Após aquele banho de salão (onde saíram de depiladas, de unhas feitas, maquiadas e com cabelos feitos), Bárbara e 'Mauro' (se é que dava pra chamar ele assim estando tão feminilizada) foram andando descontraidamente do salão até a loja de fantasias. Apesar de estar achando todo aquele cenário absurdamente estranho, ele começou parecer ficar cada vez menos à vontade sob aquele disfarce:
- Nossa, você parece até bem à vontade nessa produção toda, miga - falou Bárbara, provocando.
- Claro que estou: antes estava apavorada... digo, apavorado de ser descoberto. Agora desse jeito ao menos sei que meu disfarce está muito mais aceitável. Prefiro que achem que sou mulher do que uma traveca, né, queridinha?!
Bárbara riu e pensou: até que ele, ou ela, tinha razão. E foi obrigada a concordar que diante sob toda aquela produção realmente não haveria como alguém supor que não se tratava de uma mulher.
Chegaram então à loja:
- Boa tarde! Em que posso ajudar, meninas?
- Boa tarde! Gostaríamos de alugar aqueles dois vestidos de princesas que estavam agora há pouco aqui na vitrine. - solicitou Bárbara.
- Puxa, que pena! Eles acabaram de serem alugados, meninas. Mas temos diversas outras opções. Tenho certeza de que vocês acharão alguma coisa bem linda.
Bárbara e Andrielly se olharam com desânimo. Bárbara achou estranho, mas o amigo parecia decepcionado e não feliz com a notícia.
- Ah... ok... vamos ver alguma outra coisa então. Obrigada - arriscou Mauro, sem muito ânimo.
- Claro. Fiquem à vontade. Qualquer coisa é só me chamar, meu nome é Gabriela.
As amigas então agradeceram e seguiram loja adentro:
- É impressão minha ou você ficou chateada em não ter a roupa de princesa? - perguntou em tom de cochicho Bárbara.
Mauro pensou na resposta alguns segundos enquanto varria a loja com o olhar até que decidiu ser sincero:
- Fiquei curioso pra ver como ficaria de princesa. Pronto, falei.
Bárbara teve que conter o riso e, em seguida, tentou se solidarizar:
- Também fiquei, Andrí. Mas tenho certeza de que acharemos algo tão bonito quanto. Vamos ter fé.
- Tomara... - falou Mauro, desanimadamente.
E começaram a fazer a busca pela loja. Viram uma fantasia de Minnie ('cafonérrima', achou Bárbara); outra de diabinha ('manjada', definiu ela); mais uma de havaiana ('bem sem gracinha', falou Bárbara, com total desânimo). Realmente nada parecia chegar aos pés daquelas fantasias de princesa que ela havia visto.
- Ó, Andrielly, tem aqui a fantasia de jogadora de vôlei que tu tanto queria antes...
Mauro pegou e olhou a fantasia: embora fosse rosinha claro (combinaria com seu make, pensou sem se dar conta) e tivesse algumas lantejoulas nos números, com certeza aquela fantasia já não lhe parecia mais uma boa:
- É... meio sem graça, né? - falou Mauro, tentando não deixar transparecer desânimo, mas sem conseguir.
- Ué, mas você queria tanto. O short é bonito... - provocou Bárbara, querendo ouvir do amigo que aquilo ali estava menos 'girlie' do que ele gostaria.
- Pois é, mas... estamos tão produzidas. Aí não faria muito sentido...
- Sim... sei... - Bárbara segurou o riso: Andrielly estava querendo abalar na fantasia, mas não queria admitir.
Mais alguns minutos de busca infrutífera, até que Mauro ouviu o grito da amiga lá do outro lado da loja:
- ACHEI!!! ACHEEEEI!!!
Mauro sentiu o coração parar: o que seria? Sentiu vontade de ir correndo em direção à amiga, porém se conteve e foi caminhando normalmente, como se não estivesse eufórico por dentro querendo descobrir qual fantasia seria aquela. Procurou a amiga entre os corredores e cabides, até que viu a amiga trazendo dois vestidos brancos, lindos, um em cada mão, como se fossem trofeús:
- Fantasia de noiva? - balbuciou Mauro.
- SIIIIM! De noiva! Olha que arraso esses vestidos, amiga!
Mauro olhou os vestidos, brancos e brilhantes, cheios de babados, falsos brilhantes e pequeníssimas flores alvas bordados e, sem se dar conta, sorriu:
- Lindos... - deixou escapar.
- Não são??? E idênticos!!! Iguaizinhos! Seremos sisters de altar! - e riu alto.
Eram realmente vestidos de noivas, mas não pesados como de noivas de verdade. Tinham um decote em coração super feminino, levemente acinturado no corpete e com uma saia mais abertinha, com uma tule graciosa que dava volume abaixo da cintura.
- Meio curtos, não? - tentou parecer menos empolgado do que estava Mauro.
- Sim! Bem Carnaval, amiga! Se fosse pra ir de vestido longo iríamos de freiras.
- Não deixa de ser verdade. - e riu contidamente Mauro.
- Bóra experimentar?
- Claro! - deixou escapar empolgadamente Mauro.
Não foi difícil para Bárbara perceber a empolgação do amigo. E ela amou isso.
Foram então para os provadores. Bárbara saiu primeiro.
- Amiga! Deixa eu ver como ficou!
- Já vai! Ainda não terminei de colocar.
Mauro estava tomando uma surra do vestido: uma hora enrolou-se na tule, em outra prendeu a presilha do seu sutiã no vestido e teve que tirar tudo, porém, após intensa batalha, finalmente ele conseguiu.
- Tcharãããm!!! - bradou, abrindo a cortina do provador num só impulso.
Os dois ficaram de frente, abismados, um com o outro.
- Linda! - falaram em uníssono, uma para a outra, quase que em transe.
E ficaram ambas a se admirarem por alguns segundos. Mauro nunca havia visto a amiga e ex-namorada tão linda na vida, já Bárbara estava totalmente confusa: o amigo estava uma mulher linda, lindíssima, e saber que aquela gata era seu amigo e ex-namorado não lhe deixava incomodada, mas até meio... excitada.
- Meu Deus, como a Bárbara está gata - pensou entusiasmado Mauro.
- Jesus, como o Mauro ficou linda de noiva... - pensou confusamente Bárbara.
- As fantasias acompanham luvas! - falou a atendente lá do guichê, prestativa, ao avistar as amigas fantasiadas de noivas.
- Oba! - falou meio sem graça Bárbara, ainda sem saber o que estaria acontecendo.
- Eu não vou querer usar luvas. Não foi pra isso que eu fiz minhas unhas - falou baixinho Mauro para a amiga, meio indignado.
Bárbara riu: a amiga havia definitivamente incorporado a Andrielly e aquilo estava divertido - e excitante - demais.
Continua...