O ESCRAVO

Um conto erótico de Marcos Well
Categoria: Sadomasoquismo
Contém 8061 palavras
Data: 18/07/2018 15:34:32
Assuntos: Sadomasoquismo

Mýa saiu do banheiro e dirigiu-se até o quarto. A toalha cobria-lhe parte do corpo, deixando os ombros e as pernas nuas. Seus cabelos negros pendiam molhados e chegavam-lhe a tocar as costas. Caminhou apressada por um extenso corredor, até que alcançou a porta do cômodo. Em seus gestos, demonstrava certa ansiedade, como se estivesse esperando por alguém. Ao mirar-se no espelho, encontrou seus olhos negros, que vislumbraram por minutos seguidos a tonalidade negra da sua pele. Deixou que a toalha escorresse pelo seu corpo, alcançando o chão. Suas curvas ficaram à mostra. Não tinha o típico corpo violão que a sociedade ditava a todos como o padrão de beleza ideal. No entanto, não se importava com as gorduras que lhe salientavam a estrutura, ou as estrias que com o passar dos anos, mesmo ainda sendo jovem, apoderaram-se de parte das suas nádegas e pernas.

Súbito, assustou-se quando ouviu o barulho da campainha ressoar por toda a casa. Apressou-se em pegar a toalha no chão. Em um movimento rápido e ritmado, lançou-a sobre a cama de casal que ficava no centro do quarto e moveu-se impetuosamente até o guarda-roupa do lado oposto do espelho.

— Droga! — exclamou, demonstrando irritação por ter se atrasado.

Novamente ouviu o som da campainha reverberar por toda a casa.

Escolheu a primeira peça de roupas que viu à sua frente. Apesar de ter que parecer elegante, agora não tinha muito tempo.

Vestiu-se rapidamente com um vestido de cor vermelha, fechando com dificuldade um zíper que lhe ia do início das costas até o princípio da bunda.

A campainha soou novamente.

Mýa girou sobre os próprios pés e foi na direção do espelho. Mirou-se, verificando a sua aparência. Os cabelos molhados davam-lhe uma aparência sensual, combinado com a cor do vestido. Seguiu outra vez em direção ao guarda-roupa e de lá retirou uma caixa, que abriu automaticamente, divisando um par de scarpins pretos. Calçou-os avidamente.

Ouviu o estrondo nervoso da campainha outra vez.

— Meu Deus! Que ser humano impaciente — resmungou. — Já estou indo! — completou, gritando.

Devidamente vestida, dirigiu-se para fora do quarto, guiando-se sobre seus passos até adentrar a sala. Foi na direção da porta, caminhava rápido, espaçadamente. Os sapatos causavam-lhe certo desconforto.

— Estou indo — disse, alcançando a fechadura com uma das mãos.

Destrancou a estrutura de madeira. Puxou-a para dentro, movendo-se para dar espaço para que quem lhe chamava pudesse passar. Seus olhos deram com um rapaz de baixa estatura, magro, extremamente branco. Tinha olhos demasiado azuis, cabelos castanhos e lisos e um semblante apático.

— Olá! — sorriu.

— Achei que não estivesse em casa — o rapaz demonstrou certa ira no tom de sua voz, que era doce, porém grave.

— Desculpe-me pela demora… — Mýa parecia estar um pouco desconcertada. — Eu havia acabado de sair do banho quando você chegou.

— Não se preocupe, está desculpada — o rapaz fazia movimentos mímicos afetados com as mãos enquanto falava.

Mýa abriu-lhe um largo sorriso.

— Vamos entrando.

O rapaz atravessou a porta em um ímpeto, passando por Mýa rapidamente. Quando ela fechou a porta e voltou-se para a sua figura, ele já estava sentado em uma das poltronas que ficavam dispostas na saleta, uma em frente à outra.

— Vamos fazer tudo aqui mesmo? — o homem indagou, impaciente.

Mýa aproximou-se dele, parando com as mãos na cintura à sua frente.

— Não! Vamos para o escritório. Lá nos sentiremos mais à vontade.

— Tudo bem — o jovem levantou-se do sofá, estacando à frente de Mýa. Seus corpos muito próximos, seus olhares encontrando-se de forma inibidora.

— Vamos…

Mýa andou na direção de um imenso corredor. O jovem seguiu-a de prontidão.

Os olhos do homem percorriam a parede e detinham-se nos quadros que ficavam pregados nela. Havia fotos da moça em posições diversas, cravadas em molduras exuberantes.

— Você é sozinha? — indagou o jovem, mas não obteve resposta. — Digo… — reformulou a pergunta. — Você mora aqui sozinha?

— Sim — Mýa respondeu, monossilábica.

— Entendo…

— Qual é o seu nome? — Mýa perguntou, assim que alcançou o fim do corredor. Parou em frente à porta que dava para o escritório.

— Sou o Alek.

— Nome bonito.

— E você é a Mýa… Mýa Rivers! — a voz do rapaz soou irônica.

— Isso! — Mýa girou a fechadura, abrindo a porta.

Entraram no cômodo, que era pequeno, porém mantinha uma aparência aconchegante. Havia uma mesa, à frente de uma enorme estante com diversos livros, de temas variados. Dispostas ante a mesa, havia duas cadeiras acolchoadas e forradas por um tecido de napa marrom. Sobre a mesa, repousava uma espécie de rádio, uma agenda e um porta-canetas.

— Mas esse é o seu nome verdadeiro? — indagou Alek, tentando manter um diálogo com a moça.

— Você poderia sentar-se ali?

O jovem balançou a cabeça de forma afirmativa e dirigiu-se até uma das cadeiras acolchoadas. Mýa seguiu-o e sentou-se em uma terceira, que ficava atrás da mesa, e em frente à que o rapaz agora se endireitava, aconchegando seu corpo na estrutura do móvel.

— Você não me respondeu sobre o seu nome… — Alek disse, de forma reticente.

— Sim, Mýa é meu nome original. Apesar de não parecer nome de uma brasileira… O que de certa forma faz sentido, já que meus pais tiveram a ideia de me dar esse nome por conta de uma cantora norte-americana.

— Ah, entendo… — o jovem fez uma pausa, contudo voltou a falar, colocando os cotovelos sobre a mesa. — Eu não acreditei quando recebi o seu convite me convocando. Achei que o que tinha para falar-lhe talvez não fosse bom o bastante para você.

— A premissa é boa, no entanto quero saber mais a fundo como tudo aconteceu.

— Sabe, as pessoas temem que suas experiências mais íntimas venham à tona e que elas se tornem motivos de chacota por conta disso, mas eu não ligo.

— As pessoas importam-se demais com o que as outras vão pensar delas e esquecem-se de viver as suas vidas.

— Nascemos nus, somos pervertidos e despudorados desde o momento em que chegamos ao mundo.

Mýa sorriu com o comentário do rapaz.

— Mas não é verdade?

Assentiu com a cabeça.

— Somos criaturas desavergonhadas e luxuriosas. Nosso corpo é como um mapa, quando nos entregamos aos prazeres da carne, deixamo-nos sermos descobertos. Talvez o pudor seja apenas uma forma de maquiar a nossa vulnerabilidade aos desejos.

— Isso! Estamos aqui para falarmos justamente sobre isso, mas não dessa forma.

— Então… o meu anonimato será mantido, não será?

— Não tenha dúvidas quanto a isso. Não estou aqui para julgar ou para expor quem quer que seja pelos seus atos. A liberdade de cada um deve ser respeitada, desde que esta não invada o espaço do outro. No entanto, em se tratando de corpo e prazer, cada qual sabe dos seus limites, e não importa o que você faça, desde que isso te cause felicidade e te dê prazer.

Alek sorriu ao ouvir a frase de Mýa. Fitaram-se por alguns instantes, como se naquele momento conectassem os seus pensamentos.

— Então, eu posso começar? — inquiriu, avexado.

— Só um instante.

Mýa foi até o pequeno rádio que estava posto sobre a mesa e ligou-o.

— Por que você ligou esse rádio?

— Não é um rádio. É um gravador — respondeu, mostrando parte dos dentes ao esboçar um sorriso no fim da frase.

— Ah, tudo bem…

— Então, antes que você comece, quero te dar algumas instruções: diga seu nome, sua idade, seu peso, descreva-se físico e emocionalmente, para que, quando eu volte a ouvir sua narrativa a sós, eu possa vislumbrar a sua figura.

— Muito bem… Então… meu nome é Alek… — o jovem parou. — Droga, acho que fiquei um pouco tímido.

Mýa sorriu. Levantou-se da cadeira e guiou-se até uma pequena escrivaninha que ficava a um canto do cômodo. Sobre ela, havia uma garrafa de uísque e dois copos.

— Acha que isso pode te desinibir? — falou, voltando-se para Alek.

— Com toda a certeza, querida! — exclamou o jovem, empolgado.

A mulher pegou a garrafa. Abriu-a. Encheu o primeiro copo, logo em seguida o segundo. Após terminar, pegou-os e foi novamente em direção à mesa. Entregou um dos copos a Alek e o outro ficou para si.

— Brinde?

— Tim-tim! — disse Alek.

Ambos ergueram os corpos e tocaram-nos no ar, fazendo-se ouvir o seu tilintar.

Alek tomou o primeiro gole da bebida. Sentiu o líquido descer pela sua garganta causando-lhe certo mal-estar. Sua face adquiriu um semblante de horror, todavia não demorou muito e ele voltou ao seu normal.

Mýa tomou o seu primeiro gole, porém não sentiu nada, apenas um leve ardor no esôfago e um calor que a envolveu de forma voluptuosa.

— Comece! — exigiu ao rapaz.

— Agora sim… Agora sim eu posso começar.

***

Eu me chamo Alek. Na verdade, esse não é meu nome original. Dei-me esse nome quando alcancei a minha maioridade. Meus pais costumavam chamar-me de Roberto, Rob, Bobo… Esse último apelido, não sei de onde tiraram, já que Bobo é algo um tanto quanto denegridor para se nominar uma criança, não é mesmo?

Mas a verdade é que isso não vem ao caso, já que, quando cheguei aos 18 anos, fui posto para fora de casa. Motivo? Bem, meus pais eram extremamente conservadores. Sabe essa corja de evangélicos que não respeitam a liberdade das outras pessoas e que querem de qualquer forma impor as suas vontades sobre os direitos dos outros? Pois bem, esses eram meus pais. Não vou dizer que não sinto saudades deles e que não foram importantes para a minha formação como ser humano. É claro que foram… Mas hoje vivo melhor sem eles.

Não faz muito tempo que eles me colocaram para correr. Tenho 23 anos, então são basicamente quatro anos vivendo à mercê e sendo o dono do meu próprio nariz. É um pouco difícil viver dessa forma, sem o apoio de ninguém, sabe? No entanto, acho melhor assim. Eu me basto. Amo-me intensamente e, quando me olho no espelho, mesmo não sendo aquilo que a sociedade exige de mim, sinto-me bem. Aprendi a conviver com a minha solidão, a me dar bem com os meus fantasmas, a ser eu mesmo sem me reprimir ou deixar que o julgamento alheio me diminua a imagem que fazem de mim. Eu sou meu próprio castelo, a minha fortaleza.

Conheci pessoas ao longo da minha vida. Homens que me acalentaram com a sua beleza e suas picas robustas. Todavia, isso não é tudo do que precisamos na vida. Tenho um ditado que sigo à risca. Pau é bom, que pena que vem um homem grudado nele. É que não é só algo que esteja intrinsecamente ligado apenas ao sexo masculino, mas à humanidade em si. Ao egoísmo, à falta de zelo pelo outro, à irresponsabilidade emocional. Esse último é uma lenda. RES-PON-SA-BI-LI-DA-DE-E-MO-CI-O-NAL. Desculpe, não pude evitar o riso.

Ah, perdão, perdão, às vezes me demoro muito falando de coisas supérfluas. É que sou assim mesmo, falante, sabe? E, quando acho uma oportunidade, como essas de poder falar da minha vida para alguém e contar um dos episódios que se passou comigo, fico afoito. Estava empolgado desde que recebi a sua convocação. Vi lá o nome, Mýa Rivers. Não pude acreditar.

Sou algo como um fã seu. Não nego que não cultivo idolatria por senhor ninguém, é claro que não. Prefiro adorar a mim mesmo. Isso não é um culto ao ego, é amor-próprio, sabe? Principalmente artistas. Prefiro não dar muita trela para artistas, leio seus livros, ouço suas músicas, assisto aos seus filmes, mas sabe de uma coisa? Não sou palhaço para lamber o ego de gente estúpida. Há muito ser humano por aí que se acha melhor do que o outro. É claro, não vou negar que talento é uma coisa linda e que as pessoas têm, sim, que ser admiradas por aquilo que fazem e reconhecidas pelo seu trabalho, mas sabe… algumas acabam se esquecendo de que quando morrermos vamos parar no mesmo lugar, vamos virar a mesma coisa, seremos e já somos, né (?), feitos da mesma unidade.

Então, voltando para você. Sou um admirador. Li seus livros, quase todos eles. Amo aquela sua personagem… como é mesmo o nome dela? Camila… Camila em chamas… Ela tem muito a ver comigo, sabe? Eu sou uma espécie de Camila em chamas. Meu Deus, eu sou o Bobo em chamas; Alek, o senhor mais luxurioso desta cidade caótica.

Já fiz muitas loucuras nesta vida, muitas mesmo. De até chegar a me arrepender depois. Antes de contar o caso específico, posso te contar sobre uma loucura em especial? Ah, você precisa ouvir. Veja só.

Havia um vizinho da minha família que sempre, mas sempre que eu passava pela frente da sua casa, abria-me um largo sorriso. Seu nome era Fred. Ele era muito bonito, apesar de ter um rosto amável demais, o que lhe dava uma aparência juvenil, e eu nunca gostei de caras assim. Sempre preferi os que tinham semblante rijo, olhar de dominante, sabe… Uma coisa à la “eu sou seu dono e vou te foder com força”. No entanto, Fred devia ter os seus 34 anos, pois já cultivava alguns cabelos grisalhos tanto na pouca barba quanto na cabeça.

Bem, então houve uma festa de aniversário na casa da minha tia. Fui, né? Muito bonito. Sempre fui o garoto preferido da família, aquele que tirava notas boas na escola, o mais inteligente, o que ingressara na universidade primeiro, o que conseguia resolver os problemas das outras pessoas, sendo muito prestativo e dócil. Mas tudo isso veio por terra quando revelei as minhas preferências sexuais ao meu pai. Nunca vou me esquecer daquele dia. Oh, meu Deus! Já percebeu que me perco quando falo? Primeiro começo a tratar sobre um assunto e, logo em seguida, pimba (!), já tô falando de outra coisa.

Enfim, então teve esse aniversário na casa da minha tia. Quando cheguei lá, advinha quem estava na cozinha conversando com uma das minhas primas? O Fred. Eu quase tive um treco. Entretanto, aproximei-me, dei um boa-noite meia-boca, peguei em sua mão, e que mão. Senti a sua estrutura rígida, o seu aperto másculo, que não casava com a jovialidade que o seu semblante carregava. Acho que foi nesse momento que ele me virou a cabeça.

Os convidados chegaram, se sentaram às mesas. E eu acabei ficando pela cozinha mesmo, e desenvolvi certa intimidade com o Fred. Passamos a noite inteira conversando. Bem, então me deu uma vontade louca de ir ao banheiro. Eu precisava mijar. Na sala, as pessoas já chamavam para cantar os parabéns. Então corri. Fui em direção ao cômodo que ficava em uma parte, nos fundos da casa. Deixei o Fred na cozinha e me mandei.

Eu estava tão, mas tão apertado… Após terminar, eu abri a porta. Assustei-me quando vi que Fred estava ali de pé, esperando para que eu saísse. Ele me empurrou para dentro do banheiro e entrou logo atrás de mim. Ficamos um em frente ao outro. Um medo misturado com excitação tomou conta de mim. Meu pau enrijeceu em questão de segundos. Jesus! Ele aproximou-se do meu rosto e alcançou meus lábios com os seus. Senti seu hálito quente invadindo a minha boca. Sua língua ávida percorrendo todo o céu da minha estrutura corpórea. Que homem, que homem… Ele usou uma das mãos para tocar meu pênis, e, quando dei por mim, meu membro, duro, estava fora da calça e ele me masturbava de um jeito gostoso.

Ele virou as costas para mim, pegou uma das minhas mãos e depositou-a sobre a sua bunda. Era redondinha. Nunca mais na minha vida vi nádegas tão lindas como aquelas. Percebi que ele desabotoava a sua calça e logo me dei conta das suas intenções. Mas ali não, ali não podia de jeito nenhum. Ouvi quando o pessoal começou a cantar parabéns lá na sala e logo me desesperei. Quis sair, mas, antes que pudesse fazer isso, ele acocorou-se em um ímpeto e passou a me sugar deliciosamente. Sua boca tomava conta do meu pênis de uma forma cálida e desejosa. Sua língua subia e descia pela estrutura do meu membro causando-me arrepios e fazendo com que o tesão aumentasse. Uma vez ou outra, ele me engolia por inteiro e, quando me retirava de dentro da sua garganta, deixava meu pênis coberto por sua babugem.

Fred se levantou. Virou-se novamente de costas para mim. Meu pau tocou a sua bunda, o que me fez latejar. A vontade de esporrar naquele cara me era latente.

— Mete, vai! … — ele me pediu implorando. Voltou seu rosto para mim e sorriu um meio sorriso. Os olhos como o de um cachorro pidão. Eu não resisti. Não tinha como resistir. Soquei fundo o meu pau em suas entranhas, sentindo cada uma das suas fibras arrebentarem. Ele era quente, apertado. Fiz alguns movimentos de vai e vem, perdendo a minha sanidade, deixando-me envolver pela onda luxuriosa que tomava o meu corpo.

Meti! Meti como ele havia me pedido, e gozei. Gozei e gemi dentro da bundinha dele no mesmo momento em que as pessoas lá na sala batiam palmas, pois o aniversariante havia acabado de apagar a velinha. Mas não fora o desejo dele que se realizara, fora o meu que tinha me vencido e me feito fazer aquela loucura.

Após gozar, Fred me retirou de dentro dele e voltou o seu rosto para mim.

— Você é muito gostoso, bebê.

Eu sorri com o seu comentário. Limpamo-nos e vestimo-nos. Abri vagarosamente a porta do banheiro, buscando ver se havia alguém ali que poderia estar nos observando, entrementes o caminho estava limpo. Saímos. Dirigimo-nos até a sala, desconfiados e um tanto quanto temerosos. Durante o resto da festa, eu sempre ficava me indagando, será que alguém viu? Mas acho que ninguém viu. Até porque, se tivesse visto, como vim a descobrir depois que contei para minha família sobre mim, o barraco estava armado. Com eles o buraco era mais embaixo.

Uma experiência legal, não é? Adorei passar por isso. Acho que, entre as minhas fodas, essa foi uma das melhores. Rápida e excitante, e em um lugar proibidíssimo, em circunstâncias muito arriscadas. Foi como um estupro. De certa forma, eu fui estuprado, já que eu não quis no primeiro momento; é certo que eu cedi logo em seguida, mas…

Você já ouviu falar sobre experiências de pico?

Bem, acho que essa foi uma das minhas experiências de pico. Sabe, aquela que com o passar dos anos eu venho tentando reproduzir dentro dos meus relacionamentos para alcançar o êxtase da forma mais intensa possível. Acho que depois daquele dia eu nunca mais fui a mesma pessoa. Tornei-me um pervertido. Sabe por que te digo isso? Porque, depois de vivenciar aquilo, embrenhei por caminhos mais perigosos ainda, até que me deparei no fato que narrarei a você. Este, farei questão de narrar com toda a precisão possível, sem deixar de fora nenhum dos detalhes sórdidos.

Tudo culminou dessa aventura que tive com o Fred. Depois daquilo, passei a me interessar por um sexo mais sujo, sabe? Um sexo mais perverso. Não nego que sempre gostei muito de assistir a filmes pornôs. O meu computador que o diga. E sabe qual é o tema que mais gostava de ver? Não fique pasma, por favor, eu não sou doente.

Estupro gay.

Amo. Amo. Amo. Sabe, aqueles caras fortões pegando aquele jovenzinho indefeso e maltratando ele, fazendo dele o que quiserem, batendo, metendo, cuspindo, escravizando. E eu sempre me vi na posição da vítima. Ansiava para que aquilo acontecesse comigo. Imaginava até a cena. Dois caras fortões me encontravam em uma rua escura, eles estavam cheios de tesão, então me sequestravam, me levavam para um lugar abandonado e realizavam todas as minhas fantasias.

É uma loucura, não é? Contudo, é uma loucura minha, e isso não interfere na vida de outras pessoas. Tenho completa noção de que o estupro é uma coisa que deve ser considerada abominável. Acho essa palavra bem cristã, abominável… Porém, em se tratando de uma fantasia sexual minha, e que diz respeito a mim e aos meus desejos, acho que não tem mal nenhum. Uma coisa é falar de machismo e violência, outra é tratar de fetiches e masoquismos eróticos.

Confesso, sou um fetichista masoquista.

Pois bem, querida Mýa. Aconteceu comigo. Consegui reproduzir a minha experiência de pico de uma forma ainda mais cruel e brutal, do jeitinho que sempre sonhei, do jeitinho que sempre quis.

Está preparada para ouvir? Preste bem atenção em cada detalhe. Acho que você vai ficar molhadinha. Se sentir vontade, pode bater uma siririca em minha frente. Eu não ligo, sabe? Acho mulheres se masturbando uma coisa espetacular. Meu Deus, na verdade, acho a vagina uma coisa muito linda. É um órgão semelhante a uma flor, com suas pétalas, que são os grandes e os pequenos lábios… É linda… Uma pena que eu não goste.

Já chega de conversinha fiada. Vamos ao caso que me trouxe até aqui e fez você me convidar para participar dessa sua “pesquisa de campo”.

Eu trabalho à noite. Dou aula para adultos em uma escola. Sou professor de Geografia. Estou dizendo isso porque o acontecimento está diretamente ligado ao horário em que saio do colégio. Costumo encerrar as atividades às dez da noite. Dirijo-me a um ponto de ônibus que fica na esquina e onde passa um que me deixa na porta de casa.

Era uma sexta-feira. Meu Deus, eu estava ansiando pelo final de semana. Queria sair no sábado, tomar um porre, encontrar alguns garotos e transar. Eu precisava muito transar. O estresse já estava tomando conta de mim, sabe? Eu estava ficando louco, pois tinha acabado de sair de uma semana de aplicação de atividades avaliativas.

Como de costume, guiei-me até o ponto de ônibus. Sentei-me em uma espécie de banco de metal que havia nele e fiquei no aguardo do transporte. Passaram-se dez, quinze minutos, e nada de o desgraçado dar as caras. Peguei o celular no bolso, apesar de estar em uma rua perigosíssima. Era entediante ficar ali esperando e esperando e esperando… Comecei a mexer em alguns aplicativos do meu celular. Entrei em uma daquelas redes sociais onde a gente caça uns boys, sabe? Já ia separar, como diz uma amiga minha, o meu “quite” para o fim de semana.

O quite é a nossa caixinha de primeiros socorros. A gente separa ele, deixa ali de molho, e quando precisa é só usar. E eu estava mais do que precisando.

Os minutos se acumulavam, o tempo passava e nada de o ônibus dar as caras. Eu já estava ficando nervoso.

Eu não consigo evitar sorrir nessa parte, sabe? Foi tudo muito rápido. Em uma hora, eu baixei a cabeça para mexer no celular, noutra um carro de cor preta parou à minha frente e de dentro dele saltaram dois homens. Não pude ver a cara deles. Eles não permitiram, foram muito ágeis. Senti quando um deles, que tinha braços extremamente musculosos, me tomou pelo braço, me fazendo levantar em um impulso, agarrando-me por trás e tapando os meus olhos com uma das suas mãos. O outro ficou parado à minha frente. Percebi que portava uma arma de fogo. Meu Deus! Aquilo me deu muito medo. Só consegui pensar em uma coisa: é agora que eu vou morrer.

— Eu quero que você entre no carro e não diga uma única palavra. Se você gritar, eu vou atirar sem dó nem piedade.

Eu assenti com a cabeça.

O que me segurava continuou do mesmo jeito que estava, porém me impulsionou para frente no intuito de me fazer andar. Movi-me à medida que ele me empurrava. Ele não tirava as mãos dos meus olhos. Colocou-me dentro do carro. Ele entrou primeiro, depois me puxou de modo brusco, deixando a minha visão livre por alguns instantes. Contudo, assim que o outro que estava com a arma entrou, uma venda, que não sei de qual cor era, envolveu meus olhos, e eu não pude enxergar mais nada.

Não vi muita coisa. Apenas ouvi sorrisos e sussurros. Eu estava apavorado. A minha vida passou-me como um filme às minhas vistas e eu enxerguei tudo o que havia feito até ali. Lembrei-me dos meus pais e do quanto ainda os amava, lembrei-me da minha saída de casa, da minha vida solitária, do Fred… Merda, naquele momento eu me lembrei do Fred.

Foi tosco como tudo decorreu a partir dali. Pareceu-me até que fora tudo premeditado e arquitetado. Mas longe disso… Naquele momento, o pavor que eu sentia me condoía por dentro.

— Está preparado, mocinho? Hoje você vai ter uma noite daquelas — disse um dos rapazes, sorrindo ao fim da frase.

Ouvi o barulho de um estalo como se algo estivesse sendo rasgado. Logo em seguida, um enorme pedaço de fita adesiva envolveu minha boca, impedindo-me de respirar direito e de fazer qualquer som.

— Agora ele está prontinho — o tom de voz que disse isso foi diferente do outro, porém as vozes eram semelhantes em alguns aspectos que eu não sabia distinguir.

Fiquei durante quase meia hora sentado no fundo daquele carro, enquanto ele estava em movimento, até que senti uma freada brusca. Ouvi o barulho de portas se abrindo e batendo logo em seguida. Fiquei sozinho no carro.

Passaram-se cinco, dez, quinze minutos… Meus pensamentos já haviam me levado a todos os tipos de torturas possíveis que um homossexual pode sofrer por conta de homofobia. É que estava bem claro e nítido para mim que aquilo era um ato de homofóbicos.

Abruptamente, alguém abriu a porta do carro. Assustei-me, me resignando em meu medo.

— Vamos, bebê… As coisas agora ficarão bem quentes.

A voz era irônica e carregada de uma espécie de ódio, ou desejo, não sei. É que sempre tive isso em mim, sabe? De que ódio e paixão são sentimentos que têm a mesma intensidade, porém são adversos. Por vezes, a cólera da paixão se confunde com o ardor do ódio, e isso faz com que apenas uma linha tênue os separe.

O homem usou uma das mãos para tocar meu braço e me puxar. Eu tentava esboçar sons por baixo da fita que envolvia minha boca, todavia apenas alguns barulhos guturais eram audíveis. Gritei com toda a força que podia, mas não consegui de jeito maneira fazer com que aquele homem se afastasse de mim.

Já fora do carro, eu me debati em seus braços na tentativa de fugir, mas ele era muito forte e, com os seus braços cobertos por músculos salientes, envolveu-me em uma espécie de abraço, apertando-me e fazendo com que eu parasse com a minha tentativa estúpida de fugir.

— Baby, não há como escapar. Você é só um, nós somos três.

Senti vasta quantidade de lágrimas molharem meus olhos por baixo da venda.

— Vamos! — ele me puxou pelo braço, impingindo-me passos largos.

Andei por alguns instantes. Ouvi o barulho de uma porta se abrir. Dei mais alguns passos, puxado pelo meu algoz. A porta se fechou em um estrondo.

— Olha quem chegou! Nossa entrada, prato principal e sobremesa — um dos rapazes disse. Essa voz era mais grave e divergia das outras duas que eu havia escutado dentro do carro.

— Coloque-o aqui — outra voz ressoou pelo ambiente de forma ávida.

— É para já… — o que me segurava fez-me dar mais alguns passos.

— Como faremos? — disse o de tom de voz mais grave.

— Ali.

Ouvi sons de alguma coisa feita de metal chocando-se a uma estrutura sólida.

— Bebê, vamos acabar com você hoje — a voz chegou-me por trás do ouvido trazendo consigo um hálito quente com odor de cachaça.

Meu coração disparou impulsivamente. Achei que, antes que eles fizessem qualquer coisa comigo, fosse lá o que pretendiam, meu coração iria parar.

Mãos tomaram meus pulsos e me arrastaram, fazendo com que eu andasse de costas. Choquei-me a algo de forma cilíndrica, como uma pilastra, entretanto era tão gélida, que imaginei que fosse feito de algum material como metal ou alumínio. Meus braços, que estavam postos para trás, continuaram da mesma forma. Algo apertou um dos meus pulsos, em seguida o outro que estava livre também foi acometido pela mesma pressão. Eu suei frio, pois percebi que aquilo havia me prendido àquela pilastra. Em que roubada a vida havia me metido?

Algemado, amordaçado e vendado. Eu estava acabado.

— E então…? — disse um deles, como se tivesse dúvidas de como prosseguir com aquilo.

— Tire a venda dele.

Eles me torturariam, me matariam e ainda por cima queriam que eu assistisse a tudo, sem poder fazer nada. O meu coração, que estava acelerado, diminuiu a velocidade dos batimentos. Certa tontura me acometeu. Provavelmente a minha pressão havia baixado. Meu Deus! Aquele seria o momento da minha morte.

Mãos ávidas chegaram-me até a face e, em um instante súbito, a venda foi retirada do meu rosto.

Apertei os olhos, pois a luz do local era muito forte e causou-me certo estranhamento, já que estava com aquela venda há quase uma hora. Ao recuperar totalmente o controle da minha visão, passeei com meu olhar pelo local onde estava. Era uma casa comum, mas tinha o aspecto de estar abandonada há algum tempo. Havia móveis, no entanto eram velhos. Olhei para os lados e constatei que estava mesmo algemado a uma estrutura de metal.

Voltei o olhar para frente e só então dei com os olhos dos meus sequestradores à minha frente. Eram três. Estavam ambos nus, com o corpo polido à mostra, no entanto os rostos estavam escondidos por baixo de máscaras burlescas. Um deles segurava nas mãos uma cane; os outros dois, que eram brancos e tinham traços muito semelhantes no corpo, até mesmo uma pinta no lado esquerdo do ombro, seguravam uma vela de coloração preta e uma prótese de pênis de quase vinte e cinco centímetros.

Eu não deveria, sei que não, mas naquele momento não consegui sentir nada além de tesão. Como se as cortinas do céu tivessem sido abertas para mim, todo o meu medo se dissipou. Eu quis sorrir, entrementes me contive, já que não sabia a que aqueles homens estavam dispostos.

— Olá, bebê — disse o que tinha a pele negra e ostentava uma enorme barba no rosto. Sua máscara burlesca era branca com detalhes vermelhos.

Ele aproximou-se de mim vagarosamente. Estacou à minha frente. Seus olhos encontraram os meus. Ficamos nos encarando durante longos instantes. Com uma das mãos, ele veio até mim e tocou a base do meu queixo.

— Você é lindinho, bebê.

Apesar da excitação que se apoderara de mim, o medo ainda me inquiria a minha sanidade.

— Meninos! — ele exclamou, de forma impetuosa. — Venham até aqui. Venham conhecer esse bebê.

Os dois, que tinham o mesmo tom de pele, aproximaram-se.

— Ele não é lindinho?

Ambos assentiram movimentando a cabeça.

— Vamos começar?

O rapaz negro se afastou de mim, deixando que os outros dois se aproximassem. Eles me vieram sorrateiros, lentamente. Por dentro, eu me indagava o que fariam e o porquê de estarem fazendo aquilo. Debatia-me dentro de mim, mas eles não se compadeciam de forma alguma.

— Olha só isso! — um deles disse, aproximando a sua mão do volume que havia se formado em minha calça.

— Está durinho, meu bem… — o outro exclamou.

Rapidamente, o que havia dado conta da minha excitação, que me ocorrera inconscientemente, tocou o volume sobre a calça. Senti medo, mas também senti prazer. A adrenalina produzida pelo meu corpo parecia alcançar altos índices, fazendo com que uma sensação aterradora tomasse conta de mim.

— Dispam ele! — exclamou o negro, aproximando-se, mas mantendo certa distância de onde estávamos.

— É para já.

Aquele que permanecia com a mão sobre meu pênis passou a desabotoar minha calça. Em seguida, desfez o zíper e abaixou a vestimenta até o meu calcanhar. O volume do meu membro passou a se desfazer aos poucos. Percebendo isso, ele passou a me tocar de forma ávida, massageando a minha estrutura, fazendo com que em poucos minutos eu me excitasse novamente.

Meu Deus! O que estava acontecendo ali? O que estava acontecendo comigo?

Vagarosamente, ele abaixou a minha cueca até a altura do calcanhar, fazendo com que meu membro saltasse às suas vistas, completamente lambuzado pela babugem que o meu tesão me impingia.

— Posso? — disse o rapaz, que àquela altura já havia se acocorado à minha frente e estava admirando a extensão do meu membro.

— Fique à vontade — respondeu o negro.

O homem tomou meu pênis em suas mãos e passou a friccioná-lo vagarosamente. Uma sensação luxuriosa envolveu todo o meu corpo. Revirei meus olhos, gostando daquilo que ele fazia, uma vez ou outra me reprimia por aceitar aquilo de bom grado. Eu estava sendo abusado e estava gostando daquilo.

Em um ímpeto, ele avançou ao meu pau com a sua boca e me sugou competentemente. Era impossível não sentir prazer com a forma como ele me tomava. Sua língua dançava na minha glande, mesmo quando ele engolia todo o meu membro e deixava-o no fundo da sua garganta.

O outro rapaz aproximou-se e, indo para trás de mim, acocorou-se. Tocou com as mãos minhas nádegas. Afastou-as, intentando ver a minha preciosa abertura. Senti sua respiração descompassada próximo ao meu ânus, então, como se ele retirasse do pé uma faustosa fruta, ofereceu-me um beijo esfomeado no meu local mais vulnerável.

Eles ficaram assim, me chupando, me oferecendo beijos gregos, e eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo daquela forma. Mirei seus membros, que também estavam rijos, não eram grandes, no entanto pareciam suculentos como duas frutas. Eram grossos e tinham a cabeça rosada como um morango.

Eu quis, quis muito poder chupá-los. Os dois de vez, sabe? Eu sempre fui muito guloso em relação a paus. Quero todos os paus do mundo para mim. Paus grandes, pequenos, grossos, finos, circuncidados, negros, brancos, pardos, asiáticos, africanos, europeus, norte-americanos, de cabeças enormes ou pontiagudas. Eu amo paus. O androceu da flor. E, naquele instante, quis sugar aqueles dois homens até que eles esporrassem em minha boca e eu me inebriasse com o seu elixir.

Ambos pararam de me envolver com suas salivas ao mesmo tempo. Levantaram-se. O que estava atrás de mim veio para minha frente, e os dois ficaram estacados a poucos centímetros de mim.

— Eu puxo de lá e você de cá — disse um deles, fazendo um movimento com uma das mãos.

Cada um se pôs em um dos meus lados. Olhei-os assustado.

— Calma, bebê, eles não vão fazer nada de mais com você — disse o negro, aproximando-se de mim.

Os rapazes seguraram a camisa na altura da minha barriga.

— Um… dois… três!

Puxaram com força. Como o tecido era forte, demorou a rasgar. No entanto, aos poucos começou a ceder. Minutos depois, a camisa era apenas um pedaço de pano velho que não serviria mais para nada.

— Agora sou eu quem comando isto aqui — o negro se colocou à minha frente.

Os dois rapazes afastaram-se.

— Me deem o dildo.

O que estava com a réplica de pênis nas mãos trouxe-o e entregou ao homem. Ele se aproximou mais de mim. Levantou a cane que trazia nas mãos até a minha face e tocou-a levemente. Depositou-a no meu ombro e colou o seu corpo ao meu.

Seu membro rijo tocou o meu lambuzado pela babugem dos outros dois. Ele passou a roçar seu corpo em mim. O prazer convulsionou-me a tez. Passei a me esfregar nele inconscientemente. Ele sorriu.

— Você gosta, né, bebê?

Ele se voltou para trás de mim e esfregou o pomposo pênis em minhas nádegas. Quis que ele me penetrasse, me invadisse, tomasse conta de todo o meu corpo.

— Vocês dois. Acendam a vela e venham até aqui.

Os rapazes aproximaram-se com a vela de cor preta já acesa.

— Bebê, eu vou te foder com esse pau de borracha até você gozar… Você! — apontou para um dos rapazes. — Quero que você chupe ele. E você! — voltou o olhar para o outro. — Use essa vela no corpo dele da melhor forma possível.

Assustei-me com o que ele havia acabado de ordenar aos rapazes. Um grito de terror se formou em minha garganta, todavia a excitação não me abandonava.

O negro acocorou-se atrás de mim. Usou a boca para proporcionar ao meu ânus um delicioso beijo grego, no intuito de me fazer relaxar. Aos poucos, eu fui cedendo, e senti que estava preparado para receber aquele material dentro de mim. Vagarosamente, ele foi encostando o material de borracha em minha abertura. Quando dei por mim, quase um quarto daquela dimensão havia adentrado meu corpo. Sentia a sua estrutura ríspida me dilacerando, mas aquilo não era ruim. E passou a ser melhor ainda quando um dos outros rapazes acocorou-se à minha frente e sugou-me voluptuoso.

Ao passo que o negro me penetrava com o dildo, o outro me chupava compulsivo. O terceiro estava parado à minha frente. Ele sorria ao me ver tentando lutar contra o prazer que sentia, dada a situação na qual estava metido. Aproximou-se mais de mim. Com a mão que estava livre, ele puxou um dos meus mamilos, torcendo-o levemente.

— Agora você vai sentir um pouco de dor, bebê!

Ele aproximou a vela para perto de mim e virou-a, permitindo que uma grande quantidade de borra alcançasse a minha pele, tocando primeiro o meu peito, depois o abdômen e seguindo para a virilha.

— Cuidado aí! — disse o que me sugava, parando o que fazia para alertar o outro.

— Pare só um instante, quero fazer uma arte no corpo dele — sorriu ao terminar a frase.

A penetração que o outro me proporcionava se intensificou, e o prazer parecia me inundar por dentro, fazendo com que eu me afogasse em sua imensidão. Eu queria gemer, gritar. Sentia prazer, sentia dor. A adrenalina tomando conta de mim. O tesão aumentava ao passo que cada ato era cometido. Meu Deus!

Voltei o olhar para o meu corpo, que estava coberto pela borra da vela preta. O rapaz que havia feito aquilo se afastou. O outro se acocorou novamente e passou a me sugar de forma mais ávida.

A penetração, acompanhada do delicioso boquete que ele me proporcionava, fazia o gozo se aproximar rapidamente. Senti uma quentura envolver-me e o ar faltar em meu cérebro. Estava tudo se acelerando aos poucos, meu corpo estava reagindo. Eu não consegui me conter, e, como se tivesse por um instante tocado o céu e roubado das vestes santas um pouco da sua glória, eu ejaculei na boca daquele homem, sentindo meu corpo em espasmos e as minhas pernas vacilarem.

Que tesão. Que tesão maravilhoso eu senti naqueles atos.

O rapaz que me chupava e que recebeu o meu esperma em sua boca engoliu tudo de prontidão e então se levantou.

— Tinha muito leitinho acumulado nesse saco, bebê — disse, de forma irônica.

O negro levantou-se sorrindo.

— E olha que nem cheguei a usar o meu chicote nele, e ele já gozou…

Os três sorriram. Os paus de ambos estavam duros e babavam desejosos, anunciando que para eles ainda não havia terminado. O que mais fariam comigo?

— Ajoelhe-se! — o negro exclamou.

Olhei-o com receio. Encontrei seus olhos por baixo da máscara.

— Ajoelhe-se — exigiu novamente.

Obedeci-o de prontidão. Ele se aproximou de mim com a cane em mãos.

— Chegou a hora de marcar essa sua pele branquinha com o meu chicote. Meninos, contem.

Em um rompante, senti a cane alcançar o meu dorso. Um ardor percorreu todo o meu corpo. A dor era aguda. Parecia que havia perpassado a minha alma, no entanto não era de todo ruim.

— Um! — exclamou um dos rapazes, sorrindo.

Novamente a cane alcançou a minhas costas. Suspirei profundamente, sentindo a dor reverberar pelo meu corpo. Mas, naquele momento, senti-a ganhar certa dimensão de prazer. Muito pelo contrário, aquilo estava fazendo o tesão que havia perdido com o meu gozo retornar ao meu corpo.

— Dez! — exclamou, ao dar a última chicotada em mim.

Voltei o olhar para o meu pau, que estava novamente rijo como uma rocha. O tesão havia me arrebatado.

— Agora, bebê, eu vou foder você até não sobrar uma gota de esperma em meu corpo.

O homem se deitou no chão. Seu mastro estava de pé, anunciando que me invadiria com toda a sua força. Um dos rapazes foi atrás de mim e surpreendeu-me soltando as algemas que me prendiam à pilastra de metal.

— Vá, você sabe o que tem que fazer — disse-me, fitando-me com um olhar amedrontador.

Eu sabia que se tentasse fugir não conseguiria alcançar a saída e que as coisas poderiam piorar para mim. Eu também devo confessar que àquela altura já não queria mais ir embora. Iria me entregar àquela transa da forma mais brutal que eu poderia. Naquele instante, resolvi mostrar a eles a fera que existia dentro de mim.

Guiei-me sobre os meus joelhos até alcançar o corpo do homem estendido no chão. Toquei seu sexo de forma ávida. E só então me pus de pé. Direcionei-me para que, no momento em que sentasse sobre ele, todo o seu membro me invadisse. E foi o que aconteceu. Sentei com tanta vontade em sua pomposa pica, que dor alguma conseguiu perpassar-me naquele instante. O prazer de ter aquele homem dentro de mim naquelas circunstâncias era agonizante.

Assim que me pus sobre ele, vi-o erguer as pernas a certa altura. Vagaroso, ele começou a meter-se dentro de mim. Suas estocadas eram firmes, ritmadas. Os seus movimentos aceleraram. Eu não pude evitar de me masturbar, enquanto ele se aconchegava dentro de mim. Observava seu rosto coberto pela máscara, seus olhos estavam fitos nos meus. Ele passava a língua sobre o lábio inferior e metia, metia… Com tamanha precisão, que não demorou muito e eu novamente gozei. Gozei sobre o seu corpo, comprimindo o meu ânus em seu pau, em uma espécie de pompoarismo anal, que nem sei se existe. Ele sorriu admirado com o meu fogo.

Cessou os movimentos, retirando-se de dentro de mim. Eu me levantei de cima dele e fitei o seu rosto. Ele ainda não tinha gozado, nenhum deles havia gozado. Fiquei de pé observando-os, tentando imaginar qual seria o próximo passo.

— Ajoelhe-se, bebê!

Não estava mais em posição de negar-lhe nada, então cedi à sua ordem e me pus de joelhos à frente deles.

— Vamos nessa, rapazes. Vamos dar um banho de porra nesse bebê.

Assim que me ajoelhei, ambos se colocaram à minha frente e passaram a se masturbar. Os movimentos eram ágeis e rápidos.

O primeiro a gozar foi o negro. Do seu pênis jorrou tanto leite, que daria para encher um copo. Os outros dois gozaram quase juntos, no meu rosto, lambuzando toda a minha face com seus jatos espermáticos. Sentia o cheiro forte daquela quantidade assustadora de porra… Talvez, se eles tivessem tirado aquela droga de fita adesiva da minha boca, eu tivesse bebido tudo.

— Levante-se, bebê — exigiu o negro, abaixando-se até certa altura para tocar meu braço.

Eu obedeci-o e fiquei de pé à sua frente, mirando-o de forma interrogativa. Em um átimo, ele usou uma das mãos para arrancar a fita da minha boca. Uma dor estúpida percorreu a minha face, causando-me arrepios.

— Caralho! — não pude evitar o grito.

Ele sorriu. Usou um dos dedos e pegou um pouco do esperma que estava sobre o meu peito, também coberto de borra. Ele levou o dedo até a minha boca. Obediente, eu chupei seu dedo e senti o gosto do elixir ainda quente. Após isso, ele aproximou a sua face da minha e me deu um voluptuoso beijo. A sua língua alcançou o céu da minha boca, roubando todas as estrelas que ele não tinha.

— Filmou tudo? — indaguei, ao soltar-me dele.

— Do jeito que você pediu.

— Onde estão as câmeras?

Ele apontou para o teto. Havia câmeras pregadas em quatro cantos específicos, que filmaram desde a nossa chegada até o nosso gozo.

Ele se afastou de mim e tirou a sua máscara. Vislumbrei seu rosto, que me era tão caro e desejado. Voltei meu olhar para os outros dois rapazes. Eles também já haviam tirado as suas máscaras.

— Venham até aqui — ambos se aproximaram. O rosto de um era idêntico ao do outro. Eram gêmeos.

Ao chegarem perto de mim, beijei cada um deles de forma lenta, saboreando o seu paladar, sentindo a estrutura dos seus lábios e língua.

— Obrigado. Foi tudo perfeito! — agradeci-os.

— Com certeza repetiremos mais vezes — disse o meu deus do ébano. O homem que eu mais amava e amo na face da terra.

Abracei-o. Os dois jovens ficaram nos observando. Sorrimos…

***

— E foi assim que tudo aconteceu — ao terminar de relatar os fatos, Alek levou o copo de uísque à boca e degustou o restante do líquido em um átimo.

Mýa estava paralisada em sua cadeira. Tudo que havia ouvido a havia impressionado e excitado. Não conseguia dar conta de todas as cenas que lhe chegaram à imaginação e como as havia recebido.

— Temos um relacionamento aberto, sabe? Eu e o Gabriel. Ele é um dominante. Sádico! Pena que não me permitiu naquela noite que ocorresse uma dupla ou tripla penetração, mas… isso já está em nossos planos.

Mýa levantou-se da sua cadeira. Não disse uma única palavra. Foi até a escrivaninha onde estava a garrafa de uísque. Semipreencheu o seu copo com o líquido. Voltou novamente para a cadeira. Ingeriu de forma ávida metade da bebida.

— Eu não sei o que te dizer. Apenas que me excitei muito com o seu relato…

— Então, né? Eu disse que você poderia… Se você quisesse.

Mýa sorriu com o comentário do rapaz.

— Muito obrigada, mas não há necessidade. Provavelmente, à noite eu faça isso. Eu tenho tudo gravado, tanto em fita quanto na memória.

Alek sorriu.

— Safadinha. Mas obrigado por me convidar. E foi muito prazeroso participar disso com você. Sabe, as pessoas enxergam esse tipo de fetiche como uma coisa doentia. No entanto, há sutis diferenças que tornam as definições extremamente polarizadas. Por exemplo, não acho que o estupro seja uma experiência erótica, sei que vivenciando isso de forma que não haja consentimento a experiência será deveras traumática. Entrementes, da forma como nós arquitetamos, e o fato de ele ser um tanto quanto sádico e eu seja adepto do masoquismo, casou com o nosso fetiche, que é mais meu do que dele, direitinho.

— Sem contar, Alek, que, no momento em que você faz isso com consentimento, mesmo que não esteja esperando, e o nível de adrenalina seja intenso, não será uma experiência traumática, pois o seu subconsciente tomará isso como uma fantasia, já que foi tudo acordado antes.

— Acordado nos mínimos detalhes… Somos quase atores pornôs. Elaboramos até roteiro. E aqueles dois gêmeos… Meu Deus! Dois pedaços de mau caminho…

Mýa sorriu, pois a voz de Alek estava carregada por uma espécie de empolgação que a contagiava.

Subitamente, ouviu-se um barulho musical fazer-se presente no ambiente. Alek assustou-se e moveu-se de forma estabanada, até que conseguiu alcançar um dos bolsos com a mão, retirando de dentro dele o celular. Tocou o visor do aparelho e logo em seguida o pôs no ouvido.

— Alô!… Amor… Já estou indo… Acabei de terminar…

Ao encerrar a ligação, voltou-se para Mýa.

— Eu tenho que ir agora. O Gabriel veio me buscar.

— Oh, sim! — disse Mýa, levantando-se da cadeira. Alek acompanhou seus movimentos. — Vamos.

Andaram pelo extenso corredor, até que alcançaram a sala. Mýa foi até a porta, destrancando-a.

— Obrigada por isso — dirigiu-se a Alek de forma amigável.

— Bem, eu é que agradeço. Espero que seu livro fique incrível e que você encontre histórias maravilhosas para compor ele.

— Com certeza, a sua é uma das melhores.

Alek atravessou a porta da casa. À frente da calçada havia um carro preto parado. Dentro dele, estava Gabriel, um negro extremamente musculoso que ostentava uma barba espessa no rosto. Mýa admirou a sua estrutura. Esperou ainda Alek entrar no automóvel. Viu quando os homens saudaram-se, e só voltou-se para dentro de casa quando o carro ganhou movimento e sumiu dobrando a primeira esquina da rua.

A mulher guiou-se sobre os seus passos largos para dentro da casa. Dirigiu-se até o corredor. O barulho do scarpin tocando o chão era como um estalo. Alcançou a porta do escritório onde ouvira a história do rapaz.

Observou o gravador sobre a mesa. Foi até ele. Ligou-o, reproduzindo novamente a história que havia acabado de escutar. Moveu-se até o uísque sobre a escrivaninha. Preencheu completamente um copo com o líquido.

Sorriu, pois a voz de Alek era extremamente engraçada e cativante. Lembrou-se da figura de Gabriel dentro do carro, seus músculos, sua barba. Seu rosto ganhou um semblante sério.

Mýa dirigiu-se até a porta do escritório e fechou-a.

O silêncio reinou em todos os cômodos da casa, menos no escritório, onde a voz de Alek era um relato erótico de um fetiche luxurioso.

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