Naquelas semanas, tive de me acostumar com a onipresente ansiedade em ser procurado por Otávio, já que ele passou a me pegar com intervalos de quatro ou cinco dias desde que passou às penetrações. A diminuição da frequência do sexo me deixava em estado permanente de expectativa, e eu procurava obsessivamente me ocupar para me distrair. Como o fim do semestre se avizinhava, eu contava com o aumento das obrigações da faculdade para me desviar daquela espera. Mas não era suficiente.
Acho que nunca estudei tanto na vida, mas também nunca lavei tanta louça...! Durante aqueles dias, quase sempre fiz o trabalho de todos na cozinha. Mas nem ficaram tão contentes assim. Otávio não deu grande importância: era o recordista em deixar a própria louça acumulada e não estava nem aí pro estado da pia. Rodrigo agradecia meio sem graça, acho que sem entender nada. E Marcelo sequer notou, porque eu tinha mesmo o hábito de lavar a louça pra ele, já que não me custava nada.
Arrumar o banheirinho da área de serviço para que eu pudesse usá-lo foi uma das distrações que encontrei para amenizar a angústia. Mas também foi uma providência que eu não podia deixar de tomar.
Aquelas minhas estadas muito demoradas no banheiro começariam a chamar a atenção . Uma vez, Rodrigo me sacaneou ao me ver saindo, dizendo que eu devia ter tido uma punheta fenomenal, de tão longa. Além de tudo, não havia propriamente uma ducha íntima, mas aquele arremedo feito de um tubo de borracha que desce do chuveiro elétrico. Eu tinha que improvisar e, no fim de tudo, fazer um minucioso exame do box para conferir que o deixava limpinho. E, bem, usar o box para expelir o que deveria ir para um vaso sanitário não é exatamente algo agradável. Depois de três ou quatro vezes que usei o banheiro do corredor, conclui que aquela situação seria insustentável.
Sempre fui muito meticuloso com a higiene íntima, e ela, portanto, era sempre bem demorada. Em duas das vezes, como ainda não estava sozinho no apê e chegava a hora marcada para a trepada, tive que permanecer no próprio banheiro durante as longas pausas que fazia contendo a água dentro de mim, para que atuasse o máximo possível no reto antes de eu expeli-la. Numa delas, por sorte, era Marcelo quem estava no apê, e ele sempre fechava a porta quando ficava em seu quarto; então, nada percebeu. Mas, da outra, era Rodrigo quem ainda não tinha saído; foi quando fez a piadinha.
Comprei um cesto para as roupas sujas e avisei a todos que, a partir daquele dia, o banheiro da área de serviço não era mais o destino delas, pois eu passaria a usá-lo. Ninguém estranhou. O estranho mesmo era eu não ter me apossado dele antes. Seria impraticável usá-lo para tomar banho, porque o chuveiro ficava entre o lavatório e o vaso, sem box. Mas eu poderia, por exemplo, escovar os dentes sem ter que atravessar o apartamento com aquela cara de doido de quem acabou de acordar.
Tentei colocar o cesto no banheiro social, mas não ficou bom. Nem comprei um modelo tão grande assim, porque eu não deixava acumular a minhas roupas e, quando punha na máquina para lavar, aproveitava para pôr as de Marcelo também. Então, só sobravam mesmo as de Rodrigo e Otávio – que só se lembravam disso quando o guarda-roupa estava vazio. Sem exagero algum, só lavavam duas vezes por mês.
Embora eu nunca tivesse feito serviço algum daquele tipo, a instalação da ducha foi relativamente simples. Eu sabia que Marcelo entendia um pouco de hidráulica e o consultei sobre minha ideia de aproveitar o cano d’água que abastecia a válvula da descarga do vaso sanitário, que era externa. Fiquei meio sem graça, por conta de se tratar de uma ducha íntima, mas previ que ele não perguntaria por que eu precisaria de uma.
Ele efetivamente não perguntou e me ensinou como fazer a ligação. Foi uma sensação estranha, porque surpreendentemente prazerosa, tê-lo me ensinando, orientando. Gostei de estar naquela posição de quem aprende, por ser com ele. Cheguei a lamentar que não fizéssemos a mesma faculdade, para que tivéssemos o que estudar juntos e vê-lo me explicando a matéria, me ensinando.
Bastou algumas conexões de PVC para compartilhar o tal cano com a ducha, cujo modelo que comprei era leve e com diâmetro nem muito largo nem fino demais. Vai ver até que projetaram pensando nos passivos mesmo, porque me pareceu perfeita: eu tinha como inseri-la na entrada do reto com conforto e, ao mesmo tempo, eficiência. A partir daquele dia, meu cuzinho esteve permanentemente pronto para ser devidamente penetrado por Otávio, a qualquer hora.
Infelizmente, não era a toda hora, e tinha ainda três dias consecutivos que eram obrigatoriamente proibidos. Até a noite de quinta, eu podia contar com a possibilidade de ele querer me pegar. Mas quando chegava a sexta, e durante todo o fim de semana, era fora de cogitação. Havia sempre a possibilidade da chegada repentina de alguém, e não queríamos dar mole.
Para Otávio, não significavam necessariamente três dias seguidos de jejum, porque justamente neles ele tinha mais chance de arrumar garotas para comer, seja em conseqüência das baladas (e ele era um grande baladeiro, junto com Rodrigo) ou porque estava com alguma namorada. Sim, porque ele me comia e tinha namorada ao mesmo tempo. Bom, não vou negar: compartilhar aquele cacete grosso com garotas me excitava tremendamente.
Mas para mim esses três dias eram muito ruins. Mesmo estando num lance claramente descompromissado, eu não queria mais ninguém; não tinha qualquer disposição para fodas avulsas. Depois que ele passou a me pegar, perdi totalmente o ânimo de sair à cata de parceiros. Ficava preguiçoso até mesmo com a perspectiva de arranjar um namorado, viver uma coisa mais séria. Otávio era gostoso pra caralho, fudia muito bem e, mal ou bem, estava ali à mão, dentro de casa, sem treta.
Os piores momentos eram as madrugadas de sexta para sábado e de sábado para domingo. Era quando mais eu ficava ansioso, depois que uma vez ele fez o inesperado: me pegou em meu quarto, sem ter combinado nada, ao chegar da balada. E comecei a contar que essa investida se repetisse. Em quase todas as vezes acabei frustrado; a insônia da expectativa não dava em nada. Otávio acabou me ensinando a torcer contra as conquistas dele.
Eu praguejava para que ele não arrumasse mulher, ou ficasse só num boquete ou, se conseguisse uma coisa ou outra, não chegasse a gozar. Otávio saía para as baladas geralmente junto com Rodrigo, mas retornavam separados. E isso facilitava as coisas. Passei a sonhar que se tornasse habitual suas fodas frustradas e que para compensar ele me procurasse, assim que chegasse. Mas isso só voltou a acontecer uma vez e, de certa forma, também uma outra, sempre com ele meio alto – ou bem alto, talvez.
Eu já não era mesmo de grandes noitadas e, a partir daí, elas acabaram de vez: quando eu saía, para um cinema ou um chopinho com os amigos da facul, voltava no máximo à meia-noite, para poder me preparar com calma. E então aguardava ansioso pra que uma noite fracassada trouxesse Otávio para meu quarto. Ele estar meio bêbado trazia um bônus previsível, e também por isso eu desejava tanto que se repetisse: sem saber bem o que fazia, ao menos na primeira vez ele se deixou dar uns beijinhos na minha nuca e uns belos chupões no meu pescoço.
Daquela primeira vez, ele me pegou efetivamente dormindo, e não fingindo que o fazia. Simplesmente foi metendo o cacete já duro na minha boca. Logo me virou e enrabou, sem qualquer rodeio. Mas esse jeito cafajeste, que não era usual, lhe caiu bem. Foi um tesão ter um macho suado com bafo de cachaça me metendo a pica sem dar a mínima se eu estava disposto ou não. Bom, a verdade é que ele sabia que eu sempre estaria disposto. Foi um estupro que não foi estupro.
A surpresa não foi inicialmente tão boa, porque o cacete estava com gosto de buceta; percebi mesmo sem ter sequer visto uma de perto. Mas esse detalhe não pesou tanto, porque ele nem me fez chupar muito; queria mesmo era substituir com meu cuzinho a garota que o tinha deixado na mão. Resolvido seu problema com uma boa gozada, deu aquele seu sorriso safado de agradecimento, os olhos apertados pelo álcool e mais alguma coisa, e foi se jogar na cama dele. Saiu do meu quarto com o cacete pra fora da calça, ainda à meia-bomba, molhado. Eu dormi feliz com a novidade, cheinho do esperma dele.
Numa outra vez, o álcool o tornou mais doce, mas os beijinhos não se repetiram. Não o ouvi entrando no apê, mas somente quando chegava à área de serviço, devido à aspereza do piso. Seu andar, mais gingado do que o normal, soava arrastado, num chiado discreto que o silêncio da madrugada tornava perceptível. Atento a qualquer sinal, me animei ao perceber que, finalmente, alguma vez minha espera teria resultado.
Eu deixava a luz do quarto apagada, para simular que dormia. Na época, não era capaz de assumir, mas meu tesão era para que se repetisse aquele clima de curra. Eu tinha gostado, mesmo sem admitir, e queria novamente ser comido daquele jeito. Estava de bruços na cama, posição que não é a minha habitual, mas que facilitaria a investida de Otávio. Encolhi-me mais, para que ele me visse fragilizado e à sua mercê, e me atacasse sem dó. Minha bunda estava meio empinada, em decorrência da própria posição. E foi nela, sobre o short que eu usava, que senti o toque leve de sua mão.
Creio que ele se viu com mais liberdade por julgar que eu dormia. Tinha se sentado ao meu lado, cuidadoso. Passeava bem de leve pela bunda, acariciando mesmo, de uma forma mais terna e demorada do que na única vez que o havia feito, ainda convencendo-me a dar pra ele. Para minha surpresa, estava efetivamente me fazendo carinho, ainda que um carinho sacana. Esse ato tão raro, quanto agora espontâneo, quase me emocionou. Quis que ele subisse com aquela mão, que percorresse minhas costas, ampliasse aquele contato em todo o meu corpo. Mas não o fez.
Ficou ali um bom tempo, sentado ao meu lado, sem tirar meu short nem as próprias roupas, parecendo muito compenetrado em suas carícias. Não apertava, não pressionava, apenas deixava a mão deslizar pelas curvas da minha bunda. Nessa hora, eu não pensava mais em ser currado, mas abraçado por ele, beijado, tomado amorosamente.
Mas a libido pareceu falar mais alto do que a delicadeza. Ele forçou o elástico para alcançar minha pele. Seria inverossímil fingir que não acordava. Sorriu para mim, diante do meu movimento artificialmente indolente, mas que o convenceu. Levantei discretamente as ancas, para facilitar a invasão de sua mão, que acabou por baixar toda a parte de trás do short. Ele olhou minha bunda sob a fraca luminosidade que vinha de uma ou outra janela de alguém insone.
Continuou a acariciar, agora diretamente minha pele, mesmo sabendo que eu o testemunhava. Desejei que bebesse todas as noites, todos os dias da vida dele. Ainda guardava a esperança de que ele se liberasse mais; quem sabe talvez até chegasse a um beijo.
Aos poucos, seus toques foram se concentrando nas pontas dos dedos e se encaminharam para meu rego. A calma com que se movimentavam me indicou previamente para onde se encaminhavam. Quando chegaram lá, curiosamente se tornaram ainda mais leves. Ele não fez pressão, não quis me dedar imediatamente. Apenas ficou acariciando, como se tivesse prazer em senti-lo somente pela sensibilidade dos toques suaves.
Tirou-os com calma e levou-os ao nariz. Seu sorriso de moleque resplandeceu naquela quase escuridão.
– Perfumado.
Eu sorri também.
– Que bom, brother... – disse, mantendo o sorriso.
Voltou com eles para lá. Fazia movimentos circulares, como se preparasse o terreno. Acabou pressionando, como eu antevia, mas sem muita força. Parecia desejar que se abrisse sozinho, como se quisesse confirmar que estava sempre pronto a convidá-lo.
Sonhando com uma nova curra, mesmo aparentemente sem me dar conta, eu tinha deixado o cuzinho sedoso, apenas razoavelmente lubrificado. Queria facilitar a penetração, mas sem denunciar meu preparo, para não tirar dele o prazer agressivo do estupro. Então, seus dedos iam meio que deslizando sem resistência; ele sentindo a maciez da pele do meu botão.
Penetrou-os vagarosamente, mas não muito fundo. Quis sentir as bordas, a textura das paredes, a pressão natural que minha carne fazia com a invasão. Por reflexo, contraí o esfíncter, e vi que ele sorriu novamente.
– Faz de novo, faz.
Obedeci. Ele não estava nem um pouco preocupado em ir mais fundo. Estava curtindo, apenas curtindo, e eu adorando. Há meses não recebia carinhos de um homem – carinhos, não fodas – e naqueles longos minutos, obviamente sem atentar muito, Otávio estava sabendo saciar tanta carência.
– Minha garota... – sussurrou, aproximando um pouco a cabeça da minha, mas não muito.
Eu me surpreendi, mas duvido que ele tenha notado. Usou o termo novamente, após uma pausa, e ainda sussurando:
– Quer ser minha garota hoje?
Eu não sabia o que responder, mas não era mesmo para eu responder: ele desviou em seguida o rosto de volta à minha bunda e, após um tempinho, retirou os dedos com cuidado. Estendeu o braço e pôs aqueles mesmos dedos entre meus lábios. Pressionou levemente, mas os retraiu quando eu quis sugá-los com alguma sofreguidão. Era para eu manter seu ritmo calmo, e então obedeci mais uma vez. Ele estava amoroso naquela madrugada; nos limites dele, mas estava sendo amoroso comigo.
Levantou-se e mostrou seu torso acastanhado ao tirar a camisa. Depois, a mata escura dos pelos revelada quando desceu a calça e a cueca juntas, sem tirar os tênis. O cacete inchado, imponente mesmo antes da ereção.
Pôs-se sobre mim, sem deitar, tateando meu botão com os dedos e logo se encaixando. Entrou com vagar, de maneira muito diferente da habitual. Foi até o fundo. Em silêncio, como sempre. Arfei com os movimentos, como sempre também.
Foi aumentando o ritmo, até que me inundou. Senti o sopro quente, perfumado de álcool e cigarro, resultante da noitada com os “parças”. Mais uma vez me senti recompensado porque ele tinha se aliviado em mim. Levantou-se logo em seguida, puxou as calças, afivelou o cinto, olhando para mim com aquele sorriso de moleque. Nós nos encarávamos no escuro.
Para mim, era uma certeza que seria a única vez em que se deixaria ser claramente carinhoso comigo. E foi do jeito que podia ser. Por isso, me deixei levar, aproveitando o que podia, sem esperar por mais no futuro. Depois, nos dias seguintes, com os colegas do apê ou mesmo conosco a sós, foi como se aquela madrugada nunca tivesse existido.
Logo na semana seguinte, mas com a madrugada não tão avançada, notei que a luz da cozinha havia sido acesa, seguida de sons de movimento. Mas ele não veio até meu quarto. Achei que pudesse ser Marcelo, que tinha ficado na sala comigo até tarde e que talvez não tivesse ainda conseguido dormir. Mas, mesmo não sendo muito alto, o barulho era meio atabalhoado; não combinava com Marcelo. Embora eu não ouvisse vozes, me pareceu haver mais de uma pessoa. Deduzi que, desta vez, ele e Rodrigo tivessem decidido voltar juntos.
Silenciaram, mas não desligaram a lâmpada. Esperei um pouco, já conformado de que ele não viria me pegar mesmo. A luz acesa me incomodava para dormir, pois parte dela vinha quase ao meu rosto, por causa da posição da cama. Não era tão perto, porque o banheirinho ficava entre os dois cômodos, mas ainda assim chegava com certa intensidade.
Levantei meio mal humorado pela decepção. Quando me aproximava do interruptor, perto da porta que dava acesso à sala, ouvi sons. Parei, cauteloso, e prestei atenção. A sala estava às escuras, mas recebia a luz da cozinha que, fracamente, iluminava o sofá, bem em frente.
Eu não podia acreditar. Otávio não podia ser tão inconsequente assim!
Era perceptível que os dois cuidavam para não fazer alarde. O risco era alto; eu não sabia de Rodrigo, mas Marcelo estava em seu quarto. Otávio quebrava uma regra basilar, que era a de que não se podia fuder no apê. Agora, não apenas comia um dos caras do apartamento como ainda trazia uma mulher pra comer dentro de casa também. Não sei como Marcelo reagiria se descobrisse uma coisa ou outra. O primeiro caso não estava previsto pelas regras, mas o segundo sim – e eu arriscaria dizer que Marcelo não titubearia em mandá-lo para fora.
Eu não tinha como ver a garota. Ela estava recostada no braço do sofá, de costas para mim, com uma perna apoiada no alto do encosto. Otávio estava atracado com ela, beijando-a, com a proximidade dos corpos que eu sentia falta comigo. Suas costas se moviam lascivamente enquanto ele explorava a boca da moça, que o enlaçava pelo ombro.
Eu olhava escondendo-me por trás do portal. Minha primeira intenção não tinha nada de erótica; apenas quis me certificar de que era aquilo mesmo que estava acontecendo. Depois, me mantive estático mais pela perplexidade da constatação do que por real interesse em acompanhar o desempenho dos dois. Nunca vira um casal transar ao vivo, fosse gay ou hétero. Mas nem essa curiosidade eu tive; fiquei olhando por espanto mesmo.
Não me dei conta que a luz da cozinha permanecia acesa, por trás de mim. E, quando se afastou dos lábios da garota, os olhos de Otávio naturalmente tomaram a direção de onde eu estava. Ele percebeu minha silueta.
A luz, ainda que fraca, iluminava o sofá, e iluminou seu rosto. Vi seus olhos me focarem, os fios grossos do cabelo umedecido enfeitando desleixadamente sua testa, o brilho do brinco que ele usava em uma das orelhas, o peitoral moreno que se elevava. Ele tinha me flagrado.
Escondi-me imediatamente, sem saber o que fazer. Nervoso, temi que ao voltar para o quarto acabasse denunciado por algum barulho durante o breve trajeto. Otávio, que não chegava a ter um rosto bonito, estava lindo na expressão selvagem, tomada pelo tesão, que estampou para mim. Era a expressão de um animal; de um belo animal seguro de que estava prestes a se saciar. Compreendi o que era para ele estar com uma garota. E o que significava para ele eu não ser uma garota. Era essa a diferença que aquela expressão me mostrava.
Vagarosamente, retomei o ângulo que me permitia vê-lo. Queria admirar aquela beleza que o sexo lhe concedia de um modo que eu não tinha visto antes. A moça inibia os gemidos, tal como eu também fazia, mas com mais êxito do que eu. Com beijos, lambidas, chupões, ele esquadrinhava seu colo, seus ombros, o pescoço, o queixo. Não fazia movimentos de penetração, embora estivesse encaixado entre as pernas dela. Eu não tinha como saber se já estava ou não dentro da fenda que ele mais amava.
Foi subindo com o rosto até a orelha dela e mordiscava. Até que virou levemente a cabeça, num movimento sutil que contrastou com seu ardor até então. E olhou para mim. Desta vez, me encarou.
Fiquei sem ação. Mesmo eu tendo a certeza de que ele tinha me visto antes, não esperava que reagisse daquela forma. Era um olhar sério; um pouco intimidador, talvez desafiador, não sei dizer.
Sorriu.
Não era seu sorriso largo; não era o de sempre. Era outro. Um sorriso quase esboçado, como os de Marcelo. Mas também diferente deste: combinado com aquele olhar, tinha malícia; provocava.
Ele se levantou.
Assustei-me.
Mas não foi por minha causa. Estendeu os braços e ajudou a garota a também se levantar. Ela estava nua; ele, com as calças arriadas até os calcanhares, como também havia ficado comigo, uma semana antes. O caralho estava em riste, e me pareceu que reluzia.
Ele a posicionou frente ao encosto do sofá, de modo a fazê-la apoiar-se, mas não na posição que tinha me botado na primeira vez que me penetrou. Não a quis de quatro, embora próxima disso, mas apenas inclinada. Ela reagia quase delicadamente aos movimentos dele, como se já os previsse, obedecendo sem pressa. Pareciam ter intimidade.
Otávio se posicionou atrás dela; abraçou-a tomando-lhe os seios, que pareceu acariciar. Reclinou-se e beijou sua nuca. Creio que falou alguma coisa; eu percebi que ela sorria, e virou-se para trás para olhá-lo – para minha sorte, na direção oposta à minha.
Pelo movimento da pélvis, vi que ele entrava nela. Embora a posição permitisse, não era anal. Deduzi pela reação amena que ela teve após a intrusão. Empurrou a pica até que seus pentelhos provavelmente chegaram ao corpo da garota.
Olhou para mim novamente. E novamente sorriu daquela forma.
Acompanhei todo o coito, até o fim, quando ele tirou o cacete e deixou o esperma jorrar sobre ela. Lançou-me o olhar mais algumas vezes, como se me vigiasse. Ele queria que eu continuasse a admirá-lo; manteve-me ali com o olhar.
A garota não percebeu minha presença. Os cabelos longos, lisos, cobriam parte de seu rosto e balançavam com o movimento. Ela os jogava para trás com a cabeça, doida de tesão, e eles caíam novamente logo em seguida. As mãos dele trabalhavam em seu corpo enquanto ela levava as metidas; o torpor quase silencioso dela era nítido. Num dado momento, ele largou uma das ancas. Resvalou a mão entre as pernas dela. Não me lançou olhar algum enquanto manteve a mão ali. Beijava, ou lambia, as costas dela, enquanto continuava a meter.
Na proximidade do gozo, a segurava firmemente pelos quadris, tal como fazia comigo. Os bíceps saltaram um pouco, enrijecidos, talvez numa arroubo momentâneo de jogar tudo pro alto e gozar dentro, como sempre fazia comigo.
Voltei para meu quarto sem apagar a luz nem fazer barulho. Fui tomado por um misto de tristeza e deslumbramento. Eu ainda não sabia que testemunharia outras vezes Otávio orgulhar-se ostensivamente de seu desempenho, e menos ainda qual meu lugar nisso.
Deveria, mas não demorei a adormecer.
...
[continua]
[PS: Abaixo, em forma de comentário, explico a demora da publicação dessa parte, ok? Obrigado pela leitura!]