Ficava cada vez mais claro que Otávio e Rodrigo travavam um jogo de exibicionismo, voyeurismo e competição entre si durante aquelas transas a três – aliás, as primeiras que tive na vida. Enquanto um me fudia, o outro acompanhava atentamente o desempenho. Mesmo quando estavam sendo mamados por mim, nenhum dos dois desviava a atenção do “parça”. Arfavam, quase enlouqueciam com meu capricho em agradá-los, mas não a ponto de perderem o interesse em observar como o parceiro manejava meu corpo. Mais de uma vez, um sacaneou o outro ao suceder a gozada, metendo no meu cuzinho já molhado pelo anterior:
– Esporrou pouco hoje, hein, compadre.
Riam. O que estava na vez voltava-se para mim e falava, baixando a voz, como que me confortando:
– Tranquilo, Zeca, que vou melhorar esse serviço aqui...
Esses diálogos entre os dois eram mais freqüentes e em tom mais alto quando Marcelo não estava no apartamento. Nas vezes em que me comeram à noite, no quarto deles, com Marcelo dormindo atrás de sua porta fechada, eles falavam menos, e em volume mais baixo. A voz de Rodrigo, naturalmente grave, se tornava mais rouca, áspera, por causa disso. Eram menos conversas, mas ficavam ainda mais tesudas. O timbre acentuava a virilidade dos dois; os quase sussurros avivava o sentimento de devassidão entre nós.
Quase não se dirigiam a mim, quando dialogavam. E me excitava tremendamente essa minha situação de “café-com-leite”. Eram papos de adultos, como se eu fosse uma criança que não compreenderia nada. Ou papos de macho, os quais não me cabiam dada à posição de fêmea que, na prática, era a que eu desempenhava para eles. Era eu o tabuleiro daquele jogo entre os dois e a própria razão pela qual ambos estavam ali, mas não tinha qualquer poder. E mesmo que em boa parte das vezes fosse eu o objeto dos comentários, dos elogios, das adjetivações, quase sempre os mantinham circunscritos aos dois.
Era como se eu não estivesse presente. Como se eu ouvisse, por trás da porta de um vestiário, dois fudedores falando putarias sobre mim, com toda a intimidade que um tem com o outro para mostrar suas vantagens. Rodrigo chegava a ser grosseiro; Otávio mantinha um pouco mais a linha, mas era igualmente sacana. Se era quase silencioso quando fudia a sós comigo, a parceria com Rodrigo o tornava loquaz – e muito mais safado verbalmente do que eu supunha.
Mesmo assim, continuava silencioso quando me pegava a sós. Ainda que aqueles grupais fossem se tornando diários, não dispensou me comer sozinho, continuando naquela frequência mais esparsa que já havia adotado antes. Foram poucas as vezes, mas talvez em todas tenha aproveitado para lamber meu cuzinho. Eu adorava; já tinha ficado viciado, mesmo que antes fosse mais raro do que agora. Esse prazer de ficar acariciando com a língua nem lhe passava pela cabeça quando tinha meu cuzinho sendo compartilhado com o cacete de Rodrigo. Eram momentos que, provavelmente sem ele perceber, vivíamos uma intimidade só nossa, que nada tinha a ver com Rodrigo.
Quando, por alguma razão inexplicável, se instalava mais explicitamente a competição entre eles, meu corpo sofria. Ambos perdiam as estribeiras para provar quem era o mais viril, o que fudia mais forte, o que agüentava mais tempo sem gozar, o que enterrava mais fundo o cacete na minha boca ou mesmo que a enchia com a maior quantidade de porra.
– Não engole. Abre e mostra – e chamava o outro para admirar. – Olha a enxurrada de leite que botei nele.
Eu posso dizer que sofria, o que muitas vezes ocorria de fato. Mas, não posso negar, era tomado por uma lascívia exponencial. Gostar de homens e assistir dois homens esgrimindo para superar um ao outro como homem, me usando como instrumento para isso, é uma situação inexplicável de tão tesuda.
Cheguei a ficar assadinho de tanto ser sodomizado, em quantidade e agressividade. Procurei em vão o papel onde tinha anotado o nome de uma pomada que precisei usar alguns anos antes, por conta muito mais da inabilidade sexual de um sujeito do que por qualquer outra razão. Acabei recorrendo ao Hipoglós, aquela pomada branca que se costuma usar para assaduras de bebê. Quebrou um galho, mas estava longe do ideal.
Eu a usava durante o sono, e pela manhã tinha que lavar muito bem, mas muito bem mesmo, para me livrar daquele cheiro característico e odioso. Mesmo com medo, cheguei a aplicá-la dentro, untando com o dedo sem enfiar muito. Mal não fez, mas também não fez tanto efeito assim: eu suportei, mas em pelo menos duas fodas tive que lidar com uma ardência forte enquanto eles me penetravam. Cheguei mesmo a gemer de dor, que eles interpretaram como de prazer, e eu não desmenti. O que realmente fez efeito foram as toneladas de lubrificante que passei a aplicar imediatamente antes das trepadas, já que sempre sabia com antecedência que elas ocorreriam.
Como as férias chegaram, aquela putaria toda não durou mais do que quinze dias. Mas, ao fim, eu estava sendo fudido diariamente pela dupla, inclusive nos fins de semana. Nenhum dos dois admitia isso para si mesmo, mas estava mais do que claro que não se tratava apenas de substituir uma buceta ausente pelo cuzinho fácil do gay da casa. A testosterona não escoava só no coito. Ela movia a disputa de cada um deles para convencer a si mesmo ser o mais macho. Nutria o empenho em impor autoridade como fudedor e provocar inveja. A testosterona os incitava a acompanhar os movimentos dos músculos do parça que se esforçava para não ser derrotado. Não era só a foda; era a briga de machos.
Pareciam não pensar em outra coisa, apesar das provas e dos trabalhos finais. Pareciam extasiados por compartilhar o sexo daquela forma; era uma experiência diferente de simplesmente fuder. Aquela história tinha despertado em ambos o tesão em fazer juntos, e eles pareciam quase obcecados em fazer juntos. Não fudiam entre si, e sim cada um comigo, mas era, no fim das contas, uma foda entre os dois. Nada me indicou, em qualquer dos momentos em que vivemos aquilo tudo, que eles tivessem efetivamente desejo um pelo outro. Sequer aventaram a hipótese de uma dupla penetração, e tenho certeza de que foi porque não os agradava a ideia do contato entre os paus. Mas a competição misturada à camaradagem entre machos os excitava; era nitroglicerina pura.
Eu sabia que era ali apenas o tabuleiro de um jogo, como já observei. Mas era um elemento essencial para viabilizar esse jogo sexual que eles tinham inventado. Era justamente por eu ser eu que eles podiam dar plena vazão às comprovações de vantagem que cada um acreditava ter. Eu não era uma garota, mas um gay que não reclamava de nada.
Quando Otávio se vangloriava do tamanho da pica que tinha, usando meus gemidos como demonstração da vantagem de sua anatomia, Rodrigo se vingava em mim: metia pra me arrebentar mesmo, como se recitasse com a pélvis a velha máxima de que tamanho não é documento. E recebia seu troféu quando, penalizado, ou talvez apenas alarmado, Otávio dizia para ele maneirar. Variações desta cena ocorreram duas, três, quatro vezes. Doía, é verdade, mas também não era por muito tempo. E valia à pena o sacrifício, pelo tesão que era a briga de machos que eu testemunhava.
Essa minha condição de gay era, afinal de contas, fundamental. Não teriam como fazer aquele jogo usando uma garota; seria muito difícil que alguma se sujeitasse àquelas situações. Mas com aquele viado que parecia permitir tudo, que estava sempre disposto, eles se sentiam em liberdade total. Por mais que percebessem que eu sabia não passar de um objeto de uso para o exercício da competição, tinham certeza – e estavam certos – de que eu gostava de estar no meio daquele jogo. Eu era a pessoa certa, na hora certa e no lugar certo para eles, e a condição fundamental para isso é que eu era um gay, e não uma garota. Eles sabiam disso tanto quanto eu.
Fui concluindo que era muito em função de exibir-se para Otávio que Rodrigo repetidamente me chamava de viado e me comia de frente, pois tinha certeza que o “parça” seria incapaz de fazer tanto uma coisa quanto a outra. E Otávio fazia questão de me engasgar com o tamanho de seu pau, cada vez mais vezes numa mesma mamada, para repetidamente orgulhar-se do poder de seu cacete maior e mais grosso do que o do amigo. Em mais de uma ocasião, passou minha bunda para Rodrigo me abrindo bem com as mãos, para que o outro notasse a deformação que impusera usando seu dote.
– Aí, bro. Bem arrombado pra você entrar fácil. Manda rezar uma missa de agradecimento por contar com um parça pauzudo pra te ajudar – dizia, zoando o outro.
Claro que às vezes eu me assustava. No início, nem tanto, porque me considerava protegido por Otávio. Mas o andar da carruagem mostrou que eu não podia contar tanto com isso. Ele era cúmplice de Rodrigo, não meu. Nenhuma surpresa nisso, mas a princípio eu me fiz enganar. Quando caí em mim de que a parceira mais forte era entre os dois, me deu medo.
Mas logo a frequência dos sorrisos de Otávio para mim, ao fim das fodas, afastou aquele temor. Era como se ele garantisse que podíamos continuar porque não havia efetivamente perigo para mim. Como se dissesse, naquele seu jeito molecão: “a gente é parça; tamo junto”. Não estava ali para me proteger, mas seu sorriso avalizava que havia um clima de companheirismo entre nós três, mesmo que por vezes parecíamos estar muito próximos dos limites. Eu sentia assim, e até hoje nada me mostrou que eu estivesse errado.
Bem diferente era quando Rodrigo me pegava a sós, coisa que passou a fazer depois de uma semana, sem esconder de Otávio. Houve mesmo um dia, ou talvez dois, que ambos me pegaram em separado, e à noite voltaram a me fuder, só que juntos. O que Otávio não sabia é que, na sua ausência, Rodrigo se sentia ainda mais livre para ampliar os limites das putarias sobre mim.
Desde que começaram, as fodas individuais de Rodrigo comigo não foram segredo para Otávio. E ele não se importava. Mas não tinha ideia de que, na sua ausência, o “parça” se sentia mais liberado em sua agressividade. Chegou a me dar uns tapas enquanto me metia. Era quase violento. Montava em mim com gana de me humilhar mesmo.
Eu ficava assustado, mas não posso dizer que aquela maneira troglodita de me possuir não acabasse me dando tesão. Eu sabia que, mesmo sozinho com ele, nada de realmente tão drástico poderia me acontecer, e a principal razão disso era Marcelo. Como explicar se eu fosse parar no hospital por uma hemorragia retal que não se dissipasse? Ou um olho roxo que me aparecesse sem que eu tivesse saído de casa? Ou simplesmente ter dificuldade de sentar, os dores musculares constantes que tolhessem meus movimentos? Otávio certamente ficaria puto com ele, mas Marcelo seria mais enérgico: nos expulsaria do apartamento.
As trepadas a sós com Rodrigo fizeram com que eu me surpreendesse comigo mesmo. Ele tinha prazer em me humilhar. Conseguia realmente me humilhar. Algumas vezes, os efeitos destas humilhações eram tão fortes que eu quase me convencia que não deveria mais transar com ele sem Otávio por perto. Mas, depois, quando me lembrava do que vivera, me pegava excitado. Na hora, doía fundo; depois, dava tesão.
Um dia, quando eu estava estirado no tapete, extenuado após ele ter quase me sugado o sangue, começou a rir de deboche, olhando pro meu pau.
– Tem tanto pentelho aí que nem dá pra ver, viado... Tá certo que tu não usa mesmo, mas não tem pau não?
Não era verdade, porque eu aparava o excesso de pelos. Quando depilava o cuzinho – praticamente, todos os dias –, também deixava meu saco liso. Conservava os demais, em cima e aos lados, mas sempre me certificando de que não estavam crescidos além da conta. Mesmo sabendo que ele usava de uma mentira para me esculachar, eu me levantei envergonhado. Vagarosamente, para tentar disfarçar, mas tomado pela vergonha.
Naquele dia, depois de um banho demorado que me restabelecesse, me olhei no espelho grande do banheiro. Não achei que tivesse tantos pelos assim. Mas me enrolei na toalha, peguei meu estojo de unhas e voltei. Com a tesourinha, fui aos poucos diminuindo a quantidade. Até que, quando dei por mim, tinha tirando tanto que o que permanecia estava como que apenas uma sombra sobre a pele.
Por um minuto, lamentei meu excesso. Mas, olhando bem, até gostei. Baixei os olhos, meio que acanhado, sem saber bem o porquê, mas os voltei para o espelho. Fiquei um tempo assim, depois me posicionei para um lado, depois para o outro.
Voltei ao box, com o barbeador na mão. Liguei o chuveiro e esperei a água esquentar novamente, pensativo. Molhei-me de novo. Fiz bastante espuma com sabão e, com cuidado para não me cortar, retirei tudo de vez. Da púbis, da virilha, o pouco que havia na base do pau; tudo. Enxaguei. Não me contive em ensaboar novamente, só para sentir meus dedos deslizarem naquelas partes agora tão macias.
Excitado, voltei ao espelho para conferir o resultado. “Como eu nunca fiz isso antes?”, pensei, vendo-me daquele jeito. A sensação que tive foi a de que me reencontrava; como se todos aqueles anos, desde que a puberdade tinha me trazido aqueles pelos, eu não tivesse sido eu mesmo. E agora eu me via um Zeca com o qual parecia me identificar mais; o Zeca que eu realmente conhecia, mas que não tinha como ver antes.
Na noite seguinte, saí de meu quarto cheio de expectativas. Fui para o quarto deles para que me comessem, como se tornara habitual se não transássemos os três durante o dia. Eu estava ansioso pela reação dos dois. Dei com os burros n’água.
Otávio pareceu nem ter notado. E então me dei conta de que não poderia esperar outra coisa dele. Provavelmente, sequer sabia se eu tinha pelos ou não naquela área. Mal olhava; até seria possível que nunca tivesse visto, mesmo que num acaso tivesse passado os olhos um pouco menos distraidamente por ali.
Mas Rodrigo também ignorou. Justamente ele, que me sacaneara na véspera por eu ter pelos demais. É verdade que a maior parte do tempo eu não ficava mesmo com o corpo todo exposto para eles; pelo menos não a parte da frente. Ficava de costas, de bruços, de quatro, ou acocorado, ajoelhado para mamar. Raramente ficava de pé e andava durante as transas, porque eles mesmos manejavam meu corpo para que eu ficasse na posição que achavam melhor. Mas, nessa noite, e em algumas outras depois, me movimentei de maneira que fosse impossível eles não me notarem todo lisinho. Eles pareceram simplesmente não enxergar.
Apesar da decepção, decidi que nunca mais os deixaria crescer. Eu me senti muito bem expondo-me assim, mesmo que eles parecessem não ver. Sequer poderia imaginar como essa decisão seria tão bem vinda algumas semanas mais tarde, após as férias.
Quando elas chegaram, tive três sentimentos ao mesmo tempo. Lamentei, porque ficaria um mês distante dos dois. Também fiquei meio contentinho, porque soube que, assim como eu, Marcelo não viajaria imediatamente e que, portanto, ficaríamos os dois sozinhos no apartamento por uns dez dias – o que talvez me desse a possibilidade de aproximar-me mais e conhecê-lo melhor. E ainda senti uma enorme sensação de alívio, porque aquela última quinzena havia sido estressante.
A fudelança frenética, misturada com a tensão dos compromissos de todo fim de semestre letivo, estava me extenuando – física e mentalmente. E com um agravante: quando estava com Marcelo, a todo instante me vinha o medo de que ele revelasse que tinha descoberto tudo. Quando as transas eram apenas com Otávio, eu ficava atento, mas sentia uma razoável segurança. Ambos éramos muito zelosos, e fomos armando um esquema que foi nos dando tranqüilidade. Mesmo depois que passamos a fazer a três, confiava na responsabilidade daquele molecão fudedor.
Mas não confiava nada em Rodrigo. Não só por conta da postura dele comigo nos momentos de sexo, mas porque havia alguma coisa nele que me fazia crer que não tinha realmente tantos cuidados assim para não levantar suspeitas. É verdade que mantivera o segredo um mês inteiro sem que eu percebesse que ele sabia de tudo. Tinha sido capaz de agir sem mostrar qualquer indício de que estava a par das putarias que Otávio fazia comigo.
Mesmo assim, não me inspirava confiança. E agora tinha outras razões para isso, além dessa intuição: gradativamente, ele foi mudando seu comportamento para comigo, mesmo quando Marcelo estava presente. Ficava distante, me evitava, fechava a cara. Nada tão ostensivo, mas perceptível para quem o observasse.
Comentei com Otávio, e ele se fez desentendido. Talvez não tenha dado importância, ou ignorado mesmo. Mas, para meu terror, Marcelo notou esta mudança.
– Você e Rodrigo se desentenderam? – perguntou, um dia a sós comigo.
Gelei. Estávamos frente a frente. Seria difícil disfarçar a situação toda diante daquele seu olhar, penetrante. Ele sempre olhava assim, como se quisesse mergulhar no fundo da pessoa cravando os olhos nos olhos dela. E era com esse olhar que ele me encarava, à espera da minha reação que, eu já antevia, ele iria estudar detidamente para entender o que poderia estar se passando.
...
[continua]
[PS: Abaixo, pus umas respostas aos comentários que os leitores fizeram à parte anterior da história]