Seguiram conversando animadamente, até que Mônica levantou-se e determinou:
- Vamos comer alguma coisa?
- Tá, mas antes vamos ali tirar essa maquiagem.
- Ai, Gaby, relaxa... estamos só nós aqui. Meus pais viajaram e só voltam segunda. Curte o momento.
- Tá bom - disse ele, levemente irônico, mas nem tão contrariado quanto antes.
Esquentaram uma pizza e começaram a comer. Gabriel após uma dentada em um pedaço foi limpar a boca com um guardanapo e assustou-se ao vê-lo todo vermelho. Depois lembrou que era do batom. Ambos riram.
- Depois a gente aplica de novo. - riu ela.
- Não vai precisar.
Terminada a pizza, Mônica correu até a despensa da cozinha e veio correndo e rindo:
- Que tal um vinho?
- Mônica... tá maluca?
- Ai, que que tem? Já somos quase maiores de idade. Meu pai tem tantos que nem vai dar conta se faltar um ou dois.
- Maluca...
Antes que Gabriel pudesse contestar a ideia, ouviu-se a rolha sendo estourada por ela:
- Você tem prática... - comentou ele, estranhando.
- Não é o primeiro que abro. - riu-se ela.
Serviu então duas taças generosas. Brindaram e beberam.
Gabriel já tinha experimentado vinho e outras bebidas, porém não era acostumado a beber. Mas adorou o que ela havia servido:
- Que delícia!
- Bom, né?
E em poucos minutos já estavam abrindo a segunda garrafa. Passaram da euforia estrema e risadas para os momentos de confidência e de amores perdidos. Gabriel sabia dos casos da amiga, porém não sabia que ela continuava apaixonada por um ex do passado, chamado Marino.
- Sim, Gaby, por mais que eu negue eu jamais esqueci o Marino...
- Aff... supera amiga.
- Não consigo. - falou ela, entre o choroso e o riso.
Gabriel sempre foi da zoeira, porém teve uma ideia que somente a falta de noção do álcool poderia lhe sugerir:
- Daqui seu telefone!
- Por que?
- Vamos ligar pra ele!
- Hahahahaha... não!
- Sim! O que se perde em ligar?
- E vai dizer o que?
- Vou dizer que você ainda gosta dele!
- Não, isso não!
- Tá, então eu pergunto como ele está. Que lembramos dele e queríamos saber notícias... sei lá!
A ideia era péssima, mas o teor etílico de ambos impossibilitava ambos de ver isso.
Pegou o telefone da amiga, procurou na agenda por Marino e apertou ligar. Detalhe: devido à falta de coordenação ocasionada pela bebida, ligou para o contato acima do Marino, que era nomeado como 'Marino amigo', correspondente a um amigo do Marino que ela jamais soube o nome, mas que ela colocou na agenda como seu amigo para caso precisasse achar o então namorado caso ficasse sem bateria. E mais: não bastasse errar o contato, em vez de ligação normal apertou a opção videochamada.
- Alô... - atendeu um rapaz, com cara de que não estava entendendo aquela ligação.
- Alô... Marino? - perguntou Gabriel, segurando o riso, achando que o telefone estava no viva-voz e não no videochamada.
- Não... esse telefone é do Erick. Marino é meu amigo.
Erick olhou pela câmera e gostou do que viu, afinal, não era toda sexta-feira a noite que uma ruiva linda como aquela lhe chamava na videochamada. Logo trocou o estranhamento pela alegria.
- Não é o telefone do Marino? - perguntou Gabriel, visivelmente confuso.
- Não, ruivinha linda...
Gabriel deu um pulo! Só então percebeu que estava em vídeo chamada. Olhou de olhos arregalados para Mônica como que pedindo ajuda e obteve de volta apenas um arregalar de olhos ainda maior seguido de uma gargalhadaruivinha? Qual seu nome? Alou...
Gabriel tentou entregar o celular para a amiga, que, rindo, devolveu. Foram apenas alguns segundo aquilo, mas que pareciam uma eternidade na cabeça - zonza - dele.
-... oi.... ruivinha? De onde você tirou meu número?
Apavorado, Gabriel saiu correndo da sala. Mônica, lembrando que o celular era seu e que se desligasse Erick iria tentar ligar novamente e acabar descobrindo que o fone era dela.
- Er... oi... - apresentou-se ela, pegando o fone.
- Mônica?! - estranhou Erick.
- Oiiiii... eu mesma. Tudo bom?
- Mas... o que... por que ligou para mim?
Absolutamente sem ter o que falar e receosa de dizer a verdade - e que achasse que ela queria um jeito de falar com Marino -, Mônica tentou contornar:
- Oi... é que... minha amiga... sabe...
- Sim... a ruivinha. Cadê ela?
- Ela... teve que... ir atender uma outra ligação urgente.
- Tá. Mas o que tem ela? Por que diabos vocês me ligaram?
- É que... ela tava olhando meus contatos e... te achou gatinho. - falou Mônica, sentindo que aquilo não era uma boa desculpa, mas era o que melhor lhe ocorria no momento.
- Sério??? - entusiasmou-se ele.
- Sim, sim... tava mexendo no meu celular, viu sua foto e, doidinha, te ligou.
- Nossa... ganhei a noite com essa!
- É... ela é bem gata mesmo...
- Ô, se é... e como eu faço pra falar mais com ela? Tens como chamá-la?
- Não sei... vou ver... a ligação dela parecia importante.
- Sim... então... a gente podia combinar algo essa noite, né?
- Quem? Vocês?
- Pode ser. Mas sei lá, acho que ficaria mais legal se fizéssemos alguma coisa juntos, todos...
- Como assim? Todos quem?
- Ué, o Marino tá vindo aqui daqui a pouco para irmos pra noite. A gente podia passar aí e pegar vocês pra darmos um rolê... que tal?
- O Marino? - Mônica não conseguiu disfarçar o entusiasmo ao ouvir o nome do amado.
- Sim... ele acabou o namoro faz uma semana. Está precisando sair um pouco pra desopilar. Imagina então se saísse contigo, alguém que ele sempre gostou e nunca esqueceu completamente...
- Como assim?
- Ah, Mônica, até hoje nunca ninguém entendeu porque vocês acabaram. Ele namorou a Elisa meses, mas todos sabiam que era tentando te esquecer.
Mônica ficou pasma. Tentou controlar a euforia, mas sentia seu coração saltar no peito.
- Então... vamos fazer essa noite todos juntos?
- Va-vamos.... vamos, claro! Saudades dele. E de você também.
- Legal! Aí vocês relembram os bons tempos enquanto eu e sua amiga nos conhecemos melhor...
Mônica então voltou à realidade e lembrou desse 'pequeno' problema: que Gabriel não era uma amiga, mas um amigo.
- Claro... vai ser... demais... - falou ela, sem confiança.
- Maravilha. Então tá combinado! Passamos aí pelas 10 horas, tá legal?
- Tá... tá sim...
- Beleza. Vou falar pro Marino. Ele vai ficar enlouquecido. Mas, a propósito, qual o nome da sua amiga?
- Minha amiga?
- É... a ruivinha.
- Ah, claro... é... Pâmela...
Mônica não sabia de onde havia tirado esse nome, mas enfim, saiu.
- Pâmela... lindo nome. - suspirou ele.
- É... ela gosta...
- E você teria como me mandar uma foto dela pra eu já ir me acostumando com tanta beleza?
- Ah, tá... exagerado...
- Uma foto só, vai.
Mônica lembrou da selfie escondida que havia tirado 'delas'.
- Mando sim. Te mando no whats.
- Uhuul... - comemorou ele. - então até depois. Beijos!
- Beijos!
Três minutos depois, Erick recebia a selfie das amigas no whats. Olhou, suspirou e beijou a tela do celular, exatamente onde Gabriel, ou Pâmela, faziam biquinho. Ele estava apaixonado por aquela ruivinha acanhada que fugira da ligação mas não sem antes lhe arrebatar o coração.
CONTINUA...