Senti o hálito de uísque bafejar em mim. Rômulo me imobilizava com firmeza, mantendo a expressão ameaçadora quase colada a meu rosto. Suspenso por sua força, estava sem o chão aos meus pés. Queria crer que eu disfarçava a fraqueza denunciada pelo corpo trêmulo, praticamente nu, mas era impossível que ele não a percebesse no contato do meu imprensado ao seu. Propositadamente ou não, seu caralho duro pesava sobre a bolinha contida pela calcinha justa.
– Putinha, fica quieta. Já falei mil vezes que ninguém vai te fazer mal. Vamos parar dessa frescura. Está amedrontadinha, mas você não me engana. Sei o que você é; não tem que ter medo por causa disso. Tenho faro; te senti de longe.
Ele falava com firmeza, sem gritar. A proximidade de sua boca, porém, fazia com que eu recebesse sua voz como se todo o tempo berrasse comigo.
– Qualquer macho de verdade sente teu cheiro longe. Reconhece na hora o que você é; qual tua essência, tua natureza. Está entendendo, burrinha? Pode enganar o mundo inteiro, mas não os machos do meu tipo. Sabe por que? Porque é do nosso instinto reconhecer vocês. É faro. Está no meu sangue, como está no teu ser fraco assim como essa tremedeira está mostrando. Então, pára dessa frescura, dessa vergonha, porque você não tem que querer me esconder nada. Não tem que ter isso comigo. Pára dessa merda de vergonha. E – então, realmente aumentou o volume da voz: – porra, pára desse medo!
Ficou em silêncio. Olhei acovardado, quase choroso, pedindo em silêncio que ele me acalmasse. Eu podia sentir sua respiração, e ele a minha – com a diferença de que eu estava ofegante pelo medo. Ele não.
Continuou me apertando com força, e deu um beijinho numa das bochechas. Foi um gesto que até parecia terno, silencioso. Meu coração batia forte, e certamente reverberava, assustado, no peito dele.
– Calminha...– disse, naquela entonação que a gente faz quando quer tranquilizar um bichinho acuado. – Calminha...
Eu pendi um pouco a testa, que involuntariamente encostou na dele. Estava enfraquecido, derrotado, e não consegui esconder.
– Zeca, não fica assustada. Ele não vai fazer mal a você.
– Te mandei calar essa boca. Daqui a pouco tu leva uma porrada daquelas! É o que está querendo, Xaninha? – falou, virando o rosto para Rai.
A voz alta no meu ouvido me fez apertar os olhos, e me mantive assim, ainda cabisbaixo pelo pescoço que pendia sem forças. Ele afrouxou um pouco os braços. Eu estava já com dificuldade de respirar; talvez tenha notado.
– Vou te soltar, tá bom? Vai ficar mansinha pro papai?
Sua voz continuava amável, tranqüilizadora. Abri os olhos e confirmei com a cabeça. Ele fez com que meus pés novamente se apoiassem no chão, vagarosamente. No mesmo ritmo, afrouxou mais os braços, sem porém deixar que me enlaçassem.
– Posso confiar em você, minha dengosa? Posso?
Fiz de novo que sim, e ele retirou os braços. Ouvi, baixo, um respirar de alívio de Rai. Mais do que eu, ele sabia quem era Rômulo.
Permaneci como ele me pôs, de pé, na frente dele. Estava ainda cabisbaixo, inferiorizado sem sequer compreender o porquê de ele ter feito assim comigo, mas não chorei. Acariciava meus quadris, minha barriga. Baixou a calcinha com cuidado, e eu ajudei que me desnudasse por completo, levantando os pés para que ele se livrasse da calcinha, lançando-a para o lado, largada no chão mesmo. Voltou às carícias com as mãos, agora uma rodeando delicadamente meu botão, e a outra a pele lisa do meu púbis.
Estava sendo cuidadoso, não mais nem um pouco agressivo. A marca do cacete teso continuava sobressaindo no tecido da calça. Quando sua mão baixou ao meu pau, numa leveza de quem tocaria numa preciosidade, tomei coragem de acompanhá-la com os olhos. O pênis estava ainda embutido, apenas com uma parte da cabeça fora do corpo. Era incrível ver aquilo, e fiquei um pouco alarmado. Rômulo olhava com satisfação, até enternecido. Aos poucos, a cabecinha foi saindo, e o resto vagarosamente reapareceu. Acarinhava meu saco, agora solto, sem a calcinha.
– Ninguém aqui vai te fazer mal – reafirmou mais uma vez, bem baixinho, me olhando.
Virou-se para Rai:
– Ela gosta de mamar? Mama bem?
– Adora. Pelo menos, adorava. Imagino que ainda mais o seu pau, que é melhor do que o meu.
– E você tem pau desde quando, vadia?
– Desculpa, Rômulo.
– Traz o pote aqui – mandou, enquanto me puxava com delicadeza para o sofá, sem mais resistência.
Rai titubeou.
– Anda, mulher! Vai ficar de chilique também? Não vou fazer nela! Não sou doido. É só para ajudar. Quero testar esse grelinho pra ver se é mesmo como você disse.
Rai foi até um aparador e troxe um pequeno pote redondo, de prata também, como o do óleo, só que redondo, maior, meio achatado. Não entendia coisa alguma, nem o que eles faziam, nem do que falavam. Estávamos junto ao sofá, ambos ainda em pé.
– Fica de quatro.
Rômulo me deu a ordem com voz firme, logo em seguida pegando o pote da mão de Rai. Quando me olhou de novo, eu não continha mais a expressão de choro, sem conseguir me mover. Levei uma bofetada. Não foi tão forte, mas doeu.
– Acorda, moleque! Pára de cena! Não vou te meter. Já te disse que não vou te fazer mal – voltou-se para Rai. – Essa porra só não nasceu mulher por acidente mesmo; é tão linda quanto burra!
Não esperei que mandasse de novo e me pus de quatro, junto à beira do sofá, como ele indicava. Ele abriu a calça, e o acompanhei baixá-la junto com a cueca. O cacete duro saltou e diante de mim apareceu também um saco grande e com aparência pesada; o conjunto todo com muitos pelos. Mesmo com a ereção, a cabeça estava parcialmente coberta pela pele em abundância. Dava uma aparência suculento ao membro.
Sentou-se e me indicou com a mão para que eu me aproximasse. Que eu pusesse na boca. Eu não queria chupá-lo. Não queria fazer sexo com aquele homem.
– Mais pra cá. Empina a bundinha. Abre mais as pernas. Deixa tua buceta livre – mandou, enquanto eu sentia o gelado da prata apoiar-se em minhas costas.
Sobreveio uma leve pressão, como se ele mexesse no pote e tirasse algo dele, como se arrastasse os dedos em algo que não fazia barulho. Eu estava com o rosto entre suas pernas. Havia um leve odor de urina, sutil, mas o caralho emanava mais fortemente o cheiro acre resultante de um dia inteiro abafado, sem poder transpirar. Não é o cheiro que gosto; era aquele que chamam de “cheiro de macho”, acho eu. Pensei em Rodrigo e em seu aroma natural, que me inebriava. Aquilo sim era cheiro de macho, não o fedor desse cinquentão filho da puta.
Tocou em meus cabelos, acariciando com muita calma. Fui aprendendo que, se eu ficasse manso, ele se acalmava também. Tomei coragem e agasalhei o membro com a boca. Ele suspirou.
– Boquinha quente – disse, não sei se para mim ou para Rai.
Sentia seus dedos no meu botão. Deslizavam suavemente, com a ação de algum lubrificante, que imaginei fosse o que havia tirado do pote de prata. Ficou contornando vagarosamente, com muito cuidado. Lembrei de Otávio. Tive saudades daquela madrugada em que foi tão doce comigo ao voltar da balada.
Rômulo mantinha os toques suaves, sem pressa, sem pressionar, apenas rodeando minhas bordinhas. Parecia mais preocupado em me estimular do que em explorá-lo para seu próprio prazer.
– Antigamente atrapalhava ela. Ela reclamava quando eu queria pôr a mão. Não sei agora – Rai disse, se aproximando, como se respondesse a Rômulo, que imaginei ter indicado algo por gestos.
– Ela tem uma boca gostosa... Zequinha, quer que Rai brinque com teu grelinho?
Eu fiz que não com a cabeça, sem tirar aquele cacete macio da boca. Não gostava do cheiro e os pelos não aparados me atrapalhavam, mas não era ruim sentir aquela massa toda na boca. Era bom.
Tirei para olhá-lo, e a cabeça agora estava descoberta. Era muito vermelha, grande, rombuda. Devia ter feito um estrago em Rai, nas primeiras vezes. Eu estava acostumado com a grossura de Otávio, mas mesmo assim temi, caso Rômulo acabasse me enrabando. Otávio tinha o cacete todo grosso, e a cabeça acompanhava mais ou menos o mesmo diâmetro. Mas tinha aquela curvatura natural, ligeiramente menos grossa na ponta, junto à uretra, e aumentando até a coroa. O caralho que tinha agora frente a mim não: a cabeça lembrava até um quadrado, quase não tinha curvatura: era larga mesmo na ponta.
Ele parecia especialista em dedar. Sabia como fazer; com certeza, sabia. Rai devia passar bem com aquele macho. O cuzinho era explorado com cuidado, como se ele soubesse a localização exata de cada nervo, de cada ponto que me fosse mais sensível. Muito aos poucos, começou movimentos de entrada. Mas com muita calma mesmo.
A textura do lubrificante era muito suave, quase inexistente; eu precisava saber depois que marca era aquela. Não parecia gelatinosa, grudenta, nem mesmo líquida. Seus dedos escorregavam tranquilos pela minha pele, sem atrito nem aderência. Aquilo estava bom demais, e quanto mais ele fazia mais eu empinava minha bundinha, mais procurava expor meu botão e com mais gosto mamava. Não, aquele homem não me atraía, mas não podia negar que ele estava sabendo como me agradar.
– É abertinha, mas ainda não fizeram uma buceta nela – disse para Raí, depois que penetrou três dedos de uma só vez, porém com cuidado, vagarosamente, e os manteve lá.
Ficou assim um bom tempo. Logo no início, meu esfíncter tinha se contraído involuntariamente. Foi gostoso, e agora eu repetia de quando em vez, pressionando seus dedos e sentindo-os melhor. Ele não parecia ter a menor pressa de tirá-los. Eu estava adorando a sensação, enquanto tinha na boca aquela pica de coroa experiente.
– Ela se preparou para vir. Você mentiu que eu meteria, Xaninha?
– Não, não disse nada. Ela nem sabia de você. Só contei aqui.
Ele riu.
– Então essa burrinha achou que você ía comer ela...
Rai acompanhou o riso. Eu não me importei. Estava embriagado pela ação daqueles dedos, pelo caralho macio que aquele macho tinha me dado. Ele me deixou curtir um pouco mais, até que tirou os dedos vagarosamente e tocou em minhas costas, me indicando que saísse da posição. Quando levantava meu tronco, o vi levando os dedos ao nariz.
– Perfumada, inclusive. Mas que putinha... – sorriu, olhando para Rai.
Depois, inclinou-se e, para minha surpresa, meteu a mão entre minhas pernas e agarrou meu pau e meu saco, envolvendo-os com a mão.
– Tem razão. É broxa. Puta que pariu... Um tesãozinho desses e ainda broxinha...
Nunca vi alguém tão excitado pela falta de ereção do outro. Nem Rodrigo, que vivia me sacaneando por isso. Velho maluco.
– Não funciona. Broxa, broxa... Novinho assim, é porque é do caráter dela mesmo. Nasceu pra ser broxa; pra dar o cu só. Está vendo, Rai? É assim! É assim que tem que ser.
– Eu sei, meu querido, mas é que...
– Você vai chegar lá – interrompeu, mas com um tom que julguei tolerante. – Com disciplina, você vai chegar lá. Já está bem melhor, Xaninha. Falei pra você que te daria jeito.
De novo, não entendi bem do que falavam. Fui percebendo que o tom de Rômulo não era bem de compreensão, nem tinha a agressividade das outras vezes. Tinha algo de professoral, como se viesse ensinando Rai. Como se estivesse mesmo se referindo a um processo de aprendizagem, no qual Rai era o aluno e ele o professor. “Treinamento”, seria este o termo certo, e eu chegaria a essa conclusão logo depois, com a palavra saída pela boca deles mesmos.
– Zequinha, agora sai daqui.
Levantou-se com o pote na mão, e compreendi que era para eu lhe dar passagem. Deixou a calça e a cueca caírem e livrou-se delas sobre o tapete. Com aquele cacete delicioso em riste, foi até a mesa e sentou-se numa cadeira.
– Xana, tua amiga me deu vontade – e deu uns tapinhas numa das coxas, chamando Rai.
Eu fiquei ali nu, ajoelhado no tapete, acompanhando os movimentos, sem saber bem o que fazer. Rai sorriu para ele, aproximando-se, mas parou e foi sensualmente baixando a calcinha. Havia um clima de tesão no ar,eu o sentia muito forte. Mas, sinceramente, não conseguia ignorar o grotesco que via na imagem daquele garotão musculoso rebolando enquanto tirava aquela pecinha preta rendada em vermelho.
Então, como se não bastasse tudo o que já tinha visto àquela noite, me espantei com o pau de Rai, agora revelado: estava envolto por uma pequena peça de metal, gradeada, como se estivesse preso. E estava preso.
– Nunca viu, Zequinha? – ele me perguntou, sorrindo.
Não respondi. Devia estar franzindo as sobrancelhas, intrigado como estava. Que porra era aquela?
Rômulo também sorriu e indicou que Rai se aproximasse de mim. Chegou bem perto, com o pau gradeado bem próximo do meu rosto.
– Pode tocar, Zequinha. Mas sem entusiasmo, porque ainda estou sendo treinada. Não sou ainda como você.
Seu pênis parecia um pouco pressionado, mas se acomodava perfeitamente na pequena estrutura metálica. Estava menor do que eu me lembrava; imaginei que aquela coisa o pressionasse para dentro. Seu saco estava ligeiramente estufado. Percebi que a estrutura era conectada a um anel que envolvia todo o saco, que por isso estava assim. Na parte de cima, um cadeado impedia a retirada da peça.
– É uma gaiolinha. Assim que chama.
– Gaiola de castidade – completou Rômulo, da cadeira.
– Pra que que serve? – perguntei, ainda admirado.
– Pra não atrapalhar... – disse, enquanto eu timidamente tocava e sentia o gelado do metal. Espalmei levemente por baixo, para tentar avaliar o peso. Não muito grande, mas ligeiramente pesada. Impossível esquecê-la, se não contida numa cueca. Ou calcinha, que era a roupa íntima de Rai em tempo integral.
– Agora vem cá, Rai, pra eu te meter logo a mão.
Eu me assustei, ainda por cima porque Rômulo deu aquele aviso sem qualquer hostilidade. Espancá-lo fazia parte da rotina deles? Rômulo iria meter-lhe a mão assim, sem mais nem menos, na minha frente, após parecer ter se acalmado?
Rai seguiu até ele, pôs ao seu lado e então deitou sobre suas coxas, apoiando as mãos na mesa. Abriu as pernas. Rômulo pegou um pouco do lubrificante no pote e ía em direção a sua bunda, mas parou o movimento. Olhou para mim.
– Vem cá, Zequinha – mandou, mas amavelmente.
Obedeci. Agachei ao lado, como me mandou com um gesto. Afastou bem as duas bandas da bunda de Rai, expondo o cu. Eu me lembrava que ele era bem peludinho ali. Mas agora, assim como o meu, estava liso como o de um bebê. Só que destruído.
– Esta vendo os lábios dela? É a xana da minha Xaninha. A buceta que fiz nela.
Eu estava espantado. Se fosse comigo, eu já teria procurado um médico há muito tempo. Não era bonito.
– Fica sempre assim?
– Não. É porque hoje já fistei ela. De manhã, antes de sair.
– Ele gosta toda hora – murmurou Rai. – Tem da gordura em tudo que é canto da casa.
Sorriu, esforçando-se para virar o rosto para mim.
– Fistou? – eu quis confirmar.
– Não sabe o que é?
– Sei – eu respondi, disfarçando que engolia em seco.
– Vou te mostrar – disse Rômulo, enquanto roçava os dedos uns nos outros, espalhando o tal lubrificante. – Vi que nunca fizeram em você. Quer ver como é?
Eu não soube o que responder; até porque não tinha escolha, já que ele tinha me botado ali ao lado. Havia curiosidade, mas ao mesmo tempo achava muito bizarro. Tinha visto em algumas fotos, um vídeo, mas tinha me dado aflição.
Ele aproximou mais o pote e lambuzou os dedos com mais do lubrificante. Parecia uma pasta, branca.
– Que lubrificante é esse?
– Não é lubrificante, burrinha. É crisco. Gordura vegetal. Crisco é como os gringos chamam; é uma marca.
– Não tem cheiro?
Levou os dedos até meu nariz.
– Pode lamber, pra ver o gosto.
Era um sabor quase imperceptível, um pouquinho de nada salgadinho. O odor também era muito leve, quase inexistente.
– Já está pensando no macho te fazendo um cunete, né, sua putinha?
Achei que deveria sorrir, mas ainda não estava acostumado com os modos dele. Rodrigo me falava muita putaria, às vezes era grosseiro, ofensivo mesmo. Mas era durante as trepadas. Mesmo muitas vezes exagerando, eu relevava porque faziam parte do clima de depravação que ele gostava de criar quando me fudia. Era fantasia; putaria pura. Mas, assim, numa simples conversa, me incomodava.
– Parece um lubrificante muito bom. Onde compra isso?
– É a melhor coisa que tem. Depois da porra, lógico.
– Onde que compra? – insisti, enquanto ele já metia os dedos no cu todo inchado de Rai.
– Supermercado. Qualquer um.
– Supermercado?
– É, anta. Não é nada demais. Cozinheira usa. Você vive comendo e não sabe. Põem em bolo, doces, comida mesmo. Mas é melhor no cu do que na barriga. Essa porra não é saudável pra comer. Só pra fuder.
Ele parecia girar os dedos dentro de Rai, que permanecia quieto, embora às vezes soltasse um suspiro, um gemido. Mas não parecia de dor. Volta e meia, Rômulo pegava mais do pote, cada vez em quantidades maiores. Num certo momento, passou a mão toda, envolvendo-a com a gordura. Não demorou muito para que, espantado, eu visse aquela mão lubrificada sumir inteira dentro do corpo de Rai.
– Chega mais. Está vendo? Já está passando do pulso.
Olhei para meu amigo. Ao que ele não se sujeitava por aquele coroa! Mas não: ele repousava docemente a cabeça numa das mãos apoiada na mesa. Sua expressão não era de dor. Parecia estar em êxtase, como que drogado, os olhos semicerrados como se estivesse em outro mundo. Rômulo tinha a expressão concentrada, mas também parecia se deliciar com as sensações que sentia.
– Está vendo? Olha que buceta linda – disse, arrancando a mão repentinamente e me mostrando o cu de Rai aberto, escancarado, as bordas irreconhecíveis de inchadas.
Logo se fechou, e ele enfiou de novo, sem aviso. Temi por Rai, mas ele apenas mexeu um pouco o corpo e soltou um novo suspiro.
Rômulo movimentava-se dentro dele. Às vezes, entrando mais e quase saindo; às vezes, como se rotacionasse. Outras vezes, sorria para mim, compenetrado, e eu deduzia que fazia movimentos lá dentro mesmo, talvez com os dedos, talvez acariciando as entranhas de Rai. De repente, tirava com força, como se quisesse ver sair as tripas de Rai. E era possível, com a impressionante abertura anal que se seguia, ver exposto o vermelho da carne lá dentro.
Ficaram muito tempo assim. Eu observava, intrigado, assustado, admirado, numa experiência muito estranha para mim. Ao fim, sem muito aviso, Rômulo tirou a mão toda com calma e deu um tapinha na bunda. Rai levantou-se, cambaleante.
Não parecia mal; era como se tivesse acabado de acordar de um sono profundo. Seu rosto estava ligeiramente inchado, mas não estava feio. Pasmo, eu constatava que o que via nele era resultado de prazer. Ele sentia prazer em ser fudido daquele jeito, por um braço!
– Cadê as toalhas?
– Desculpe... – murmurou, baixinho, ainda meio em transe. – Acho que eu...
– Zeca, pega as toalhas. Estou todo lambrecado – e me mostrou a mão, esbranquiçada pela gordura vegetal.
Eu me levantei, sentinela, pronto para atendê-lo.
– Mas... Onde...
– Na mesinha. Aquele grande, quadrado, de prata também.
Entreguei-lhe as toalhas descartáveis e ele se limpou. Depois, puxou Rai, que se restabelecia de pé ao seu lado, e o virou de costas. Passou um chumaço daquele papel no cu fistado, até com um vigor exagerado. Não estava sendo delicado com a bunda de Rai como havia sido com a minha.
Jogou de qualquer maneira as toalhas engorduradas, que se juntou às outras espalhadas pelo chão. Continuava sentado na mesma cadeira. Olhou para mim. Depois, para o meio de suas pernas abertas.
– Anda, mama mais.
Obedeci e abocanhei seu cacete novamente. Estava a meia-bomba, e por isso pude sentir mais ainda a maciez que aquela pele toda proporcionava ao membro. Não demorou muito a endurecer, e então ele me afastou. Vi então que havia uma pequena poça no chão, umas gotas espalhadas. A cadeira tinha uma marca úmida de denotava que o líquido escorrera dali.
– Ele mijou – Rômulo explicou, sem que eu precisasse perguntar, enquanto se levantava. – É comum, quando a puta fica relaxada assim.
Rai sorriu, como se agradecesse.
– Por isso não fiz no sofá. Entendeu agora porque viemos pra cá? – e inclinou-se para apertar meu queixo, como se brincasse comigo, usando aquela mesma mão que acabara de sair de dentro de Rai.
Tirou a camisa, que já havia desabotoado ao se sentar, e deixou-a largada ali no chão, junto a todo o resto. Mais tarde, antes de jantarmos, eu veria Rai, novamente de calcinha, catar toda aquela bagunça, enquanto o macho tomava um banho. Eu o ajudei, e estava de novo com aquela calcinha ridícula, porque Rômulo assim tinha determinado e eu estava vulnerável demais para me opor.
Depois de brincar com meu queixo, Rômulo pegou nos quadris de Rai. Ele ainda não estava totalmente desperto, mas não pareceu surpreso com o gesto brusco. Ficou de quatro, obediente. E, ali, na minha frente, Rômulo montou nele sem qualquer palavra. E, igualmente sem qualquer cuidado, cravou-lhe o caralho no seu cu esgarçado. Meteu com estupidez, com violência, enquanto Rai gemia alto. Era de prazer. Seu pau, engaiolado, parecia ter uma ereção reprimida, provavelmente dolorosa. Mas eu não podia ter certeza se estava mesmo duro ou não, porque o peso da gaiola o fazia balançar energicamente, para frente e para trás, quase batendo em sua barriga.
– Buceta pronta é buceta fudida – disse para mim, enquanto marretava sem piedade.
Não demorou a gozar, o que fez em silêncio, com o rosto para o alto, quase sem movimentar os quadris, como se compenetrado em injetar o sêmen. Quando finalmente tirou, Rai deu meia volta e começou a lamber o cacete cheio de porra e, provavelmente, também de gordura. Limpou direitinho, com sofreguidão, mas cuidando para não deixar qualquer vestígio.
Bem mais tarde, no quarto dele, já deitados, perguntei que história era aquela que havia dito, de que Rômulo o fistava a toda hora.
– Como é que você faz? Porque... Assim... Você não acaba sujando tudo? Ou ele não se importa?
Então me explicou que não era bem assim, que havia uma certa disciplina, embora ele nunca soubesse exatamente quando e em qual parte da casa seria fistado pelo macho. Mas que era uma prática que fazia parte da rotina. Tal como eu, por causa de Rodrigo e Otávio, ele fazia a higiene íntima constantemente, mais de uma vez ao dia, para estar sempre pronto. Imaginei que fosse de uma maneira mais radical do que a minha, mas não quis entrar nesses detalhes.
– E eu tenho o acompanhamento de uma nutricionista. Não como qualquer coisa; quando alguma coisa está errada, ela muda minha dieta... Esse homem é um deus pra mim, Zeca... Paga nutricionista, a academia, depiladora, esteticista, bronzeamento artificial, manicure, o plano de saúde, as roupas maneiras... Faz tudo por mim.
– Ou por ele, né?
Ele apenas sorriu. Sua vida era dar prazer a Rômulo, fazer-lhe as vontades. E ele parecia feliz.
– Essa gaiola... Você não tira nunca?
– Ele abre pra mim uma vez por semana, pra eu fazer uma higiene mais completa. Nos outros dias eu fico um pouco de molho na banheira. Fica limpinho, sim.
U – Só ele que pode abrir?
– A chave fica com ele.
– Mas não te incomoda?
– Só no início. Já acostumei. É que você não precisa; é broxa. E você nem pensava em se tocar quando eu te comia. Ainda é assim quando te usam?
Fiz que sim.
– Por isso que está estranhando. Não tem nada a ver com você. Você não precisa, gata. Mas eu ainda não sou assim. Tenho que usar, pra me educar.
– Você está usando há muito tempo?
– Faz um ano no fim do mês que vem. Dia 28. Sinto que estou broxando aos poucos. Não é mais como era. Acho até que está diminuindo. Deus queira.
Fiquei em silêncio.
– Eu não saberia mais viver sem usar. Quando ele tira a gaiola, Zeca, me sinto incompleta; não sou mais eu.
Já tínhamos apagado a luz quando ele me chamou, baixinho. Ainda não tinha dado tempo para adormecermos.
– O que?
– Olha, não fica chateada não, viu? Ele adorou você; te achou linda. Linda mesmo. E não é de mentir nessas coisas. Ficou com tesão. Teu grelo... Te achou perfeita. Ele só não te comeu para me proteger. Ele cuida de mim.
– Pra te proteger?
– Nós duas não nos vemos há muitos anos... Não leva a mal não, viu? Nada pessoal. Mas, assim, quando a gente não sabe da vida da pessoa...
– Não entendi.
– Se ele alternasse nas bucetas de nós duas, podia me pôr em risco. Por isso é que não te meteu. Mas não fica chateada, não. É que ele se preocupa muito, muito mesmo, com a minha saúde. Outro dia a gente combina melhor e ele te come, tá?
Eu apenas fiz rã-rã, quase sorrindo no escuro, com aquela iniciativa de Rai, como se sentisse na necessidade de me consolar. Não, eu não queria que Rômulo me comesse. E, agora, passado o clima, nem tinha vontade de mamá-lo de novo.
Aquele universo dos dois não era o meu, e não queria viver nele. Eu não me identificava sendo chamado no feminino; não queria ter uma buceta. Não tinha tesão em fisting; não me encantava usar calcinhas; não queria ser tratado daquele jeito pelo homem que eu amasse. Não lamentei por Rai; cada um escolhe seu caminho. Ele escolheu o dele. Mas não era o meu.
No dia seguinte, sufocado pelo teatro que vivia na casa dos meus pais, e até também para evitar ter de recusar algum possível convite de Rai, inventei uma desculpa, arrumei a mochila em dois tempos e me mandei para a rodoviária, sem nem saber o horário de partida do ônibus. Mofei quase duas horas lá, mas me senti em liberdade quando o motor foi ligado e parti. Não queria aquele clima dos meus pais; não queria aquele clima de Rai e Rômulo.
Mas a experiência daquela noite havia mudado alguma coisa em mim. Não escondia que o cacete de Rômulo tinha acabado me dando tesão, que ele também me excitara ao me perfilar para ser avaliado, que eu tivera reações que não esperava. Mal ou bem, havia encontrado umas putarias gostosas naquilo tudo. Lá no fundo, percebia que até havia uma ponta de inveja de Rai, embora não quisesse ser como ele, não quisesse aquela vida para mim. Não entendia bem, e pensei nisso durante todo o tempo de espera na rodoviária e ainda nas duas horas da viagem de volta.
Refleti muito. Considerei até a hipótese de que eu estivesse me reprimindo. Moralismo, preconceito, medo do desconhecido, estranheza pelo diferente: levei em conta todas essas alternativas. Mas não era nada disso. Estava sendo honesto comigo mesmo quando não me identificava com o que tinha presenciado. Não sentia vontade de repetir nada; as lembranças não me excitavam, mesmo do que tinha me dado tesão na hora.
Mesmo assim, havia alguma coisa que me marcara, que me atraía. Alguma coisa me fez confortável em meio àquela palhaçada toda. Só não sabia ainda bem o que. E suspeitava que, mesmo sem que eu lhe contasse nada, talvez Marcelo, e só ele, pudesse me ajudar a saber.
...
[continua]
[PS: Abaixo, pus umas respostas aos comentários que os leitores fizeram às últimas partes publicadas da história]