Addan precisaria de ajuda para tirá-lo dali. Talvez pudesse fazer com que ele... não, provavelmente ele não ofereceria o tipo de ajuda de que Addan precisava, dado o maldito trabalho de lavagem mental que lhe tinham imposto.
Inferno... ele teria de voltar para buscá-lo e sabia quem traria consigo. Tinha amigos na polícia, amigos que estariam dispostos a deixar o crachá na gaveta e manter a arma na cintura. Amigos que poderiam cuidar de uma complicada cena de crime; que cuidariam de Fletcher enquanto ele cuidava de Michael.
Sim, ele voltaria para buscá-lo.
– Não – disse Michael. – Tu não te lembrarás de nada. Não poderás voltar. Uma onda de fúria alagou Addan. O fato de ele obviamente poder ler sua mente não a enfurecia tanto quanto a ideia de que ele pudesse evitar que Addan o ajudasse... embora fizesse aquilo movido pelo desejo de protegê-lo.
– Por mil demônios, eu me lembrarei.
– Apagarei tuas lembranças...
– Não, não apagará – disse, colocando as mãos nos quadris. – Não apagará porque vai jurar, por sua honra, aqui e neste momento, que não vai.
Addan soube que tinha vencido porque pressentia que ele não podia negar-lhe nada. E eleconfiava plenamente no fato de que, se ele lhe prometesse não apagar suas lembranças, cumpriria a promessa até o fim.
– Jure – ainda calado, Michael afastou os cabelos molhados do rosto. – Isso precisa acabar. É errado por vários motivos e desta vez sua mãe escolheu mal o garoto para trancafiar neste lugar com você. Você vai sair daqui e serei eu quem vai tirá-lo.
O sorriso que Michael lhe dedicou era melancólico, uma levíssima elevação do canto da boca.
– Tu és um lutador.
– Sim. Sempre. E algumas vezes valho por um exército completo, agora, me dê sua palavra. Michael caminhou pelo quarto com um sentimento de desejo e saudade estampado em sua expressão. Olhava fixamente como se estivesse tentando ver, pelas paredes de pedra, a terra e o céu que lhe haviam sido arrebatados.
– Não sinto o ar fresco há... muito... tempo.
– Deixe-me ajudá-lo. Dê-me sua palavra. Ele olhou para Addan. Tinha olhos bondosos, inteligentes e cálidos. O tipo de olhos que Addan desejaria que um amante tivesse.
Ele tentou voltar para a realidade: ser seu “bom samaritano ” não incluía dormir com ele. Embora... que noite não seria! O enorme corpo dele sem dúvida era capaz de... Basta.
– Michael? Sua palavra, agora. - Ele baixou a cabeça.
– Prometo.
– O quê? Promete o quê? – o advogado que havia em Addan precisava escutar algo mais
específico.
– Que deixar-te intacto.
– Não é bom o suficiente. ‘Intacto’ poderia significar física ou mentalmente. Diga: “Addan, não vou apagar as lembranças de mim ou desta experiência ”.
– Adda... que nome mais lindo.
– Não fuja do assunto. E olhe nos meus olhos enquanto fala. Depois de um momento, os olhos de Michael ergueram-se até os de Addan e ele não piscou nem desviou o olhar.
– Addan, não vou apagar as lembranças de mim ou desta experiência.
– Bom. - Addan foi para a cama e estendeu-se sobre o edredom de veludo. Enquanto arrumava as lapelas do roupão, ele afundou-se em uma cadeira.
– Parece exausto – ele disse. – Por que não vem se deitar aqui? Esta cama é grande o bastante para nós dois.Ele apoiou os braços sobre as coxas.
– Isso não seria apropriado.
– Por quê? - Todas as velas diminuíram a luz vagarosamente.
– Dorme. - Mais tarde irei até ti.
– Michael? Michael? - Repentinamente, uma onda de exaustão a inundou. Enquanto tudo escurecia, Addan teve um fugaz pensamento de que ele havia lhe imposto sua vontade.
Addan despertou em meio a uma escuridão total, com a sensação de que ele se erguia sobre Addan, Ele estava na cama, como se a tivessem colocado entre os lençóis.
– Michael? – quando ele não respondeu, perguntou-lhe: – É hora de lhe...?
– Ainda não. - Ele não disse nada mais, tampouco se moveu, o que a fez sussurrar:
– O que aconteceu?
– Estavas falando sério?
– Sobre tirá-lo daqui?
– Não. - Quando me pediste para que eu... para que eu me deitasse junto a ti?
– Sim. - Addan ouviu quando ele respirou profundamente.
– Então... posso acompanhar-te?
– Sim. - Addan afastou os lençóis, abrindo espaço enquanto o colchão afundava-se sob o enorme peso dele. Todavia, em vez de deitar-se embaixo deles, Michael permaneceu sobre o edredom.
– Não está com frio? – perguntou-lhe.
– Cubra-se.- A hesitação não o surpreendeu. O fato de que ele levantasse os lençóis, sim.
– Ficarei com o roupão. - A cama oscilou quando ele se mexeu e o som das correntes causou um calafrio em Addan, fazendo-o se lembrar de que ambos estavam presos. Logo, porém, ele sentiu o cheiro dele e pôde apenas pensar em abraçá-lo. Aproximou-se e tocou-lhe o braço. Quando Michael moveu- se bruscamente antes de se tranquilizar, Addan deu-se conta de que tinha decidido ficar com ele.
– Tu tiveste muitos amantes? – perguntou ele.
Então ele sabia que Addan o desejava. E Addan tinha a sensação de que ele se aproximara porque também sentia o mesmo. De qualquer forma, ele não estava seguro para responder àquela pergunta sem fazê-lo se sentir inseguro.
– Tiveste? – insistiu.
– Alguns, não muitos – Addan sempre tinha se interessado mais em ganhar em uma mesa de negociações do que em sexo.
– E tua primeira vez? Como foi?Estavas com medo?
– Não.
– Ah.
– Queria terminar logo, tinha vinte e três anos... comecei tarde.
– E isso é tarde? – ele murmurou. – Que idade tens agora?
– Trinta e dois.
– Quantos homens tiveste? – agora o tom de voz era uma demanda masculina, uma agitação. E Addan gostava de como aquilo contrastava com sua gentileza essencial.
– Só três.
– E eles te... agradaram?
– Às vezes.
– Quando foi a última vez? – as palavras foram pronunciadas rapidamente e em voz baixa.
Michael estava com ciúmes, o que não deveria tê-lo agradado tanto quanto o agradou. Addan queria que ele fosse possessivo e queria isso porque o desejava.
– Há um ano. - Ele exalou como se se sentisse aliviado e, no silêncio que se seguiu, Addan mostrou-se curioso.
– E quando foi a última vez que você se... aliviou? - Ele limpou a garganta e Addan estava absolutamente seguro de que seu belo rosto masculino ruborizou.
– Durante o banho.
– Agora? – perguntou surpreendido.
– Há horas, ao menos, parece – tossiu um pouco. – Depois de beber de ti.
Bem, enquanto eu estava contigo, senti-me... necessitado. Para resistir, tive de deixar-te e é por isso que não fechei a cicatriz adequadamente. Tinha medo de... tocar-te.
– E se eu quisesse que você me tocasse?
– Não terei relações sexuais contigo. Addan apoiou-se em um cotovelo.
– Acenda uma vela, preciso ver seu rosto enquanto temos essa conversa. As velas cintilaram em ambos os lados da cama. Ele estava deitado de costas, com as pálpebras fechadas e os cabelos vermelhos e negros formando um imenso mar de ondas sobre o travesseiro branco.
– Por que não olha para mim? – perguntou-lhe. – Que inferno, Michael! Olhe para mim.
– Olho-te o tempo todo. Quando as luzes estão apagadas, fico observando-te. Olho-te fixamente.
– Então, abra os olhos agora.
– Não posso.
– Por quê?
– Porque dói. - Addan percorreu o braço dele com a mão. Os músculos retesaram, seus bíceps eram grossos e definidos, seus tríceps, bem delineados.
– Não deveria doer quando olha para uma pessoa – disse.
– É muito perto para mim.
Ela permaneceu em silêncio durante um instante.
– Michael, vou te beijar. Agora – quando Addan ouviu a exigência contida em seu próprio tom de voz, acalmou-se um pouco. Não queria forçá-lo. – Isso é, se estiver de acordo. Definitivamente, você pode se negar. Addan, pôde sentir como tremia-lhe o corpo, o sutil estremecimento que era transmitido pelo colchão.
– Quero você. Acho até que vou me afogar de tanto desejo, mas definitivamente você sabe, não é mesmo? Você sabe que é por isso que me aproximei de você.
– Sim, eu sei. - Ele riu suavemente.
– E esse é o motivo pelo qual preciso tanto de ti. Tu vês tudo o que me acontece e não tens medo de mim. És o único homem que pensou em me libertar. - Addan aproximou-se e os ardentes olhos azuis dele voltaram-se para seu rosto.
– Levante a cabeça – pediu-lhe. Quando ele atendeu, Addan estendeu a mão e libertou-lhe os cabelos da pequena fita de couro. Estendendo-lhes completamente, maravilhou-se com a beleza, o peso e as cores incríveis. Depois, olhou-o fixamente e começou a abaixar a boca em direção à dele.
Continua....