Otávio estava nervoso, mas não perdeu a linha. De repente, me vi tomado por ele, num beijo saboroso que ele estendia aos braços, que suavemente me mantinham junto ao seu corpo. O cacete ía crescendo até parecer querer atravessar a bermuda e rasgar minha pele. O beijo foi longo, lembrando o primeiro que recebi de Marcelo e que havia mudado a minha vida. Otávio parecia querer compensar naquele todos os outros que havia negado em tantos meses.
Com o rosto sério, mas ameno, me fez deitar no sofá. Em silêncio, reiniciou o beijo, como se fosse o mesmo; como se fosse um único beijo calmo e terno, brevemente interrompido apenas para que ele pudesse deitar-se sobre mim. Vacilei umas duas ou três vezes, mas acabei repousando a mão em sua cabeça. Ele não teve qualquer reação, o que me encorajou a arriscar um leve movimento. Seu cabelo era surpreendentemente macio, apesar dos fios, muito pretos, serem visivelmente grossos. Comecei a acariciá-los, sem que ele estranhasse. Era a primeira vez que eu os tocava, após meses dele fazer sexo comigo.
Seu nervosismo era perceptível, mesmo que sutil. Contrastava com a tranquilidade dos carinhos que fazia com a língua e os lábios. Ao afastar o rosto do meu, foi econômico no movimento, mantendo-o próximo. Encarava-me como se me visse pela primeira vez.
– Puxa... Foi caprichado! – eu disse, quase risonho, tentando amenizar o clima.
Eu não estava entendendo nada. Éramos “parças” ou aquilo era uma declaração de amor? Era para eu agir como? Finalmente, quase num sussurro, falou alguma coisa:
– Era pra eu ter feito da outra vez. Mas vacilei. Era pra eu ter feito isso muitas outras vezes, parça, muitas outras.
– Por que? Por que não...?
– Zeca, meu plano deu todo errado... Foi tudo errado. Não consegui fingir que você era Raquel porra nenhuma.
Olhou-me por alguns segundos.
– Era você, babaca. Era com você que eu tava fudendo.
Fiquei em silêncio.
– Eu posso ser gay, pode ser que eu seja, mas sou muito macho pra fazer as paradas que eu quero fazer.
Pausou novamente. Eu não sabia o que dizer. Otávio não era gay; não havia essa possibilidade. Talvez bi; mas nem isso, eu acho. Refleti que as ideias de Marcelo caíam como uma luva. Talvez ele estivesse mesmo certo.
– Posso demorar, mas eu enfrento minhas paradas.
– Não fica pensando se você é gay ou não. Não tem nada a ver.
Ele bafejou e repousou a cabeça em meu ombro. Parecia mais tranquilo. O cacete, porém, ainda estava bem nervoso dentro da bermuda.
– Eu te dei essa moral; eu não acho que teja corneando a Raquel quando to contigo.
Ficou em silêncio. Achei que seria melhor desviar daquele assunto:
– Você voltou só por minha causa?
– A gente não tem mais como fuder juntos. Nós dois só, quero dizer. E eu...
Parou, como se estivesse avaliando como ordenar as ideias. Não conseguiu:
– Às vezes penso que sou gay, que nem você. Que nem você não, porque não fico galudo por pica. Nem galudo por cara nenhum, Zeca. Sério. A Raquel não sai da minha cabeça. Mas tenho tesão em você; sinto saudade, caralho. Nas férias, lá em casa, me deu saudade; aí a Raquel apareceu, a gente começou a ficar junto e achei que não tinha mais nada a ver eu ficar te comendo. Ela não dá; diz que quer casar virgem. Ela é foda, Zeca; eu to gamadão. Tu vai conhecer ela.
Ele não olhava para mim, falando com a cabeça encostada em meu ombro, onde dava uns beijinhos de vez em quando, afastando o rosto para em seguida novamente descansar nele. Roçava levemente o cacete em meu corpo; suas mãos às vezes acariciando minha cintura, meus cabelos.
– Eu me amarro muito em você, Zeca. Tu é um cara maneiro, muito maneiro, e não quero ser cafa contigo – fez uma pausa. – Você nunca esporrou comigo.
Aquela frase saiu como um pedido de desculpas. Eu sorri:
– Não é contigo. Eu não sou de gozar mesmo nas trepadas.
Levantou o rosto e ía aproximá-lo do meu. Deu uma parada muito breve e retomou o movimento, me dando um selinho. Ficou me olhando.
– Tu é muito estranho.
Eu apenas sorri diante da observação esdrúxula, enquanto simulava arrumar o cabelo que caía sobre sua testa. Se ele o deixasse crescer, certamente ficaria encaracolado, eu acho.
– Tudo é estranho, Zeca.
Reacomodou o corpo, encaixando-se melhor entre minhas pernas. O cacete havia amolecido. Estava apenas a meia-bomba, mas, dada a natureza de suas formas, sua presença não tinha como ser ignorada.
– Agora, por exemplo. Eu não sei se você é... Bro, é um bagulho muito doido, isso. Eu sei que tu é homem, eu te vejo como homem. Gay, mas um cara, um homem, que nem eu; só não é que nem eu porque você é gay e tal. Mas eu mesmo tempo, bro, porra, eu não falo assim com nenhum homem, tá entendendo?
Ficou meio que pensativo. Eu aguardei.
– É uma parada estranha. É cueca, mas, ao mesmo tempo, eu te vejo como garota.
– Garota?
– É, uma mina.
– Otávio, eu não sou...
– Não, não é. Por isso que é bagulho doido. Eu sei que não é. Como to dizendo, tá ligado? Tem gay que a gente vê, lá mesmo na facul tem uns dois assim, numa aula que eu faço, que a gente olha e não vê como homem, não consegue ver como homem. Não vê como garota, mas não vê como homem, tá ligado?
Afastou o tronco um pouco, e aproveitei para testá-lo: acariciei seu tórax por sobre a camiseta. Ele se afastou mas, para minha nova surpresa, desnudou o tronco. Largou a camiseta no chão, ao lado, e se reaproximou. Dada a permissão, acariciei o caminho de pelos que dividia seu peito, tão juvenil. Quantas vezes pensei nisso, e agora o fazia sem que ele repudiasse.
– Saca travesti?
– Travesti?
– Tem travesti, mano, que eu olho e vejo como mulher. Não me dá tesão não, porque tem um piru ali no meio das pernas, e não curto mulher com tromba não. Mas travesti eu vejo como mulher; a maioria delas mesmo.
– E daí? Eu não...
– Com você é confuso, Zeca. Não é que nem os vi... Não é que nem os gays que falei da facul, não é que nem travesti, não é que nem a mulherada. Tá captando?
– Não.
E não mesmo. Ele me via como uma garota, como uma mulher? Eu havia demorado um pouco a entender claramente o que significava o “minha mulher” que algumas vezes Marcelo usava para se referir a mim. Tentou substituir por “meu maridinho”, mas a distração falava mais alto e, no meio de uma conversa, do nada, usava o “minha mulher”. Ele havia explicado; eu até tinha entendido. Racionalmente, estava claro. Mas eu não havia sentido o significado, digamos assim. Aquela expressão me incomodava.
Foi com o tempo que percebi o porquê de falar daquela forma. Não usava durante o sexo; não usava para me caracterizar como mulher, embora eu fosse quem desempenhava a função de fêmea durante o coito, e isso era claro entre nós, sem rodeios. Mas seus atos me valorizavam como homem, como o homem que era dele, e não como um homem que ele via como uma mulher, como um cu disfarçado de buceta.
Não tinha nada a ver com sexo, com identidade sexual. Ou, pelo menos, não diretamente. Eu era a “minha mulher” porque era o homem-não-homem a quem ele amava e, como havia dito, com quem queria “construir as coisas juntos”. E, na evidente hierarquia que havia entre nós, a expressão “minha mulher” era, no fim das contas, a menos ofensiva, a mais delicada, a mais respeitosa que ele havia encontrado para me caracterizar. Melhor do que “café-com-leite”.
Ele era o homem da relação, e eu o não-homem. No contexto dessa nossa relação, “minha mulher” não significava o sexo oposto ao de homem, mas sinônimo de passivo, nos termos da passividade que eu tinha e que ele queria de mim. Tal como ele já havia dito: como marido e “mulher”. Significava “companheiro”, numa relação entre dois homens que faziam sexo e compartilhavam uma conexão amorosa e consensualmente hierarquizada. Esse era o ponto: a demarcação da hierarquia entre nós, a do homem e a do não-homem. E que não era uma questão para discussão. Nem para ele nem para mim. Gostávamos assim.
Enfim, a distração de Marcelo, que provavelmente não era tão distraída assim, não indicava um homem ativo que queria substituir uma mulher por um passivo. Era de um homem ativo, um fudedor, que queria um outro homem, totalmente passivo, um fudido, para ter eternamente como seu companheiro. Mas o confuso universo de Otávio não me parecia ser o mesmo, e ele próprio não parecia ter a menor ideia de qual universo era esse.
Riu brevemente da franqueza do meu “não”. Ía aproximando o rosto, mas parou. E confirmou o que eu acabara de concluir.
– Nem eu to entendendo... Tá vendo, agora? Tu é cueca; eu sei que to conversando com um cara, com macho. Você não come, só dá, mas é macho igual eu. Mas ao mesmo tempo eu agora ia te dar um beijo, tá ligado? Tantas vezes, bro, tantas vezes quis te dar um beijo...!
Fez uma pausa. Eu nunca percebera que ele havia tido aquela vontade. Por alguns segundos, havia suspeitado durante a transa em que achei estar sendo Raquel, mas não levei muito a sério. Seu rosto se iluminou.
– Teve uma vez... Muito tempo, muito tempo, isso... Lá no teu quarto. Eu cheguei da night com uma vontade de te beijar, te abraçar, tá ligado? Trepar com você direito, na moral mesmo. Te abraçar, te ter como minha garota. Você tava dormindo; eu sentei do teu lado e...
– Eu sei do que você tá falando. Você ficou um tempão brincando com meu...
Interrompeu:
– E ainda tem isso. O Rodrigo mesmo me falou que eu ainda não conheço cu; que eu ainda não comi cu.
– Porra, imagina se conhecesse...
– Não é isso; deixa eu te falar. Ele diz... Ele entende disso; já comeu muito cu. Ele diz que to mal acostumado, que quando eu comer um cu de verdade eu vou estranhar – riu. – Ele diz que o teu não é cu.
– Como é que é isso?
– Não, fui eu quem disse – e riu. – Uma vez que você saiu do quarto; eu tinha esporrado pra caralho... Daí falei que você tinha buceta. A gente riu e então ele falou isso.
– Otávio, não viaja. Eu não te...
– Eu sei que não tem. Não to dizendo isso. Não sou maluco. Mas, sei lá, cara, não sei se é porque você deixa lisinho, tá sempre cheirosinho; é úmido, sabe, macio que nem buceta. É que nem você, tá ligado?
– Meu cu é que nem eu?
– É... Assim... Eu sei que é cu, mas eu sinto como buceta. Sei que não é buceta, nem é igual de verdade. Um e outro... Você já comeu buceta?
Fiz que não com a cabeça.
– É, nem cu também, né? Mas se você tivesse comido ía saber; não é igual. E olha que pelo que Rodrigo disse o teu é muito igual; diz que é parecido. Mas não é igual. Mas eu sinto, bro, eu sinto como se fosse ao mesmo tempo que sei que não é. É que nem você. Eu não sinto você como mulher, mas ao mesmo tempo eu sinto.
Fez uma apusa.
– Eu devo ser gay.
– Acho que não.
– Não, Zeca, não tem dessas paradas. Eu não tenho preconceito com gay; tu sabe disso. Não tenho amigo gay, não fico de papo com gays porque pode queimar meu filme com a mulherada, mas não tenho dessas babaquices. Então, se eu for gay, porra, vai virar minha cabeça, mas que eu posso fazer? Sou macho; enfrento. Mas ao mesmo tempo acho que não sou, porque eu quero a Raquel. Não fica puto de eu falar isso, brother.
– Não fico não.
– É que é diferente, tá ligado? Ela eu vejo como mulher, você não. É uma trepada gostosa, te curto pra cacete, mas não te vejo como mulher ao mesmo tempo que vejo. Eu fico pensando... O fim do ano tá chegando, a gente vai se separar. A galera toda. Vou sentir falta do Rodrigo, até do Marcelo mesmo, aqui do apê e tals. Mas vou sentir mais falta de você, sabe, desse teu lance de ser todo cueca e minha garota na mesma parada.
Ficou me olhando, de novo.
– Não sei o que é isso, porque, papo reto, Zeca, um dia desses até pensei: “levo o Zeca daqui também e fico com ele como minha amante”. Mas não é isso. Não fica puto. Vou sentir saudade de ti; das trepadas, mas da tua pessoa também. Mas não penso em você como eu penso na Raquel. Ela é minha mulher.
Ficou me encarando.
– Te deixei puto com isso.
– Não, não deixou não. Eu to entendendo.
– Você mesmo me disse que tá paradão num cara, que vão ficar juntos aqui...
– É.
– Então, tu entende.
– Entendo. Disse que entendo. Eu também te quero pra cacete – ri. – Não só o cacete, quis dizer. Eu gosto muito de você, mas como parça, como você diz. E eu não ía querer ser teu amante.
– Po, não fica bolado com...
– Não to bolado, Otávio... Deixa disso. To sendo franco. Eu te vejo como homem, como fudedor. Isso não tem a ver com ser gay ou com ser hétero.
Seu olhar foi interrogativo.
– Você não pensa em mim porque é gay. Você pensa em mim porque gosta de me comer. Percebeu que eu olhava pro teu short e...
– Me dava tesão ver como você ficava me secando.
– Porque você é fudedor. Tanto fez se eu era uma garota ou um cara; te dava tesão porque você se sentia macho, confirmava que era macho quando meu olhar reconhecia em você um macho. Podia ser uma mulher, um cara ou um elefante, o fato é que você reconheceu um fudido te reconhecendo como macho, como fudedor. E daí quis fuder o fudido. Tanto faz se era um cara. E gay gosta de caras, de homem.
Sorriu, e acho que não entendeu coisa alguma. Deu um selinho, que emendou num beijo de língua breve. Depois, parou um pouco, pensativo.
– Viu? – disse, com os olhos muito vivos.
Eu tentava, mas não conseguia perceber o fluxo dos pensamentos dele. Sem saber, eu havia posto Otávio numa barafunda sem tamanho. Não tinham sido à toa aquelas semanas todas de instabilidade.
– Tá captando? Eu te beijei. Olho pra tua boca há uma porrada de tempo e tenho vontade de te beijar. Não vou mentir não. Desde logo no início, Zeca, te peguei de costas porque nem pensei, era por acaso, sei lá. Mas depois pensei mesmo; foi na moral. “Não vou olhar pra esse gay senão vou perder as rédeas e vou acabar beijando ele”. Porque nessa hora você não é cueca, você é o Zeca, um parça que eu tenho vontade de beijar como uma garota, porque pra mim você é uma garota.
Ele falava muito sério; talvez sério em demasia, e isso estava me assustando um pouco.
– Você tá muito confuso, Otávio.
– Tô.
– Talvez fosse melhor a gente parar.
– Parar o que?
– Nós dois. Esse lance todo.
– Não.
Ficou em silêncio.
– Eu queria que fosse como antes. Só nós dois. Pelo menos a gente ter umas fodas só nós dois, sem o Rodrigo. Com ele perto, sei lá... Não to gostando mais de te dividir não, Zeca. Não assim, na frente, fudendo junto. Ele te fuder, agora o Marcelo te fuder também, isso tá limpo... É tudo parça, morre tudo aqui no apê. Mas eu queria mesmo era de vez em quando poder ficar contigo sozinho. Mas eu não posso ficar assim, matando aula. E fim de semana fico com a Raquel; quero ficar com ela porque durante a semana é difícil. Tá foda.
Fez uma pausa longa, bem longa. Eu continuei passeando com os dedos por seu peito, tão moreno, tão bonito. Ele olhou e sorriu, acompanhando os movimentos.
– Isso é bom, brother.
Apertou muito de leve um mamilo meu. Depois, reacomodou o corpo e aproximou os lábios do meu peito. Lambeu, rodeou com a língua, como se experimentasse um prato novo. Afastou-se um pouco; deu uns beijinhos.
– Empinou... – deu um sorriso. – Tá de farol alto.
Fez como se sugasse, sem propriamente sugar, apenas simulando o movimento com os lábios. Eu estava todo arrepiado.
– Como você gosta... – sussurrou, continuando a explorar o mamilo.
Eu mesmo estava surpreso. Era uma sensação nova. Nem o próprio Marcelo havia me despertado ali; ele, que vivia querendo me excitar procurando novos cantos e usos em meu corpo. Fez isso algum tempo depois, talvez até mesmo naquela semana, e nem pensei em comentar que aquela era uma novidade também para mim, mas descoberta por Otávio. Marcelo não gostaria.
Passou para outro mamilo, enquanto forçava os braços sob mim, enlaçando-me pela cintura e puxando-me contra si. O caralho estava inchado de novo; muito rígido, grosso e volumoso. Deduzi que estava prestes a me fuder ali mesmo, no sofá, e nem sei como ele faria com meu short e a própria bermuda que ainda vestia.
– Otávio... Melhor não aqui... A janela...
– Caralho, nem me liguei...
Conferiu, assustado, antes de se levantar. O cacete estufado no tactel, quase arrebentando tudo como O Incrível Hulck. Na hora, lembrei da precaução de Marcelo, que usava um tamanho menor de cueca para deter o bicho quando em ereção. Fiquei imaginando se conseguia mesmo, porque eu ainda não o tinha presenciado nessa situação. No apê, ele havia passado a dispensar as cuecas desde que passou a me pegar, só a vestindo quando os meninos estavam em casa. O pau de Otávio, também acima da média, gritava contra o tecido. O de Marcelo, tentava visualizar agora, dificilmente ficaria discreto, mesmo represado pelo tecido justo. Sei não, mas acho que aquelas cuequinhas dele não adiantavam de muita coisa para conter seu monstro.
Otávio me levou para o seu quarto. Antes de deitarmos, enquanto libertava o cacete e em seguida apalpava minha bunda, perguntou a que horas Marcelo voltaria. Não sabia ao certo, mas citei o horário de costume, dali a umas três horas. Agora não ía ao campus para aulas, mas apenas dar prosseguimento à pesquisa que justificava sua bolsa. Ficava bem menos tempo, e só não chegava mais cedo porque não abria mão de suas corridas no parque.
– Então tem tempo pra eu te fazer com calma.
Cumpriu o prometido, segurando o gozo muitas vezes. Tirava e, enquanto aguardava a chegada da ejaculação amainar, me dava beijinhos, enfiava a língua na minha boca, agora sem medo. Mais de uma vez, olhou para o meu rosto, como se o estudasse, como fizera na noite que pareceu estar trepando com Raquel. Tinha sido pouco antes de Marcelo me pegar pela primeira vez. Numa dessas olhadas muito compenetradas, quis me elogiar:
– Tu é foda, Zeca... Bonito pra cacete... Ah, eu com uma cara dessa...
Eu sorri, pelo exagero dele. Era delicado. Estava querendo me agradar; preocupado em me valorizar, como se, naquela altura do campeonato, isso ainda fosse necessário. Quantos meses eu não tinha esperado por algo tão simples quanto o que estava vivendo?
Iniciado o coito, tinha passado a falar pouco, como sempre fizera. Otávio era de trepar em silêncio. A novidade é que estava se deixando ser carinhoso. Muito carinhoso; até dengoso. Porque ele era mesmo dengoso. Enquanto Marcelo me transmitia proteção, segurança, descobria que Otávio revelava uma delicadeza, diria até fragilidade, que era cativante. Em alguns momentos, apesar do cacetão que me forçava as entranhas, eu tinha a sensação de estar com um menino entre meus braços.
Previdente como tinha sido desde o início, deixou-me meia-hora antes do horário que eu dissera ser o habitual da chegada de Marcelo. Argumentei que ele não precisava mais de tanta preocupação, já que não era mais segredo para ninguém o que fazíamos. Retrucou que achava melhor, para não virar tudo uma putaria só.
Marcelo chegou um pouco mais cedo, e não sei como ele e Otávio não se cruzaram. Eu estava no banheirinho, expelindo o esperma que Otávio havia me posto e fazendo a higiene. Normalmente, eu fazia de tudo para manter o sêmen dentro de mim. No início, quando era apenas de Otávio e Rodrigo, era apenas por fetiche meu. Com Marcelo, manter-me galado pelo máximo de tempo possível, ou mesmo até meu organismo absorver tudo, foi por ordem dele.
Houve até umas vezes que, tempos depois de me pôr a carga, ele usava um abraço carinhoso para disfarçar uma dedadinha, a fim de conferir se eu ainda o mantinha dentro de mim. Também era mais ou menos frequente que, sem avisar, pusesse a mão dentro de meu short e desse uma dedada, ou mesmo pegasse meus genitais com a mão, para conferir se eu estava perfumado, cheiroso, como o havia habituado e agora ele fazia questão que eu sempre estivesse, a qualquer hora. Não era agressivo quando fazia essas coisas. Apenas conferia o que era dele, e com o cuidado que sempre tinha com o que era dele.
Esses exames não me cerceavam; muito ao contrário: me deixavam extremamente excitado, doido para que me pegasse em seguida e me mostrasse mesmo como eu era dele. Umas duas vezes, dessas em que quis confirmar que eu me mantinha galado, emendou a dedadinha e supriu meu tesão com novas estocadas, me deixando todo melado de tanta porra que transbordava, fosse a anterior ou a nova. E nem me lavei, jogando depois o short fora, todo colado.
No entanto, por alguma razão que não compreendia, me senti mal com a possibilidade de receber Marcelo tendo o esperma de Otávio em mim. Não porque ele iria me fuder ao chegar; independia disso. Naquela manhã, a simples ideia de que o receberia em casa tendo o esperma de outro me pareceu de mau gosto. Não estava à altura dele.
Hoje, penso que, sem me dar conta, talvez eu mesmo estivesse hierarquizando, obedecendo a lógica que ele me ensinaria tempos depois, com todas as palavras, mas que já devia estar absorvendo: a gala de Otávio, por mais carinho que eu tivesse por ele, não estava à altura da gala de Marcelo. Havia uma diferença clara entre eles que fazia com que eu não sentisse mais o desejo de que ela ficasse mantida em meu corpo.
Naquele momento, eu agia assim mas, mais uma vez, não compreendia qual o sentido. Afinal, Marcelo vivia me comendo todo galado por eles. Ultimamente, muito mais a gala de Rodrigo do que a de Otávio, mas ele não perguntava de quem era ou não. Apenas metia e deixava o caralho deslizar pelo meu canal molhado, e parecia muito satisfeito com isso. Com os movimentos, o leite dos dois acabava escorrendo, e na maior parte das vezes eu trocava o lençol para que ele não tivesse que dormir com aquela melação. Quando eu me deitava na cama, preferia imaginar que era a porra dele, e só a dele, que estava comigo.
Assim que Otávio saiu, a sensação de estar inseminado por ele me incomodou, mesmo estando assim como fruto daqueles momentos tão gostosos que havíamos passado juntos. Quis tirá-la, mesmo sem compreender bem o porquê. Quando a campainha tocou, eu havia acabado de tirar o excesso da gordura vegetal com que tinha me untado e já me perfumava. Abri a porta e ele me mostrava seu semi-sorriso.
Enlaçou-me pela cintura e me abraçou, fazendo um cafuné para guiar minha cabeça para seu ombro.
– Sente. Como você gosta.
Invadiu delicadamente meu short e logo me dedava com cuidado, com carinho.
– Sabe que eu gosto... – concordei, fungando para sentir o aroma suave do suor que agora ele sempre trazia da corrida.
– E eu também desse aqui – retrucou, me mostrando que levava o dedo às narinas. – Esse tua xotinha é uma flor; cheira como uma flor...
Eu sorri e juro que nem pensei na coincidência de ter feito a higiene e me perfumado.
– Tenho uma surpresa – disse, meio num rompante.
Afastou-se, me mostrando um sorriso, daqueles muito abertos, que não eram habituais.
– Surpresa?
– É. Quero dizer, não tenho uma surpresa, mas quero te fazer essa surpresa. Passar o dia com você.
Eu sorri.
– Mas você já passa o dia comigo. E eu gosto muito.
– Não, não aqui. Quero te levar pra passear. De carro. E a gente almoçar num lugar bacana, bonito. Nós dois.
– De carro? Mas você não gosta de...
– Hoje eu quero. Além do mais, aquele carro daqui a pouco se desfaz lá parado na garagem. Anda, vamos, que quero passar o dia com minha mulher. A vida é curta e quero te aproveitar; aproveitar tudo o que posso. Hoje jogo tudo pro alto, só porque te quero, e porque você é o meu tudo. É o tudo que me interessa. Anda, vai se vestir.
...
[continua]
[PS: Abaixo, pus umas respostas aos comentários que os leitores fizeram às partes imediatamente anteriores da história]