por vezes até gemendo. Aquele obviamente não era um sono bom,mas Ethan não queria lhe acordar. Queria apenas observar, aproveitar cada segundo ao lado dele.
-"Por favor, Vick. - pensava enquanto aproximava seu rosto junto ao dele.- "Não me deixe você também! "
Ethan pensou em beija-lo, mas se deteve ao perceber que o garoto havia aberto os olhos, espantados. Ethan recuou imediatamente, lebastando da cama em um salto.
- o que estava fazendo ?- perguntou Vicktor, se sentando.
- o que você acha?- novamente a ironia se abatia na voz de Ethan.- Você estava suando feito um cavalo, estava verificando sua temperatura. Como se sente?
- cansado. - Respondeu o garoto enquanto esfregava os olhos.- tive aquele sonho mais uma vez.
- Deixe os sonhos para depois, Vick. Você tem visitas.
Ethan foi o primeiro a entrar na sala , Vicktor o acompanhava logo atrás.
- Olá Vicktor, como está? - perguntou Geórgio, sorrindo.- Venha, se aproxime, essas pessoas querem conhecer você .
O garoto caminhou até Geórgio e se sentou a seu lado.
- não tenha medo, criança. - disse a mulher, também sorrindo. - me chamo Dayene, é um prazer conhecer você.
- Eu sou Pierre.- disse o homem.- Sabe porque estamos aqui, não sabe, Vicktor?
- para trazer notícias de Urick?
Dayene nada disse, mas sua risada irônica deixou claro o quanto detestava estar ali. Geórgio foi quem continuou.
- Hoje Você completa 13 anos, Vick. Lembra-se daquela conversa que tivemos sobre como alguns Vampiros vem ao mundo?
- sim.- Respondeu o garoto com amargura, ao se lembrar perfeitamente do dia.
Vicktor sabia, que nem todos os Vampiros se originavam de um outro vampiro. Os puros, como eram chamados os que nasciam de uma humana, atingiam sua maturidade aos 13 anos. Era onde o ciclo como humano se fechava, dando espaço para a sede.
- Hoje é o dia de seu teste, filho.- explicava Geórgio. - é importante que você o faça, para que acidentes como o que aconteceu com Urick não aconteçam com você também.
- Eu entendo. - Respondeu o garoto olhando fixamente para Pierre.
Havia algo naquele vampiro que chamava sua atenção. Seu rosto pálido, aqueles olhos vermelhos feito dois rubis, os cabelos negros e lisos na altura do queixo, o porte elegante, até mesmo sua voz. Tudo isso lhe parecia extremamente familiar.
- Você parece um bom garoto.- disse Pierre, se levantando. - Sabe o que fazer?
- não exatamente. - Respondeu Vicktor, desviando o olhar para Ethan. Geórgio entregou a Pierre uma adaga prateada e então prosseguiu.
- Basta provar que o sangue não lhe afeta, Vick. Só isso.
Pierre ergueu a manga do casaco, deixando o pulso branco a mostra. Pressionou a lâmina da adaga prestes a se encontrar cortar, quando foi interrompido por Dayene.
- Acredito que sangue humano Seja mais adequado para fazer o teste. Não acha , Pierre?
- Você é cruel , mulher. Senti a sede dele apartir do momento em que coloquei os pés nessa casa. Sangue humano apenas criaria uma cena desnecessária.
Vicktor não gostava daquela situação, daquela mulher, menos ainda. Não gostavade ser comparado a eles, não queria ser como eles.
- Eu não preciso disso! - disse o garoto, se levantando.
-Então, suponho que o senhor não tenha nada a temer, não é ?- Questionou Pierre, devolvendo a adaga a Geórgio. O homem estava prestes a se cortar , quando Dayene mais uma vez interveio.
- Oh, por favor! sangue jovem! É sempre melhor.- Ela tomou a adaga das mãos de Geórgio e a jogou para Ethan, que após pegou no ar agilmente.- Não vejo porque não. A menos que o futuro caçador tenha medo de se cortar, é claro.
Ethan estava farto daquilo. Fechou os olhos enquanto passava a lâmina pelo braço. O sangue brotou,,manchando a camiseta deslizando, pingando gotículas vermelhas pelo chão.
As pernas de Vicktor perderam as forças,seu corpo estava trêmulo, o coração disparando. O garoto não enxergava nenhuma outra cor a não ser o vermelho. Aquele vermelho. As lágrimas vieram sem darem chances de serem contidas . Ele sabia que estava sendo avaliado, e também sabia que havia falhado. Teve essa certeza a partir do momento em que avançou para cima de Ethan, com uma mão cravada em seu pescoço, e outra segurando o braço ferido. Antes que pudesse fazer qualquer outro movimento ele sentiu o impacto de algo se chocando conora sua cabeça, e então, apagou.
Pierre devovleu o bastão a Dayene enquanto juntava Vicktor do chão. Ele acomodou o garoto no sofá, e depois voltou sua atenção para Geórgio.
- Eu sinto muito por isso, realmente. Ele foi atingido por uma arma letal contra Vampiros, por isso irá demorar até voltar a consciência.
Ethan ainda estava no chão, asim como Geórgio ele não conteve as lágrimas. Dayene lhe entregou um pano branco, para que se limpasse.
- Está conversa não é para crianças. Sugiro que retorne para seu quarto e cuide desse ferimento. Será mais seguro.
Ethan ignorou a mulher, caminhou até Vicktor e lhe plantou um beijo na testa . Buscou o olhar de Geórgio, na esperança de que ele ainda pudesse fazer alguma coisa, mas percebeu que era inútil. Com isso , ele se retirou da sala, retornando para seu quarto.
Dayene se despedição e Geórgio com um breve aperto de mãos. Antes de sair disse.
- terminamos por hoje, não foi, Pierre?
- certamente.- Respondeu ele.- tenho de dar uma palavrinha com este pai preocupado antes de ir. Me espere no carro.
Geórgio estava abaixado ao lado do sofá onde Vicktor estava desacordado, lhe acariciando os cabelos e pensando consigo mesmo se voltaria a ver o garoto daquela maneira outra vez. Ele não suportaria perder mais um de seus garotos.
- se serve de consolo.- disse Pierre iniciando o assunto.- o controle dele foi louvável.Raramente Vampiros recém despertados possuem tanto auto controle. Mas me diga, você está realmente surpreso com isso?
Geórgio direcionou o olhar para Pierre, e então Respondeu.
- Não posso negar. Imaginei que isso pudesse acontecer a ele também. Depois do ocorrido com Urick, essa possibilidade tem me atormentado todas as noites. Mas, Vicktor sempre foi diferente! Ele não demonstrou em nenhum momento qualquer indício de que algo estava acontecendo consigo, até os últimos dias. Sem mencionar no fato de ele ser um garoto tão doce, ingênuo e por vezes até infantil. Por isso não imaginei que fosse ser convocado.
Pierre se ajoelhou ao lado de Geórgio, observado o garoto.
-Ele se portou bem. - disse o homem acariciando levemente o rosto de Vicktor. Realmente, a personalidade dele não combina nada com as trevas. É óbvio que ele escolherá reprimir a natureza vampirica. Farei o possível para devolver seu filho apto a viver sob a luz do sol novamente.
Geórgio se levantou, Pierre fez o mesmo.
-Estou contando com você.- disse o homem, com um tom ameaçador na voz.-faça o possível para proteger ele, e Urick também. Não quero receber cartas com notícias de que estão sendo coagidos. Mantenha-os em segurança, Pierre. Em nome aos velhos tempos.
- farei o possível. - Respondeu Pierre,colocando a mão no ombro de Geórgio. - tem minha palavra.
- bom. Isso é bom.- disse o homem sem conseguir conter as lágrimas. Ele juntou do chão a adaga. Ela era igual a que dera a Ethan, prateada com arabescos dourados e um rubi no cabo. Colocou a adaga nas mãos de Vicktor é então concluiu.
- confio em você, Pierre. Mas não naquele lugar. A instituição Lafaiate já não é mais a mesma a muito tempo. Tenha cuidado com os Vampiros que abriga naquele lugar.
Pierre não teve respostas para isso. Fez apenas um aceno com a cabeça. Logo em seguida, pegou Vicktor no colo e saiu para fora.
Vicktor tremeu inconscientemente ao sentir a brisa gélida daquela noite obscura e sem estrelas.
-"Não tenha medo, passarinho. As trevas não lhe pertencem, nunca pertenceram..."
•••
[Continua...]