ADDAN TERMINOU de se alimentar com tudo o que havia na bandeja e, enquanto comia, o silêncio do aposento era estranhamente natural, consideradas as circunstâncias.
Depois de deixar o guardanapo, levantou as pernas, colocando-as sobre a cama e recostando-se nos travesseiros, cansado, embora não narcotizado. Enquanto olhava a bandeja, teve o absurdo pensamento de que não se lembrava da última vez em que se permitira terminar uma refeição. Estava sempre de dieta, de modo que também estava sempre com um pouco de fome. De qualquer forma, isso o ajudava a manter o nível de agressividade, o deixava mais perspicaz e aumentava a concentração. Agora, todavia, sentia-se um pouco confusa. E... estava bocejando?
– Não vou me lembrar disso? – perguntou. - O homem negou com a cabeça de cabelos ondulados que quase roçavam o chão. A combinação do ruivo com o negro era estupenda.
– Por que não? – questionou Addan.
– Apagarei tuas lembranças antes que te vás.
– Como? - Ele encolheu os ombros.
– Não sei. Eu apenas... apenas as encontro no meio de teus pensamentos e as enterro para sempre. Addan puxou o edredom de veludo e cobriu as pernas. Tinha a sensação de que, se o pressionasse em busca de mais detalhes, aquele homem não teria mais o que oferecer. Era como se ele não compreendesse muito bem a si mesmo ou sua própria natureza. Interessante. A senhorita Leeds era humana, pelo menos até onde Addan sabia.
Portanto, evidentemente o pai dele teria sido... Caramba, ele estava realmente levando aquilo a sério?
Addan levou a mão ao pescoço e sentiu a marca, quase já desaparecida, da mordida.
Sim... sim, ele estava levando aquilo a sério. E, embora seu cérebro se debelasse ante a ideia de que, de fato, os vampiros existiam, ele tinha uma prova irrefutável disso não é mesmo? Pensou em Fletcher, que também era um tanto quanto... diferente, certo? Addan não sabia o que ele era, mas sua estranha força unida à sua óbvia idade... hum, algo não cheirava nada, nada bem.
O silêncio estendeu-se, os minutos fluíram passeando pelo quarto, escorrendo-se rumo ao invisível infinito. Uma hora tinha se passado? Meia hora? Três horas?
Por mais estranho que parecesse, Addan adorava o som dos suaves traços que o lápis desenhava no papel.
– No que está trabalhando? – perguntou-lhe. E aquele homem parou.
– Por que querias ver meus olhos?
– Por que não? Eles completariam a imagem que tenho de você. Ele soltou o lápis. Quando levantou a mão para afastar os cabelos do rosto e colocá-los para trás do ombro, estava tremendo.
– Preciso... ir até ti. Agora.
As velas começaram a se apagar uma a uma. O medo fez o coração de Addan palpitar como se o próprio diabo o perseguisse. O medo e... Ah, Santo Deus, por favor, não permita que esse arrebatamento seja parcialmente a causa de um sentimento de imaturidade!
– Espere! – ele o interrompeu. – Como sabe que não... que não beberá muito?
– Posso sentir a pressão sanguínea e sou muito cuidadoso. Não suportaria ferir-te de forma alguma. Aquele homem parou diante da escrivaninha. Mais velas apagaram-se.
– Por favor, não nos deixe completamente no escuro – disse Addan quando apenas a vela sobre o criado-mudo continuava acesa. – Não lido muito bem com isso.
– É melhor assim...
– Não! Deus, não... não é. Você não sabe o que sinto. A escuridão me deixa apavorado.
– Então o faremos sob a luz.
Quando aquele homem começou a se aproximar da cama, o que Addan ouviu primeiro foram as correntes arrastando-se. Em seguida, viu emergir da escuridão a enorme sombra daquela criatura.
– Talvez queiras ficar de pé? – perguntou-lhe. – Assim poderei fazê-lo novamente por trás e tu não terás que me ver. Desta vez, demorarei um pouco mais.
Addan suspirou. Seu corpo estava esquentando; seu sangue ardia nas veias. Desejava desentranhar os porquês de sua perigosa falta de senso de preservação, mas que diferença faria? Ele estava onde estava, afinal de contas.
– Acho... acho que quero vê-lo - Ele duvidou.
– Estás certo de isso? Uma vez que começo, é difícil deter-me na metade... Santo Deus! - Eles soavam como dois vitorianos apreensivos falando sobre sexo.
– Preciso vê-lo. Addan respirou profundamente, como se estivesse inquietamente refreando-se para superar a ansiedade.
– Talvez poderias te sentar na beirada da cama e assim eu talvez pudesse ajoelhar-me em tua frente.
Addan trocou de posição de modo que suas pernas ficaram penduradas na beirada do colchão. Aquele homem agachou-se um pouco, dobrando os joelhos, mas logo sacudiu a cabeça.
– Não – ele murmurou. – Terei de me sentar ao teu lado – sentou de costas para a vela, para que seu rosto permanecesse na escuridão.
– Posso pedir para que te vires para mim? Ele trocou de posição e levantou os olhos. A luz da chama formava um halo ao redor da cabeça dele e Addan desejou poder ver-lhe o rosto. Desejava ansiosamente olhar para a beleza daquele rosto.
– Michael – sussurrou. – Deviam tê-lo chamado de Michael. Por causa do arcanjo. Aquele homem levantou a mão e deslizou-a pelos cabelos de Addan, afastando-os para trás. Depois colocou Addan no colchão enquanto inclinava-se sobre ele.
– Agrada-me esse nome – disse-lhe brandamente. - Primeiro, Addan sentiu os lábios sobre o pescoço, uma suave carícia de pele roçando pele.
Em seguida, a boca afastou-se e ele percebeu que aqueles lábios estavam se abrindo, revelando as presas. A mordida foi rápida e decidida e Addan deu um singelo salto, muito mais consciente desta vez. A dor foi mais intensa, mas também o foi a doçura que a seguiu.
Addan gemeu quando o calor percorreu seu corpo e as danças da sucção se espalharam, depois daquela boca macia estabelecer um ritmo. Ele não sabia exatamente quando o tocou. Simplesmente aconteceu. Suas mãos apoiaram-se nos ombros dele, Ponto.
Agora era ele quem vibrava e, quando se afastou, a luz revelou parte de seu rosto. A respiração era forçada, os lábios estavam entreabertos e a ponta das presas levemente à mostra. Estava faminto, mas emocionado.
Addan percorreu-lhe os braços com as mãos. Os músculos eram fortes e bem delineados.
– Não posso parar – disse ele com voz distorcida.
– Eu apenas... apenas desejo tocá-lo.
– Não posso parar.
– Eu sei. E eu desejo tocá-lo.
– Por quê?
– Porque quero senti-lo – ele mesmo não conseguia acreditar, mas inclinou a cabeça e expôs a garganta. – Tome o que precisa. E eu farei o mesmo.
Desta vez ele equilibrou-se sobre Addan, segurando-lhe a cabeça com uma mão que se apoiava do outro lado da delicada garganta e mordendo-a com força. O corpo dele agitou-se; seu peitoral junto-se contato com a rija parede do peito dele. O cheiro daquele homem era um rugido.
Agarrando-se àquele forte bíceps, Addan deixou-se cair para trás, sobre os travesseiros, e aquele homem o seguiu naquela enternecida dança.
Agora o corpo de Michael estava inteiramente em cima do de Addan , o peso dele o esmagava contra o colchão. Ele estava bloqueando a luz da vela, motivo pelo qual Addan não conseguia ver nada com clareza.
Mesmo assim, o brilho que vinha detrás dele evitava a escuridão profunda. De certa forma, Addan se sentia bem, embora por um motivo perigoso. A escuridão fazia com que as sensações fossem muito mais vívidas: o úmido contato da boca cálida dele, os puxões que ele dava enquanto engolia o fluido vermelho e a corrente sexual que havia entre eles.
Continua...