No sábado Diego foi pra casa da mãe, já que ela mora na mesma cidade onde ocorrera o aniversário. 10 e pouca da manhã Diego pediu à mãe que o levasse até a fazenda onde rolaria a festa.
- Certo, meu amor. Só deixa a mamãe tomar um banho.
- Se quiser eu levo, Diego, de moto é até mais rápido. E sua mãe está fazendo almoço – Sugeriu Beto.
E ficou acertado assim.
Jackson não levou Diego porque ele ia com o amigo [o mesmo do churrasco na casa do Diego]. Ele sugeriu levar o amigo, deixar lá, e voltar pra buscar Diego. Mas Diego disse que não havia necessidade.
Na fazenda já estava rolando som e bebedeira. Diego chegou e falou com todos os amigos presentes e conheceu alguns amigos de amigos dele. Em pé junto de um carro, estava o entregador de gás, o amigo e outro cara conversando e com latões de cerveja na mão, bebendo.
Diego se aproximou.
- E aí, gatinhos!
Saudaram Diego. O neguinho apenas apertou a mão. Tudo bem! Havia gente que ainda não sabia que ele estava pegando Diego e estavam na cidade do neguinho. Era complicado.
Mas a coisa mudou. Diego quando começou beber, se espalhou. As bichas bebendo, dançando adoidado, e Diego foi pra cima do neguinho e dançou o “passinho do troca-troca” ralando bunda nele. Kkkk. Levantou e roubou um beijo na boca. O neguinho ficou meio envergonhado.
- Calma, rapaz. Tem gente conhecida demais.
- Relaxa, nego! Se sua mulher te deixar eu te assumo. – Piscou Diego e foi-se saindo.
O moreno amigo do neguinho riu, balançando a cabeça.
- Esse cara “véi”... cada onda! – Disse ele.
Diego começou ir lá, vim cá, ficava com a galera, ficava com o neguinho. Momento ou outro encostava as costas no peito dele. Diego agia como namorado.
O neguinho começou urinar demais. Ele ia no banheiro, demorava, voltava, começou ficar afobado, agitado, ficava até se balançando já que ele não dança, soltava sorrisinho... sei que estava todo feliz. Ele começou misturar bebida, até fumou um cigarro.
Observando isso, pensou Diego: - Eu acho que ele está usando alguma droga.
O moreno chegou pra Diego e disse:
- Chega aí, pivete. – O moreno puxou Diego mais adiante. – E aí, como faz pra botar uma gatinha na minha mão?
- Querido, olha Ana Paula ali. Por que não fica com ela?
- Ali já é passado. Quero carne fresca. Dá pra entender?
- Hum! Safado! Vou ver o que posso fazer por você. – Disse Diego se saindo já com uma amiga em mente.
Diego trouxe a amiga e apresentou os dois. Largou os dois conversando e foi ficar com os amigos.
Um amigo linguarudo do Diego, falou:
- Amiga, abra seus olhos.
- O que foi, viado?
- A senhora é tão atenta mas tem horas que é tão tola.
Diego insistiu no que ele queria dizer mas o outro amigo ficou interrompendo, chamando o amigo de cobra venenosa, mandando parar de criar inferno, blá, blá, blá. Diego ficou “voando”.
A amiga que Diego apresentou o amigo do Jackson chamou ele e disse que ele estava chamando. Diego foi até ele que estava junto com Jackson e o outro.
- O que foi? – Perguntou Diego.
- Vamos lá em casa rapidinho? Preciso pegar uma parada?
- Querido, se for droga, vá você sozinho.
- Não, parceiro, é outra coisa.
Diego puxou ele adiante e falou:
- Olha, se for pra gente ficar, não rola. Você está vendo que estou “namorando” seu amigo.
- Fica frio! Se algum dia quiser me dar a bunda, é só botar uma amiga ou “uma ponta” na minha mão que te panho. Mas a parada é que quero pegar uma coisa lá em casa. A gente vai e volta rapidinho.
- Por que não vai com Jackson?
- A mulher dele pode ver e querer impedir que ele volte.
- Ah! Tudo bem! – Diego não pensou mais e foi junto.
O moreno chamou Jackson.
- Parceiro, tudo certo. Diego vai lá em casa comigo. A gente volta já, já.
- Pronto! Fico aqui aguardando.
Diego foi o amigo do neguinho. Chegaram numa favela desgraçada. Na frente de uma casa velha, feia, fedendo a esgoto e com um clima pesado, havia um pessoal, mal encarado, entre homens e mulheres, bebendo e falando igual marginais. O cara apresentou Diego. Os caras foram até legais e espontâneos, mas duas rachas olharam Diego da cabeça aos pés. Diego percebeu a cara de entojo das duas e voltou pra rua, encostando-se na moto, e ficou esperando. Também não deu ibope aos olhares daquele povo idiota.
O cara demorou mais de 40 minutos dentro da casa. E Diego entrou naquela área imunda.
- Cadê Fulano? Chama aí pra mim.
- Ô “fio”, entra aí “ó”. Ele tá lá dentro. – Disse uma rachada, séria, como quem queria insinuar que ali não tinha nenhum serviçal.
Diego entrou e viu um movimento no quintal. Foi até lá. No quintal sujo e fedorento, cheio de tralha, estava ele sentado com uns caras fumando cigarro comum e conversando como se não tivesse ninguém esperando.
- “Colé” parceiro, chega ai. – Disse um dos caras.
- Olha, não estou legal, estou me sentindo um peixe fora d’água e quero voltar agora pra junto dos meus amigos. – Diego foi direto com o amigo do Jackson.
- Calma ai, pivete. Estou só trocando uma ideia aqui e a gente já vai.
- Te dou 10 minutos, ou então chamo alguém pra me levar.
- Relaxa, pivete! Aproveita, chega aí e dá um “tiro”.
- Tiro? Não sei pegar em arma de fogo nem tenho interesse. – Diego nem tinha noção do significado.
Os caras riram iguais idiotas.
- Nada, pô. “Tiro” é isso aqui. – Disse ele pegando uma nota enrolada [que nojo!] e cheirando o troço dele. – Dá um tiro aqui pivete, vai ver o que é “ficar só de boa”.
- Não! Obrigado! Não estou criticando quem gosta, mas isso não faz parte da minha vida. E nunca fará.
Eles insistiram e Diego sentiu mais vontade de ir embora ainda.
- Olha, eu vou ligar pra um moto-taxista e ele me leva. Pode ficar aí e ir depois.
- Não. Vamos lá então. – Disse o moreno puxando um bom trago do cigarro, deu para o amigo, cheirou outro “troço” daquele, soou o nariz e limpou com a mão e passando na roupa [nojooooo!]. Saudou os caras com saudação de marginal; os caras também saudaram Diego do mesmo jeito. Diego ficou morrendo de nojo das mãos deles.
Quando Diego sentou na garupa.
- Segura na minha cintura aí, pivete. Mas firme.
- Olha, eu não vou fazer isso.
O rapaz deu uma acelerada rápida e parou. Diego quase cai pra trás.
- Segura aí, pow! Sério! Sem maldade.
Tremendo, Diego segurou. Ele arrancou na moto e empinou. Acho que ele ficou uns 5 segundos com a moto empinada, mas parecia 5 minutos. Diego entrou em pânico.
- Olha, para senão vou descer e chamar alguém pra me levar.
O moreno ria de se acabar e disse:
- Calma, sacaninha! “Tá” comigo, “tá” com deus.
No caminho Diego perguntou:
- Jackson também usa aquela coisa?
- Não. Mas ele sabe e é todo de boa. Jackson é todo tranquilo. Ele mora ali do lado de casa.
- Misericórdia! – Pensou Diego.
No meio do caminho para a fazenda, o cara começou cantar Diego, chamando pra entrarem pra algum lugar, pediu dinheiro, encheu o saco do Diego.
Diego não quis ser grosseiro porque ele não conhecia a índole do cara e não sabia o que poderia acontecer.
- Olha, não rola porque eu namoro o Jackson. E outro dia eu te dou uma grana, hoje estou com pouco dinheiro [mentira].
Chegando na festa, Diego procurou imediatamente o neguinho pra perguntar se ele também curtia “cheirar”.
- Moná... hey amiga! – Outra bicha baixo-astral e barraqueira [mas gente boa] chamou Diego. – Olha, não sou baú pra guardar segredo, mas seu bofe foi por ali desde que a senhora saiu, e não voltou até agora.
O outro amigo do Diego [e da bicha também], o que é cabelereiro, ficou puxando o amigo:
- Bicha venenosa! Para! Já quer colocar coisa na cabeça do Diego. – Disse ela puxando Diego: - Vamos, amiga, encher a cara.
- Nada! Eu vou procurar o Jackson. Deve estar com alguma bicha por aí. Vou acabar com eles dois agora.
Passando por uma mesa onde havia umas facas de cabo branco, Diego não resistiu e, escondido, passou a mão em uma e colocou do lado da cintura. E seguiu pelo local que o amigo indicou.
- Diegô... bichá... hey... volta aqui... – O amigo ficou chamando mas Diego não se importou. O cabelereiro ficou discutindo com o que fez a fofoca.
Diego passou por uma plantação de mandioca, entrou numa área cheia de pés de laranja. Ele não sabia pra onde ir e foi seguindo. Andou por volta de uns 10 minutos e avistou, bem à direita, uma casa velha, feita de barro, em ruínas.
Diego foi chegando mais perto e ouviu uma garota chiando, gemendo igual uma puta. O coração do Diego disparou, ele ficou tonto com um nervoso repentino que se apossou dele, na cabeça passava arrepios. Ele foi de ponta-de-pé e, dobrando uma parede com metade caída, lá estava Ana Clara deitada sobre algo que parecia uma mesa feita de barro e Jackson em pé, de costas pra quem chegasse. A bermuda dele estava arriada até os joelhos, Ana Clara com as pernas bem abertas, ele entre as pernas dela com uma mão segura na cintura e a outra amassando o peito esquerdo dela, fazendo o maior soca-soca.
No ataque de fúria Diego nem lembrou da faca. Avistou uma montanha de madeira cortada [não sei o coletivo de conjunto de madeira], pegou um tronco e mandou com força na cabeça do neguinho.
O susto foi tão grande que o neguinho sacou a rola de dentro da buceta da “falsiane cobra traiçoeira”, chegou a arrastar ela, que ela caiu batendo aquela bunda seca no chão e a cabeça na parede [mas de leve], e ele correu com a mão na cabeça para um lado e Ana Clara para o outro. Olhou para Diego e correu ainda um pouco pra trás e parou, querendo dizer algo mas a voz não saía.
Diego olhou chorando para o neguinho, o “seu neguinho”, e inconsolavelmente frustrado, Diego chorou. Não choro de raiva, mas de decepção. Diego nunca esperava aquilo, logo dele. E ficou olhando para o Jackson, que ficara também parado, olhando pra ele. A voz de nenhum dos dois saía. Jackson deu um passo pra trás, mancando de uma perna, deixando a outra reta; deu outro passo pra trás do mesmo jeito, mancando de uma perna e a outra dura; no terceiro passo pra trás ele foi curvando-se para o lado esquerdo [dava pra notar ele tentando lutar contra aquilo], mas ficou bem curvado, e caiu.
Ana Clara gritou desesperada:
- Você matou ele.
Aí Diego surtou com Ana Clara. Nem se importou mais com o Jackson caído, e gritou:
- Vagabundaaaa... piranhaaaaaa... A culpa foi de vocês. Agora é a sua vez, sua amiga traíra. – Diego arrastou a faca.
Ana Claro, maluca, em vez de correr, curvou-se pra frente estendendo as mãos como quem parecia que ia tirar a faca da mão do Diego, e ficou gritando como louca, chorando com as pernas tremendo. Diego passou a faca e deu um talho na mão direita dela. Só aí que ela saiu correndo em disparada. Ana Clara na frente, correndo, gritando por socorro, Diego atrás louco parecendo um psicopata dizendo que ia matá-la.
Passando pelo mandiocal, foi um quebra-quebra de pés de mandioca, foi quando perceberam, na festa, o perigo.
Enquanto Diego corria atrás desesperado de Ana Clara, algumas pessoas corriam em direção dela pra socorrê-la, e conter Diego armado. Outros vendo a cena começaram gritar desesperados.
Só deu tempo um homem que estava na festa, agarrar Ana Clara e virar-se de costas para Diego. Diego introduziu a faca para furar Ana Clara; a faca entrou por baixo do sovado do homem.
Os amigos pegaram Ana Clara. As pernas delas estavam trêmulas, exausta, assustada e sem voz. Correndo, pegaram água pra ela, que tirou um gole, engasgou e tossiu.
- Ana, cadê o Jackson? Vocês estavam juntos. – Perguntou tenso, o amigo do Jackson, vendo Diego armado.
- Vagabundo! Você sabia de tudo e foi por isso que me levou contigo. – Gritou Diego, rangendo os dentes de fúria. Ele estava contido pelos amigos, que tomaram a faca.
O homem que socorreu Ana Clara estava sangrando, sangue escorrendo, dizendo que estava tonto e queria água. Pura palhaçada! A faca havia entrado apenas pelo músculo do braço, alcançou a lateral do peito e saiu próximo do mamilo.
Recuperando a voz, disse Ana Clara, aos prantos:
- Ele matou Jackson.
- Meu parceiro! – Saiu o amigo do Jackson, gritando e correndo, junto com mais dois rapazes.