Os Verões Roubados de Nós
FASE 2 – Contagem Regressiva.
Capítulo 21
Narrado por Antunes.
Os dias foram passando e finalmente a audiência foi marcada. Fico sabendo por meu advogado que Fabíola havia recebido a intimação. Sabia que um confronto pré-audiência estava por vir e desde que peguei Julia na casa da mãe dela não a devolvi e uma série de medidas jurídicas foram tomadas para manter minha filha sob minha tutela. As aulas começarão em breve e minha princesa está ansiosa. Ela ama a escola.
Antônio me ajudou a colher provas contra Fabíola e meu advogado as utilizou tendo como argumento o quão perigoso é a convivência com a mãe e o namorado dela e de acordo com Adriano (meu advogado) a vitória é certa.
Voltando ao caso do Gabriel, mais fotos foram deitas e terminei meu relatório e enviei pelo correio ao endereço que me foi passado. Eu me esqueci de contar, né? A pessoa não veio buscar, simplesmente me ligou e pediu para enviar por mensageiro. Fiz o que me foi pedido e caso encerrado. Pelo menos é o que penso.
A dois dias da audiência, estou em meu escritório num novo caso quando ouço um bate boca lá fora e a porta se abre de repente.
- Chefe!! – Almeida entra atrás de uma furiosa Fabíola.
- O QUE SIGNIFICA ISSO?! – ela grita jogando o papel em cima de mim.
- É uma intimação ou você não sabe ler? – pergunto calmamente.
- Seu filho da puta, se você pensa que vai tirar a Julia de mim está muito enganado! – ela grita – Nenhum juiz tira a guarda da mãe.
Dou um leve sorriso e encosto na minha cadeira.
- Se eu fosse você não contaria com isso. – digo – Já contratou um advogado?
A respiração pesada dela mostra que ela está por um triz da sanidade mental e isso me dá animo para continuar.
- Sabe Fabíola, durante esses anos que você teve a guarda da Julia eu passei um verdadeiro inferno, mas a partir do momento que eu soube que poderia ganhar a guarda definitiva da minha filha eu fui juntando provas a meu favor. Então, seu “bilhetinho” de férias foi a gota d’água.
- Eu achei que você estaria fora naquela semana! – ela diz entredentes – Tira esse processo da justiça, Diego.
- Você está pedindo ou mandando? – pergunto cínico.
- Mandando. Liga pro seu advogado e faz isso. – ela responde – Senão você vai se arrepender.
- Fabíola... – já encheu – Foda-se você e suma daqui!
- DIEGO! – ela grita. Haja gogó! – Eu não tenho dinheiro para pagar um advogado! Você cortou a minha grana...
Não a deixo terminar a frase, pego-a pelo braço e a jogo porta afora.
- Some daqui! – olho para Almeida e noto uma figura sentada no sofá, mas não dou atenção. – Almeida, “acompanhe” a Fabíola até a rua.
- Eu vou acabar com você, Diego! – ela esperneia – Solta, seu filho da puta! Você vai ver, o Zé vai pegar você!
Volto para minha sala.
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Muito perto dali.
Fui até o escritório do detetive Antunes, pois queria mais informações e quem sabe indicações e foi muito mais produtivo que isso. Primeiro porque o detetive mostrou que não é corrompível e segundo porque uma ex-esposa histérica saiu e o ameaça falando num tal de “Zé”. Então quero conhecer essa tal de Zé. De onde estou permaneço bem quieto e observando tudo e quando o assistente a leva para fora eu os sigo discretamente.
Almeida a deixa na calçada e ela caminha furiosa até um carro cinza. Caminho rapidamente até meu carro e começo a segui-los. Após uns quarenta minutos eles param em frente a uma casa num bairro de periferia. Estaciono uns carros atrás e observo o cara. Ele realmente parece um bandido, como imaginei. Faço uma ligação.
- Oi. – digo – Acho que encontrei a pessoa para fazer o serviço.
- O detetive indicou alguém? – Vera pergunta.
- Eu nem falei com ele, mas depois eu explico. – digo – vou sondar e depois te chamo novamente.
Saio do carro e caminho até o portão. Da rua posso ouvir os gritos da mulher dentro da casa. Realmente ela parece furiosa e pessoas assim são impulsivas e extremamente manipuláveis. Bato palmas e espero, não demora muito e o cara sai.
- E aí? Que ‘cê’ quer aqui maluco? – ele pergunta com uma voz fria.
- Olá, podemos conversar? – pergunto – Tá a fim de ganhar uma grana?
O cara abre o portão e vem ao meu encontro.
- ‘Vamu’ ali no bar conversar um pouco, amigo! – ele diz – Tu tem um nome?
Eu me apresento e seguimos para o bar. Acho que tirei a sorte grande.
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Narrado por Gabriel.
Nossa! Realmente os dias estão agitados depois que meu pai e eu assinamos o contrato. Eu saía cedo de casa e voltava à noite praticamente morto.
Conversei com Eno e ele ficou responsável por ajeitar nosso apê. E realmente está ficando lindo como a pintura, os móveis. Ele é perfeccionista demais e às vezes eu acho que ele escolheu a profissão errada tanto que ele me ajudou na escolha do ponto, do mobiliário, deu palpites certeiros no projeto do arquiteto que contratei e este ficou impressionado que o chamou para estagiar em seu escritório e ficou surpreendido ao saber que ele faria Odontologia.
“- Enzo – Roberto dissera – Você ainda é novo e se acha que deve fazer odonto faça, porém se não gostar lembre-se que a Arquitetura está lhe esperando.
- Obrigado, Roberto. – ele respondera, mas ficou pensativo depois disso”.
Nem preciso citar que Tati basicamente “ralou” nas mãos dele (kkkk). Eles brigavam o dia todo com ela se rebelando e no final fazendo o que ele queria. Sobrou até para minha tia e meus primos.
Estou morto de cansaço e só quero um banho e cama. Entro em casa e o silêncio me recebe, o abajur está aceso deixando a sala na penumbra.
- Eno? – chamo. Nada.
Vou para nosso quarto e percebo que ele ainda não chegou, então envio uma mensagem a Tati.
#Oi maninha, o Eno está com você? Bj.#
Tiro minha roupa e vou para o banho. A janela está entreaberta e olho o movimento da rua. Meu olhar percorre os prédios e para no apartamento do voyeur. As luzes estão acesas e vejo uma moça na sacada. Ela fuma e fala ao celular quando um cara alto de cabeça raspada aparece atrás dela arrancando o cigarro das mãos dela e jogando. Eles discutem.
Não quero ver isso e vou para o meu banho. Ao sair olho meu celular e leio a resposta de Tati.
#Eno ficou na casa da tia. Melhor você ligar pra ele. Bj.#
- Ah... Que merda! – resmungo e ligo.
- Oi, amor... – ele me cumprimenta.
- Eno, onde você está? – é uma pergunta retórica.
- Já chegou em casa? – ele pergunta suave. Muito estranho. – Estou na casa dos meus pais.
Confirmado.
- Por que você não me avisou? Quer que eu vá te buscar?
Silêncio.
- Ahh... Hoje não amor! – ele diz em voz baixa – Vou dormir aqui.
- Por quê? – me exalto – Nada disso! Vem pra casa. Já!
Ele suspira do outro lado.
- Pra quê? – ele pergunta sério – Ultimamente você nem me nota e como eu encho o seu saco então você vai dormir sozinho hoje. Pelo menos você descansa de mim, não é isso?
- Enzo! – grito – Não me faça ir te buscar!
- Não venha! – ele diz. Tão calmo que me dá medo – Hoje você dorme só. Boa noite, amor. Amo você.
E desliga.
- PUTA QUE PARIU! – grito e jogo o celular na cama (agora temos uma) – Não...
A realidade bate em mim. Há mais de 20 dias não fazemos amor. Caímos na rotina. Rotina? Não, não é rotina porque ele sabe o quanto eu estou trabalhado feito doido para inaugurar o restaurante.
Busco na minha memória se disse ou fiz algo que o magoou. Caralho!! Eu simplesmente deixei meu lado ogro vir à tona e disse e fiz pouco caso dele.
- Que porra! – me levanto e coloco uma roupa qualquer – Nem a pau que fico sem você!
Vou para a casa da minha tia e ligo para ela avisando. Tia Alice é tão gentil que avisa que Eno já foi dormir alegando uma dor de cabeça. Dirijo feito doido pelas ruas de SP até chegar à casa da minha tia que está me esperando e me deixa subir.
Entro silenciosamente no quarto e ele está deitado de costas para a porta. Ouço um suspiro misturado com uma fungada e percebo que ele chora. Vou até a cama e me deito pegando-o de surpresa.
- Gabe? – ele realmente não esperava que eu viesse atrás.
- Você não me deixou dizer o quanto eu te amo. – abraço-o por trás. – Perdão amor, pelo que fiz e disse.
Ele se vira e fica de frente para mim.
- Perdão aceito... Dessa vez, ok? – ele diz e acaricia meu rosto. Isso faz com que eu me sinta pior ainda. – Eu sei que você está envolvido demais com o restaurante, mas há pessoas a sua volta. Elas irão encher seu saco, porém não é motivo para ser grosso, ok? Com ninguém.
Estou envergonhado e apenas aceno.
- Vou me policiar. Prometo! – o ogro em mim recua para dentro da toca – Mas... Não me deixe mais porque eu não aguento chegar em casa e não te ver. Por favor.
Meu amor sorri.
- Cama pequenaaa... – ele diz e chega mais perto e cola a testa na minha – E você está vestido demais.
- Não seja por isso... – me levanto e rapidamente e fico somente de cueca – Pronto.
- Amor... A porta. – corro tranca-la e quando me viro ele me espera de braços abertos.
Sorrimos e nos ajeitamos na cama. Faço cafuné nele.
- Eu te amo para sempre, Gabe... – ele sussurra sonolento.
- E eu te amo pra toda eternidade, Eno! – e o sono nos envolve.
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Narrado por Tati.
Sempre que Gabe se envolvia em algo para fazer ficava insuportável, credo! Foi grosso comigo, com Enzo e os demais. Para sorte ou azar dele é que Eno o coloca no lugar rapidinho.
Deixei meu primo na casa dos tios e fui para casa. Estou cansada e vou aproveitar para dar início aos meus planos de aula, ainda mais esse ano que tenho uma nova turma. Estou animada e confiante de que será algo produtivo e bom para minha carreira.
Dependendo de como eu me sair quero encarar um novo projeto de estudo, quem abe uma nova especialização. Enfim, projetos e mais projetos.
Voltando ao círculo familiar, ajudei meu pai com sua mudança e tive meu confronto com Vera.
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Flashback on.
Dois dias após meu pai anunciar o divórcio senti uma necessidade enorme de fazer algo. Fui até minha antiga casa e me senti estranha, pois há muito tempo eu não piso aqui e quando venho é porque Gabe insiste muito. Entrei sem ser vista porque ainda tenho as chaves.
- Oi? – chamei da sala e logo Judite apareceu – Oi Judi, tudo bem? – a cumprimento com um abraço e beijos.
- Oi, menina linda! – ela sorri – Estou bem e você?
- Bem também. – respondo – Há alguém em casa?
- Apenas a d. Vera. – ela responde receosa.
- E onde ela está? – pergunto calma.
- Na biblioteca. – quando estou saindo sinto uma mão me segurar – Menina, cuidado!
- Por que, Judi? Eu não tenho medo da fera. – respondo sorrindo confiante.
- Eu sei, mas ela anda estranha ultimamente e na arte de ferir mortalmente ela é mais experiente que você! – ela baixa a voz – Cuidado.
E volta a seus afazeres. Sigo meu caminho até a biblioteca e ao me aproximar ouço a voz alterada de Vera, então encosto minha cabeça para tentar ouvir.
- Não me interessa! Faça o que tiver que fazer e pagaremos o que ele pedir! – silêncio – Vá até ele e peça indicações... – ela diz – Não! Não podemos parar agora, já disse! – pausa – Estamos em contagem regressiva, lembra? – outra pausa – Ok, só me ligue quando falar com o tal detetive novamente. – silêncio.
“O que você está aprontando hein, sua bruxa?” penso. Resolvo bancar a civilizada e bato antes.
- Entre. – ela fala.
Entro e seu rosto mostra um leve surpresa ao me ver.
- Tatiana. O que faz aqui? – ela pergunta fria.
- Vim informar que já estou sabendo que meu pai pediu o divórcio.
- Sim. Ele pediu e o que você tem com isso?
- Nada, apenas estou feliz com a atitude dele. – respondo – Até que enfim não há mais ninguém para você colocar suas garras e destilar seu veneno!
Ela me analisa de cima abaixo e suspira com se estivesse entediada.
- Sabe Tatiana... – ela começa – Quando me casei com seu pai, eu não queria filhos, mas por pressões familiares eu acabei engravidando e tive você! E alguns anos depois veio seu irmão. – ela dá mais um suspiro – Sabe de quem eu tenho mais arrependimento de ter permitido nascer?
Silêncio.
- Você não quer... Saber? – ela pergunta cínica.
- Quem? Mãezinha querida... – devolvo no mesmo tom de cinismo.
- Você! – ela responde sorrindo – Porque o Gabriel sempre foi mais fácil de manipular e porque eu gosto mais de meninos. Eles dão continuidade ao nome da família e são extremamente manipuláveis.
Controlo meu desejo de voar no pescoço dela e mata-la sufocada.
- Então por que não me abortou, d. Vera? – pergunto fria – Não faltam métodos para isso!
Ela dá uma gargalhada.
- Eu sei disso, querida, mas preferi deixar você nascer. – ela responde – Não sabe o quanto eu desejei que fosse um menino, porém quando o médico deu a “boa notícia” (ela faz aspas com os dedos) que era uma menina, eu detestei a boa nova. – ela se levante e vem até mim – Mas resolvi levar adiante meu papel de mãe e devo confessar que até seus 5 anos foi interessante.
Ela caminha até o bar e se serve de conhaque.
- Mas... – ela continua – Quando engravidei do Gabriel tornei a desejar que fosse um menino, e, apesar de detestar engravidar novamente gostei muito mais. Mesmo não demonstrando. – ela toma o conhaque de uma só vez.
- Sabe o quanto eu te odeio? – pergunto com raiva contida na voz.
Vera dá de ombros e reponde.
- Eu não me importo. Na verdade, nunca me importei. – ela volta para trás da mesa – Quando você começou a ficar rebelde, decidi que era hora de você aprender algumas lições como disciplina, educação e submissão.
- Sua cretina...
- Cale a boca, sua insolente! – ela me corta – Mas você sempre se fazia de forte o que não me deixou alternativa então fui para cima do Gabriel. – ela faz uma pausa – Está vendo? É tudo culpa sua! – e se levanta novamente – Se você não tivesse ido fazer fofoca para seu pai, o Gabriel não estaria com aquele pederasta do Enzo...
Não a deixo falar, pois minha mão voa na sua cara.
- EU TE ODEIO! – grito – VOCÊ ME FEZ ABORTAR MEU FILHO! EU QUASE MORRI, SUA DESGRAÇADA!
Ela esfrega o rosto e solta outra gargalhada.
- Por mim você teria morrido junto com ele, sua imbecil! – ela fala calma.
- Você é uma psicopata! – digo revoltada – Tem prazer em infernizar a vida dos outros, tudo o que você toca apodrece.
- Ah, Tatiana... Por favor. – ela apenas faz um gesto de mão para que me cale – Você colhe aquilo que planta! Quem mandou querer ser uma vadia aos 16 anos de idade? Só fiz o que qualquer mãe zelosa faria. Você deveria me agradecer.
Minhas lágrimas caem e um sentimento novo surge em mim. Pela primeira vez sinto vontade de matar alguém. E fiz. Voei para cima dela derrubando- a no chão e comecei a esmurrar seu rosto enquanto ela gritava e tentava se defender.
Senti alguém me puxar de cima dela. Era o filho mais velho da Judi, Beto.
- Solta, Beto! – eu me debatia em seus braços – Eu vou mata-la!
- Para, Tatiana! – Judite pedia enquanto ajudava Vera a se levantar – Beto, meu filho leva ela daqui.
E foi o que ele fez. Colocou- me em seus ombros e não me soltou até estarmos na rua.
- Você sempre foi doida, Tatiana! Mas isso foi demais até pra você! – ele diz ofegante – O que a bruxa te fez?
- Ela roubou tudo de mim... – estou chorando de ódio. – Mas ela vai me pagar com juros. Pode apostar, Beto.
Vou para o meu carro e saio em disparada. Faço uma ligação.
- Enooo... – choro desesperada – Preciso de ajuda! Por favor...
- Tati! Gata, o que houve? – ele pergunta aflito – Onde você está?! Pelo amor de Deus...
- Estou indo pra casa... – respondo.
- Estou te esperando.
Desligo e rumo para casa. Ela não perde por esperar.
Flashback off.
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Agora dias depois do ocorrido só estou esperando a inauguração do restaurante do meu irmão e aí sim vou contar tudo. Principalmente porque ela está dificultando divórcio e tirando o sono do meu pai. Ela nem imagina o tsunami que vem por aí.
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Narrado por Enzo.
Após dias aguentando as patadas e o mau humor do gabe resolvi dar um tempo na casa dos meus pais. Anos de convivência e eu sei que ele precisa tomar um choque de realidade. Ouvir do seu namorado que você enche o saco é foda demais, mas agora está feito, amanhã é um novo dia e quem sabe o humor dele estará melhor.
Minha mãe estranha minha presença, mas nada diz e eu amo isso nela. Janto com eles e subo para meu quarto alegando uma dor de cabeça.
Quando estou me arrumando para dormir ele me liga.
- Oi, amor... – eu o cumprimento.
- Eno, onde você está? – ele pergunta.
- Já chegou em casa? – pergunto suave. – Estou na casa dos meus pais.
- Por que você não me avisou? Quer que eu vá te buscar?
Silêncio.
- Ahh... Hoje não amor! – digo em voz baixa – Vou dormir aqui.
- Por quê? – ele está exaltado – Nada disso! Vem pra casa. Já!
Eu suspiro.
- Pra quê? – pergunto sério – Ultimamente você nem me nota e como eu encho o seu saco então você vai dormir sozinho hoje. Pelo menos você descansa de mim, não é isso?
- Enzo! – grito – Não me faça ir te buscar!
- Não venha! – digo. – Hoje você dorme só. Boa noite, amor. Amo você.
E desligo.
Vou para cama e fico pensando em como os dias tem passado rápido, o apê está totalmente pronto e pretendia fazer um jantar a dois para comemorar, porém com o Sr. Mau Humor distribuindo patadas perdi a vontade.
Não gosto de brigar com ele porque sou escandaloso, dramático e manhoso, mas desta vez não quis fazer isso. Ouvir de quem você ama, mesmo que seja da boca pra fora, que você está enchendo o saco, que você fala demais ou a pior “Não pedi a sua opinião!” foi foda demais. Ele merece isso.
- Credo... – resmungo já deitado – Estou parecendo mulher na TPM. – e dou uma risada sem humor.
Ajeito-me para dormir e olho para a janela. Na verdade queria que ele estivesse aqui.
“Seu mala!” penso e dou uma fungada quando sinto um abraço por trás.
- Gabe! – digo surpreso.
- Você não me deixou dizer o quanto eu te amo. – ele me abraça por trás. – Perdão amor, pelo que fiz e disse.
Ele se vira e fica de frente para mim.
- Perdão aceito... Dessa vez, ok? – digo e acaricio o seu rosto – Eu sei que você está envolvido demais com o restaurante, mas há pessoas a sua volta. Elas irão encher seu saco, porém não é motivo para ser grosso, ok? Com ninguém.
Ele está envergonhado e acena.
- Vou me policiar. Prometo! Mas... Não me deixe mais porque eu não aguento chegar em casa e não te ver. Por favor.
Não aguento e sorrio.
- Cama pequenaaa... – digo e chego mais perto e colo minha testa na dele – E você está vestido demais.
- Não seja por isso... – ele levanta e fica somente de cueca – Pronto.
- Amor... A porta.
Sorrimos e nos ajeitamos na cama. Gabe faz cafuné em mim.
- Eu te amo para sempre, Gabe... – sussurro sonolento.
- E eu te amo pra toda eternidade, Eno! – e o sono nos envolve.
Acordo sentindo um peso em cima de mim e quase fico sem ar. Gabe.
- Amor... – sussurro. Nada. – Amooorrrr... Aaafff...
Tento me mover, mas é praticamente impossível.
- Pelo amor de Deus! – digo e elevo a voz – Gabe!
Ele acorda num susto.
- Eno! – ele está tonto de sono – O que houve?
- Você estava em cima de mim praticamente me sufocando é isso o que houve! – respondo.
Ele volta a se deitar e me puxa para cima do seu peito.
- Melhorou? – ele pergunta.
- Muito. – sorrio e olho para ele – Bom dia, amor!
Damos um beijo e nossas rolas se esfregam.
- Hummm... Alguém está de pau duro aqui! – passo minhas pernas por cima dele.
- Chama-se ereção matinal. – ele diz dando uma risadinha.
- Ah tá... – saio de cima dele e vou para o banheiro – Então vai fazer xixi que passa!
Ele se levanta e vem atrás de mim. A manhã ia começar bem, muito bem por sinal.
Tomamos um rápido café da manhã com minha mãe e voltamos para casa porque ele precisa trocar de roupa.
- Quero te perguntar algo? – ele começa tímido.
- O que, amor? – separo a camisa enquanto ele veste a calça.
- Você... Assim... Por um milésimo de segundo que seja... – reparo que ele está enrolando.
- Por um milésimo de segundo... – repito como incentivo para ele continuar.
- Por um milésimo de segundo... Pensou em me deixar? – ele termina a pergunta rapidamente e em voz baixa. – ele está tão sem graça. Fofo.
- Amor... Eu só terminaria com você se houvesse traição da sua parte ou se você quisesse ficar com outra pessoa. – digo calmo, mas essa ideia me angustia – Ou de repente eu conhecesse alguém.
Ele arregala os olhos e se aproxima segurando meu rosto.
- Nunca! Jamais volte a falar isso... – ele diz – Nem por brincadeira!
“O que um choquinho de realidade não faz com a pessoa?” penso e sorrio.
- Já passou, Gabe. Vamos viver o hoje, ok?
Ele concorda e termina de se arrumar.
- Hmmm... Tá gostosooo! – ele está se perfumando e ri do comentário.
- Eno, hoje terminam as obras e vou começar a contratação do pessoal. – ele diz sorridente – E dentro de 30 dias o restaurante será inaugurado.
- Que bom, amor! – nos abraçamos.
- Quer ir comigo hoje? – ele pergunta.
- Hm... Não, vida! – respondo – Tenho umas coisas para acabar por aqui.
Ele concorda e nos despedimos. Enquanto planejo o jantar vou arrumando o apartamento e terminando de ajeitar nossas coisas.
- Aaafff... Precisamos de uma empregada urgente! – resmungo quando termino de limpar a cozinha.
Termino minha ‘faxina’ e faço uma ligação.
- Oi, gata! – digo carinhoso – como você está hoje?
- Estou ótima! – ela responde – Já almoçou?
- Ainda não... – respondo – Estava faxinando o apê
- Nossaaa... Eno doméstico! – ela ri – Está uniformizado?
- Não, mas vou me fantasiar assim para o Gabe... – digo cínico.
- Aaahhh... Nem começa! – ela me corta.
- Então não provoca! – digo – Tem almoço aí?
- Tem, seu interesseiro! – ela ri – Desce!
- Ok, gata! – rio também - 30 minutos. Beijo. Tchau.
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Durante o almoço conversamos um pouco e resolvo falar.
- Daqui a 30 dias. – falo observando-a.
- Daqui a 30 dias o quê? – pergunta confusa.
- A inauguração. – respondo.
Sou muito observador e vejo que Tati fica séria. Ela me contou sobre a conversa que teve com Vera. O que eu já desconfiava foi confirmado. A bruxa tinha Gabe como seu preferido.
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Flashback on.
Eu estava enrolado com o início das obras no apê, minha mãe estava comigo e decidíamos o melhor orçamento para a pintura quando meu telefone toca.
- Enooo... – ouço seu choro desesperado – Preciso de ajuda! Por favor...
- Tati! Gata, o que houve? – pergunto aflito – Onde você está?! Pelo amor de Deus...
- Estou indo pra casa... – respondo.
- Estou te esperando. – ela desliga.
Estou estático.
- Eno? – mamãe chama – Enzo?! Estou falando com você!
Olho para minha mãe sério.
- Tati está vindo para cá. – digo.
- Tudo bem, vamos espera-la. – mama responde sorrindo – O que você acha...
- Mãe! – falo num toma mais alto e sério – Ela está em prantos.
Vejo seu sorriso morrer e um ar preocupado aparece em seu semblante.
- Ai, meu Deus. – ela sai e já sei o que irá fazer.
Deixo de lado o que estou fazendo e ligo para Tati novamente. Estou preocupado porque ela está nervosa e dirigindo.
- Atende, gata! – falo baixinho. Nada.
Levo um susto depois com a porta sendo escancarada e por ela passa uma Tati que nunca havia visto: descabelada, lágrimas escorrendo em profusão, olhos vermelhos e inchados.
- Tati. – digo suave.
- Eno! – ela corre para os meus braços – Eno!
O pranto sentido me deixa sem ação. Formo um casulo em torno dela levando para o sofá. Ela se deita em posição fetal em meus braços. Minha linda prima precisa de proteção e faço isso por ela.
Vejo minha mãe com uma providencial caneca de chá calmante apenas nos observando e assim como eu também há lágrimas em seus olhos.
Tati chora por um bom tempo em meus braços e só então parece notar a presença da minha mãe.
- Tia... – minha mãe oferece um sorriso confortador e se aproxima oferecendo a caneca de chá sem fala nada.
Minha prima toma uns goles e parece estar mais calma.
- Quer nos contar o que houve, meu amor? – minha mãe finalmente pergunta.
- ela me odeia! – Tati diz – E depois de tudo que já passei confirmar isso doeu.
E então ela começa seu relato e confesso que arrepios percorreram meu corpo na medida em que ela ia falando.
O semblante da minha mãe era um misto de choque, pena e raiva e quando Tati termina ela fala.
- Meu Deus, se eu ainda duvidava do potencial de maldade dela, mas isso é demais! – minha mãe está revoltada – Como ela pode ser assim?
- Eu sempre avisei, mas a senhora nunca me deu crédito! – digo – E você... – aponto para Tati – agora mais do que nunca deve contar.
- Concordo com Eno! – mamãe diz – Agora mais do que nunca!
- Mas gente...
- Sem essa! – mamãe e eu falamos juntos.
Tati suspira.
- Eu sei e vou fazer isso. Prometo! – ela diz – Quando Gabe inaugurar o restaurante e as coisas se acalmarem. Eu juro.
- Acho bom mesmo! – digo abraçando-a – Estaremos lá por você!
Flashback off
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- Ok... – Tati fala – Vamos preparar duas comemorações.
Olho confuso por um momento.
- Não entendi, gata... – digo.
- Se ela acha que pode rir da nossa cara e ainda sair por cima... – ela ri cínica – Está muito enganada. Eu não deixarei meu pai dar nada mais a ela. Essa sim será uma vingança doce. – e abocanha um pedaço de pudim.
- Deus nos proteja! – digo me benzendo.
Rimos e continuamos a conversar.
Noite a todos. Segue mais um capítulo. Como estou no plantão, então arrumei um tempinho para postar. Amanhã na minha folga posto outro e respondo os comentários.
*VALTERSÓ* - Está aí a explicação de tanto ódio! Vem mais por aí...
Abraços a todos e boa leitura
D.