Meu cu virou barganha do titio
Foi numa sexta-feira, véspera do dia dos pais, quando voltei da escola com um Tsuru de origami e um cartão de felicitações pela data dentro de um envelope azul. A primeira série do ensino fundamental havia passado a semana aprendendo a fazer as dobraduras e escrevendo a mensagem do cartão a ser entregue aos nossos pais no domingo dedicado a homenageá-los. Eu só tive tempo de ver meu pai acenando pela janela do ônibus circular, que deixava atrás de si uma nuvem de poeira na estrada rural onde ficava nosso sítio em Maçambará no oeste do Rio Grande do Sul.
- Para onde o pai está indo a estas horas? – perguntei a minha mãe, assim que entrei na cozinha perfumada com a fornada de pães.
- Vá tirar esse uniforme e volte aqui. Preciso ter uma conversa com você. – respondeu ela, sem olhar na minha direção, caso contrário, teria visto minha camisa suja de terra das brincadeiras no intervalo das aulas e, me dado aquela bronca com a qual eu já estava habituado. Eu podia jurar que seus olhos estavam marejados quando lhe lancei um olhar de soslaio.
Quando voltei à cozinha, havia passado no banheiro e conferido no espelho como estava a minha cara, por via das dúvidas, lavei o rosto e passei uma escova com sabonete nas unhas, pois eu sabia que seria a primeira coisa na qual ela ia fixar seu olhar e despejar aquele sermão de sempre, me censurando por voltar da escola parecendo um dos leitões do chiqueiro. No entanto, ela não reparou em nada naquela tarde. Estava séria e havia chorado como eu supus quando cheguei. Logo deduzi que ela e meu pai haviam brigado novamente, o que se tornou mais evidente quando meus dois irmãos entraram na cozinha logo em seguida.
- Seu pai nos deixou, Haroldo. De agora em diante somos apenas nós quatro a tocar o sítio. É sobre isso que quero conversar com vocês. – apesar da minha pouca idade, eu tive a exata dimensão do significado das palavras da minha mãe e, não acreditei no que meus ouvidos tinham acabado de escutar.
- Como assim, nos deixou? Para onde o pai foi? Ele vai voltar para o jantar, não vai? Ele foi visitar o vô Constantino? – explodi cheio de questionamentos.
- Cala a boca moleque! Você não vê que a mãe está tentando falar? – questionou meu irmão Júlio de dezessete anos.
- Cala a boca você, seu besta! – revidei
- Parem já com isso! – interveio minha mãe, ríspida. – O que eu estou tentando te explicar Haroldinho é que seu pai foi embora e não vai mais voltar. Ele não vai mais morar conosco. – parecia que com essas frases ela queria terminar de enfiar um punhal no meu coração.
- Por quê? Você é a culpada disso! Você brigou com ele outra vez. – desabafei choroso. – Eu não quero que ele vá embora! Eu quero ir junto com ele.
- Não fala besteira, seu cacão! A mãe não tem culpa de nada! – afirmou meu irmão de quinze anos, Rogério.
- Então a culpa é sua! Você nunca faz as coisas que o pai pede. Só quando ele pega a cinta é que você se mexe, seu merda! – acusei.
- Eu já disse para vocês pararem com isso! Será que vou precisar pegar a colher de pau e esquentar esses traseiros? – enfezou-se minha mãe.
- Foi o Rogério que começou!
- Fica quieto Haroldinho! – ordenou minha mãe, dando-me um safanão. – Bem! Chega dessa lengalenga. Vocês três terão suas tarefas a cumprir todos os dias, faça sol ou chuva. Não quero ouvir desculpas, lamurias e, muito menos, ver que não fizeram seus serviços. Estamos entendidos?
- Eu quero ir com o pai, não quero ficar aqui. – resmunguei, com as lágrimas a escorrer pela face.
- Vai de uma vez seu bostinha. Só sabe encher o saco mesmo! – retrucou o Rogério.
Ao contrário dos outros dias, não sentia fome ao me sentar à mesa do jantar. Não tive coragem de quebrar aquele silêncio incômodo e sinistro com o montão de perguntas que eu tinha para a minha mãe. Ela passava as costas da mão nos olhos para controlar suas emoções e, eu não me atrevi a despertar aquele turbilhão de sensações que eu sabia estavam a lhe consumir as entranhas. Fiquei até bem tarde deitado em minha cama, com os olhos presos nas tesouras de madeira que sustentavam o telhado inclinado, esperando ouvir qualquer barulho lá fora, que não fosse o do coaxar dos sapos, mas que indicasse o retorno do meu pai. Porém, o único ruído que vinha lá de fora, era o do vento agitando as folhas e o crepitar dos galhos dos dois imensos bugreiros junto a casa. Lutei contra o peso das minhas pálpebras o quanto pude, contudo, o sono foi mais forte do que eu e, acabei dormindo sem que meu pai entrasse no quarto, pé ante pé, fazendo as tábuas do piso rangerem sob seu peso, antes de ele puxar a coberta sobre os meus ombros e bagunçar meus cabelos com a ponta dos dedos. O que eu não sabia naquele dia, era que ele nunca mais viria me dar seu boa noite.
Levei umas semanas para acreditar que ele nunca mais voltaria. Quando desisti de esperar que ele fosse descer do ônibus toda vez que ele passava pela estrada lá embaixo, a rotina da casa inteira já havia se modificado. Meus irmãos e minha mãe procuravam dar conta do trabalho que ele fazia, mas não tinham a mesma habilidade dele. Eu tinha uma porção de tarefas antes de seguir para a escola e, quando regressava, estava exausto. Meus irmãos passavam pelo mesmo dilema, o que os tornou ainda menos tolerantes para comigo. Qualquer coisinha era motivo para eu levar um cascudo e, quando ia me queixar para minha mãe, ela me mandava caçar o que fazer.
Como a maioria dos colonos da região, meu pai plantava arroz em nossas terras. A colheita do que ele havia semeado foi a última que rendeu o suficiente para nosso sustento e o custeio da próxima safra. Embora meu irmão Júlio sempre o acompanhasse durante o plantio, não conseguiu se virar sem as orientações dele. Assim, a cada safra os resultados ficavam piores e, logo nos vimos cheios de contingências. Minha mãe se queixava com uma irmã, Luiza, que morava em São Paulo, casada com um caminhoneiro que aparecia lá em casa toda vez que tinha algum frete para o Rio Grande do Sul. Eles estavam progredindo no ramo de transportes, nunca faltava serviço e, com isso, tio Afonso havia adquirido dois caminhões. Ele fazia os fretes com um deles e, para o outro, ele contratara um caminhoneiro. Tia Luiza não tinha filhos. Havia feito de tudo para gerar um rebento que fosse fruto de sua paixão por tio Afonso, mas ela continuava com seu útero vazio, apesar de aproveitar de cada minuto que tio Afonso passava em casa, tentando preenchê-lo. Tio Afonso era um daqueles gaúchos à antiga, apesar de seus trinta e tantos anos, que se julgava um macho acima de qualquer suspeita. Nunca admitiu acompanhar tia Luiza nas consultas e, atribuía a ela o fracasso de não terem filhos.
Nosso vizinho veio numa tarde e sábado, acompanhado da esposa com uma travessa de cuca de maçã, cheio de salamaleques. Ele, como toda a redondeza, sabia da nossa situação financeira após a partida do meu pai. Eu era criança demais para compreender aquela troca de olhares entre ele e a esposa, enquanto minha mãe desfiava seu rol de queixumes do marido que a abandonou. Mas, intuitivamente, algo me dizia que eles não tinham vindo prestar sua solidariedade. Logo suas intenções ficaram explícitas, quando propôs comprar nosso trator, que o pai tinha adquirido através de um financiamento a cerca de três anos atrás e, que agora minha mãe não estava dando conta de liquidar. Pouco antes do anoitecer, o casal partiu, levando o trator por um preço muito abaixo de seu valor de mercado e, deixando a travessa de cuca e um cheque. Minha mãe nunca teve tino para os negócios e estava metendo os pés pelas mãos com uma inépcia assombrosa. Foi tio Afonso, duas semanas mais tarde, quando veio nos visitar, que a alertou da burrada que havia feito.
- Você não devia ter se precipitado, cunhada! Falasse comigo antes de fazer negócio com esse sujeito. – advertiu-a, quando o negócio já estava sacramentado.
- Aquele desgraçado me deixou na rua da amargura! A mim e aos filhos! Nem com eles ele se importou! Temo que vamos perder tudo, até esse sítio. – queixou-se minha mãe.
- Me entenda bem, cunhada. Não estou aqui para puxar a sardinha para lado algum, mas o Danilo trabalhava feito um mouro nessas terras para dar de tudo a vocês. No entanto, você não fazia outra coisa senão criticá-lo! Chega uma hora que o sujeito não aguenta mais! – exclamou tio Afonso.
- E eu, você quer dizer que eu não dava um duro danado ajudando em tudo que ele precisava? – exasperou-se minha mãe. – Esse sítio foi herança do meu pai, o Danilo nunca teve nada. Era natural que trabalhasse para sustentar a família.
- Eu sei, minha querida. Como eu disse, não estou aqui tomando o partido de ninguém. Sei que você sempre trabalhou muito, mas um casal precisa mais do que apenas o trabalho para continuar unido, entende o que eu quero dizer? – ponderou meu tio.
- Vocês homens são todos iguais! A gente trabalha feito uma camela e quando queremos esticar o corpo cansado no final do dia, vocês existem o serviço extra. – aquelas palavras não fizeram muito sentido para mim.
Ainda surpreendi os dois confabulando na cozinha no dia seguinte e, à noite, antes de eu ir para o quarto, minha mãe me chamou para uma conversa. Todos pareciam ter encontrado algo para fazer e sumiram de circulação quando ela me levou até o sofá da sala e começou a se queixar do meu pai. A princípio, achei que fosse mais um daqueles desabafos dos quais eu já era capaz de adivinhar a sequência de frases que ela ia empregar, pois as conhecia de cor. Contudo, a certa altura da conversa, quando eu já estava distraído com outros pensamentos, ouvi algo no que meus ouvidos não acreditaram.
- Como nossa situação está cada vez pior, e você pouco pode fazer para ajudar seus irmãos na lida do sítio e, considerando que a tia Luiza além de sua madrinha também te ama tanto quanto eu, nós resolvemos que você vai morar com ela e o tio Afonso lá em São Paulo. Eles vão te mandar para um colégio, assim você não precisa parar de estudar e pode se tornar alguém na vida. – sentenciou ela, como se estivesse me comunicando que o almoço estava pronto.
- Mas, mãe, eu vou ter que ficar lá com eles sozinho? Eu não quero sair da nossa casa. – argumentei.
- Você não estará sozinho. A tia Luiza vai cuidar de você igualzinho eu faço aqui. E, o tio Afonso me disse que até já fizeram um quarto na casa deles só para você, não é legal? – eu tentava encontrar algum sinal de sofrimento nas expressões dela, por ter que me entregar para outras pessoas, mas não vi nenhum.
Quase não preguei o olho naquela noite. Agarrei-me a uma coberta de patchwork que desde minha mais tenra infância eu considerava como um escuro, igual ao dos super-heróis, para me proteger das assombrações que ficavam perambulando pelo meu quarto, mesmo quando meu pai me jurava que elas não existiam e que era eu quem as criava na minha imaginação. No entanto, naquela noite, nem ela conseguiu me proteger daqueles fantasmas que assombravam minha mente. Ao amanhecer, quando o cheiro do café vindo da cozinha anunciou que um novo dia estava começando, eu me recusei a descer, como se sem a minha presença as coisas que estavam traçadas para mim não fossem acontecer.
- Para de ficar enrolando, seu bostinha! Não adianta fingir que não está ouvindo a mãe te chamando. Anda molenga, o tio Afonso já está para seguir viagem. – bronqueou o Júlio, puxando-me para fora da cama.
- Me larga! Eu não quero descer. – protestei.
- Anda, seu merda!
- Mãe, mãe! O Júlio está me batendo!
- Anda moleque! Desce que seu tio já está atrasado! Não me faça subir aí ou você vai viajar com os fundilhos ardendo. – era assim que ela resolvia as questões.
Subi na boleia do caminhão engolindo todas as lágrimas só para não dar o gostinho dos meus irmãos me verem chorando. Também não retribuí o abraço e o beijo molhado que minha me deu. Quando o caminhão fez a curva no alto do morro, antes de começar a descida até a ponte de madeira para cruzar o rio que mais adiante passava dentro do sítio, eu criei coragem e olhei, pela última vez, para nossa casa toda branca com um telhado de duas águas, que se abriam em dois ângulos obtusos na frente e atrás, para formarem a varanda da frente e o alpendre dos fundos, se destacando do imenso gramado, que naquela manhã o sol a banhava com sua luz amarela. Foi aí que as lágrimas desceram pelo meu rosto, quentes e abundantes. Eu nunca tinha sentido tanto medo na minha vida quanto naquele momento. Não ouvi o que o tio Afonso tinha acabado de falar, mas mesmo assim, movi a cabeça em assentimento, sem ousar levantá-la, pois ele me viria chorando.
- Você vai gostar da viagem. Tem uma porção de coisas para você ver e que você ainda não conhece! Não precisa ficar triste. Você não gosta de ver coisas novas? Então, é só ficar olhando a paisagem. – nem ele acreditava no que estava dizendo, muito menos eu, que sabia que estava sendo renegado pela minha própria família, ou do que restou dela.
Fiquei calado praticamente a viagem toda. Só respondia por monossílabos às perguntas do tio Afonso, pois qualquer tentativa de articular algumas palavras iria resultar em choro. Chegamos ao norte do Paraná ao anoitecer. Tio Afonso tinha dito o nome da cidade, mas eu não a memorizei. Os caminhoneiros começavam a encostar no posto e restaurante fazendo o burburinho aumentar a cada minuto. Fazia tempo que eu estava segurando o mijo, por isso, logo que entramos no restaurante eu disparei na direção dos banheiros. Quando voltei ao salão, tio Afonso estava conversando com duas mulheres bem esquisitas. Uma delas veio se sentar conosco à mesa. Perguntou quem eu era para meu tio e me lançou um sorriso falso. Enquanto nós jantávamos, ela tagarelava sem parar. Meu tio apenas concordava com ela e não se deixava interromper pela conversa dela.
- Você comeu pouco! Desse jeito como é que vai querer crescer! – disse meu tio, interrompendo o falatório da moça, que voltou a me lançar um sorriso carregado de batom vermelho.
- Estou sem fome! Já comi o suficiente. – balbuciei, embora em meu estômago parecia haver um buraco sem fundo.
- Aposto que você vai gostar do sorvete que eles têm aqui. É desse tamanhão. Vou pedir um caprichado para você e, enquanto você come eu vou até o caminhão com a Sabrina aqui, OK? – ele mal havia terminado de falar e foi buscar o sorvete. Eu quis dizer que não estava a fim, mas não deu tempo.
A taça com três bolas de cores diferentes e uma porção de morangos por cima estava muito mais atraente do que eu imaginara. Vi os dois se afastarem em direção ao caminhão, que não dava para ver do lugar onde eu estava sentado. Fui comendo o sorvete sem pressa, concentrado apenas naqueles morangos que começavam a nadar no meio daqueles sabores derretendo. Fiquei algum tempo sentado diante da taça vazia, olhando para a escuridão lá fora, só interrompida pelos fachos dos faróis dos caminhões que continuavam a chegar. Alguns caminhoneiros me encararam, sentado ali sozinho, antes de se servirem no bufê. Quando iam se sentar nas mesas, seus pratos estavam tão cheios que chegavam a transbordar. Fiquei balançando as pernas, pois meus pés não alcançavam o chão, mas o tempo parecia não passar. Tio Afonso tinha dito para eu esperar que ele logo estaria de volta, mas estava demorando demais. De repente, começaram a vir na minha mente pensamentos que ganhavam cada vez mais realidade. Será que ele me abandonou naquele lugar? Como eu pude ser tão burro, me deixar levar por uma taça de sorvete? Eu sabia onde o caminhão estava estacionado, apesar de não o estar vendo. Impaciente com a demora resolvi ir atrás do tio Afonso e da moça. Foi um alívio quando reconheci a carreta com o baú prateado atrelado. Precisei fazer um esforço danado para alcançar o estribo para chegar à maçaneta da porta. Meus olhos ficaram na altura do limite inferior da janela do lado do passageiro. Lá dentro, a moça estava com a blusa enrolada para cima e suas tetas estavam aparecendo. Tio Afonso estava sentado um pouco aquém do volante, de pernas bem abertas e ela estava sentada no colo dele. Não sei por que ele gemia. A moça parecia estar sentada em cima de um cavalo galopando. Suas tetas sacolejavam de um lado para outro. Tio Afonso abocanhava uma de vez em quando. Eles não notaram a minha presença, talvez por que apenas uma parte do meu rosto e meus cabelos estivessem diante da janela. A moça soltava uns ganidos e jogava os cabelos de um lado para o outro. Num momento, ela se levantou demais e eu vi o cacetão do tio Afonso, todo fora das calças, empinado como uma estaca sobre a qual parecia estar acoplado um imenso cogumelo avermelhado. Ela o segurou por uns instantes e o enfiou nalgum lugar misterioso entre suas pernas onde ele desapareceu completamente. Ele soltou outro gemido quando o pauzão dele sumiu dentro dela. Eu estava tão petrificado que mal conseguia me mover. Tive receio de que me vissem ali, mas não sabia para onde ir. Quando consegui encontrar uma solução, a de ir me sentar nos degraus da entrada do restaurante e ficar esperando o tio Afonso ali, ela saiu do colo dele e se ajoelhou entre as suas pernas peludas. Pegou o pintão na boca e começou a chupar aquele baitelão como se fosse um pirulito. Ele só gemia e revirava os olhos. Por pouco não me pegou espiando. Pulei do estribo e fui até a entrada do restaurante, onde esperei um bom tempo antes de ele vir me buscar. A moça tinha desaparecido.
Chegamos a São Paulo no meio da tarde do dia seguinte. Tia Luiza nos esperava com um bolo de laranja e um chá. Ela me abraçou com tanta força que pensei que ia me esmagar. Ficou um tempão passando os dedos finos pelo meu rosto e me beijando. Fiquei sem graça, mas não esbocei nenhuma reação. Achei a casa confortável, no entanto, estranhei aquela falta de espaço ao redor dela. As casas vizinhas estavam grudadas nela, como todas as outras da rua. Eles haviam realmente preparado um quarto para mim. Tinha o essencial, da janela só se via o muro lateral a pouco mais de dois metros de distância, ao contrário do meu quarto na minha casa, de onde se podia avistar a estrada, uma curva do rio e todo o pasto do vizinho da frente e parte da nossa plantação de arroz. O que eu mais gostei foi de ter meu próprio banheiro sem ter que sair do quarto, o que significava que eu não precisa mais tomar banho com a porta destrancada e ser aporrinhado pelos meus irmãos, cuja diversão consistia em beliscar minha bunda debaixo do chuveiro. Naquele primeiro dia na casa dos meus tios eu ainda não sabia que aquelas quatro paredes seriam meu lugar predileto da casa e, meu refúgio por toda uma década.
Tio Afonso passava poucos dias em casa, estava sempre na estrada. Fiz algumas amizades no colégio particular perto de casa, onde eu passava boa parte do dia. De início, achei que tia Luiza levasse uma vida solitária com o marido sempre ausente. Mas, logo percebi que ela tinha um rol de amigas com as quais vivia saracoteando pela rua. Ela só parava um pouco em casa quando tio Afonso chegava de viagem. Por isso, era raro nos sentarmos à mesa em família para uma refeição, como eu estava acostumado no Rio Grande do Sul. Quando isso acontecia, inevitavelmente o assunto de terem um filho vinha à baila. Tia Luiza o informava que tinha se consultado com outro especialista que lhe haviam recomendado, que ele havia garantido que ela podia engravidar, que teria que fazer tais e tais exames e, que desta vez, ela estava mais confiante. Tio Afonso a ouvia sem dizer nada, como se já conhecesse aquela ladainha de cor. Por fim, concordava com ela, deixando-a radiante. O único ponto com o qual ele nunca concordava era o de ele próprio passar por uma batelada de exames. Sempre dizia que com ele não havia problema e que não tinha tempo para perder com isso.
- Você nunca encontrou quem descobrisse seu problema. Essas coisas sempre são um problema de mulher, já que vocês são todas complicadas e não vivem sem um ginecologista. – dizia ele, com uma certeza inabalável.
- Por isso eu sei que agora vai dar certo. Lembra-se da Mariana, a irmã da minha amiga Valéria, aquela que o marido te presentou com uma caixa de vinho quando foram para a Argentina? Pois ela se tratou com esse especialista e deu tudo certo, eles têm um casal de gêmeos, faz quase dois anos. – revelou tia Luiza, cheia de esperança e ilusões. Meses depois, a história se repetia com outro provável fazedor de milagres.
Contudo, eu mesmo me surpreendi quando, cerca de cinco anos depois de eu ter ido morar com eles, minha tia anunciou sua gravidez, assim que tio Afonso regressou de uma viagem ao Acre. Ele mal podia acreditar. Fazia de tudo para estar em São Paulo quando ela ia fazer as consultas do pré-natal. Empenhou-se na reforma de um quarto que acumulava tranqueiras e, o transformou num recanto de conto de fadas, em tons de azul pálido e rosa, quando descobriram que seria uma menina. Tia Luiza já não saía tanto de casa e todo aquele agite me encheu de expectativas. No fundo, eu estava contente de ter mais uma criança na casa, embora minha interação com ela não passar de uma relação de irmão mais velho.
A pequena e rechonchuda Camila nasceu no início de uma primavera, rosada e careca. Era tão discreta como jamais eu supus que um bebe pudesse ser. Era raro ouvi-la chorando no berço e, quando o fazia, bastava eu enfiar a cara por cima da grade para ela me encarar com os olhos mais azuis que eu já tinha visto e, silenciar. Com o tempo, além de cessar o choro, ela começou a esboçar um sorriso. Ela fazia isso toda vez que ouvia minha voz e, logo descobri, que ela ficava testando se a cada choro seu, eu iria aparecer ao lado do berço. Quando a carinha dela começou a se parecer menos com um joelho amassado, eu tentava encontrar algum traço que remetesse à tia Luiza ou ao tio Afonso, naquele rostinho infantil. Nunca encontrei algum. E, certo dia, quando uma daquelas amigas de tia Luiza apareceu com um presentinho para a Camila, uma frase dela chamou a minha atenção.
- De onde será que vieram esses olhinhos tão azuis? Você e o Afonso têm olhos escuros. Será algum dos ancestrais de vocês? São lindos, não são?
- É provável! – retrucou minha tia, com um constrangimento nada peculiar ao seu modo de ser.
Coincidentemente, na escola estávamos aprendendo sobre as leis de Mendelson nas aulas de biologia e, uma questão se implantou na minha cabeça. Como será que tia Luiza engravidou de uma hora para outra se já havia passado por tantos especialistas sem nenhum resultado? O fato de eu estar na adolescência e, portanto, sujeito a ouvir uma porção de sacanagens no colégio, também ajudava a ficar imaginando que tipo de artifício ela deve ter usado para conseguir realizar seu grande sonho. Essa dúvida quase se transformou numa certeza no dia em que apareceu um sujeito lá em casa, quando tio Afonso estava viajando. Ele não passava de um molecão sarado, a quem eu não daria mais do que uns vinte e poucos anos. Logo o associei à academia aonde tia Luiza ia com duas amigas, três vezes por semana. Ela o deixou entrar, mas sua inquietude com a presença dele era notória. Nessa época a Camila já estava ensaiando os primeiros passinhos, agarrando-se aos nossos dedos como um apoio para manter o equilíbrio. O molecão olhava para ela com um misto de medo e surpresa, com um par de olhos tão azuis quanto os dela. Quando encarei tia Luiza naquela tarde na sala onde havia mais silêncios do que palavras, eu tive a certeza de que ela conseguira ler meus pensamentos e, que sabia que eu havia descoberto sua perfídia. O sujeito nunca mais apareceu. Eu guardei aquele segredo da mesma forma que guardava o do tio Afonso com aquela moça que, anos atrás, enfiara seu caralhão na vagina na boleia do caminhão. E, nada me convencia ao contrário, de que aquilo ainda se repetia durante as viagens dele. Não era problema meu, um hóspede a quem acolheram por força das contingências.
No dia em que completei dezoito anos, foi Camila quem apareceu no meu quarto carregando um embrulho de papel verde musgo com uma enorme fita dourada. Ela subiu na minha cama, mal o dia tinha amanhecido, ansiosa para me entregar o presente. Na verdade, estava curiosa para saber o que o pacote continha, pois não tinha acompanhado tia Luiza no dia em que ela comprara o presente. Desde então, não conseguia controlar sua curiosidade e, por duas vezes, traíra a confiança da mãe, revelando-me que no dia do meu aniversário me daria um pacote verde com fita. Dei-lhe um beijo e a abracei com força, enquanto ela tentava se desvencilhar para apressar a abertura do pacote. Ela ficou decepcionada quando tirei uma camisa de dentro dele.
- Que linda! Como foi que você adivinhou que eu gostava de camisas listradas? – perguntei, tornando a beijá-la.
- É só uma camisa! – exclamou decepcionada, percebendo que havia colocado expectativas demais naquele embrulho.
- E, não é legal? Eu adorei, obrigado!
- Ah, tá! – respondeu, antes de sair correndo do quarto.
Naquele ano tio Afonso trocara os caminhões por dois trucks novinhos, num prazo de poucos meses, um truck Volvo FH500 e um Mercedes Benz Actros 4844K, para ambos encomendou carretas do tipo baú também novas. Além disso, fechou negócio numa casa na praia de Boracéia em São Sebastião, e trocado o carro da tia Luiza por um zerinho. Desde que vim morar com eles nunca tinha visto uma prosperidade tão fugaz. Fiquei a imaginar que seus negócios estavam a render muito bem nos últimos tempos. Nunca me meti em nenhum assunto entre os dois, pois eu sabia que estava ali de favor. Ambos sempre me trataram muito bem e supriram todas as minhas necessidades como se eu fosse filho deles. E, me deixou contente saber que estavam melhorando de vida.
- Na semana que vem começam suas férias, não é? – perguntou tio Afonso, no mesmo dia em que regressara de outra viagem.
- Sim. O senhor precisa que eu faça alguma coisa? – devolvi prestativo.
- Todos esses anos você nunca viajou para lugar algum, apesar de eu viver sempre com o pé na estrada. Você não gostaria de passar uma semana viajando? – disse ele.
- Claro tio! O senhor está precisando de um ajudante? Ficarei feliz em poder acompanha-lo! – respondi.
- Que ajudante, que nada! Eu quero que você se divirta um pouco. Você é um rapagão bonito, vive trancado em seu quarto em cima dos livros. Isso é bom, tanto que você sempre foi um excelente aluno. Mas, um jovem como você precisa conhecer o mundo! – devolveu ele.
- Eu me divirto, tio, juro! Não precisa se incomodar. Eu gosto da minha vida do jeito que ela está. – retruquei. Na verdade, ter sido separado da minha família, me tornou uma pessoa tímida, reclusa e que aceitava tudo que me davam sem nunca reclamar.
- Você é muito introvertido! Precisa sair mais, conhecer umas garotas, se divertir como qualquer jovem da sua idade. – ponderou ele.
- Vou tentar, prometo!
- Bem! Para começar, você vai com o Vicente na semana que vem para o Ceará. Temos um frete para Sobral e, depois de descarregar, o Vicente vai pegar outro frete em Fortaleza até Campinas. Quero que você vá com ele, aproveite as belíssimas praias que tem por lá e saia um pouco de casa. Também quero que vigie o Vicente, ele ainda é muito novo e fico me perguntando se ele faz o trabalho direito. Combinados? – sentenciou ele, não me deixando muitas alternativas.
- Ok. Combinados!
Vicente estava a pouco mais de dois meses trabalhando para o meu tio, dirigindo o Mercedes Benz, depois que o outro motorista conseguira um emprego numa empresa aqui de São Paulo e pode deixar a vida de andarilho. Eu tinha visto o Vicente em duas ou três ocasiões, muito rapidamente, quando ele passou aqui em casa deixando umas coisas para o tio Afonso. Ele devia ter uns vinte e cinco anos, tinha um corpão atlético e musculoso, ao contrário de todo caminhoneiro que eu conhecia. O cabelo dele parecia estar sempre precisando de um corte, bem como sua barba cerrada. No entanto, isso conferia um charme a mais para aquele rosto anguloso e másculo, onde sempre havia um sorriso plantado; exibindo seus dentes largos e bem alinhados.
Havia algum tempo que eu me surpreendera admirando corpos malhados de homens. Não conseguia compreender por que aquilo me causava um calor incômodo e um frenesi que mexia com todo meu corpo. A princípio, atribuí à desenvoltura desses machos essa espécie de intimidação que eles me causavam, por eu ser muito introvertido. No entanto, aos poucos, fui concluindo que eles me atraíam. E, isso me deixou apavorado. Eu tinha me transformado num gay enrustido e virgem ao longo da adolescência. E, as transformações ocorridas no meu corpo já despertavam a cobiça de alguns caras, quando não verbalizações explícitas.
- Por que eu não posso ir junto com você? – perguntou a Camila chorosa, pendurada ao meu pescoço quando me despedi dela no portão de casa. Aquela cena teve algo de dèjá vu que me deixou comovido e, de certa forma, com uma tristeza que parecia emergir do fundo da minha alma.
Subi na boleia e acenei para ela, agora nos braços da mãe. O Vicente colocou a carreta em movimento, liberando o ar sob pressão dos freios, com seu assobio característico. Fiquei um bom tempo em silêncio, perdido num passado distante que ainda era capaz de doer muito.
- É legal como ela é apegada a você! O Afonso me disse que vocês não são irmãos como eu havia imaginado, mas que você a trata com muito mais carinho do que se fossem irmãos de verdade. – disse o Vicente, me resgatando dos meus pensamentos.
- É sim. Eu sou apaixonado por ela! É a melhor referência do que seja um irmão que eu tenho. – respondi.
- Você não tem outra família além dos teus tios?
- Tive uma quando criança. – balbuciei lacônico, pois senti que tinha um nó na garganta como a muito não sentia.
- Seus pais morreram? – inquiriu curioso.
- Pode-se dizer que sim. Quando te mandam para fora de casa e com o tempo vão se esquecendo da sua existência, é praticamente como se estivessem mortos. – respondi num desabafo.
- Desculpe, não quis te entristecer. Não repare, eu às vezes não me toco de que estou extrapolando. – justificou-se, ao perceber que aquilo me trazia lembranças dolorosas.
- Não se desculpe! Está tudo bem! – respondi. Ele fingiu acreditar.
Em poucas horas pude perceber que o Vicente era um cara muito legal e divertido. Acho que nunca tinha dado tanta risada em tão pouco tempo com uma pessoa que eu mal conhecia. Depois da parada para o almoço, ao regressarmos ao caminhão sob um sol escaldante, o Vicente tirou a camiseta. Um tronco parrudo com deliciosos redemoinhos de pelos que desciam até o cós do jeans e, os braços onde os bíceps se moviam sedutoramente a cada movimento que ele fazia, instalaram aquele frenesi que bulia com os meus nervos.
- Não está com calor? – perguntou, diante do meu jeito visivelmente recatado. – Tire a camiseta! – aquilo me soou como um convite à luxuria.
- Um pouco. – respondi, tirando lentamente a camiseta pela cabeça, pois o caminhão parado sob o sol tinha transformado a boleia num verdadeiro forno.
- Assim que tirarmos esse ar quente da cabine, eu ligo o ar condicionado e esse calor se vai. – sentenciou, pondo a carreta em movimento, o que fez uma brisa quente acariciar meu tronco despido. - Pelo visto você não é muito amigo do sol. Sua pele é tão branquinha! – ele não podia ter feito uma observação mais inconveniente. Se eu já estava encabulado ao tirar a camiseta, depois de ele ter me examinado e dessas palavras fiquei ruborizado. Ele se divertiu com isso.
Mesmo focado no que ele me contava de suas aventuras desde que resolvera virar caminhoneiro e conhecer o país, eu não conseguia deixar de notar aquele imenso volume entre suas pernas. A todo instante me apareciam as imagens do caralhão do tio Afonso e da chapeleta vermelha se destacando como um enorme e proibido cogumelo. Será que o Vicente também pegava as prostitutas nos postos de gasolina ao longo das estradas e as fodia como fez o tio Afonso naquele dia?
- No que está pensando? Acho que não ouviu uma só palavra do que eu acabei de dizer. – disse ele, trazendo-me à realidade.
- Hã? Não, estou sim! Claro que estou! – exclamei atrapalhado.
- Então repita o que eu disse! – desafiou.
- Você estava dizendo que tinha descoberto que não dava para advogado quando era obrigado a ir ao fórum vestindo terno e gravata numa sala cheia de gente, quente e sem janelas de onde se possa avistar o que está acontecendo do lado de fora. Não foi isso? – respondi.
- Sim. Pensei que você estivesse com a cabeça longe daqui. Eu podia jurar que estava concentrado em outra coisa. Pelo visto me enganei. – retrucou.
- Com certeza! – exclamei. Você ficaria surpreso se soubesse no que eu estava pensando, disse a mim mesmo.
Ele ainda rodou alguns quilômetros depois do jantar, antes de estacionar no pátio de um posto onde íamos pernoitar. Uma chuva grossa pouco depois do anoitecer nos acompanhou até estacionarmos a carreta. Ela havia refrescado o mormaço denso da tarde.
- Teremos que dormir na boleia, não há mais quartos disponíveis. – disse ele, quando regressei do banheiro e o vi conversando com o sujeito que estava no caixa do restaurante sobre o qual havia umas acomodações.
- Posso lhes oferecer um banho como cortesia por não poder acomodá-los desta vez! – disse o sujeito, com um sorriso amistoso.
Eu tentei de todas as formas evitar que nos encontrássemos nos devassados chuveiros de um banheiro que ficava próximo aos quartos no andar acima do restaurante. No entanto, pareceu-me que o Vicente estava empenhado em fazer exatamente o contrário. Enquanto eu me enfiei apressadamente debaixo da água morna, após o Vicente ter dito que ia até o caminhão pegar umas coisas que tinha esquecido, achando que estaria a salvo de seus olhares, acabei caindo em sua armadilha como um patinho inexperiente. Eu mal havia enxaguado o xampu dos cabelos quando abri os olhos e me deparei com sua benga imensa balangando entre as coxas musculosas. Acho que naquele momento meu pinto, que já não era lá isso tudo, se encolheu como eu todo. O Vicente olhava fixamente para mim, o que só piorava a situação.
- Você é muito bonito! – exclamou, enquanto levava acintosamente a mão até a pica.
- Obrigado! – gaguejei. Quando é que se diz obrigado quando um cara está te secando com o pau na mão, seu imbecil? Pensei comigo mesmo. E, para piorar, ainda disse – Você também!
Ele disfarçou, mas era evidente que estava se controlando para não rir diante de tanta ingenuidade e vergonha. Contudo, não desgrudava aquele olhar babão de mim. A caminho do caminhão outra inquietação tomou conta de mim. Estaríamos deitados lado a lado naquela boleia apertada, uma vez que ambos tinham mais que um metro e oitenta de altura. Além disso, desde que pusera os olhos no meu corpo nu, aquele cacetão tinha tomado uma consistência mais robusta e não voltara a seu formato original. Agarrei o lençol e me cobri com ele assim que nos deitamos. O Vicente esparramou-se no espaço apertado que sobrou, nu em pelo. Deitado de costas e, com as pernas bem abertas, apoiou a cabeça sobre as mãos cruzadas para trás e sobre dois travesseiros que amoldou num canto.
- Você tem namorada? – perguntou depois de um silêncio que só se interrompia a cada caminhão que passava na estrada.
- Não. – respondi
- Já teve uma?
- Não. – onde ele está querendo chegar com essa conversa?
- E, namorado, já teve algum?
- Claro que não! – respondi tão prontamente que o fiz rir. – Do que está rindo?
- Nada, não! É que eu percebi o quanto você ficou abalado quando viu meu pau. – disse calmamente.
- Imagine! Que ideia!
- Eu ia gostar muito se você pegasse no meu pau.
- Para que eu faria uma coisa dessas?
- Para experimentar como é bom! Aposto que você tem curiosidade para saber como é.
- Pode apostar que não!
- Será? – questionou, puxando minha mão de debaixo do lençol e levando-a até sua virilha. Eu pensei que fosse ter uma síncope.
A pica reagiu imediatamente após minha mão toca-la, começando a endurecer sob a palma da minha mão. Erguia-se como um mastro latejante, desabrochando a cabeçorra arroxeada que, aos poucos, começava a umedecer minha mão. Ao mesmo tempo, a cabine do caminhão se preenchia com um cheiro almiscarado. Eu estava petrificado quando ele começou a puxar o lençol de cima de mim.
- Já te disseram que você tem uma bundinha muito da gostosa? – sussurrou, aproximando seu rosto do meu.
- Não. – gaguejei, mentindo.
- Pois fique sabendo que tem! E, eu estou louco para colocar as minhas mãos nela. Antes de colocar outra coisa dentro dela. Você faz ideia do que seja? – dava para sentir o hálito morno roçando meu rosto em brasa.
- Sim.
- Sim, o que?
- Eu sei o que você quer colocar dentro dela.
- Você vai me deixar meter nela? – meu coração batia com tanta força dentro do peito que pensei que ele fosse estourar. Houve outro silêncio prolongado. A respiração do Vicente se assemelhava ao arfar de um animal selvagem. Seu olhar, que não se desprendia do meu, estava injetado de cobiça.
- Vou. – escapou dos meus lábios, de forma tão sutil que mal dava para ouvir.
Quando sua boca cobriu a minha, eu passei os braços ao redor do tronco dele. Parecia que meu corpo estava convulsionando quando a língua dele se encontrou com a minha, e ambas se lambiam sofregamente. Minha cueca desceu pelas minhas pernas, guiada por suas mãos. Ao sentir que elas tocaram minhas nádegas, parecia estar me faltando o ar. O Vicente me virou de lado, facilitando o acesso à minha bunda, e me bolinou descarada e libidinosamente. Eu sentia o tesão dele aumentando com essa libertinagem, e gostava dessa sensação. Ele arreganhou minhas nádegas, deixando meu cuzinho todo de fora e esfregou as pontas dos dedos nele, enquanto eu gemia excitado. Havia algo em seu olhar pecaminoso e em seus movimentos, tão precisos e sensuais, que me tornava permissivo à sua investida. A vontade de acolhê-lo em meus braços só crescia, instigada pelos beijos afoitos e úmidos. Ele ajoelhou-se a pouca distância do meu rosto, exibindo seu mastro viril, reto, grosso e cabeçudo, e seu sacão pentelhudo. Acariciou meu rosto com a mesma mão que levou depois à pica, para pincelá-la nos meus lábios. Uma babinha salgada e viscosa fluiu para a minha boca e eu, instintivamente, a abri ao mesmo tempo em que meus lábios se fechavam ao redor da cabeçorra. O cheiro que vinha da sua virilha me inebriava e me deixava louco de tesão. Lambi e chupei cada milímetro de sua jeba grossa e veiúda, o que o fazia grunhir e se contorcer. Impressionado com o tamanho daquele saco que pendia diante de mim, comecei a tateá-lo com as pontas dos dedos. Seu conteúdo pesado deslizava lá dentro, enquanto a pele se enrugava. Não resisti e comecei a lamber suas bolas, mesmo que isso fizesse minha boca ficar cheia de pentelhos.
- Você acaba me matando desse jeito, Haroldinho! – ronronou excitado. Mal sabia ele que eu também me sentia prestes a desfalecer de tanto desejo.
Suas mãos seguraram e ajeitaram minhas coxas me fazendo assumir uma posição lateral quase de bruços, o que fez minha bunda se projetar em sua direção. Ele voltou a arreganhar minhas nádegas à procura do meu cuzinho. Quando o avistou encravado no fundo daquele rego fechado, começou a lambê-lo avidamente. Gemi feito louco, pois não sabia que meu cu podia ser a fonte de um prazer tão intenso e único. Depois de algum tempo, ele se inclinou sobre mim, fazendo com que o peso de seu corpo se amoldasse sobre o meu. Isso restringia um pouco meus movimentos e, de certa forma, também cerceava uma eventual intensão de fuga. Algo que, aquela altura, eu jamais intentaria fazer. O pau dele, rijo como uma barra de ferro, se insinuou entre meu rego, à medida que ele esfregava sua virilha na minha bunda. Eram torturantes aquela espera para ser penetrado, aquele desejo de sentir o cacetão dentro do cu, aquela vontade de agasalhar aquele macho nas entranhas. Ele parecia estar ciente desse meu desespero e o prolongava propositalmente.
- Ai Vicente! – gemi. Era tudo que ele queria ouvir.
Senti-o manipulando a rola para ajeitá-la na portinha do meu cu. Segurei a respiração como se isso apressasse os eventos. Ao sentir a primeira pressionada firme e decidida, percebi que não seria nada fácil abrir as preguinhas a ponto de permitir a passagem de algo tão grosso. Inspirei profundamente e esperei pela próxima investida, igualmente frustrada, segundos depois. A terceira foi tão impetuosa que, auxiliada pelo pré-gozo abundante com o qual ele melara meu reguinho, distendeu meus esfíncteres anais dilacerando minhas pregas e fazendo a pica se alojar no meu cu. Um grito escapou da minha boca, seguido por ganidos pungentes. E, antes que eu desse por mim, apercebi-me do sacão dele batendo contra meu reguinho completamente arreganhado e, o Vicente inteiro dentro das minhas entranhas, pulsando sua energia máscula. A dor intensa foi dando lugar a uma sensação de aprazimento indescritível, que me impeliu a empinar a bunda contra a virilha dele. Enquanto ele socava lenta e cadenciadamente o caralhão dentro do meu cu eu gania e ele gemia. Lembro-me de ter olhado pela janela, a chuva tinha limpado o céu e, uma lua em quarto crescente brilhava soberana entre milhares de pontinhos que piscavam sem nenhuma coerência. O Vicente estava abraçado ao meu tronco, uma de suas mãos brincava com meu mamilo, sua boca percorria meu pescoço e sussurrava palavras indecifráveis entre um arfar pesado que vinha do fundo de seu peito, enquanto sua pelve se movia num vaivém que estocava seu caralhão no meu cu macio e quente. Meu desejo era o de que aquele momento se perpetuasse pela eternidade. Eu virava meu rosto na direção dele e nos beijávamos voluptuosa e longamente. Mesmo pressentindo que o tesão o preparava para gozar, ele não conseguia interromper o ritmo das estocadas, apenas grunhia de satisfação. O vaivém dos meus quadris fazia com que meu pau se esfregasse no lençol, aumentando o prazer que vinha do meu cuzinho. Isso me fez gozar sem que ele o percebesse. Acho que por conta disso ele prolongava a foda, parando de bombar de vez em quando para perenizar aquela sensação de prazer. Levou um bom tempo até eu perceber que todo o corpo dele começou a se retesar, as estocadas ficaram mais profundas e dolorosas, ele me agarrava com uma pegada bem mais forte e, ao ouvir seu urro tocando seus lábios no meu ouvido, ao mesmo tempo em que ele ejaculava sua porra espessa e pegajosa no meu cuzinho, sabia que tinha lhe dado todo meu ser e o feito gozar mergulhado nesse prazer.
- Ah garotão, tu é gostoso para caralho! Olha para isso, estou gozando feito um touro! Puta cuzinho da porra! – murmurou, deixando que as contrações em sua pelve liberassem os jatões de porra que acumulara dentro de si.
Ele ficou deitado sobre meu corpo até o cacetão amolecer completamente. Sacou-o do meu rabo me fazendo gemer. Antes de me puxar sobre seu peito me deu um beijo que retribuí enquanto acariciava seu rosto.
- Acho que até o universo conspirou para nossa transa. Dá só uma olhada no luar que está lá fora! – exclamou, no instante em que também notou a lua nos observando.
- Eu já a tinha visto, enquanto você estava dentro de mim. Eu não tenho dúvida de que ela veio se certificar de eu estar vivendo o momento mais mágico da minha vida. – respondi.
- Você é um carinha muito especial, Haroldinho! Confessar uma coisa dessas para o cara que acabou de ter o melhor sexo de sua vida é a coisa mais maravilhosa que se pode ouvir.
Adormeci no embalo daquele peito musculoso subindo e descendo sob minha cabeça, enquanto as pontas dos meus dedos brincavam com os redemoinhos de pelos. Lembro-me de ter dado uma olhada em direção ao seu rosto antes de adormecer, e tê-lo encontrado sereno e adormecido.
Aquela foi a semana mais incrível que eu já tinha vivido, agitada, cheia de novidades, repleta de prazeres. O Vicente comia meu cuzinho todas as noites. Parecia contar as horas para o anoitecer e a chance de estar a sós comigo. Ele acabou me ensinando que ter um homem para chamar de seu podia ser a melhor coisa da vida. Na noite em que me deixou no portão de casa eu era uma pessoa totalmente diferente daquela que partira com ele uma semana antes. Eu me sentia mais vivo do que nunca e, sabia que dali em diante precisava procurar pela minha felicidade.
- Eu não disse que você estava precisando sair e se divertir um pouco? Olha só para ele, Luiza! Não tem mais aquela palidez, está até um pouco bronzeado, os olhos estão com um brilho que nunca tiveram e, esse sorriso me diz que você aproveitou bastante. – afirmou o tio Afonso quando entrei em casa. – Cadê o Vicente? Não quis entrar?
- Foi muito legal mesmo, tio. Obrigado por ter me deixado ir. – respondi, um pouco encabulado, pois fiquei receoso de que o Vicente talvez um dia comentasse com ele o que tinha acontecido entre nós. – Não, ele estava com pressa de chegar em casa. Disse que liga amanhã depois de entregar a carga. – emendei, enquanto a Camila surgia de seu quarto ao ouvir minha voz.
- Oi Haroldinho! Eu estava morrendo de saudades de você! – confessou, pulando no meu colo e me enchendo de beijos.
- Ah, é! Eu também estava com saudades sua. Mas, você sabe o que é saudade? – perguntei.
- Eu sei! É quando fica vazio aqui dentro! – respondeu ela, colocando a mãozinha sobre o coração. Eu ri.
- E agora, já está tudo cheio ai dentro outra vez?
- Está! – exclamou ela, enquanto seus olhos vasculhavam minha bagagem.
- Eu trouxe um presente para você! – foi o que bastou para ela pular do meu colo e começar a abrir as mochilas.
Nos finais de semana nos quais o tio Afonso não estava viajando era comum irmos passa-los na fazendola de 130 hectares, situada em Bragança Paulista, que um concunhado dele, Alberto, mantinha como refúgio para descanso de sua atribulada vida como proprietário de uma loja de autopeças; e na qual também exercitava seu hobby pelo agronegócio, plantando trigo, criando cavalos da raça Mangalarga e produzindo queijos finos de leite de cabra. Eu vim a conhecer o Alberto, sua esposa Marta e os filhos Humberto e Lucas logo depois que vim morar em São Paulo. Dessa forma, cresci praticamente junto com o Humberto e o Lucas que eram apenas um pouco mais velhos do que eu. Embora nosso convívio fosse constante, eu nunca cheguei a criar uma amizade profunda com nenhum dos dois. Eles viviam uma realidade tão adversa das minhas origens que nunca me senti muito a vontade para me aproximar deles. Também nunca ajudou o fato de eles serem muito extrovertidos, falarem muita sacanagem que aprendiam com o pai, um notório libertino cujas prioridades estavam ligadas à satisfação sexual e, me enxergarem como uma criança rejeitada pela família. No entanto, o passar dos anos foi transformando a maneira como eu enxergava o Humberto e ele a mim. Eu comecei a tirar uma com a cara dele quando resolveu virar um rato de academia. Aquilo tinha se transformado numa ideia fixa dele, fazer exercícios, malhar e puxar ferros em cada instante livre de que dispunha. Em pouco mais de dois anos, seu corpo em crescimento, adquiriu proporções invejáveis que deixavam as garotas sonhando com elas.
- Você devia malhar um pouco. Viu como o Lucas se transformou depois que começou a se exercitar? Sua estrutura óssea é muito boa, só falta delinear mais esses músculos. – dizia o Humberto, toda vez que estávamos na piscina da fazenda. Aquilo me irritava um pouco, pois, do nada, todos começavam a olhar para mim como se eu fosse um doente raquítico e concordavam com ele.
- Eu sempre digo isso a ele! Mas, não há nada que o faça sair daquele quarto. Um garoto nessa idade precisa jogar bola, malhar, comer umas gatinhas no colégio. – corroborava tio Afonso, deixando-me ainda mais sem graça diante do físico dos dois.
- Não é por nada, não, mas esse garoto tem potencial! – exclamava o Alberto, com um risinho irônico estampado na cara. Eu sempre suspeitei que havia algo de pérfido, quando ele pronunciava essas palavras com uma voz pausada e calculada, me examinando com um olhar aquilino.
A Marta é quem geralmente me socorria nesses momentos constrangedores e censurava o marido com veemência, provavelmente conhecedora de suas aventuras e extravagâncias sexuais. Porém, em nada ajudava o fato de ela me tratar como uma vítima de um destino infeliz. Com o tempo, acompanhar o tio Afonso e a tia Luiza nesses finais de semana tinha se transformado num verdadeiro calvário para mim, do qual eu não tinha escapatória, pois não admitiam me deixar sozinho em casa enquanto se divertiam.
Num desses finais de semana, já tarde da noite, sem conseguir pegar no sono por ter me queimado demais enquanto estávamos ao redor da piscina, quis tomar um ar na varanda da casa. Mas, antes de abrir a porta, ouvi trechos de uma conversa entre o tio Afonso e o Alberto. Meu tio expunha sua súbita dificuldade financeira para quitar alguns compromissos, dentre os quais a casa de Boraceia e as carretas. Como eu havia suspeitado na época da incorporação desses bens ao seu patrimônio, ele havia dado um passo maior do que as pernas. Também não descartei na ocasião, que o próprio Alberto tinha algo haver com essa repentina vontade de sair comprando coisas. Agora ele o ouvia, emitindo frases cujo potencial para deixar tio Afonso angustiado pareciam estar na ponta de sua língua. Sei que tio Afonso voltou daquele final de semana tenso e preocupado, embora ele não o quisesse deixar transparecer. Dias depois ele saiu em viagem e, enquanto estava fora, tia Luiza recebeu uma correspondência do banco.
- Minha nossa! – exclamou, pouco depois de abrir o envelope.
- O que foi, tia Luiza? Alguma notícia ruim? – perguntei, diante da aflição estampada em seu rosto.
- Sim. Quer dizer, não sei. Acho que sim! – respondeu, sem, contudo, me revelar do que se tratava.
Assim que tio Afonso voltou de viagem ambos foram à casa do Alberto e da Marta, após terem tido uma prolongada conversa em seu quarto, que a Camila tentou interromper por duas vezes para mostrar seus desenhos ao pai, sendo em ambas colocada sutilmente para fora do quarto.
Umas duas ou três semanas depois, tio Afonso me convidou para acompanha-lo a uma choperia em Pinheiros, mesmo sabendo que eu não era chegado a bebidas alcoólicas. Como vim a descobrir, assim que me vi diante de uma tulipa na qual minúsculas bolhas parecendo diamantes reluzentes subiam até um cremoso colarinho de espuma branca, o convite foi apenas um pretexto para me tirar de casa e, me colocar num local público onde era certo que minha reação diante do que ele tinha para me dizer não fosse causar embaraços maiores.
- Você sabe o quanto a Luiza e eu gostamos de você, não sabe Haroldinho? – começou ele, procurando pelas palavras certas a dizer. – Te queremos como se fosse nosso filho. Eu me meti numa enrascada e vejo que ela pode afetar o seu futuro. E, por nada deste mundo, queremos que você se veja impedido de realizar seus sonhos. Você acaba de entrar na faculdade, só que eu não tenho como bancar os custos de tudo que você necessita. Você compreende onde quero chegar? – a pergunta foi apenas retórica, uma vez que ele já tinha tudo traçado em sua mente. Era apenas para me dar uma trégua antes de revelar o que de mais pesado havia para dizer.
- Eu sei, tio! Eu também amo muito vocês e a Camila. Não me importo se tiver que esperar para cursar uma faculdade, posso tentar conseguir um emprego e ajuda-lo no que for preciso. Vocês já fizeram tanto por mim, vou ficar feliz se puder retribuir em parte o que me deram. – afirmei sincero.
- Não se trata disso, Haroldinho! Eu jamais cobraria qualquer coisa de você. Nem quero que se sacrifique, ou a seu futuro, por nenhum de nós. – retrucou ele, percebendo que talvez ia ser bem mais difícil dizer o que tinha que ser dito.
- Não é sacrifício algum! Faria tudo que fosse possível por vocês. Vocês são minha família!
- Haroldinho, nós já encontramos uma saída para nosso problema. Eu estou apenas querendo te comunicar qual é essa solução. O Alberto vai quitar as minhas dívidas, todas elas, sem que eu e a Luiza tenhamos que abrir mão do nosso patrimônio. Ele também vai custear toda a sua faculdade. Você sabe que para ele isso não é nenhum problema. – revelou
- Que legal! Mas ele não precisa pagar a minha faculdade. Como eu disse, quando eu tiver condições eu mesmo pago meus estudos. – tudo o que eu não queria era dever qualquer favor àquele homem que, por uma razão que eu próprio desconhecia, não me inspirava confiança.
- A condição para ele quitar as minhas dívidas e deixar tudo zerado, é que você vá morar com eles. Não sei de detalhes, mas pelo que ele me disse, está atendendo a um pedido do Humberto que está a fim de você. – eu quase me afoguei no gole de chope que estava na minha boca.
- Como assim? Que absurdo é esse? – questionei, assim que consegui me livrar do engasgo.
- Não me diga que você nunca reparou como o Humberto olha para a sua bunda? Ele é um rapagão safado, eu bem sei, mas no fundo é gente boa. Que mal tem se o pai dele topa bancar seus estudos em troca do filho poder meter a pica de vez quando no seu rabão? Tudo na vida tem um preço, Haroldinho! Tente tirar o máximo de proveito dessa situação. É seu futuro que está em jogo. E, não vale a pena arriscá-lo por conta de uma moral preconceituosa. – não havia dúvida de que aquele era um discurso ensaiado, e eu já imaginava quem tinha sido o mentor daquilo tudo.
- Quando preciso deixar a sua casa, tio Afonso? – foi tudo que consegui dizer. Afinal, se minha mãe tinha feito o mesmo anos antes, por que essas pessoas não fariam o mesmo para resolver seus problemas. Talvez eu não fosse mesmo mais do que uma mercadoria que podia ser negociada cada vez que se fizesse necessário.
- Não coloque isso nesses termos! Vamos sentir muito a sua falta. – disse ele, tentando com isso apenas amenizar seu remorso. – O Alberto me disse que você pode se mudar para lá esta semana mesmo.
- Tudo bem! Vou assim que eles quiserem. – não consegui engolir mais nada ao final dessa conversa. Tio Afonso mal conseguia me encarar. Mudou de assunto para desanuviar o clima, mas eu não prestei mais atenção a nenhuma de suas palavras.
O Humberto veio me buscar dois dias depois, o que me fez pensar que ele realmente estava envolvido nessa questão. Chorei junto com a Camila quando ela se pendurou no meu pescoço pedindo para eu não ir embora. Não troquei uma única palavra com o Humberto durante o trajeto até a casa dele. Assim como não saí mais do quarto naquela noite, após a Marta me mostrar meus futuros aposentos. Pensei em abandonar tudo e sair simplesmente caminhando por aí. Mas, para onde vai um cara de dezoito anos, sem dinheiro, sem um emprego, sem ter como se sustentar? Tolice de um jovem querendo extravasar sua rebeldia sem ter como e nem onde cair morto. Melhor usar a cabeça ao invés das emoções para encontrar uma saída, pensava eu, enquanto o choro da impotência diante de um mundo tão árido e cruel sacudia meu peito. Como tudo na vida, basta o dia amanhecer para que a noite turbulenta fique para trás, basta a calmaria após a tempestade e as coisas vão entrando nos eixos a despeito da nossa vontade.
Cerca de um mês e pouco depois, com o início das aulas na faculdade, eu tentava levar uma vida normal no meio daqueles estranhos. A única coisa que me abalava era a proximidade com o Humberto. Toda vez que ele se aproximava de mim eu achava que ele estava vindo reivindicar aquilo que seu pai havia adquirido. Eu ficava sem palavras, começava a suar e sentia meu corpo todo tremendo. Porém, ele nunca tocou no assunto. Será que está esperando que eu me entregue, uma vez que aceitei o acordo? Ele só me encarava de um jeito esquisito, como se eu fosse um maluco. Outro que me causava arrepios de pavor era o Alberto. A todo custo eu evitava ficar a sós com ele, criando a oportunidade para ele me cobrar pela dívida do tio Afonso.
- Você não se interessa muito pelas garotas, não é Haroldinho? – perguntou ele, num dia em que não consegui escapar ao seu cerco.
- Ainda não conheci nenhuma que me interessasse. – respondi.
- Sem procurar por uma vai ser difícil você conseguir se interessar. – retrucou ele
- Ainda é cedo, tenho que me concentrar nos estudos.
- As duas coisas podem acontecer juntas. Pegar uma bucetinha novinha e inexperiente é algo que um homem não deve adiar. Alimenta o ego e faz a gente se sentir mais macho. – argumentou.
- É, acho que sim.
- Você sabe que tem uma bundinha muito gostosa, não sabe? Sabe também que o Humberto é muito macho, como o pai aqui e, que está muito a fim de brincar nessa sua garagem volumosa. Foi por isso que eu resolvi dar uma força para ele. – o cinismo imperava em suas palavras.
- Ele nunca me disse nada. Vou cumprir a minha parte para honrar o acordo que tio Afonso fez com o senhor. – retruquei.
- Isso não é um negócio! Estamos falando de emoções, sentimentos, prazeres. A questão do dinheiro que dei ao seu tio está resolvida, são águas passadas. Não se sinta atrelado a isso. – como um sujeito pode ser tão hipócrita, pensei comigo mesmo.
Após essa conversa, eu percebi que o Alberto vivia esbarrando em mim. Vira e mexe eu sentia ele me tocando por qualquer pretexto. Tinha se tornado um hábito dele ficar mexendo na pica enquanto estava na minha presença. Assim como, sentar-se na minha frente com um short largo e sem cueca e abrir as pernas para que eu visse seu caralhão. No entanto, não era isso que me tirava a tranquilidade e, sim, o Humberto andando pela casa só de bermuda, desfilando aquele peitoral peludo e musculoso. Quando ele se aproximava de mim me fazendo sentir o calor que seu corpão emanava, era impossível não me lembrar do Vicente deitado sobre mim com a pica enfiada até o talo no meu cuzinho, e do prazer que isso era capaz de trazer.
Tanto o Humberto quanto o Lucas haviam herdado do pai o gosto pela sacanagem. Com o estreitamento das nossas relações devido ao convívio diário, eles não demoraram a me zoar pelo tamanho da minha bunda. O Alberto se divertia com meu constrangimento diante dessas brincadeiras e até as incentivava. Eu procurava ignorá-las na medida do possível e do tipo de abordagem que, às vezes, chegava ao ponto de eles me encoxarem e simularem estar copulando comigo. Embora as que mais me deixavam sentido fossem as perpetradas pelo Humberto, mesmo quando ele pegava leve. As zoações dele tinham essa capacidade, pois eu me descobri apaixonado por ele, sem que ele tivesse a menor desconfiança dos meus sentimentos. A todo instante ele estava com uma garota diferente a tiracolo. Elas pareciam atraídas por ele como moscas no mel. O Lucas não ficava atrás e, era o que mais aprontava comigo, me apresentando às garotas e, diante delas insinuando que eu não era chegado em mulheres. Por isso, deixei de sair com eles, uma vez que as gozações eram inevitáveis.
- Dá uma chupadinha na minha piroca! Estou com uma coceirinha bem aqui, olha! – disse ele sorrindo, enquanto tirava a pica da sunga e acariciava a glande, num dia ensolarado de verão quando estávamos apenas nós três ao redor da piscina na fazenda.
- Chama uma daquelas piranhonas com as quais você sai, talvez elas gostem de uma mixaria dessas! – desdenhei irônico.
- Mixaria é o seu cazzo! Senta aqui que eu te mostro o que é mixaria! – devolveu irritado.
- Eu jamais perderia meu tempo com uma porcariazinha dessas! – menosprezei, muito embora seu falo tivesse mais de um palmo de comprimento.
- E com esse aqui? Acha que consegue encarar um desses? – questionou o Humberto, tirando a jeba imensa da sunga.
- Com uma dessas, eu até ia pensar no caso! – retruquei
- Vamos mostrar para esse viadinho no que dá fazer pouco caso da pica de um macho! – revidou o Lucas, vindo em minha direção.
Ambos me jogaram na água e saltaram atrás de mim, antes de voltar à superfície eu já estava sem a minha sunga. O Humberto a fazia rodopiar em sua mão e, me desafiava a ir busca-la. Quando tentei nadar em direção a ele, o Lucas me agarrou e eu notei que ele também estava pelado, pois sua rola boiava rente às minhas nádegas.
- Solta, cara! Devolve isso, Humberto!
- Faz uma chupetinha que eu devolvo!
- Puto!
- Gostoso!
- Me larga, Lucas!
- Vou te enrabar primeiro, viadinho. Você não disse que meu cacete era mixaria, então não vai fazer diferença se eu o enfiar nesse cuzinho. – ameaçou e, no mesmo instante senti seu dedo entrando no meu cuzinho e se movendo em círculos dentro dele. Meus esfíncteres se contraíram abruptamente aprisionando aquele invasor libidinoso.
Eu me debatia na água procurando me desvencilhar dele, mas isso só fez o tesão dele aumentar. O Humberto nadou até nós e viu o irmão bolinando meu cu. Consegui ver seu pau endurecendo debaixo d’água. Toda aquela agitação chamou a atenção da Marta que, mesmo a certa distância, desconfiou da sacanagem.
- O que é que vocês estão fazendo aí? Que sem-vergonhice é essa, Lucas? Humberto? – embora não tivesse visto nada, ela conhecia os filhos que tinha.
- Por que apenas nós levamos bronca, e o Haroldinho não? – protestou o Humberto.
- O que significa essa sunga na sua mão, Humberto? Já chega dessa palhaçada! – ela havia se aproximado o suficiente para ver o que estavam fazendo.
Num momento de distração consegui reaver minha sunga, vesti-la e nadar até a borda. Saí da água e fui trocar de roupa no quarto, furioso com o que tinha acabado de acontecer. Não conversei com os dois pelo resto do dia e, também ignorei quando piscaram atrozmente para mim durante o jantar.
- Mano, foi uma sacanagem para ir à forra por ele ter tirado uma com meu pau. Mas, cara, vou te confessar que ele tem um puta de um cuzinho apertado. – ouvi o Lucas comentar sem que eles me vissem.
- Como assim?
- Aquela hora em que eu agarrei o Haroldinho, meti um dedo no cu dele. Mano, que cuzinho! Só de imaginar fico de pau duro. – revelou
- Cara, você é doido! Aquela bunda é gostosa para caralho! Lembra quando garoto e ele vinha passar o final de semana na fazenda, pois um dia fiquei com um puta tesão naquela bunda e cheguei a bater uma bronha no chuveiro para me aliviar. – confessou o Humberto. Meu coração quase saiu pela boca. Ele não era indiferente a mim como eu imaginava.
Depois de ter ouvido aquela conversa eu comecei a flertar com o Humberto. Se houvesse uma chance, a mínima que fosse, eu ia tentar conquistar esse homem. O que me aterrorizava era o fato de um hétero como ele, provavelmente, estar disposto a apenas se divertir comigo e nunca assumir um relacionamento. A realidade era essa, quando um cara 100% macho se interessava por outro cara era apenas sexo. Eles jamais encarariam a sociedade para ter um relacionamento que envolvesse sentimentos. No entanto, era com isso que eu sonhava desde a viagem com o Vicente. Encontrar um cara tipo ele, mas que estivesse a fim de ficar comigo por paixão.
- Bom dia ‘seu’ Haroldo! Tem alguma roupa para lavar? Estou recolhendo as roupas dos quartos. – perguntou a empregada, numa manhã em que me preparava para ir à faculdade.
- Bom dia Zefinha! Não, não tenho, já deixei minhas roupas na lavanderia. – respondi, ao encontra-la no corredor dos quartos.
- O senhor é o único que deixa as roupas sujas lá. Os outros deixam tudo espalhado pelos quartos, nunca sei se é para lavar ou não. – retrucou ela, com uma pilha de roupas nos braços após ter saído do quarto do Alberto e da Marta. – Falando nisso, o senhor pode me fazer um favor? O ‘seu’ Humberto está no banho e, com certeza, tem uma porção de roupas sujas lá dentro, o senhor podia pegar para mim? ... Ah! Tem mais uma coisa. O ‘seu’ Alberto pediu para eu avisar o ‘seu’ Humberto que ele está saindo para a loja e que, se ele demorar mais cinco minutos, vai ter que se virar para chegar lá.
- Claro! Pode descer que eu levo as roupas dele.
Ao entrar no quarto do Humberto, coisa que eu tinha feito não mais do que umas duas vezes, ouvi a ducha correndo e comecei a juntar suas roupas espalhadas por todo lado. Sobre a cama desfeita estavam uma camiseta e uma cueca, que eu supus ele devia ter acabado de tirar para tomar banho. Ao pegar a camiseta notei que ela ainda estava quente, aquele calor que me transtornava toda vez que ele estava muito próximo de mim. Inconscientemente, levei a camiseta até o rosto e aspirei seu cheiro, fazendo deslizar pelas faces como se estivesse acariciando seu tronco musculoso. Meu coração batia acelerado, só com a hipótese daquilo vir a ocorrer algum dia. Depois, peguei a cueca e também a cheirei. Tal como naquela vez que mamei a pica do Vicente, ela estava impregnada por um aroma almiscarado e penetrante. Meu cuzinho começou a se contorcer dentro da calça.
- Por que você não cheira diretamente a fonte? – a voz rouca da manhã do Humberto, rente ao meu ouvido, quase me matou de susto. Ele ainda não tinha se enfiado debaixo da ducha e veio buscar a toalha que esquecera sobre uma poltrona.
- Ai! – assomou aos meus lábios num quase grito.
- Eu não sabia que você gosta de sentir cheiro de macho! – exclamou sarcástico
- Deixa de ser besta! A Zefinha me pediu para pegar suas roupas sujas e eu só estava vendo quais delas tinham sido usadas. – menti, tentando me safar do flagra.
- E ai você resolveu logo cheirar minha cueca! Gostou? – revidou ele, agarrando minha nádega.
- Tonto!
- Minha pica está mais concentrada do que a cueca, dá uma fungada aqui, dá. – Ele tentou me fazer ajoelhar diante de seu mastro, mas eu me esquivei. Ele veio atrás de mim e me agarrou, nos derrubando sobre a cama.
- Deixa eu mexer no seu cuzinho, deixa. Estou louco para saber se é tão apertadinho como o Lucas falou.
- Larga! Seu pai disse que vai embora se você não descer em cinco minutos. Eu vou perder minha aula na faculdade. – argumentei, muito embora minha excitação desejasse ficar ali com ele e deixar a coisa rolar.
- Só largo se você entrar na ducha comigo.
- Tá, eu vou. Mas, você vai primeiro. – fingi concordar.
- Nada disso, espertinho! Eu vou tirar suas roupas e você vem junto comigo. É isso, ou eu te levo na marra, com roupa e tudo.
Ele começou a me despir lentamente. Encarava-me com um ar libidinoso, divertindo-se com meu pudor. Dobrei uma perna sobre a outra para que ele não visse meu pau. Diante do tamanho da rola dele eu subitamente senti vergonha da minha. Eu respirava acelerada e superficialmente, como uma gazela assustada. Ao terminar de me despir, ele veio percorrendo minha coxa, com uma das mãos, do joelho até a bunda.
- Lisinha como um pêssego! Já bati umas punhetas pensando nessa bundinha, sabia? – sussurrou atrevido.
- Não faz isso! – eu precisava ouvir algo de racional para não me deixar levar pelas emoções.
Sem tirar os olhos dos meus, ele foi vagarosamente tateando até abrir meu rego e insinuar um dedo no meu cu. Eu me contorci e soltei um leve gemido. Deixei-o rodopiar aquele dedo no meu cuzinho sem esboçar nenhuma rejeição. Seus olhos ficavam mais brilhantes a cada instante. Depois de alguns minutos, ele tirou o dedo e engatinhou até confrontar sua jeba com meu rosto. Bateu com a pica na minha cara e me fez cheirar seu falo úmido. Eu apoiei as duas mãos em suas coxas peludas e abri a boca engolindo delicadamente a cabeçorra cheirosa e babando. Ele deu um leve grunhido, e me agarrou pelos cabelos. A pica ia enrijecendo dentro da minha boca à medida que eu a chupava. Ele se firmou sobre os joelhos e empurrou minha cabeça contra sua virilha. A verga foi parar na minha garganta, me sufocando. Gemi e segurei no pau dele tentando tirá-lo da minha boca, mas ele ainda deu duas estocadas antes de permitir que eu a tirasse. Minha mão tateou por entre os pentelhos, acariciou e manipulou seu saco, depois, fechando-se ao redor do membro, colocou-o novamente na boca. Seu pré-gozo suculento e saboroso se espalhou na minha boca e eu o sorvi cheio de tesão. Eu podia ver o êxtase em seu semblante estupefato.
- Quer dizer que é de um caralho que você gosta. Fala que quer sentir meu cacete, fala! Putinho gostoso! – rosnou ele, tão excitado quanto eu.
Ele apartou minhas pernas colocando-as sobre seus ombros, puxou minha bunda contra sua virilha e, segurando sua ereção firme, deslizou o cacete ao longo do meu rego. Eu gemi, quase verbalizando uma súplica para que me penetrasse. Porém, não foi necessário, meu olhar já clamava por isso e ele soube interpretá-lo. O Humberto foi mais rude que o Vicente ao enfiar sua enorme verga entre as minhas pregas. Eu gani e travei os esfíncteres, frustrando a primeira tentativa. Na segunda ele foi bem mais incisivo e a cabeçorra me dilacerou antes de se alojar no meu íntimo. Ao sentir minha musculatura anal se contraindo poderosamente e agasalhando seu falo, ele soltou o ar entre os dentes num assobio rouco. Nos primeiros movimentos de vaivém eu tentei relaxar a pelve, mas ela continuava retesada e todo meu corpo tremia num frenesi delirante. Isso fez com que uma dor lancinante se espalhasse pelo meu baixo ventre, brigando-me a ganir feito uma cadela. Num tesão tresloucado, o Humberto me fodia com força e impetuosidade. Eu tentava em vão afasta-lo do meu cu, empurrando suas coxas com as duas mãos, mas elas nem se moveram.
- Ai, ai, ai Humberto! Está me machucando! – gemi angustiado.
- Puto! Putinho! Que delícia de rabo do caralho!
Meu pau balançava de um lado para outro a cada estocada que ele enfiava no meu cuzinho. As bolas dele batiam contra meu rego num shlap shlap cadenciado. De repente, meu ventre se encheu de porra, eu gozava sem que a tensão que me atormentava arrefecesse.
- Goza meu putinho do rabo tesudo, goza! Está gostando de levar pica no cu, não é viadinho? – rosnou ele, percebendo que ia gozar também.
Com o cuzinho ardendo como se houvesse fogo dentro dele, comecei a sentir os jatos de porra encharcando minhas entranhas. O Humberto não parava de bombar, urrando, deixava o gozo fluir prazeroso e abundante. Ele estava todo suado quando se deixou cair sobre mim. Abraçou meu tronco com força e procurou minha boca com a sua. Enquanto um longo beijo, que fazia nossas línguas se entrelaçarem em movimentos sensuais, ia acalmando nosso furor, eu deslizava a pontas dos dedos por suas costas e o envolvia num abraço apertado.
Enfiamos-nos debaixo da ducha e, enquanto a água morna escorria por nossos corpos, nós nos olhávamos com um encantamento novo, como se estivéssemos nos descobrindo naquele momento. Ele despejou um pouco de sabonete sobre mim e começou a espalhá-lo pelo meu corpo. Suas mãos deslizavam contornando meus mamilos, descendo pelo meu ventre, circundando minha cintura e voltando a deslizar pelas minhas nádegas. Puxando-me para junto de si, ele voltou a colocar um dedo no meu cu. Eu cravei as pontas dos dedos em seu peito, deixando-o vasculhar a gruta na qual acabara de se saciar. Depois, fiz o mesmo com ele, espalhei o sabonete líquido por seu corpo, deslizando suavemente minhas mãos por toda aquela musculatura rija e colossal. Ele me acompanhava com o olhar e um sorriso no rosto, que se ampliou quando minha mão deslizou entre suas pernas e começou a acariciar o cacete e o sacão.
- Se eu soubesse que você é tão carinhoso já tinha mandado você fazer isso antes. – disse ele, numa voz branda e sensual. Beijei-o, pois não sabia o que responder.
Foi preciso que a Zefinha batesse na porta do quarto para que ambos voltassem à realidade.
- Com certeza seu pai já foi para a loja e, eu estou atrasado para a minha aula, a primeira já perdi, portanto, você vai me deixar na faculdade antes de se encontrar com seu pai. – afirmei, soltando a pica dele, que aquela altura já estava outra vez rija e pulsando na palma da minha mão.
Em frente à entrada da faculdade ele me puxou pelo braço quando intentei sair do carro.
- Nunca imaginei que você desse o cuzinho com essa facilidade! Quando vamos repetir a dose? – disse, levando minha mão sobre a pica.
- Eu não dou mesmo! Fiz aquilo para o que estou sendo pago! Literalmente cumprindo o acordo que seu pai fez com o tio Afonso. – respondi.
- Do que é que você está falando? O que meu pai e seu tio têm haver com eu comer seu rabo? – questionou, quase esmagando meu braço.
- Deixe de cinismo! Seu pai atendeu ao seu pedido e, cá estou para você ter com que se divertir. – devolvi, livrando-me dele e descendo do carro.
- Volte aqui! Que pedido? Você não está falando coisa com coisa. Volta aqui, já mandei! Você vai me contar essa história direitinho. Não pense que se safou dessa! – berrou atrás de mim, enquanto eu me apressava para entrar no edifício.
Pouco me concentrei nas aulas naquele dia. Meu cu estava bem machucado e ardia. A umidade viril do Humberto se fazia sentir a cada passo que eu dava. Por que as coisas não podiam ter sido diferente? Ele podia ter notado o quão apaixonado eu estava por ele, disposto a tudo para ser correspondido e ter seu amor. No entanto, preferiu se valer da minha condição para me obrigar aceitar um acordo desses. Como foi mesmo que ele me chamou, puto, putinho, enquanto me fodia? Era assim que ele me via, como uma prostituta qualquer, a qual se paga para poder desfrutar de seus serviços. De repente, senti as lágrimas descendo pelo rosto, em plena aula.
- Você está sentindo alguma coisa? O que foi que aconteceu? – perguntou o colega ao meu lado. Eu só balancei a cabeça e saí da sala.
Era tarde naquela noite quando eu estudava no meu quarto e o Humberto entrou sem bater na porta, trancando-a em seguida.
- Que bobagem foi aquela que você falou esta manhã? Eu pedi o que para o meu pai? Qual foi o acordo que ele fez com seu tio? – perguntou, girando a cadeira na qual eu estava sentado diante da mesa de estudos para que ficasse frente a frente com ele sentado na minha cama.
- Ah! Então você não sabe por que me mudei para cá. Quer me convencer que também não sabe que seu pai quitou algumas dívidas do tio Afonso em troca de eu me prestar a satisfazer suas taras. Quem sabe não apenas as suas, mas as dele próprio e do Lucas. Afinal, vocês já deram demonstrações inequívocas do interesse que tem em foder minha bunda. É claro que tudo em nome de me ajudar, dando um teto, custeando meus estudos e sendo generosos para com o futuro de um pobre diabo que, do contrário, não teria nada. – desabafei, sem conseguir controlar o choro que brotou enquanto eu discursava.
- Que maluquice é essa? Eu soube sim que seu tio está passando por problemas financeiros. Mas, ao que me consta, você se mudou para cá por uma questão prática, a de estar perto da faculdade que, isso estou sabendo sim, meu pai resolveu bancar para te dar uma força uma vez que nossas famílias têm uma amizade desde que éramos crianças. Porém não sei de nada que meu pai pagou dívidas do seu tio em troca de favores. – afirmou ele.
- No dia em que me participaram do acordo que tinham feito, tudo já estava arranjado. Segundo seu pai, você pediu para que ele intercedesse me trazendo para cá, pois estava a fim de se divertir com meu cuzinho. – foi esse o acordo que eu aceitei, pois era isso ou ir viver debaixo de uma ponte ou sabe-se lá onde. – retruquei.
- Tá! Meu pai não é nenhum santo, estou sabendo. Sei que é chegado numa bundinha de garotões feito você. Aliás, já o flagrei enrabando um funcionário novinho lá da loja. Parece que a tara por bundas é uma herança de família por aqui. Mas, daí a te propor um acordo desses é difícil de acreditar. – revidou.
- Faça como quiser! Acredite no que quiser! Eu te garanto uma única coisa, não estou mentindo. Também não quero te colocar contra seu pai. Deixemos as coisas como estão. – ponderei.
- Quer dizer que aquilo que aconteceu esta manhã entre a gente foi você cumprindo sua parte nesse tal acordo? É isso? Responde! – ele começou a ficar agressivo.
- Também! – balbuciei, sem conseguir encarar aquele olhar presunçoso e acusador.
- Pois bem! Eu vou tirar essa história a limpo, mas uma coisa eu te garanto, você não precisa mais se preocupar comigo. Não vou mais cobrar seus serviços. Nunca precisei pagar ninguém para que me deixassem foder um rabo. – afirmou exasperado, batendo a porta do quarto ao sair pisando firme.
Eu entrei em pânico. Certamente seria expulso daquela casa na manhã seguinte. Agora, depois de falar demais, eu tinha apenas o desprezo e talvez a raiva do Humberto, ao invés do amor pelo qual tanto procurei. O Alberto provavelmente negaria tudo, especialmente para contornar a situação com a Marta. No entanto, nada disso ocorreu. Os dias se sucederam sem que nada mudasse na rotina da casa. Afora o Humberto mal me olhar na cara e não ter mais me dirigido a palavra e, alguns dias depois o Alberto vir ter uma conversa comigo, tudo seguia sem problemas.
- Fiquei sabendo da conversa que você e o Humberto tiveram. E, também do que aconteceu entre vocês. – começou o Alberto serenamente, numa manhã em que se prontificou a me levar até a faculdade por que chovia.
- Eu não tive a intenção de coloca-lo contra o senhor. Quando ele fez aquilo comigo eu achei que estávamos fazendo valer o acordo do qual o senhor me falou quando vim para cá. – respondi.
- Não se preocupe com isso. É isso mesmo, está tudo certo. Só não vamos levar essa história adiante, eu não gostaria que a Marta sofresse por causa disso, você me entende? – questionou.
- Sim claro! Não vou comentar nada com ela e, com mais ninguém. – prometi
- Me parece que o Humberto ficou bastante desapontado. Acho que ele esperava outra coisa. – afirmou.
- Da próxima vez é só ele me dizer o que quer que eu faça. Vou atender ao pedido dele. É que não tenho muita experiência nesse assunto. – revelei envergonhado, ao que ele esboçou um risinho.
Alguns dias depois foi o Lucas que fez uma insinuação durante o churrasco de domingo na fazenda, quando a família do tio Afonso também estava lá, dando a entender que sabia do ocorrido entre o irmão e eu. Fingi não ter entendido sua insinuação. Aos poucos eu já me considerava um expert em fingir situações, era assim que conseguia levar a vida adiante. O Humberto o encarou repreensivo. Subitamente, tive a impressão de que todos ali presentes já sabiam de tudo, que talvez até se divertissem pelas minhas costas. Passei aquele final de semana prolongado, devido a um feriado na segunda-feira, bastante abatido. Concluí que isso se devia a situação constrangedora pela qual estava passando, aliado aos sintomas de uma gripe que devia estar se instalando, uma vez que nos últimos dias a inconstância climática me fizera pegar uma chuva e um vento gelado no regresso da faculdade. Na volta para São Paulo tive calafrios e uma febre alta que não cedia à medicação. Precisei voltar da faculdade antes do final das aulas, pois os sintomas só pioravam sendo acrescidos de outros, como dores abdominais intensas, náuseas e icterícia. Passei o restante do dia na cama pressentindo que aquilo não podia ser um simples resfriado. Sem melhoras, no dia seguinte o Lucas me acompanhou numa consulta médica. O diagnóstico inicial foi de eu estar na segunda fase da febre amarela e, o médico me encaminhou para internação. Com a piora constante, fui submetido a uma hemodiálise, uma vez que meus rins começavam a ficar seriamente comprometidos e as funções hepáticas também apresentavam problemas. No terceiro dia fui transferido para uma UTI, bastante debilitado e quase inconsciente. Lembro-me de trechos de conversas entre médicos e enfermeiras ao pé do leito, confabulando sobre o estado crítico no qual me encontrava e, de passar longos períodos sem saber o que se passava a minha volta. Ao mesmo tempo, eu parecia estar ligado a alguma coisa que de certa maneira me mantinha vivo, como um eletrodoméstico que só funcionava ligado à energia. Nesses momentos, quando aquele estado de torpor parecia diminuir, apesar de não conseguir identificar o que me cercava, eu enxergava contornos nebulosos como que escondidos dentro de uma neblina densa e, podia jurar que o Humberto estava ao meu lado. Seriam assim os instantes finais de nossas vidas? Quando conseguimos ver todos os nossos sonhos acalentados durante uma vida inteira, se realizando. Quando repentinamente todo mal que as pessoas nos fizeram deixa de ter importância. Quando sentimos que ainda há muito a ser vivido, mas em condições completamente diversas daquelas em que vivemos até então. Depois que esses pensamentos passavam, eu voltava a flutuar naquele éter sem formas, sons ou sentimentos.
Uns bipes insistentes penetravam nos meus ouvidos, fazendo meu cérebro reverberar. Aquela alvura na qual me achava imerso também se intensificava e eu precisava fechar os olhos para suportá-la. Tudo era tremendamente desconfortável, exceto o calor reconfortante que subia pelo meu braço esquerdo, vindo da minha mão que se achava encaixada em algo muito aconchegante. Aos poucos as imagens se tornaram mais nítidas e, virando minha cabeça na direção de onde vinha aquela sensação boa, eu vi a cabeça do Humberto debruçada sobre seus braços cruzados e, minha mão estava dentro da dele. Fiz um esforço enorme para conseguir erguer meu outro braço, e leva-lo até seus cabelos, junto com uma porção de tubos que estavam presos nele. Eu precisava me certificar de que não estava sonhando. Assim que toquei seus cabelos desgrenhados ele levantou a cabeça e me sorriu. Ele estava com a barba crescida, eu gostava dela assim, fazia-o parecer mais viril. Eu quis perguntar o que ele fazia ali, mas minha garganta estava seca e a voz não saiu, apenas um estertor assomou aos meus lábios.
- Parece que o pior já passou. Alguém está querendo acordar. – disse uma voz feminina muito próxima, embora eu não conseguisse ver de quem era.
- Você quis fazer a família toda enfartar, Haroldinho? Finalmente você acordou! – disse a voz sonolenta do Humberto.
- Ele acaba de acordar, doutor! – era a voz feminina outra vez, agora eu a podia ver e, ao médico que estava ao seu lado.
- Então vamos dar uma examinada nesse rapaz! – sentenciou, aproximando um estetoscópio do meu peito e tocando diversos pontos da minha pele.
No final daquele dia fui transferido para um quarto. Pouco depois dos dois enfermeiros mulatões terem me ajeitado na cama dentro de um sumário avental amarrado nas costas, que deixava praticamente tudo de fora, o quarto foi se enchendo de gente. A Camila entrou saltitante, desvencilhando-se da mão do tio Afonso assim que cruzou a porta e, pulou para cima da cama. O tio Afonso e a tia Luiza me lançaram um sorriso tímido e constrangido. Mal pude acreditar no rosto que apareceu sobre o ombro da tia Luiza, minha mãe. Eu nunca mais a tinha visto desde que saí de Maçambará e, a última vez que nos falamos ao telefone já fazia quase uma década. Foi a presença dela que me levou a acreditar que meu estado devia ter sido bastante crítico, a ponto de ela vir me ver, talvez pela última vez. O Alberto e a Marta contornaram o leito e me parabenizaram, como se comemorassem o meu retorno de algum lugar distante. O Lucas disfarçadamente passava a mão na minha coxa que tinha ficado de fora do lençol que me cobria até a cintura, e me encarava com uma risadinha ladina. Atrás de todos eles, encostado à parede, de braços cruzados sobre o peito, estava o Humberto. Eu conhecia aquela cara. Ele estava zangado. Quando franzia a testa daquele jeito, fazendo com que suas sobrancelhas quase se unissem formando uma única faixa de pelos e, mantinha aquele olhar centrado na ponta de seu nariz, era sinal de que estava contrariado e impedido de extravasar sua raiva. Mesmo assim, eu o achava lindo. Foi preciso que um dos enfermeiros mulatões voltasse para anunciar o fim do horário de visitas e, algum tempo depois, a supervisora da enfermagem, com cara de poucos amigos, para que todos me deixassem descansar. Quando ela lançou um olhar inquisidor para o Humberto ele resmungou uma resposta sem olhar para ela.
- Vou passar a noite com ele! – ela se sentiu afrontada, mas nos deixou.
- Vem cá! – disse, estendendo os braços na direção dele. Ele se aproximou desconfiado. Peguei na sua mão e a trouxe para perto do rosto, depois a beijei e segurei seu braço num aperto contra o peito.
- Bem que o médico disse que você está bem melhor! – exclamou, sem tirar sua mão do meu rosto.
- Foi a essa mão que me prendi para não partir. – balbuciei, beijando-a mais uma vez.
- Não diga besteiras! Ninguém morre de véspera, só o peru. – gracejou, esboçando um sorriso tímido.
- Entra aqui! – pedi, afastando-me para o lado e criando espaço para ele se acomodar.
- Aquela mal encarada não vai gostar nem um pouco de me ver enfiado junto com você. – resmungou, mas deitou-se ao meu lado, como se aquele tivesse sido seu desejo desde o princípio.
- Eu não fiz aquilo por causa do acordo. Eu fiz por que fazia tempo que eu sonhava com isso. – confessei, pegando novamente sua mão entre as minhas.
- Fiquei desesperado quando os médicos mandaram chamar meu pai e disseram que você precisava ser transferido para uma UTI e, que seu quadro clínico não era nada bom. Foi aí que minha mãe entrou em contato com seu tio, avisando para comunicar a sua mãe. – quando olhei para ele, duas lágrimas estavam prestes a pingar de seus olhos. Ele rapidamente as enxugou com as costas da mão.
- Eu não podia deixar aquela mulherada toda e, quem sabe lá mais quem, ficar com o que eu mais desejo nesse mundo. – respondi, acariciando seu rosto barbudo. Ele sorriu.
Eu me inclinei para o lado dele e comecei a colocar beijos por todo seu rosto, pescoço, queixo até tocar suavemente meus lábios nos dele. Ele me puxou para dentro de seus braços e enfiou a língua na minha boca, sôfrego, insistente, voraz. O avental se abriu e minha bunda ficou exposta. Ele a apertou com força, enquanto sua saliva se mesclava com a minha.
Tive alta dois dias depois, seis quilos mais magro e ainda com uma cara de doente. O médico garantiu que aquele tom amarelado da pele desapareceria em breve, assim que meu fígado se recuperasse completamente e, que os rins já não tinham mais nenhuma sequela. Foram a Marta e o Lucas que me levaram para casa, pois o Humberto depois de ter passado praticamente treze dias no hospital ao meu lado, tinha uma porção de compromissos acumulados.
- Estamos felizes de você estar recuperado e voltando para casa. – disse a Marta durante o trajeto. – Só não pense que vai sair por aí antes de estar completamente saudável. O médico disse que você vai precisar de repouso por, no mínimo, mais cinco dias.
- Eu também estou feliz por voltar para casa. Nem tenho como agradecer tudo que estão fazendo por mim.
- Você é parte da família, quando é que vai enfiar isso nessa cabeça? – retrucou ela.
- É cunhadinho, você faz parte da família! – caçou o Lucas.
- Deixa de gracinha, Lucas! – advertiu a mãe.
- Vocês só vão acreditar quando o Humberto formalizar a situação, não é? Vai por mim, ele já é meu cunhadinho! – continuou.
- Deixe-o em paz! Nem bem ele está recuperado e você não para de apoquenta-lo!
Quando o Lucas me acompanhou até o quarto, fingindo que estava me dando um suporte para subir as escadas, aproveitou para beliscar minha bunda.
- Você deu uma emagrecida, mas isso aqui continua rechonchuda e gostosa! – exclamou sarcástico.
- Não estou com saco para suas gracinhas, seu pervertido! – revidei.
- Eu, pervertido? O Humberto é que come esse tesão de rabo e, eu que sou o pervertido! – exclamou.
- Você vai me ajudar ou vai continuar a tirar uma da minha cara?
- Posso te fazer uma pergunta? Mas, você vai me jurar que não vai ficar zangado. – questionou, assim que chegamos ao meu quarto.
- Se for mais uma bobagem, não quero nem ouvir.
- É sobre o lance do tal acordo.
- O que quer saber?
- Teve mesmo esse negócio? Quer dizer, você topou queimar a rosquinha para ajudar seu tio a quitar as dívidas?
- Foi.
- Cara! Que doideira! Você transava com seu tio? E meu pai, o safadão te comeu?
- Claro que não! Chega dessa conversa!
- Você é gostoso para caralho, cara! Alucinei naquele dia que enfiei meu dedo no seu cuzinho na piscina da fazenda. Por isso, não me espantaria se tivesse rolado alguma coisa entre eles e você. – afirmou.
- Pois imaginou demais! É um absurdo o que você pensa a meu respeito! Não sou nenhum depravado! – devolvi.
- Cara, na boa! Você deixa qualquer um maluco. Tem muita mina que sonharia em ter uma bunda como a sua. E convenhamos, não tem nada mais gostoso do que pegar um rabo desses por trás e enfiar o cacete até ele se perder lá dentro.
- Você não pensa em outra coisa, não? Isso é doença, sabia? Que fixação é essa?
- Vai explicar isso para esse sujeito aqui! – exclamou, pegando no cacetão.
O Humberto voltou antes do jantar, quis trazê-lo para mim no quarto. Eu recusei e desci para jantarmos todos juntos. Fiquei assistindo um pouco de TV com eles, até sentir que a dor nas costas não me deixava prestar atenção no que se passava na tela.
- Vou me deitar. Boa noite!
- Vou subir com você. – afirmou o Humberto.
- Olha a sacanagem! Só pode depois do casamento. – zombou o Lucas, sendo advertido pelo pai. O Humberto limitou-se a fechar a mão e estender o dedo médio em riste. O Lucas riu.
- Você está abatido! Tem certeza de que está bem? – questionou o Humberto quando chegamos ao quarto.
- Estou. Vou ficar melhor se você ficar comigo. – respondi, pegando-o pela mão e trazendo-o até a cama.
- Não sei se isso é uma boa ideia! Vai que eu fique cheio de vontades.
- Que vontades seriam essas?
- Essa aqui! – exclamou, me puxando contra si e me beijando a boca cheio de desejo.
- Então elas coincidem com as minhas. – retruquei, fazendo a camiseta dele subir e, desnudar aquele peito peludo, por onde deslizei as pontas dos dedos.
- Não brinca assim! Olha que não respondo por mim! Acabo perdendo a cabeça e aí não tem volta. – ronronou, começando a se excitar.
- Contanto que você perca essa cabeça dentro de mim, não tem perigo. Eu vou saber cuidar dela com carinho. – devolvi, enfiando a mão dentro da calça de moletom que ele estava usando. Só ouvi seu arfar pesado antes de ele colar sua boca na minha, me colocar de bruços sobre a cama, expor minha bunda e começar a pincelar a verga no meu reguinho. Instantes depois, eu já gemia com o cacetão me esgarçando todo, enquanto confessava todo meu amor por ele.
Quando terminei a faculdade o Humberto me revelou que estava com vontade de sair de casa. Ele achava que já estava na hora de abandonar o ninho e cuidar da própria vida. No impacto da notícia, pensei que ele talvez tivesse conhecido uma garota e estivesse a fim de se arranjar com ela. Confessei isso a ele quando me perguntou se eu não tinha gostado da novidade, ou não concordava com seu ponto de vista. Ele pegou no meu queixo e levantou meu rosto. Havia um sorriso estampado na cara dele.
- Quero sair daqui por que não dá mais para ficar cruzando o corredor todas as noites para me enrodilhar com você na cama. Além do mais, todo mundo já está sabendo o que acontece depois que nós dois ficamos trocando de quarto durante a noite. Para ser mais explícito, quero ter um cantinho só nosso onde você vai abrir essas coxas carnudas e essa bunda macia para levar minha pica até pedir arrego. – afirmou, selvagem e primitivo.
- Quer dizer que é só para me foder que você quer que eu te acompanhe. Eu pensava ouvir um pedido bem mais romântico do que esse. – retorqui.
- Me ouvir confessando que te amo, é isso que quer ouvir? Você já sabe disso!
- Tem outro sabor quando a gente ouve alguém nos dizendo que nos ama.
- Amo você seu viadinho complicado! Amo tanto que pensei que não sobreviveria se te acontecesse alguma coisa quando esteve doente. Amo cada pedacinho desse corpo tesudo e vou ser seu macho até ficarmos velhinhos e eu precisar de uma grua para colocar meu pau de pé antes de enfia-lo nesse cuzinho. – revidou, começando a me pegar com aquele instinto primal e voluptuoso.
- Amo você, seu safado!
Tudo na minha vida teve um fim, antes de eu poder fazer alguma coisa para impedir ou adiar esse fim. Eu não quis pensar nisso naquele momento, mas foi inevitável. Resolvi que viveria cada dia ao lado do Humberto como se fosse o último. Uma vez que tudo é tão fugaz quanto a passagem de uma paisagem quando se está num trem em alta velocidade. É preciso observar cada detalhe, cada minúcia para poder se recordar mais tarde daquelas imagens que vimos passar pela janela. Era assim que eu ia cuidar daquele amor. Como o único, como derradeiro, como aquilo que faria minha vida ter sentido. Quase três meses depois, nos mudamos para um pequeno apartamento, aonde as copas das árvores da rua chegava até as janelas e, o sol da manhã banhava os cômodos com a promessa de um dia esplendoroso, tal como acontecia com o nosso amor a afiançar que nossas vidas tinham um futuro juntas.