Boa noite, como já tinha avisado no primeiro capítulo, esse não é o tipo de conto que vai logo na temática do erotismo antes disso a todo uma história... Desde já boa leitura! E por favor, comentem.
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II
As nuvens do céu, e ventos frios e fortes logo pela manhã fizeram Paolo, sair de casa para ajudar sua mãe com as roupas no varão. Lá nas alturas do céu, relâmpagos fortes, estremeciam o firmamento, não era natural. Por aquelas bandas sempre a seca e o sol reinaram num casamento rígido, mas era bom presságio chuva só podia dizer vida, vida para um lugar como aquele era motivo para riso:
- Corre lá Poolo socorre ars galinha tá tudo doida avuando...
- Eita é mesmo, o poleiro também está todo arregaçado, vou ter de concertar se não...
Correu para as galinhas perdidas pegando-as pelo pescoço, e as carregando para dentro do poleiro velho, construído ainda quando seu pai estava por ali. Naquele ano se completaria o décimo aniversario de partida do seu pai, os mantimentos sempre chegavam em casa, agua também, o dinheiro do pai ainda aparecia. Isso queria dizer que ele ainda estava nas escavações, mas não o via, nem ele nem sua velha mãe. Paolo, juntou alguns pedaços de madeira, - bons pedaços que conseguiu da ultima carroça – amarrou tudo e com alguns pregos conseguiu “reformar” o poleiro, para a chuva eminente.
- Eh chuva! – gritou a mãe quando os primeiro pingos começaram a cair.
À tarde do dia já se encostava da noite, deixando a escuridão dominar tudo. Dentro de casa, os assovios do vento assustavam mãe e filho. O fogareiro ligado, fervendo uma sopinha rala, aquecia os dois, aquele frio para eles era totalmente desconhecido. Paolo, não se lembrava em toda sua vida de um dia ter contemplado a chuva, que cheiro era aquele? Perguntava-se, nunca o havia sentido, perfume dos mais saborosos. Teve ensejo de sair, chegou a abrir a rangedora porta quando percebeu um vulto correr a frente da porta.
- Tem alguém lá fora! – assustou-se ao constatar.
- Quem será? Algum desses negros vagabundo, bêbados.
- Não, o vulto era grande... eu vou lá – Paolo tomou da espingarda velha do pai.
- Vai canto nenhum, olha teu tamanho moleque...
- Sou homem já mãe! Tenho idade...
- Idade no sertão é documento nenhum, tu não tem tamanho de macho feito, é gasguito, paciência.
Paolo fingiu não ouvir, e insistiu em sair na chuva com a espingarda numa das mãos, olhou para os lados mas o breu o permitia enxergar nada. As suas costas, a mãe apareceu com uma vela na mão:
- Saí dai menino doido, tu não guenta com nada e essa arma veia menos ainda.
- Entra mãe... Deixa que resolvo – Paolo deu mais dois passos para fora. Sentindo a agua cobri-lhe todo, era uma sensação incomoda por ser nova.
- Tá frio como diabo aqui, volta seu moleque tinhoso! - reclamou sua mãe.
Paolo mais uma vez se negou, seguindo para o poleiro de onde vinha movimentação suspeita, suas pernas tremiam, e seus lábios também. Um clarão se iluminou em suas costas, muito acima de sua cabeça. Paolo olhou para cima, e lá estava um rosto conhecido em cima de um cavalo também amigo, sorriu mesmo sem poder ser visto pelo outro, esse não escondeu a felicidade em vê-lo:
- Tá fazendo que nessa chuva Novelo? – disse a voz encima do cavalo.
- Vim aqui no poleiro, porque vi um vulto passando pra esses lados.
- Tu vai é se resfriar, entra pra casa, eu olho isso... Essa tão carabina ai não mata nem mosca que dirá homem.
Da porta de casa Paolo viu sua mãe acompanhando tudo, segurou as rédeas do cavalo conhecido. Quando o outro desceu lhe entregando, em cima do dorso do bicho tinha uma trouxa:
- De onde...
- Entra logo Novelinho... Asdispois nois conversa...
Paolo obedeceu, seguindo de volta para casa com o cavalo do lado. Levou o bicho para a área do fundo da casa, onde ficava uma cobertura mais ou menos boa onde dormia os cachorros. Amarrou o cavalo ali mesmo, esse estava agitado por conta dos relampejos no céu:
- Eu também tenho medo meu amigo. Nunca na vida vi esse temporal no Sertão.
Acariciou o bicho, e voltou para dentro de casa respingando agua. A mãe prontamente o ajudou a se secar, ela guardava no rosto um engasgo. Paolo conhecia bem aquela face, e aquele gesto não perguntou nada, esperou que a própria se manifestasse como não disse nada deixou. Foi só quando a porta se abriu mais uma vez, que então ela disse:
- Ocê de novo aqui? Não quero bandido em minha casa não...
- Cuisca né bandido minha mãe, é meu amigo de longa data... Filho do seu compadre finado Bezerra.
- Finado Bezerra tinha é vergonha docê! – gritou a dona da casa.
- Cabou dona Jovelina! Cabou! Vou ficar até o raiá do dia, quando o sol voltar eu saio... – olhou para Paolo – fico só essa noite.
A chuva engrossou um pouco, acentuando-se em finas gotas no momento em que eles reunidos comiam a sopa. Paolo tremia com o frio, e Cuista não tirava os olhos de cima dele, Jovelina comia sem nada dizer. A poucos dias aquele homem estivera ali, o filho brigara com ele, os dois se esmurraram Paolo saiu com o rosto enxado, enquanto o outro montou em seu cavalo e foi embora, agora voltava como se nada houvesse ocorrido.
- Vou-me dormir, e ocê trate de pela primeira hora do dia, deixar minha casa. Boa noite meu fio... – beijou Paolo, e se deitou em sua caminha escondida por uma cortina de retalho.
O tremeluzir das velas ajudadas pelos clarões vindos de fora, lançavam dentro da casa uma luminosidade necessário para ambos verem-se. O rosto de Cuisca era marcado pelas intemperes do Sertão, marcas dos golpes do sol e dos golpes de outros homens, contrastava com Paolo, mais de casa apesar da vida dura na lida sertaneja. Não levava no rosto marca nenhuma, apenas os lábios ressecados:
- E o cangaço?
- Que tem?
- Você sabe isso não é vida Cuisca um dia os macocos pegam vocês e ai? Morrem como morreu o bando de lampião degolado.
- Nois pega eles antes, e de mal a mal, posso bem fugir pro sul... Amanhã nois parte para Alagoas, ocê vai ficar ai só mais dona Jovelina... Pega isso aqui, pra segurança docês.
Cuisca entregou-lhe um embrulho, pelo peso e formato Paolo percebeu logo se tratar de uma arma, desnudou o revolver que brilhou em cor cinza do cano. Paolo a pegou pelo cabo, olhando-a com admiração:
- Essa é a sua... Aquela?
- Sim, presente do rei do cangaço. Minha preferida, ocê sabe... – Cuisca se ergueu, estava sem chapéu e em mangas de camisa.
No pescoço brilhava uma imagem de São Judas Tadeu, santo para ele desconhecido, mas da devoção de Paolo. Os dois aproximaram-se, estavam distante da cortina de Jovelina, Paolo deixou a arma em cima de uma armação de madeira que usavam como mesa, e apagou as velas. Cuisca sentou-se no colchão velho de Paolo, ali naquele pequeno espaço mesmo, Paolo ficou parado olhando para Cuisca e a cortina da mão do outro lado.
- A noite tá fria... Nunca na vida vi coisa igual em Sertão.
Os olhos de Cuisca brilhavam na escuridão, como olhos de cato a refletir os brilhos do céu. Paolo se deitou um pouco perto, mas sem encostar no outro, sabia da sede dos homens do cangaço, mais ainda sabia do orgulho dessas feras do Sertão. Não gozavam de boa fama, defloravam moças, roubavam e matavam quem os incomodasse em seus planos, para outro tipo de gente aqueles era heróis, humildes amigos devastadores sim, mas das fomes.
Cuisca não pensava. Tudo aquilo que por sua mente vinha, ou ele fazia, ou esquecia. Nunca fora de ruminar nada, ideias não eram com ele. Aproximou-se das costas de Paolo, farejando seu pescoço e apertando-lhe a cintura. Pressionou sua cintura contra a do rapaz. Esse tentou como charme se afastar, arfou um “Não” Cuisca sorriu, prendendo-o num firme abraço:
- Novelinho, você esquenta a noite fria.
Os corpos embolaram-se, um por sob o outro. Enquanto os pingos engrossavam lá fora, enquanto os céus cortavam com o rugir de trompetes celestes, raios, trovoes! Num desses clarões, Paolo afastou as mãos de Cuisca, empurrando-o com as costas.
- Não, sou homem igual você não é certo.
- Frescura Novelo, eu gosto docê como gosto das cabrochas dessas fazenda tudo, gosto até mais... Ocê cheira igual elas, tem umas anca igual as dela...
- Mais não só... Sou homem como você, como meu pai, para com isso Cuisca.
- Paro não, ocê gosta que eu sei... – Paolo sente a mordida no seu ombro, e geme baixinho.
Ergue-se irritadiço, e segue para a cortina da mãe. Ali a ela se achega, olhando para onde tinha vindo. Os clarões, por vezes permitem-lhe ver o rosto de Cuisca a observa-lo, em seus lábios um sorrisinho lhe encarava. Jovelina assusta com a presença na cama, e se vira de repente:
- T ´esconjuro menino! Quer me matar de susto...
- Desculpa mãe, lá não tem espaço pra dois...
Os clarões da noite refestelavam-se no céu, mas foram submergidos por clarões ainda mais fortes, portentosos e amarelos. Os primeiros raios do dia iam chegando tomando conta de todos os espaços da pequena casa, o primeiro a receber o clarão era Cuisca pelo lugar onde estava dormindo. Jovelina, porém, foi a primeira a abrir os olhos atenta a tudo, levantou rápido e com a mão no escapulário, se aproximou do homem estranho na sua salinha humilde:
- Ei... já é dia! – avisou.
Barulho de cascos de cavalo, e um som atordoante desconhecido começaram a inquietar Jovelina, esta abriu a porta colocando a mão sob os olhos apurando as vistas. Adiante uma tropa de macacos, policiais em montados e em uma carroça diferente sem cavalos, com rodas iam se aproximando a toda velocidade. Jovelina, empurrou ainda mais forte o corpo dormente de Cuisca, esse se assombrou:
- Dona Jovelina ainda é cedo...
- Os macaco...
Não deu mais tempo de dizer ou fazer nada, quatro homens distintos e estranhos a Jovelina adentraram sua casa, e começaram a disparar uma chuva de balas sob Cuisca, da cama da mãe Paolo assistiu a tudo sem acreditar, pensando ainda está no sonho. Os olhos de Cuisca o fitaram a sorrir não parecia se dá conta da morte.