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Acordei uma hora antes do despertador. Era sábado de manhã e na minha cabeça vinha a imagem do dia do meu casamento civil com o Vini. Sorri feliz. Ele ainda dormia e me levantei devagar para não acordá-lo.
Deslizei minha mão até a porta e abri devagar. Fui até a sala e sobre o sofá, peguei minha bengala e fui até a cozinha.
No dia anterior ele tinha ido ao supermercado e me mostrou onde havia colocado os pães, pois trocou de lugar alegando que batia sol naquela parte do armário.
Peguei os pães e o peito de peru que ele tanto gosta, queijo, fiz café, esquentei o leite e coloquei sobre a bandeja e fui até o quarto com todo o cuidado do mundo pra não derrumar tudo no chão e ainda levar bronca dele por estar com uma xícara de café com leite ainda fumegando em mãos e correndo o risco de morte se derramasse em mim. Porque ele iria pensar assim. Vai que morro com o leite quente caindo no meu pé? Esse é o Vini e suas preocupações exageradamente fofas.
Lá fui eu, levando a bandeja e enfim, cheguei até a porta do nosso quarto e a abri, ouvi ele me dando bom dia e pude sentir ele sorrindo pra mim, daquele jeito besta e feliz que ele sempre faz.
ㅡsurpresa! Bom dia, amor! ㅡ disse e ele se levantou, veio até mim, me deu um beijo na boca e me ajudando a me sentar na cama com ele e a bandeja que estava em perfeita ordem.
ㅡ acordou animado, senti o cheiro de café de longe. Muito obrigado!
ㅡ disponha! Vê se está do jeito que você gosta. ㅡ disse e senti sua mão deslizando em meu rosto recém barbeado de um dia.
ㅡ está delicioso. Come comigo?
ㅡ claro, depois vou comer você!
ㅡ hahaha, caramba! Que bicho te mordeu?
ㅡ sei lá, acordei antes da hora e fui direto pra cozinha fazer café pra você. Estou me sentindo bem, só isso.
ㅡ depois que você me rangar, quer ir correr na praia? Aposto cem reais que você morre, antes de chegar no posto 09.
ㅡ fechado! E me da aqui um pedaço desse peito de peru e pão. To com fome!
ㅡ eita, morto de fome...come tudo!
Depois do café, fizemos sexo gostoso. Nada de performances mirabolantes, ele às vezes inventa posições que me deixam confuso e com medo de machucá-lo, mas quase sempre saímos ilezos.
Pra falar a verdade, foi um sexo calmo, bem romântico, do jeito que ele gosta e aprendi a gostar também quando sou eu quem faço o papel da caça. Ele adora me ver gemendo em seus braços e me da tesão saber que ele está de pau duro por mim. É uma sensação maravilhosa sentir tudo isso vindo de outro homem.
Depois da nossa manhã de amor maravilhosa, fomos até a praia. Morri antes do posto 09, perdi cem reais e ainda tive que pagar nosso almoço em um restaurante bem simples na praia mesmo, mas o sabor da comida me lembrou de minha mãe.
Conversamos sobre nossos empregos e minha feliz tentativa de criar novos esboços para minhas cadeiras e deu muito certo.
Eu estava feliz em minha nova vida de recém casado e sabia que o Vini também estava. Fazia questão de me dizer todos os dias que me amava e que eu era o homem de sua vida. Ele sempre foi extremamente carinhoso e eu o amava simplesmente porque SIM! Mas mesmo com todo nosso amor, brigávamos como qualquer outro casal.
Eu sei que a maioria de nossas brigas é por eu ser uma pessoa detalhista e culpo minha cegueira por isso.
É complicado ter suas coisas removidas de lugares que você já está acostumado, mesmo por um bom motivo.
Demoro a me acostumar com mudanças e minhas coisas são milimetricamente organizadas de modo que eu as encontre com mais facilidade e ele sabe que isso me incomoda, mas sempre dá um jeito de interferir e mostrar bons argumentos para o quê está fazendo e na grande maioria das vezes ele consegue me convencer.
Quando não da certo, eu reclamo, ele se sente ofendido, eu digo que ele exagera, ele fala que sou insensível, eu peço desculpas, ele pede desculpas e nos beijamos.
Nunca dormimos brigados. É nossa lei absoluta. Jamais dormimos sem nos falar. Sempre nos damos boa noite, ele fica emburrado, eu o abraço e assim dormimos.
Depois do almoço voltamos pro apartamento. Eu estava exausto e quando ele tirava minha roupa, meu celular tocou.
Pedi que pegasse o aparelho na mesinha e me entregou dizendo que era Roberto, meu irmão. Atendi preocupado, ele sempre foi muito reservado, diferente do André, que sempre me considerou seu confidente. Atendi e ele perguntou se eu estava bem, se eu estava ocupado e se tinha um tempo para conversarmos.
Disse que podia falar e riu quando me ouviu rindo. Percebeu que eu estava com o Vini e sorri porque ele havia se enfiado debaixo do meu sovaco e senti cócegas.
ㅡ se atrapalho, ligo depois. ㅡ ele disse.
ㅡ não está atrapalhando, é só o Vini sendo ele. Pode falar, mano.
ㅡ rsrs, comédia vocês dois. Bem, eu estou saindo de casa. Já arrumei uma casa aqui mesmo na vila e me mudo amanhã. Conversei com os meninos e parece que entenderam. Pensei que seria mais difícil, mas disseram que seria legal ter duas casas pra ficarem. Acho que eles não são tão bobos como pensamos. Enfim, conversei também com a Melina e, depois da visita que ela fez à vocês, voltou mais calma e disse que me odiava por tê-la traido, mas quer que nos demos bem, pelas crianças. Sei que fui um cafajeste e bem...já contei aos manos a estória toda. Estão rindo e me odiando, não na mesma proporção, mas me odiando mais pela Melina e rindo porque se nosso pai estivesse vivo, você e eu matariamos o velho. Pode isso?
ㅡ rsrs, também penso nisso às vezes. Beto, fico feliz por tudo estar se resolvendo, de verdade. Quero muito que você seja feliz e a Melina também merece tudo de bom. Só vai com calma quando for contar pros garotos sobre você. Eles vão ficar um pouco confusos e pode ser que te rejeitem de início. Tenha paciência com eles e dê tempo pra eles digerirem tudo com calma. São crianças.
ㅡ eu não estou pensando em contar pra eles por hora, mas também não quero deixar que eles saibam por outros. De qualquer forma, estamos bem, na medida do possível. A Melina acabou de me ligar e convidou pra almoçarmos em família.
ㅡ isso é muito bom, Beto. Agora vê se não faz mais bobagem.
Conversamos mais um pouco e quando desliguei, ouvi o Vini roncando no meu colo. Acariciei seu rosto, lhe dei um beijo na boca e ele acordou. Senti a força do seu abraço e seu rosto cheirava anti-transpirante. Brinquei dizendo que ele estava cheirando meu sovaco e o filho da mãe enfiou a mão dentro da minha boxer.
Ele apertou meu saco com força, me fez gemer e lhe disse:
ㅡ homem, vai matar todos os nossos filhos se apertar mais forte.
ㅡ kkkkk, verdade! Coitadinhos! Papai ama vocês, minhas lindezas. ㅡ eu ria da palhaçada dele e o deitei em meu peito.
ㅡ você é muito besta, Vinicius! Muito besta!
ㅡ kkkk, valeu! Como faríamos pra ter filhos? Usaríamos só o meu material, só o seu ou misturamos?
ㅡ misturamos! Tanto faz, eu ia amar da mesma forma, sendo meu ou seu. Só quero que venha com saúde e que tenha sua alegria de viver. Pois meu amor por você começou a nascer quando te vi com seus sobrinhos. Me encantei com seu jeito moleque e desejei estar perto de você toda a noite. Me contagiou de uma forma que fui embora querendo mais de você. Achei tão estranho essa sensação, mas era uma coisa boa.
ㅡ oh, meu amor...você é quem me inspira ser assim na grande maioria das vezes e eu posso ter um dia ruim, mas se estou perto de uma criança, meus problemas somem. Me entrego de corpo e almo àqueles pestinhas só pra vê-los felizes. Às vezes tenho problemas na escola, mas quando te pego no trabalho e esses olhos cinzas me olham, já ganhei meu dia também.
ㅡ me beija! Porque você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Vou te dar uma caralhada de filhos.
ㅡ kkkkk, bora tentar fazer?
ㅡ kkkkk, bora!
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Eu e o Matteo bem que tentamos procriar, mas não deu muito certo. Enfim, rimos muito da nossa bobagem e durante todo o mês, ele e eu falamos muito sobre o assunto.
Discutimos como faríamos e fiquei tão feliz na possibilidade de darmos início ao nosso projeto de família, que convidei o Valter e a Penny para conversarmos.
Liguei pra ela na sexta-feira de manhã e me atendeu toda feliz. Perguntei o motivo de tanta alegria e disse que aquele investimento de risco que o Valter havia feito com a poupança das crianças, rendeu bons frutos. Sorri dizendo que ela compraria um vinho de boa qualidade e me daria de presente, pois eu estaria preparando um jantar para nós quatro no apartamento.
ㅡ vocês estão bem, mano?
ㅡ sim, está tudo na mais perfeita paz. Tem como deixar as crianças com o papai?
ㅡ tem sim. Ele vai sair com os piralhos na sexta. Vai levar as crianças no circo.
ㅡ perfeito!
ㅡ posso saber qual é o assunto?
ㅡ como assim?
ㅡ porque se fosse só algo em família, não importaria se as crianças fossem. Então, o assunto deve ser sério.
ㅡ rsrs, é um assunto sério. Mas falaremos aqui.
ㅡ tudo bem. Vou morrer de curiosidade, mas terei calma.
ㅡ você, calma? Até parece! Vai roer todas as unhas até sexta, que eu te conheço. Kkkkk
ㅡ vou mesmo! Kkkk
Durante a semana o Matteo não parava de falar no assunto e eu já estava ficando doido.
Sexta à noite eles chegaram na hora marcada e o Valter super sorridente dizendo que estava morrendo de curiosidade pra saber o motivo do tal jantar.
Preparei tudo com o maior carinho e capricho e o Matteo nervoso que só ele.
Jantamos, estava tudo gostoso e fomos tomar um café na sacada.
Minha irmã me olhou, tomou seu ultimo gole de café e disse:
ㅡ estão, vai nos contar o quê está acontecendo ou vou ter que adivinhar? ㅡ senti as mãos do Matteo tremendo quando segurou as minhas e o Valter percebeu, pois disse que o assunto parecia sério, ou o Matteo não estaria tão nervoso. Respirei fundo e falei:
ㅡ acha que consegue nos ajudar naquela sua proposta de gerar nossos pimpolhos?
Ela se levantou do banquinho. Meu cunhado veio nos abraçar e nos beijou no rosto e ela estava catatônica com as mãos na cabeça, olhando pra gente com espanto e de repente, o choro!
Me levantei e a abracei. Ela desabou nos meus braços e nunca em minha vida vi minha irmã chorando daquele jeito. Só quando nasceram as crianças. Tirando esse dia, nunca presenciei um momento sequer de tanta emoção.
Senti seus braços me apertando forte e suas lágrimas se misturavam com as minhas. Vi o Matteo me procurando naquele momento tão importante de nossas vidas, onde eu seria pai do filho do homem que eu mais amava e vice-versa.
Em um sopro de lucidez, ela me olhou e segurando meu rosto disse:
ㅡ não sabe a felicidade que estou sentindo agora. Não imagina como me faz a mulher mais feliz do mundo e só senti tanta emoção quando meus filhos nasceram. Vocês dois tem certeza?
ㅡ claro que temos. Somos adutos e temos noção suficiente pra saber que um filho é pra sempre. Acha que tomamos essa decisão de uma hora para outra? Foram dias conversando. Quero um filho com o Matteo e ele deseja o mesmo. A menos que você não esteja disposta a gerar e procuramos outra pessoa.
ㅡ bem capaz que vou deixar meu sobrinho ser gerado por outra mulher que não seja eu. Já disse que serei eu e farei isso com muito carinho e amor que tenho a vocês dois. Vou marcar consulta no ginecologista, fazer exames e vamos em uma clínica de reprodução. Só tem um porém...quem vai doar os óvulos?
ㅡ bom, é um porém, mas não será um problema, pois usaremos óvulos de uma doadora anônima.
ㅡ minha nossa! Não acredito que vamos ter um filho! Kkkk
ㅡ kkkkkk, vindo de você soa mais estranho ainda. Vem aqui, me dá m abraço.
Me sentei ao lado do Matteo e o Valter não parava de chorar.
Foi uma emoção poder contar com minha irmã e saber que o Valter estava mais animado que todos nós juntos era incrível.
Ficamos até de madrugada bebendo e conversando sobre nossa gravidez e vi o Matteo tão feliz que tive certeza que só poderia ser ele o pai do meu filho.
Durante a semana demos à notícia ao papai e a Laura sorrindo disse:
ㅡ desejo toda saúde do mundo pra essas crianças. Serão a razão de suas vidas.
ㅡ crianças? Está doida? Kkkkk
ㅡ sim, sei lá! Tenho a impressão que será mais de uma. Imagina se vem três? Kkkk
ㅡ nem me fale uma coisa dessas! O Matteo infarta.
Confesso que fiquei encabulado com o quê a Laura disse e com todas as experiências estranhas que já tive com ela, achei melhor não duvidar que seria possível.
Passamos o mês todo corredo pra cima e pra baixo nos consultando e visitamos uma clínica para a escolha dos óvulos.
Vimos perfis de inúmeras doadoras e o Matteo queria uma doadora mais saudável possível.
Não foi fácil. Era nossa responsabilidade escolher o melhor ôvulo.
Separamos três perfis e junto com o Matteo, tomamos nossa decisão.
Minha irmã já havia iniciado uma bateria de exames. Já estava tomando vitaminas e preparando seu corpo pra receber nossos embriões.
O Matteo e eu também fizemos uma bateria de exames. Incluindo de doenças sexualmente transmissíveis, como os da minha irmã e estava tudo na mais perfeita ordem.
Estávamos todos felizes e um dia vi o Matteo remoendo algo. Perguntei se estava arrependido de darmos início a algo tão sério em nossas vidas e me beijou calando minha boca.
ㅡ nunca mais fale isso. Te amo e esse amor é pra vida toda. Estou sim pensando em algo, mas não tem nada haver com nossos planos. Só quero esperar um pouco antes de te falar. Tudo bem?
ㅡ tudo bem. É algo muito importante?
ㅡ sim e não, mas é melhor não ficarmos na expectativa com nada.
ㅡ está certo. Confio em você.
ㅡ rsrs, você só pensa besteiras. Não se preocupe, meu amor, eu estou tão feliz quanto você.
Seguimos com nossas vidas até que marcamos o dia da inseminação.
O Matteo e eu já tinhamos feito o processo de coleta de nosso material genético uns dias atrás e estava tudo preparado para a Penny receber os embriões.
Fomos os quatro até a clínica. Uma assistente novinha perguntou quem era o pai e o Matteo e eu dissemos sermos nós dois e o Valter diz que era o marido. Pensa na cara de confusa da coitada? Rimos da situação e como ela era nova e pegou o bonde andando, expliquei que a Penny era minha irmã e barriga solidária.
A pobre jovem pediu desculpas, foi extremamente simpática e pediu para aguardámos na antessala.
Estávamos nervosos e a Penny mais ainda. Além de emocionada.
Tiramos nossas dúvidas e sabíamos que talvez não conseguiríamos de primeira, mas eu estava confiante e o Matteo segurava minha mão dizendo que tudo iria dar certo. Ancorei meu coração no porto seguro que era meu marido e ele me dava forças pra aguentar a arrebentação que se aproximava, pois seria dias de ansiedade e expectarivas.
O procedimento foi feito. Só faltava aguardar e estávamos todos com os nervos à flor da pele.
Minha irmã estava mais tranquila e dizia que nunca se sentiu tão calma. Comecei a reparar em suas atitudes e em nada parecia a Penélope que todos conheciam. Nunca vi tão serena e sorridente.
Conforme os dias foram passando, eu estava ficando meio desanimado e percebi que o Matteo me cercava, mas não queria falar nada pra não me desiludir.
Me deitei em seu peito e nunca me foi tão receptivo quanto esse dia em que chorei em seu colo por medo da possibilidade de não ter dado certo e termos que recomeçar, como muitos.
Me senti protegido por ele, mas agoniado e quase entrei em desespero quando meu celular tocou e era o Valter.
ㅡ Vini?
ㅡ sim, pode falar!
ㅡ tua irmã acabou de comer uma panqueca e vomitou ela toda no corredor.
ㅡ como assim?
ㅡ mozão, to te falando que sua irmão está pondo pra fora tudo de come, cara! ㅡ foi então que minha ficha caiu.
ㅡ ai, minha nossa! Será?
ㅡ faz doze dias. Já liguei e marquei uma consulta pra ela amanhã bem cedo. Esperamos você no cosultório. Diz pro meu cunhado que vamos fumar charutos e beber até amanhecer.
ㅡ kkkkkkk, pare com isso! ㅡ eu chorava e o Matteo também. Tinha posto no viva-voz.
ㅡ vamos encher a cara, Vini. Diz pro Matteo que eu o amo. Amamos vocês!
ㅡ santa maria! Ele está ouvindo. Kkkkk
Ele desligou todo animado. Parecia que o filho era dele, mas se era meu, era dele também, pois a mim ele tinha como um irmão, um filho e sabe-se mais o quê.
Pedi pro Matteo se acalmar e durante toda a noite, ele só girava na cama.
De manhã bem cedo estávamos todos no consultório.
Levamos as crianças, meu pai estava presente e a Laura não pode ir, mas estava lá de coração, eu sentia sua presença.
Entramos o Matteo e eu com Penny e o Valter já preparando as comemorações.
Quando a médica passou o aparelho de ultrasom na barriga da Penny, ela disse:
ㅡ parabéns! Vocês vão ter um bêbe!
Quase morri do coração e levei o Matteo comigo, pois ele segurou minha mão e sentiu que minha pressão baixou.
A assistente me deu uma cadeira e me sentei. Respirei umas quinhentas vezes e a Penny na hora da emoção chamou pela mamãe. Pediu que ela olhasse por nós e pelo bêbe. Fiquei desconcertado a ouvindo, mas mirei o teto e pedi o mesmo que ela em meus pensamentos.
Me agarrei a Penny que segurava a mão do Matteo e a beijamos.
Saímos os três felizes e, claro, todos vibravam de alegria.
Meus sobrinhos diziam que era seu irmãozinho do coração. Contamos a eles de um jeito que entendessem que a mamãe estava emprestando a barriga pro bêbe dos tios nascer e os dois acham maior graça. Foi aí que o Matteo cantou a bola da vez.
ㅡ e agora?
ㅡ agora é esperar nascer, cunhadão! ㅡ disse o Valter rindo e meu pai deu um abraço no Matteo o levantando do chão.
Os dias foram passado e nossa ansiedade diminuindo. A Penny estava ótima e fazia tudo conforme o médico havia pedido.
Decidimos que só começaríamos os preparativos do enxoval depois de vinte semanas.
Na décima oitava semana ela tinha uma ultrassom marcada e fomos nós quatro.
O Valter estava empolgado e disse que tinha uma surpresa que falaria assim que a Penny terminasse a consulta.
Entramos os três na sala, prepararam a Penny e dado momento, a médica coçou a cabeça e senti que estava acontecendo algo.
ㅡ o quê foi? Porquê estão todos quietos? ㅡ o Matteo perguntou e eu segurei sua mão com toda a minha força.
A médica passou o aparelho novamente na barriga da Penny e nos olhando disse:
ㅡ estão vendo aqui? São dois bêbes. São gêmeos! Parabéns!
Dessa vez quem quase teve um ataque, foi o Matteo. Queria saber se dava pra ver o sexo dos bêbes, mas estavam de pernas cruzadas. Choramos de alegria e quando contamos pro Valter, ele chorava mais que todos nós três juntos.
Foi o início de tudo em nossas vidas. Àquele momento foi o mais mágico e eu estava flutuando em lindas nuvens com o Matteo que ligou pra todo mundo e contou a novidade.
Meu pai e a Laura estavam animados e fui informado de que eles nos dariam todo o enxoval do bêbes. Meu pai fez questão de nos presentear.
Foi aí que o Valter, com todo o seu amor e carinho por nós, disse que iria fazer o quarto dos bêbes e que seria o quarto mais lindo de todos.
Me sentia grato por tudo que estava recebendo com tanto carinho.
No apartamento eu fazia planos e o Matteo veio até mim e me chamou pra conversar. Pediu que me sentasse e tirando os óculos, disse que me amava demais e que sua vida não tinha mais sentido algum se mim. Sorri e lhe dei um beijo, mas percebi que ele queria falar mais alguma coisa.
ㅡ Vini, acho que a gente precisa de um espaço maior pra acomodar essas crianças, não é mesmo?
ㅡ acho que sim, mas comprar um apartamento agora seria loucura.
ㅡ e quem disse que vamos comprar um apartamento maior? Temos sua casa, é espaçosa, a suite é grande e os quartos também. Vamos conviver com dois seres que vão precisar de um carrinho duplo e isso toma espaço. O quê acha?
ㅡ está falando sério? E você? Sua independência?
ㅡ se consigo fazer tudo que faço aqui, consigo na sua casa também. Não posso ser egoista e pensar somente em mim. Teremos duas pessoinhas que vai depender da gente, Vini. Não quero estar com um deles no colo e tropeçar em alguma coisa aqui dentro de casa. Concorda comigo que o melhor a fazermos é que nos mudemos? Era sobre isso que eu estava tão pensativo. Vai ser complicado pra mim de começo, mas eu sou "o cara!". Sou foda e tenho você que me ajuda sempre que preciso. Vamos adaptar sua casa e outra: a Penny precisa amamentar as crianças. Pensa no desconforto ela ter que ficar aqui e voltar pra casa? Ficaríamos perto deles e sei que você os adora, eu também! Amo estar com eles e sua irmã e eu estamos nos tornando mais amigos. Quero que fiquemos perto de quem nos ama e quero que nós dois nos sentimos confortáveis em uma casa maior.
ㅡ você está certo e obrigado por estar cedendo sua comodidade aos nossos pimpolhos!
ㅡ rsrs, sou o pai deles. Amor, o que faremos com duas crianças? Me fala!
ㅡ eu não faço ideia! Kkkkk
ㅡ pelo menos estou cumprindo com o prometido. Já te dei dois filhos, só falta mais uns quatro! Kkkkk
ㅡ quero mais não! Está bom os que já estão vindo. Nem tente! Kkkkk
ㅡ caramba, nem acredito que seremos pais. Vini, já pensou que pode ser um filho de cada um de nós?
ㅡ já sim. Faremos DNA e saberemos.
ㅡ eu não quero saber. Podemos até fazer, mas eu não quero saber. Sério! Vou amá-los igualmente e será sempre assim. Sei que você vai saber, mas eu não quero. Quero amar meus filhos do mesmo jeito que amo você. Não precisei ver seu rosto pra saber que te amo. Promete que nunca vai me contar?
ㅡ nem sei o quê te dizer, mas prometo. Você é incrível, sabia? Amo você, Matteo!
Estávamos entrando no nono mês quando recebi uma ligação do Valter dizendo que estava levando a Penny pro hospital.
A essa altura já estávamos com tudo preparado pra receber os gêmeos. Eram dois meninos. O Matteo vibrou ao saber.
Nossa casa já estava toda arrumada e o Matteo estava se habituando muito bem com o novo espaço.
De início os bêbes ficariam conosco no quarto em um único berço, mas o quarto deles já estava todo mobiliado e decorado. O Valter cuidou de cada detalhe dos modulados. Estava impecável.
Corremos para o hospital e conseguimos chegar à tempo de ver a cesariana.
Os bêbes estavam sentados e parto normal estava fora de cogitação. Foi tudo muito rápido e a Penny sorria à cada pressão que a médica fazia em sua barriga.
Eu dizia ao Matteo tudo que estava acontecendo e ele sentado ao lado da Penny segurando sua mão, enquanto o Valter nos esperava no lado de fora com as crianças.
Ouvi o primeiro choro. O Matteo disse que era o Miguel. Então veio o segundo, Gabriel. Dois homenzinhos lindos que me olharam e parecia que sorriam depois do choro.
Os colocaram com a Penny e em seguida nos deram para segurá-los.
Minhas lágrimas e do Matteo cairam sobre os dois, celando nosso amor por eles.
Tudo estava na mais perfeita ordem. Eram fortes, mesmo sendo prematuros. Eram lindos e algo em meu coração dizia que cada um de nós tinhamos um filho.
Os meninos ficaram na encubadora por algumas semanas.
Depois que os levamos pra casa foi a maior festa.
A casa não parava vasia. Todos os dias parentes e amigos nos visitavam e o Matteo sendo um pai coruja que nunca imaginei ser possível.
Minha irmã os amamentava todos os dias e seguiu assim até o sexto mês do meninos. Foi então que começamos com o desmame. Foi difícil pra eles, mas foi mais difícil pra Penny se separar de seus filhos de coração. Senti sua dor quando teve que voltar com sua rotina normal e o ciúmes que sentia da Dona Catarina, uma mulher experiente em cuidar os filhos alheios, mas não tinha nenhum. Adotou os meus como se fossem dela.
Mesmo com tanta paparicação e carinho, o Matteo me fazia buscá-lo no trabalho pra almoçar em casa e ficar mais um tempo com eles.
Era sexta-feira e tinhamos acabado de chegar do trabalho. Ele tomou banho, veio até o carrinho e pegou o Gabriel no colo. Eu estava com o Miguel e se sentando começamos a conversar sobre um plano de saúde para os meninos.
Antes de eu mostrar opções de planos que tinha visto na internet, ele me olhou e disse:
ㅡ Vini, acha que estou sendo exagerado com o cuidado dos meninos? Porque se eu estiver sendo, me fala.
ㅡ rsrs, um pouco, mas você é o pai deles. Tem esse direito e fica tranquilo. Melhor ter cuidado do que cuidado nenhum. Ah! Vamos dar banho neles depois? A Catarina preparou uma papinha e assim que eles comerem, daremos banho e levamos os dois pra dar uma volta no bairro.
ㅡ isso se conseguirmos andar com eles. A cada meio metro uma pessoa nos para. Fica difícil sair. Ninguém mandou serem lindos. Kkkkkk
ㅡ são mesmo! Caprichamos! Kkkk
ㅡ amor, você nunca comentou comigo sobre a possibilidade de serem irmãos de pais diferentes...acha que são? ㅡ fiquei em silêncio. Ele até o momento não tinha mais tocado no assunto.
ㅡ rsrs, acho! Só que esconder isso de você será impossível. Na verdade, daqui em diante vai ficar claro qual é o seu e quando os virem, vão comentar na hora que um deles é a sua cara.
ㅡ isso é verdade. Não tinha pensado nisso. Independente de qual seja, os dois são meus filhos. São nossos!
ㅡ porque não fazemos o exame de DNA pra ter certeza?
ㅡ você sabe qual é o meu?
ㅡ rsrs, claro!
ㅡ mas como?
ㅡ Matteo, é uma suspeita que tenho. Porque mesmo sem essa caracteristica que me faz saber, o outro também pode ser seu. Quer fazer o DNA ou não?
ㅡ quero!
Na semana seguinte fizemos o tal teste de DNA. Embora eu tivesse quase certeza que o Gabriel era meu filho e o Miguel, filho do Matteo.
Impossível não olhar nos olhos cinzas do Miguel e não enchergar o Matteo neles.
Os olhos do Gabriel já havia mudado do azul de nascença para o castanho claro que são os meus. Mas a gênetica é maluca.
Pegamos o resultado do teste e fomos até a casa da Penny e chamamos o papi e a Laura. Fizemos um jantar e depois pedi ao papai que nos desse a honra de nos falar quem era o pai dos meninos.
Ele só chorava e disse:
ㅡ Matteo, você é o pai do Miguel e Vini, você é pai do Grabriel.
Minhas suspeitas estavam corretas. Rimos como doidos e foi a coisa mais maravilhosa que nos aconteceu. Cada um de nós fez um pedacinho de gente que tomava conta de nossa cama e que não mais nos deixou dormir.
O mais engraçado é que Grabriel era o nome favorito do Matteo e que seria dado ao segundo que nascesse, e foi meu filho.
Fim do mistério e o Matteo estava nas nuvens. Nunca vi meu marido tão encantado e sorridente.
Nossas vidas haviam mudado e nossa rotina estava uma loucura. Sorte termos pessoas queridas que sempre nos ajudaram.
Os meninos já estavam com oito meses e comemoramos só com nossos famimiares mais próximos. No caso do Matteo, seu irmão André, a esposa e os filhos.
Estávamos todos em casa e o Matteo tinha acabado de colocar o celular pra carregar e como estava desligado, vi que o Roberto estava me ligando.
Atendi e ele disse que iria nos visitar novamente no mês seguinte e que havia comprado duas motocas pros moleques.
Agradeci a gentileza e perguntei como estava tudo e sua relação com o rapaz que ele namorava.
ㅡ terminamos, Vini. ㅡ ele disse e senti que não estava muito abalado.
ㅡ não sinto muita tristeza da sua parte...acha que foi melhor?
ㅡ acho. Não fazia mais sentido eu continuar com ele. Ainda mais morando juntos e tendo que dar de cara com a Melina. Querendo ou não, foi com ele que a traí. Mas vida que segue e quero começar de novo. Eu o amei muito, mas foi encima do sofrimento da Melina. Tinha algo ali que não ia durar pra sempre. Paciência!
ㅡ eu desejo que você seja feliz. De coração! Sei que tivemos nossas diferenças, mas sei também que nos respeitamos hoje e espero que continue assim. O Matteo te falou do exame de DNA?
ㅡ rsrs, falou! Disse chorando. Mas sabe? Pra ele não faz diferença. Você conhece o Matteo e ele encherga tudo de um jeito maravilhoso. Encherga com aquele coração gigante que ele tem e ama os dois como se fossem uma só pessoa.
ㅡ também sinto o mesmo. São meus filhos, os dois. Quer falar com o Matteo?
ㅡ quero sim, obrigado! Se cuida!
ㅡ você também!
Deixei os dois conversando e depois que todos foram embora, chamei o Matteo para irmos à praia com os meninos.
Estava um calor insuportável e levei uma piscina inflável pra colocar os moleques e um guarda-sol.
Brincamos com eles na areia. Todos que passavam paravam e brincavam com eles.
Perguntavam se era nossos e o Matteo todo orgulhoso dizia que era nossos filhos.
Vi meu celular tocar era a Penny. Pedi pra ela levar as crianças na praia conosco e ouvi o Valter gritado que já estava arrumando as coisas.
Com o horário de verão, ficamos até às sete horas com os meninos e meus sobrinhos na areia.
Mirei o mar e agradeci por cada minuto de felicidade. Agradeci por tudo que a vida havia me dado e pelo homem que dividia comigo sua vida e seu coração.
Coloquei os meninos no carrinho enquanto o Matteo preparava uma mamadeira pra cada. Ainda tinha leite no isopor.
Sugeri que caminhassemos no calçadão e minha irmã adorou a ideia.
Eu empurrava o carrinho e ofereci meu braço ao Matteo que sempre verificava se os meninos estavam bem.
Meus sobrinhos corriam saltitantes mais à frente e minha irmã e meu cunhado de mãos dadas ao nosso lado.
Foi aí que percebi que voltamos ao início de tudo. Nós quatro!
Percebi que sem o Valter, eu não teria conhecido o Matteo e sermos nós, era a melhor coisa do mundo.
Sorri sozinho e o Matteo perguntou porque eu sorria e disse que sorria por ele e pelos nossos filhos. Que sorria pela Penny e o Valter serem duas pessoas maravilhosas em nossas vidas.
ㅡ agora você pode falar pra todo mundo o quanto sua vida é brega e cafona. Kkkk ㅡ ele disse e comecei a rir.
ㅡ só falta um cachorro.
ㅡ nem pense. Dois filhos e já estou sentindo que meus cabelos estão ficando brancos. Kkkk
ㅡ estão mesmo! Mas você continua lindo.
ㅡ te amo! Acha que sou um bom pai?
ㅡ o melhor de todos. E eu?
ㅡ acho que você é o melhor homem que já conheci em toda a minha vida. Obrigado, Vini, por me esperar e por ter me dado essa vida que tenho hoje!
Lhe dei um beijo e nos demos as mãos.
A cada dia, uma nova conquista e a certeza de grandes vitórias.
E sei que tudo será como sempre sonhei.
Ao lado do Matteo me tornei um homem melhor. E quando me sinto perdido, é só olhar para aqueles olhos cinzas novamente que me encontro e tudo volta a fazer sentido.
*
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Fim!
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Espero que tenham gostado e me desculpem por não ter postado no fim de semana como disse nos comentários do último post. Eu estava trabalhado à noite e dificultou um pouco as coisas pra mim.
Foi um job aí que arrumei (temporário), mas espero voltar com minha rotina normalmente.
Esse final foi difícil pra eu escrever. Tive que fazer umas pesquisas e me desculpe se escrevi alguma coisa sem sentido.
Vou tentar postar um capítulo por semana. Meu contrato está acabando e só vou ficar com minha pós-graduação nos fins de semana. Aí terei mais tempo pra vocês.
Grande abraço à todos! Obrigado pelos comentários. Queria agradecer cada um individualmente, mas por hora estou de veras ocupadíssimo. Mas não pensem que sou ingrato, leio todos e adoro cada um deles. Obrigado à todos que lêem!
Se possível, deixem comentários pra eu ter uma idéia de quantos ainda me seguem. Fico grato. Pode ser somente um "oi". Okay?
Se cuidem!!! 😉✌